Eu suava frio quando finalmente passei pela porta que indicava a saída. Hoje foi meu primeiro dia no ensino médio; Passei a aula toda desenhando e evitando olhar diretamente para as pessoas. Por sorte, passei despercebida. Não tive coragem de conversar com ninguém por ser tímida e um pouco antissocial.

Suspirei ajeitando a mochila no ombro e observei a calçada; Vi meninas e meninos em grupo, andando alegremente enquanto conversavam. Senti a inveja me penetrando, nunca tive amigos verdadeiros; Na real, as pessoas só falavam comigo para pedir cola na prova. Balancei a cabeça indignada e fui embora.

Estava na rua de casa perdida em devaneios quando um vulto saiu de um beco próximo e agarrou minha perna. Um pequeno vulto. Arrepiei-me ao toque; Assim que pus meu corpo para frente a fim de vê-lo, arregalei os olhos e falei algo do tipo:

–OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOWN!

Era um bebê vestido de vaca! Arco-íris refletiram em minhas íris, com aquela visão totalmente fofa. Ele me segurou mais forte, como se quisesse desesperadamente de um carinho. Sacudi minha perna com força para tentar tirá-lo daquele grude.

–AAAAH! LAMBO SE MACHUCOU! AHHH! –Ele soluçou- LAMBO GOSTA DE UVAS!

Sem pensar duas vezes, peguei-o no colo e coloquei o bebê-vaca dentro da minha mochila para esconder de minha mãe problemática. Ela falaria na hora que eu deveria encontrar seu responsável... Isso se ela não estivesse com 2 ou 3 homens no quarto cheio de drogas e barulhos. Meu pai se separou dela quando descobriu que o traía. Minha mãe entrou em uma terrível depressão; Até hoje gasto 70% do dinheiro que meu pai dá pra mim em seus remédios de tarja preta. Ele virou um empresário de uma megacorporação em Londres, já tem uma mulher e dois filhos mais do que merecidos. Não sei como consigo acordar com disposição para ir para a escola a cada dia que passa. Enfim achei meu motivo: você. Eu já iria desistir, abandonar minha mãe e viver sozinha, quando um lindo neném apareceu. O motivo da minha felicidade agora. O quê irá acontecer se seus pais te acharem? Como vou sorrir e seguir adiante sem você?

“Oh droga.” Pensei. ”Já estou fazendo textos melodramáticos. Duvido que quando eu trocar a fralda disso eu continuarei a pensar dessa forma.”