Tudo começou em um dia que simplesmente parecia não existir um modo de sorrir. O céu estava completamente cinza, e chovia estrondosamente. Não era aquele tipo de chuva gostosa, que dá vontade de relaxar, ler um livro, tomar algo quente...

Quando não parecia haver como o dia ficar mais ruim para ela, ele a fez encontrar um jeito.

Hermione puxou a manga do suéter e enxugou as lágrimas que caiam sob suas bochechas como as gotas de chuva lá fora. Estava quase sozinha no trem, exceto por uma senhora idosa que estava com uma garotinha, que olhava curiosamente para Hermione.
Hermione tentou não pensar no que a levara ali. Estava frio, e ela estava apenas com aquele suéter e um shorts. As sapatilhas não esquentavam os pés. Ela fechou a mão em punho e socou o banco, com raiva.
Estava cansada de ter que aguentar os erros de Malfoy. As escolhas dela eram limitadas. Podia continuar com ele, sofrendo, mas pelo menos estariam juntos. Ou podia desistir e cansar de tentar ser paciente com ele, mas assim ela viveria infeliz. Longe dele nada daria certo. Ela queria poder escolher algo entre as duas alternativas. Queria ficar com ele, mas sem suas atitudes raivosas, suas brigas.
Sem querer pensar em para onde estava indo, ela fechou os olhos e adormeceu.

— Moça, acorda — Hermione sentiu um chacoalhão. A garotinha que vira antes de dormir estava tentando acordá-la.
— Obrigada por me acordar — ela sorriu pra garota, que correu para a senhora, que devia ser sua avó.
Ela se levantou e arrumou o cabelo. O trem estava parado, e já era de manhã. Ela pegou sua pequena bolsa e desembarcou. Ainda estava chovendo, mas era apenas um chuvisco superficial que logo ia parar. Ela caminhou pela rua, tentando descobrir onde estava. Saíra de Londres, poderia estar em Liverpool. Parou na calçada e chamou um táxi.
— Ah... senhor, em que cidade estamos? — ela perguntou timidamente ao entrar no veículo.
— Liverpool. Pra onde você vai?
— Pra praia mais próxima, por favor — pediu ela, se encolhendo no banco de trás, com a cabeça encostada na janela.
O tempo passou rápido. Logo o carro parou, ela pagou o motorista com um pouco do dinheiro trouxa que guardava em sua bolsa e desceu do táxi.
Ela tirou as sapatilhas e pisou na areia quente. Deu um suspiro satisfeito, e caminhou até onde podia ir sem se molhar. O sol nascia lentamente atrás do mar. Sentou-se na areia e observou as ondas. 
Estava perdida, sentimentalmente e fisicamente. Pra onde iria? O que seria dela sem Malfoy... ah, ela semrpe acabava chegando nesse ponto. Jogou uma mão de areia pra longe e viu um casal namorando, alguns metros ao seu lado. Virou a cabeça rapidamente e se levantou, impaciente. Tudo a sua volta acabava fazendo-a se lembrar dele. De seus momentos de carinho, mas também de suas brigas. Ela sabia (o que era óbvio) que todos os casais poderiam se amar apesar das brigas e discussões. Mas as deles eram frequentes. Ela não aguentava ter que discutir tanto. Cansa qualquer um.
Mesmo tendo fugido para longe dele, ela precisava voltar. O que poderia fazer? Reconstituir uma vida ali, e talvez esperar que encontrasse um outro garoto? É claro que não. Precisava voltar pra Londres, pra sua casa... mas não passava por sua mente que poderia encontrá-lo. Na rua, talvez. A ideia já lhe dava calafrios.
Mas por enquanto precisava se recompor. E se preparar pra dor que a decisão de nunca mais querer vê-lo causaria.