Jack não parava de olhar a boneca que parecia se mexer na mão da garota, mas quando foi perguntar como ela tinha conseguido a boneca os olhos de Maria escureceram seu rosto bem corado empalideceu.  Como se Jack havia perdido a esperança de ser feliz novamente com um leve assoprou caiu no chão, Maria parecia diabólica. Jack tinha que sair dali, mas, como quem o salvaria daquele horror, seus olhos começaram a escurecer também. Uma espécie de luz negra saiu da boca de Maria e ela murmurou:

-Tenho que passar esse espirito maligno para você, pois você que descobriu e me libertou daquele corpo horrível de boneca. Já possuí o corpo daquela vadia de sua avó, troquei pela boneca. Mas seu corpo é velho e fraco, não serve para nada. – Maria mudou de tom, como se tentasse passar um conforto forçado demais, que dava arrepios – Preciso de você menino. Preciso de seu corpo jovem e saudável.

Em sua face podia-se ver um sorriso demoníaco, um sorriso louco. O pobre menino estava tão assustado que nem conseguia chorar pela morte de sua avó, falou então com uma voz fraca:

- C-como você pegou minha vó? Eu falei com ela minutos atrás!

- Ah, ah, ah! Que menino idiota você! Não percebeu ainda queridinho? Eu não sou humana. Eu não tenho vida, não tenho porque viver. Apenas quero outra chance, uma chance de preencher o vazio que vivi durante anos no meu corpo de pano desgastado. – Maria disse, ainda com aquele sorriso, seus olhos tornaram-se buracos negros profundos – sua avó já estava morta a algum tempo. Era eu.

Jack, sem pensar muito, pegou a tesoura da mão de Maria, que ele só tinha notado agora. Afinal, estava mais atento a boneca, que agora era sua avó. Com este pensamento, uma raiva brotou de seu coração, fazendo-o jogar a tesoura contra a menina.

Ele não pensou, não sabia o que estava fazendo. Ele apenas deixou a raiva o controlar. Jack esperava sangue jorrando do corte de Maria, manchando seu vestido, esperava um grito incessável partindo da boca da boneca. O que aconteceu? Pano. A tesoura rasgou sua delicada face como um pano frágil, se rasgando. O sorriso da menina desapareceu, tomado por uma expressão de puro ódio:

- DESGRAÇADO! EU NÃO POSSO VIVER MUITO TEMPO NESSA FORMA! VOU VIRAR UMA BONECA DE NOVO! Vou possuir seu corpo, infeliz. Você vai virar um boneco, como eu. Vai passar pelo que passei.         

Maria agarrou a camisa de Jack, o empurrando para o poço. Jack não sabia o que fazer, ou como fazer. Mas de uma coisa tinha certeza: seja como for, ele iria vingar a morte da única pessoa que o havia amado: sua avó. Em um gesto de sobrevivência, ele se segurou em Maria:

- Se eu cair, você cai também.

- Ah, então vai dificultar não é? Se junte logo as minhas amiguinhas. – ela falou, sem demonstrar medo, na verdade, sem demonstrar nenhuma emoção.

Amiguinhas? O que? Jack olhou para baixo, curioso.

O poço estava repleto de bonecas destruídas, sujas, antigas. Seus olhos vidrados pareciam o vigiar, suas mãos tentavam puxá-lo. Deveria ser uma alucinação, por conta de sua fobia estranha. Ele achava.

- Quantas vezes você já tentou isto, Mariazinha? Sem sucesso em nenhuma dessas vezes, não é? Óh, pobre menininha. Ou deveria dizer, bonequinha? – Jack debochando, tentando fazer com que a menina se distraísse para que ele ganhasse tempo.

- Sua tentativa de me distrair falhou, idiota. – sem piedade, jogou o menino no poço, para se juntar as outras bonecas que um dia já foram crianças, já foram vidas humanas. Jack caiu no poço, batendo a cabeça muito forte no chão. A luz do dia estava cada vez mais distante.