Uma Noite De Neve escrita por Bea Machine


Capítulo 1
A Neve Parisiense


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira One shot, então não sejam muito malvados comigo. Ela é super romântica e inspirada em minha fascinação pelas décadas passadas. Espero que gostem!



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Devia ser por volta das onze da noite de 21 de dezembro, e estava nevando. Eu estava encolhida ao lado da janela, olhando para a neve que caia do lado de fora da casa de Dexter. Estava gélida, tremendo de frio. Vestia somente um vestido florido de mangas compridas, que eu deixara certa vez na casa de Dexter. Na realidade, ira para lá com um vestido de gala rosa perolado tomara que caia com um casaco de pele grosso por cima cobrindo-me. Estava trajando isso mais cedo porque eu e Dexter, que era meu amigo de longa data, fomos ao balé russo que estava se apresentando na cidade. Eu amava o balé russo. Fizera balé em minha infância, e até tentara virar bailarina profissional. Fora divino a apresentação. Fora uma representação de o Quebra-Nozes, uma de minhas peças favoritas. Logo que o balé se encerrou, Dex (como eu chamava Dexter na intimidade) me convidou para tomar uma taça de vinho em sua casa. De começo hesitei, mas acabei aceitando o convite. Mas logo que chegamos á casa deste, me arrependi. Começou a nevar, coisa que prometia acontecer á dias. A nevasca impedia-me de sair, sendo assim, eu estava presa aqui. Não gostava dessa situação, já que não sabia o que as pessoas podiam pensar de uma garota comprometida passar á noite fora, e ainda nem com o noivo. A proposito, eu estou noiva. Edgar, meu noivo, é maravilhoso. Trata-me com respeito, é carinhoso, e nos casaremos dentro de seis meses. Pode parecer estranho uma mulher noiva sair para ver o balé com seu amigo em plena 1921, mas tenho orgulho de dizer que na França nem tanto. Eu e Dexter éramos amigos desde pequenos, devido ao fato de nossas mães serem conhecidas. Meu pai não gostava muito desta historia da filha dele ser amiga de um homem, apesar dele próprio gostar de Dexter. Bem aí você deve pensar o porquê de não sermos noivos; o motivo é que Dexter é prometido á Carla desde que nasceu. Carla é filha de antigos amigos da família de Dexter. O pai dela e de Dexter, pelo que sei, prometeram ambos ao casamento por causa de uma forma de criar uma aliança entre as famílias. Eu e Dexter então éramos noivos de outras pessoas e estavam presos na mesma casa devido á uma nevasca de inverno. Isso era maravilhoso! Dexter chegou á sala trazendo um cobertor grosso de lã no braço e uma bandeja com duas tacinhas de licor e duas xicaras do que eu achava ser chá. Ele se abaixou ao meu lado, deixou a bandeja no chão e me cobriu com o cobertor.

–Obrigada, disse em resposta ao gesto dele.

–Não há de quê, respondeu ele.

Ele me perguntou se aceitava primeiro o licor de laranja ou o chá inglês. Eu achava cômico ele servir chá inglês na França, mas ele afinal era inglês. Mas eu até gostava do chá que ele preparava. Pedi primeiro o licor. Dex deu-me a tacinha e me acompanhou na escolha. Tomei a tacinha quase num gole só na esperança que esta me esquentasse. Ajudou, mas continuei tremendo um pouco. Dexter, vendo-me assim, se levantou pedindo desculpas por não ligar á lareira ainda e foi fazer isto. Ele a ascendeu e sentou-se novamente ao meu lado. Deu-me a xicara de chá e eu aceitei. Aqueci-me um pouco, mas não totalmente. Deixei minha xicara de lado, eu apenas bebericara-a, e me virei para Dexter questionando-o:

–Posso encostar-me em você Dex? Continuo com frio.

Este deu um sorrisinho como se dissesse sim e veio se juntar mim antes que eu fizesse o mesmo. Ele me envolveu em seus braços, aquecendo-me instantaneamente. Já contara á vocês que eu tivera um leve interesse em Dex? Isso fora á tempos, mas não sei o porquê o mesmo sentimento que tinha naquela época estava voltando agora. Era maravilhoso estar ali envolvida pelos braços dele, sentindo o calor de seu corpo esquentar o meu. Fora abraçada poucas vezes daquele jeito. Meu noivo pouco mantinha contato físico comigo, por respeito. Edgar abraçara-me pouquíssimas vezes. Porém era diferente a sensação dos braços de Edgar nos meu corpo e a sensação dos de Dexter. Eu me sentia mais segura, protegida, nos braços de meu amigo. Ficamos muito tempo em silencio, abraçados, até lembrar-me que não avisara meus pais sobre onde estava. Levantei-me em um salto e dirigi-me á Dex.

–Dexter, eu poderia usar seu telefone? Meus pais não sabem que estou aqui, disse.

–Claro. Seus pais devem estar preocupados, ele respondeu.

Levantou-se também e foi até o telefone. Pegou-o e pediu á telefonista que discasse o numero de minha casa. Ele então passou o telefone á mim.

–Alô, eu disse assim que ouvi uma voz no outro lado da linha.

–Amélia, graças á Deus! Onde está? Perguntou a voz, que reconheci ser de minha mãe, severamente.

–Estou na casa de Dexter. Vim para tomar uma taça de vinho depois do balé, mas acabei ficando presa por conta da nevasca. Não tenho como sair daqui, expliquei á ela.

–Como assim Amélia Elizabeth Sancé você não virá para casa? Ela disse irritada.

Nessa hora o telefone foi tirado dela e meu pai começou a falar:

–Amélia, como você não vira dormir em casa? Ele perguntou furioso.

–Pai, eu estou presa na casa de Dexter. Depois do balé vim para cá para tomarmos uma taça de vinho, porém a nevasca começou e eu não consigo sair.

–O que dirão Amélia se fosse passar a noite aí? Uma moça noiva passando á noite fora na casa de um moço comprometido também? O que Edgar dirá? Ele indagou nervoso.

–Se Edgar ligar poderá dizer que estou na casa de Adele, disse em sugestão.

–Ainda não gosto que você durma aí. Não sabe do que os rapazes são capazes? Ele contra-argumentou.

–Dexter é somente meu amigo. Não acontecerá nada, prometi.

–Deixe-me falar com ele, meu pai pediu em um tom que mais parecia de ordem.

Passei o telefone á Dexter, dizendo-lhe que meu pai desejava falar com ele. Este pegou o telefone e disse “Sr. Sancé”. Tudo que ouvi da conversa dos dois era; ”sim”, “não”, “nunca”, e por fim “não acontecera nada, ela só passará á noite”. Dexter botou o telefone no gancho e se virou para mim.

–Seu pai aceito que você deveria passar á noite aqui, ele disse.

–Ele achou que aconteceria algo entre nós? Questionei.

–Ele só queria ter certeza que não acontecera, respondeu-me Dex.

Eu concordei com a cabeça e fui em direção á lareira. Ficara novamente gelada, voltara á tremer e meus lábios se arroxearam. Postei-me em pé de frente á lareira e senti algo me cobrindo. Era Dexter jogando por cima de mim o cobertor que me aquecera quando estava sentada á janela. Virei-me para olha-lo em agradecimento. Ele estava parado um pouco atrás de mim, e olhava diretamente para mim. Eu passei á olha-lo também. Dexter aproximou lentamente até seus lábios ficarem á centímetros dos meus. Ele passou os braços pela minha cintura e puxou-me para junto de si. O cobertor caiu no chão nesta hora, e minha respiração começou á falhar. Voltei á tremer um pouco. Dex intensificou seu aperto, não para machucar, e sim para me aquecer. Senti-me mais aquecida, mas o ar faltou-me mais. Uma mecha de meu cabelo, que estivera preso num coque que fora se desmanchando, caiu sobre meu rosto. Dexter tirou-a gentilmente e colocou-a atrás de minha orelha. Ele começou á acariciar meu rosto e fechei meus olhos diante do carinho dele. Ele parou e eu reabri meus olhos. Ele aproximou seus lábios dos meus e eu não o impedi. Assim que senti que nossos lábios se encontraram, me esqueci de tudo. De meu pai, de meu noivo, da noiva dele, do que falariam... De tudo. Era como se eu fosse para outro mundo, perfeito, em que nada que não envolve-se ele e eu importasse. Tivemos de partir o beijo por falta de ar.

–Sabia que eu te amo Amélia? Desde o dia que nos conhecemos, declarou-se Dex me encarando.

Foi se como meu coração se iluminasse. Eu abri um sorriso e encostei meus lábios na orelha dele, fazendo-o se arrepiar.

–Sabia que eu te amo Dexter? Desde o dia que te vi pela primeira vez, declarei-me aos sussurros.

Voltamos á nos beijar e ele me levantou pela cintura, colocando-me gentilmente no tapete da sala próximo á lareira. Ele se pôs sobre mim com os braços apoiados no tapete enquanto eu o envolvia com meus braços em volta do pescoço dele, com minhas mãos bagunçando o cabelo dele. O ritmo dos beijos foi se intensificando, e ele passou uma das mãos na barra de meu vestido, para tira-lo, mas eu o impedi de completar a ação.

–Algo de errado Beth? Ele me questionou. Dexter não gostava muito de Amélia, preferia meu nome do meio, Elizabeth, que era mais comum na Inglaterra. Beth era o apelido que ele me dará.

Fiquei insegura em dizer. Não havia nada de errado, tirando o fato de eu ainda ser virgem. Dexter, ao contrario, não era mais. Ele não me contara isso, mas á mãe dele sim. França, prostitutas, bordeis... É bem difícil para eles resistirem á tentação.

–Sou virgem Dexter, disse tentando não olhar para ele.

Achei que ele riria, mas ele não fez isto. Ele pegou meu rosto com a mão, gentilmente e virou para ele poder me olhar nos olhos.

–Para mim não há importância. Mas se você não quiser avançar, eu entenderei.

–Não é que eu não queira, mas... Eu disse deixando a frase em aberto.

Dexter então passou suas mãos em meu rosto novamente e olhou-me com um olhar compreensivo, de que entendia minha insegurança. Eu então o beijei. Dexter fazia-me sentir segura, e quando seus olhos verdes encontraram os meus, todo o meu receio se foi. Eu continuei-o beijando, e peguei a mão deste e botei na barra de meu vestido sinalizando que poderia prosseguir. Dex entendeu o recado, e levantou meu vestido lentamente até tira-lo por completo. Fiz o mesmo com a camisa que ele usava. E assim foi prosseguindo, e a ultima coisa de que me lembro, antes de adormecer, foi que nós dois estávamos abraçados na sala cobertos por três cobertores, que Dex buscara em seu quarto. Eu estava com minha cabeça apoiada no peito dele, e sussurrei á ele “eu te amo”, e ouvi em resposta “eu te amo também”.

21 de dezembro de 1971

Terminei de ler as minhas anotações de 50 anos atrás. O diário onde elas foram feitas estava com as paginas extremamente amareladas, algumas folhas estavam soltas e rasgadas, a tinta em algumas partes havia escorrido ou sumido, porém a letra permanecia legível. Foram se 50 anos desde aquele 21 de julho de 1921. Eu estava em minha casa sentada em minha varanda observando o mar calmo daquele tarde. Não estava calor, mas sim meio nublado com uma brisa de vento cortando o ar. Estava agradável. Enquanto olhava o calmo mar, pensei sobre aquela noite á 50 anos. Fora uma das noites mais maravilhosas de minha vida, se não á mais. Depois daquela noite, voltei á encontrar Dexter para mais “prazeres da carne”. Viramos amantes. Queríamos encerrar nossos noivados e nos casar um com o outro. Mas não foi possível. Edgar quis antecipar nosso casamento e não tive como escapar. Casei-me com Edgar. Ficara desolada com o acontecido, e Dex também. Nossa solução foi continuar com nossos encontros ás secretas. Mas estes viraram menos frequentes, pois eu era uma mulher casada. Mas quando achamos que estava tudo bem, mesmo as coisas estando como estavam, piorou. Carla decidira se mudar para Londres e toda família de Dex apoio a ideia. Dex foi contra ate o final, mas assim como eu quando me casei, ele não teve escolha. Dex fora para Londres, e lá se casara com Carla. Permaneci em Paris desolada com meu fim e dele. Mas tive uma surpresa; estava gravida. E era de Dexter. Por sorte, meu marido achou que fosse dele. Minha família toda comemorou, e eu aproveitei-me dessa situação e pedi para fazer uma visita á Dex. Eles aceitaram meu pedido. Fui para Londres vê-lo, mas não esperava receber á noticia que tive. Houvera um incêndio na casa de Dex e Carla, e Dex salvara-a e acabara morrendo logo depois. Não sei até hoje descrever á dor que sentira quando recebera á noticia. Desmaiara na hora e acordara em um hospital. Logo que me recuperara voltei á Paris. Alguns meses depois, meu filho nascera. Era um menino. Dei á ele o nome de Dexter. Minha família não gostara muito de eu colocar o nome de meu amigo falecido em meu filho, mas para minha própria surpresa, Edgar não se opôs. Ele até gostara. E assim minha vida foi se seguindo. Tivera mais três filhos além de Dexter: Melissa, Anne e Louis. Todos os três filhos de Edgar. Dexter sempre fora tratado como os outros pelo meu marido e por mim, apesar de eu desconfiar as vezes que meu marido sabia que não era pai dele. Por volta de meus sessenta anos, meu marido faleceu. Eu amava-o. Não da mesma maneira que Dexter, mas o amava. Ele fora um maravilhoso amigo, companheiro e um maravilhoso pai para meus filhos. Fora nessa época que decidira revelar á verdade á todos meus filhos. Lembro-me de chama-los para me visitar e contar á ele desde o começo minha historia. Assim que terminei estava em lágrimas, e meus filhos logo foram me abraçar dizendo-me que não era necessário lagrimas. Dexter então me disse algo que desconfiara, mas descartara assim que Edgar falecera; meu marido sabia que o primogênito não era seu filho. Ele contara á Dexter que sabia desde que nos casamos que eu era apaixonada por meu melhor amigo, e que desconfiava desde que engravidara que não era pai da criança, porém só tivera certeza quando eu quis colocar o nome de Dex em meu filho. Percebeu também que a criança se parecia muito com o falecido. Mas que mesmo sabendo de meu adultério, perdoou-me secretamente e continuou me amando até o fim de sua vida. Lembro-me de chorar mais ainda quando meu primogênito contou-me isso. Depois desse episodio, houve algumas mudanças em minha vida. Mudei-me para a costa da França em busca de paz, que conseguira. Vira meus filhos se tornarem casados, e pais. Vi-me tornando-me avó. E depois de todas essas mudanças, aqui eu estava. Enquanto observava as ondas do mar calmo e refletia sobre tudo que já me acontecera, uma espécie de paz interior foi me invadindo e percebi que minha hora chegara. Não estava doente, mas sim velha. Não lutei contra a paz interior, pelo contrario, deixei-a me tomar. Queria ver meus netos crescerem, ver meus filhos se tornarem avós, mas uma hora ou outra eu teria de partir. Enquanto a paz me invadia, comecei á enxergar a luz que todos falavam. A luz que diz realmente que sua hora chegou.


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Notas finais do capítulo

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