O céu amanheceu nublado naquele dia, o sol não nos brindou com seus raios que aqueciam os corpos tão frios por causa da escuridão da noite.

Assim que levantei, fui correndo para o hospital, e desesperadamente procurei por Shizune, só podia contar com a ajuda dela. Depois de muito procurá-la a encontrei atendendo alguns pacientes. Eu não queria contar-lhe, mas eu estava demais afoita com o que eu descobrira na madrugada.

- Shizune, eu preciso falar com você – fui logo dizendo assim que a encontrei no balcão da recepção conversando como uma enfermeira.

- Sakura-chan, o que aconteceu?

- Por favor, me ajude.

Shizune terminou de dar as instruções para a enfermeira, e em seguida ela me conduziu até uma pequena sala onde havia pilhas de caixas espalhadas pelo cômodo.

- Aqui poderemos conversar tranquilamente – Shizune sabia que ultimamente meus assuntos com ela eram sempre tarjados como “confidencial”, acho que por isso ela escolheu aquele lugar tão reservado - Agora pode me contar o que aconteceu.

Contei a Shizune sobre minha briga com Naruto, por simples necessidade de desabafar e emendando na história contei sobre o que se havia passado naquela noite enquanto eu estava deitada em minha cama.

Shizune ficou espantada e disparou ao final do meu relato.

- Você teve uma hemorragia?!

- Foi bem pequena – fiz questão de acalmá-la.

- Sakura-chan, você sabe como isso pode ser sério? Você pode ter tido um princípio de aborto.

- Eu sei, e foi por isso que vim te procurar Shizune, quero que me examine.

Shizune era largamente mais experiente do que eu. Do jeito que eu estava assustada, achei que seria melhor que ela confirmasse minhas suspeitas.

- Muito bem.

Shizune aproximou suas mãos de minha barriga e usando um jutsu especial me examinou. Ela ficou um longo tempo com suas mãos sobre meu abdômen e não me disse nada, sua expressão foi séria na maior parte do tempo, porém depois de um tempo ela esboçou um sorriso travesso. Afastando as mãos foi dizendo:

- Não precisa se preocupar, Sakura-chan. Parece que está tudo bem com os três bebês.

Eu ri nervosamente e busquei apoio nas caixas que lotavam a salinha.

- Três bebês...

Eu já sabia só que a noticia me pareceu tão surreal que eu quis que Shizune confirmasse.

Ela começou a rir sem parar.

- Eu senti três corações batendo bem fraquinho. – disse Shizune em meio a risadas.

- Isso é...

Shizune tratou logo de completar a minha frase.

- Isso é maravilhoso, Sakura-chan você vai ter trigêmeos! Caramba, três filhos!

Eu não consegui compartilhar de toda a alegria da Shizune. Eu estava pasmada por saber a cegonha me traria três bebês e não apenas um.

- Eu não sei se posso ter trigêmeos...

Shizune estava excitada com a minha tripla gravidez.

- Pode sim, e você vai tê-los, com certeza, como diria o Naruto: dattebayo!

- O Naruto! – exclamei preocupada.

Shizune me havia feito lembrar do Naruto. Eu não havia pensado a respeito de como contaria para ele que eu estava grávida de um, imagina agora contar que seriam três. E como eu lhe contaria isso se estávamos brigados? Para piorar eu havia dito para ele sair da minha vida.

A situação que eu vinha vivenciando nos últimos dias era para fazer qualquer pessoa perder a razão. Passei a me sentir eufórica e ao mesmo tempo assustada em saber que em meu ventre eu carregava três crianças.

Eu e a Shizune saímos da sala que já começava a me dar falta de ar.

- Shizune...

- Já sei, não vou contar para o Naruto. Apesar de que seria demais ver a cara dele quando souber que vocês vão ter três filhos.

- Três filhos?! – repetiu uma voz as minhas costas.

Virei-me e dei de cara com minha sensei.

- Tsunade-sama... – pronunciei seu nome entre os dentes.

- Então, não vão me contar quem vai ter três filhos? – perguntou Tsunade em tom de fofoca.

Tsunade-sama era mais fofoqueira do que qualquer um em Konoha, sempre gostava de saber de tudo o que se passava. Eu olhei para Shizune e Shizune olhou para mim, voltei a olhar para Tsunade-sama que com certeza não sairia dali sem saber das “novidades”.

Eu sorri falsamente e rezei para que Tsunade acreditasse em minha história recém inventada.

- É que eu estava contando para a Shizune que eu e o Naruto teremos três filhos... – tentei consertar falando de um falso plano futuro.

- Três filhos do Naruto! – Tsunade-sama riu ao pensar nisso – E quando pretendem começar a produção? – perguntou num tom debochado.

- Já começaram – disse Shizune se adiantando a mim e estragando a minha história inventada.

- Como!? – exclamou Tsunade-sama surpresa.

- E virão todos de uma vez! – continuou Shizune toda empolgada.

Tsunade-sama caiu para trás ao escutar o que Shizune dissera. Acho que ela ficou mais surpresa do que eu em saber que eu estava grávida de trigêmeos.

Não preciso dizer que quando Tsunade-sama se recuperou do impacto da noticia, ela quis conversar comigo.

Fomos até a sala de cirurgias que estava vazia naquela hora. Tsunade-sama olhou para mim, e em silêncio me mediu dos pés a cabeça.

- Trigêmeos... Você está grávida de trigêmeos...

A maneira como Tsunade-sama pronunciava a palavra “trigêmeos”, soava como algo ruim.

Eu ergui os ombros e logo voltei a abaixá-los.

- Eu não esperava – eu disse com sinceridade.

- Ninguém esperava, não é mesmo?

Eu não sabia se Tsunade estava brava comigo ou não.

- Sim... – concordei num tom de voz baixinho.

Tsunade encostou-se em uma das mesas, cruzou os braços e fechou os olhos.

- Não preciso perguntar se o Naruto já está sabendo nisso, pois sei que teria uma resposta negativa de sua parte.

Os olhos cor de mel de minha sensei se abriram e me olharam de forma severa.

- Não posso contar sobre a gravidez ao Naruto...

- Já pensou o que ele diria se soubesse que você está grávida?

Fiquei a olhando em silêncio algum tempo antes de responder.

- Ele ficaria muito feliz – respondi de forma natural.

- Sakura, ter um filho é muita responsabilidade, e bem, três filhos a responsabilidade é maior.

As palavras de Tsunade-sama me fizeram acreditar que ela estava querendo chegar a um ponto, antes que ela prosseguisse resolvi dar minha opinião sobre esse ponto.

- Eu não vou tirá-los.

Tsunade-sama arregalou os olhos quando eu disse aquilo.

- Oras Sakura, quem disse para você tirar? Eu apenas estou dizendo que para enfrentar essa situação, você e o Naruto terão que ser bem maduros, bem, você vai ter ser bem madura.

- Eu sei que seremos ótimos pais para nossos filhos.

Eu não sei de onde vinha essa minha convicção, afinal eu e o Naruto não vivíamos numa realidade que nos permitisse ter tanta certeza quanto a um futuro cheio de felicidade.

- Sakura, o que vai fazer se o Naruto morrer? – Tsunade foi direto a questão a qual eu não queria pensar jamais.

- Por... por que está me perguntando isso?

A possível morte de Naruto vinha me vinha atormentando nos últimos tempos.

- Ainda não temos uma maneira de refazer o selo, sabe disso, não é? – Tsunade-sama continuou falando.

Apenas balancei a cabeça. Novamente a realidade se sobrepunha a qualquer sonho de felicidade e de um futuro ao lado da pessoa que eu amava.

- Eu vou... – tomei coragem para dizer de maneira firme o que eu tinha a dizer - Eu vou lutar até o fim, e sei que o Naruto também não vai desistir – tentei falar com a máxima convicção.

Eu precisava acreditar em algo, não podia deixar a esperança morrer dentro de mim, porque se eu não me agarrasse a algo eu cairia num abismo de solidão e tristeza.

Tsunade-sama me olhou novamente com certa admiração no olhar; depois de passar tanto tempo ao lado dela eu podia dizer quais eram seus sentimentos apenas pela forma como ela olhava.

- Eu sei o quanto você é forte Sakura, mas não estamos num campo de batalha, não são habilidades que vão salvá-la e muito menos salvarão o Naruto... – Tsunade-sama respirou fundo - Conte ao Naruto que você está grávida, talvez isso o faça sossegar um pouco.

- Não! – retruquei imediatamente.

- O que está dizendo? – Tsunade-sama ficou brava por minha recusa em seguir suas ordens.

- Não posso... – desviei o olhar de Tsunade-sama fixando-o na faixa de luz que havia no chão – Não posso colocar mais esse sobre as costas dele.

- Naruto tem direito de saber que vai ser pai – ela me disse de maneira severa.

- Não agora, só preciso de mais um tempo.

Um tempo de silêncio passou entre nós, antes que Tsunade-sama voltasse a falar.

- Sakura, eu não posso tirar o Naruto das missões e você sabe disso, por isso é melhor que ele desista por conta própria. Se ele souber que você está grávida, tenho certeza que ele vai desistir.

- Naruto decidiu que continuaria nas missões, mesmo quando eu lhe pedi tantas vezes que não o fizesse... – meu tom de voz demonstrava a minha raiva e minha mágoa.

- Essa é uma vingança? – mais uma vez a franqueza de Tsunade me atingiu – Vai se vingar dele escondendo a sua gravidez?

Vingar-me do Naruto dessa maneira? Nunca tal idéia havia passado por minha cabeça, porém não pude deixar de dar razão ao argumento de minha sensei.

- Não quero me vingar do Naruto... Só que não quero que ele faça as coisas porque eu estou grávida... – ergui com orgulho a minha cabeça – o Naruto tem que tomar suas decisões por seus sentimentos e não por obrigações.

- Vocês brigaram, não foi?

Perdi as forças ao escutar aquilo. Como ela poderia saber disso? Sem alternativa eu acabei contando também para Tsunade-sama o motivo de minha briga com Naruto na noite anterior.

- Ele pediu que você se casasse com o Sasuke! – repetiu surpresa.

- De uma maneira indireta foi isso.

Tsunade-sama analisou em silêncio a situação.

- É parece que ele já perdeu as esperanças de continuar vivendo... Ou está preocupado com seu futuro.

- Ele nem se importou com os meus sentimentos! – rebati nervosa.

- E você está preocupada com os dele?

Tsunade-sama sabia rebater melhor do que eu, e dessa vez eu não havia conseguido pegar de volta a bola.

- Preocupada com os sentimentos dele?... Eu o amo e não sei o que fazer para salvá-lo.

Lágrimas vieram a meus olhos e me senti envergonhada em estar chorando em frente a Tsunade-sama.

- Eu preciso de um tempo, por favor, não conte nada ao Naruto – eu lhe supliquei.

Sem esperar uma resposta por parte de minha sensei, eu fui em direção a janela, abri-a e saltei. Ao saltar escutei as últimas palavras de minha sensei ecoando no ar.

- Sakura, não é bom que fique pulando por aí...

Realmente eu teria que ser mais cuidadosa dali por diante, afinal eu não estava mais sozinha, tinha três vidas dentro de mim para zelar.

Nota da autora: que grande surpresa, não foi? Sakura grávida sw