This Sadness Is Unbearable escrita por Lasanha4ever


Capítulo 4
Capítulo 4




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  Já se passou quase quatro meses desde que eu conheci o outro Lucas. Ele não sai de perto de mim. Eu meio que gostei dele. Meio que gostei. Isso não é nada perto de “estou perdidamente apaixonada”, falou?

  É que, quando eu estou com ele, não me odeio. Eu sinto como se estivesse realmente feliz. Mas quando nos separamos, a tristeza me invade com força, e meus pulsos sofrem.

  Sim, eu ainda me sinto um pouco nostálgica quando olho para ele e me lembro do meu Lucas. Tem momentos que eu fico só olhando para o rosto do Lucas, só para eu imaginar como o meu Lucas seria se não tivesse morrido. Ele seria idêntico ao Lucas bipolar.

  O Lucas quase nunca fala dele, mas eu também não sou de falar muito de mim. Nossos passados devem ser enterrados, não mostrados à alguém.

  Comprei um computador para mim, com o dinheiro da senhora Dolores. O Lucas criou um Tumblr para mim – de acordo com ele, é uma rede social onde eu coloco tudo o que estou sentindo e as pessoas se identificam comigo. Ele disse que isso o deixa menos triste, saber que alguém está passando pelas mesmas coisas que ele. Faz com que ele se sinta menos sozinho.

  - Ei, Luana, posso entrar? – ele enfia a cara dentro do meu quarto e faz cara de pidão até eu deixa-lo entrar. Ele fica sentado no chão, ao meu lado, brincando com a barra da minha blusa.

  - O que você tá fazendo aqui?

  - Quer que eu saia?

  - Não, digo. O que você está fazendo aqui, às onze e vinte da noite de um domingo?

  Nenhuma resposta. O Lucas coça a cabeça e cora um pouco.

  - O legal é que você sempre responde as coisas.

  Reviro os olhos e ele respira fundo.

  - Poxa, um garoto misterioso é o sonho de todas as meninas.

  - Prefiro os caras sinceros.

  Mais dez minutos e ele não fala nada. Volto minha atenção ao Tumblr. Estou editando meu html, o que não é nada fácil.

  - Posso dormir aqui? – ele além de manhoso, ainda age como uma criancinha inocente. 

  - Você veio aqui só para dormir no meu quarto?

  - Não.

  Silêncio novamente.

  - Então, posso dormir aqui?

  - Dá pra falar a verdade logo? Por que diabos hoje você decidiu dormir aqui, se você tem um quarto só para você, do outro lado do corredor?

  - Promete que não vai me expulsar do seu quarto?

  - Não. – rio da cara dele. – Se você não falar logo, eu vou.

  Paro até de digitar no computador para escutá-lo.

  - É que eu tô me sentindo um pouco estranho, meio solitário, sabe. E eu sei que você é a única menina que toparia uma coisa dessas comigo...

  - O que? Você dormir aqui?

  - É. Eu dormir aqui, com você, na sua cama, abraçados, de conchinha. – ele cora rapidamente, e eu sinto meu rosto esquentando e meu coração bate mais rápido.

  Fito seus olhos procurando algum vestígio de brincadeira de mau gosto, ou malicia, mas não encontro. Acreditem ou não, ele não tem nenhuma segunda intenção ao querer dormir aqui comigo. Pelo menos seus olhos não mostram. Nem seu tom de voz. Nem seu modo de ser. Nem nada.

  - Você confia em mim?

  - Na maneira do possível, confio. – lhe asseguro.

  - Eu juro que não vou tentar nada, eu só estou muito carente, eu preciso de um abraço.

  - Se precisa de um abraço, pra que a ideia de dormirmos de conchinha?

  Ele cora mais ainda e fica meio sem jeito.

  - É que, eu quero saber como é dormir abraçados com outra pessoa. Sempre quis. E agora essa vontade parece aumentada em cem vezes. Mas agora, eu tenho a quem pedir.

  Respiro fundo. Nós mal nos conhecemos, cara. Esse é um pedido bem incomum. Ele fica de beicinho por uns cinco minutos enquanto eu penso na maluquice dele.

  - Você pode dormir aqui, Lucas. Mas se eu não me sentir bem, você sai, falou?

  Sério, o sorriso que ele deu me fez sorrir junto. Não me lembrava de ter visto um sorriso tão lindo desde quando eu e o meu Lucas fizemos uma noite da pizza na casa dele e demos as mãos pela primeira vez.

  - Então, qual era a outra coisa que você queria fazer por aqui? – pergunto.

  - Na verdade, eu quero saber uma coisa, mas eu tenho a impressão de que não é uma conversa leve.

  - Sobre?

  - Eu me lembro de que você disse que eu te lembrava dum antigo amigo seu. Mas depois de um tempo conversando comigo, você começou a chorar. – ele para de falar ao notar a palidez instantânea em mim. – Posso continuar ou você não quer falar sobre isso?

  - Faz logo a pergunta, e depois eu decido se respondo ou não.

  - O que aconteceu entre você e esse menino?

  - Você é observador demais, mas porque diabo esperou uma semana para me perguntar algo que o deixa curioso há muito mais tempo?

  - Estava observando suas reações. Mesmo que você sorria, seus olhos estão tristes. Sua máscara é muito boa, mas a minha é tão boa quanto, então eu reconheço quanto alguém esconde o que sente.

  - É uma longa história. E trágica. Você já deve ter escutado a versão das outras pessoas.

  - Hum, não. Qual é?

  - Que eu sou uma assassina.

  - Você não é.

  - Por que tem tanta certeza?

  - Sei lá, você é delicada demais para ser uma assassina.

  - Jura? Sempre me achei durona.

  - Por fora você é, mas eu consigo perceber o que você realmente sente. Pra mim, você é como um marshmallow assado na fogueira. Duro por fora, mole por dentro.

  - Nossa, que legal. Sou um marshmallow agora. – reviro os olhos e ele sorri.

  - Isso é um elogio. Eu adoro marshmallows. – ficamos em silencio por um tempo. Começo a desligar o meu computador, e ele volta a falar - Mas então, pode me contar a sua história com o garoto?

  Assim que o computador desliga, eu sento na cama e ele se senta ao meu lado.

  - Ele era meu melhor amigo. Eu tinha seis anos quando tudo aconteceu. Nós estávamos brincando no jardim da casa dele e eu caí na piscina. – controlo minha voz para não parecer um lamento e tento controlar a vontade incessável de chorar - Era muito funda, e eu não sabia nadar. Ele pulou para me salvar, mas ele não sabia nadar também. Conclusão, ele conseguiu me tirar da piscina, mas morreu afogado na minha frente. Eu não pude fazer nada. Enquanto ele se afogava, eu estava em agonia por causa da água em meus pulmões. – meus olhos começam a arder e minha garganta se fecha.

  Ele vê a dor em meus olhos e me abraça forte. Um abraço acolhedor. Um abraço que ninguém me deu depois do que aconteceu. E com esse simples gesto, ele quebrou minha armadura de ferro. E então, eu começo a chorar descontroladamente.


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