Apenas levante-se.

Apenas entenda.

Apenas esqueca.

Mas o que eu faço com todas essas memorias?

As lágrimas dçao um nó na minha garganta

E a eternidade já não faz mais parte de mim, de nós

Parecia que ia dar certo

Os beijos eram tão doces

As noites eram tão calmas

Os dias cheios de risos

Eu me acostumei com seu beijo

Até com as feridas que me causavas sem perceber

Eu não me importava.

Eu só te queria do meu lado...

E hoje só tenho fotografias rasgadas

Rabiscos sobre saudades

Eu e você.

(...)

Sorriu como uma criança ao sentir o roçar do nariz de Raito em sua nuca, o dia mal amanhecia, os beijos mal começavam, era tão rotineiro, sempre sabia que ia acordar com aquelas caricias, com aquelas mãos lhe puxando para perto e ela sempre fingiria dormir para sentir por mais tempo os lábios gelados fazerem o contorno de seus lábios.

-Eu te amo.

Misa abriu primeiramente o olho esquerdo, os lábios entre abertos estavam confusos, ela realmente ouviu direito?

-Raito...

E seus lábios foram tomados pelo de Raito, adocicados como uma cereja, viciante como um cigarro, aquele tipo de beijo que ela sabia que nunca iria enjoar, que sempre iria por fim a cada briga, que nunca lhe deixaria sozinha; era uma certeza tão boba e tão ingenua, mas nos exatos 32 segundos que aquela dança perfeita de linguas aconteceu, ela conseguiu ver os dois juntos por um longo tempo, as mãos entrelaçadas, os sorrisos bobos, os cigarros dividos, fotos, desenhos, noites viradas com um violão na mão e garrafas de cerveja esquecidas no chão.

(...)

Agora tudo estava perdido

Eu haviame perdido

- Esse foi meu erro.

Mas parecia tão sincero

Aqueles olhos nunca seriam capazes de mentir pra mim

Eu estava cega

Me recusava a enxergar

Essa é a verdade

Eu quis tanto algo

Que criei a ilusão

De que era perfeito.

(...)

Pôs os oculos escuros, disfarçando os olhos enxados devido as lágrimas, se encolheu em um canto e deixou o cabelo cair sobre seu rosto cansado.

Ela sabia que não estava errada, mas Raito nunca admitiria um erro e seu coração de coelho foi fraco demais para deixa-la sair por aquela porta sem tentar impedir mais uma vez; porque dependia tanto daqueles olhos, mãos, pernas, dependia tanto daquele sorriso, daquela voz, daquele colo para deitar o rosto e esquecer do mundo, de seus erros, das feridas que Raito mesmo causou nela.

-Fique-

Raito virou o rosto e negou com a cabeça, a mão na macaneta lentamente abriu a porta e saiu por ela, antes de ir ele simplesmente susurrou:

-Eu volto-

Misa não conseguiu encarar aqueles olhos antes que a porta fosse fechada, seu coração havia se partido pela primeira vez e doia, naquele exato momento ela percebeu que estava apaixonada, que o amor que sentia por Raito havia lhe consumido o corpo, alma, partiu do coração e dominou sua mente e agora encontrava-se em uma queda livre proposital.

Se ela não tivesse aceitado o pedido de namoro, escutado os amigos, não o tivesse convidado para entrar, não tivesse sorrido para suas piadas sem graça, não tivesse dado seu coração tão fácil assim as mãos de Raito sem pedir o dele em troca - sem ao menos saber se ele lhe daria em troca.

Agora era tarde demais.

Mas ele voltaria, não é?

Ele voltaria.

(...)

Peixe fora d'água

Me perdi do meu oceano

Eu vivia em um aquario

Era seu peixinho dourado

Ele me matou

Esqueceu de me dar amor

Carinho

E se foi

- Ele volta -

Não seja tola.

(...)

Se sentia completa de novo. Depois de um outono se despedaçando em lágrimas, o inverno trouxera de novo um motivo para lhe sorrir, parecia que não haveria mais despedidas entre eles, o sorriso alto de Raito ecoando na sala de estar, os sofás afastados, a mesa mudada do centro da sala para o canto.

Dançavam como se não houvesse amanhã, os passos incertos, alguns erros, alguns beijos, as mãos inocentes que trilhavam a cintura de Misa e lhe fazia arrepiar os pelos loiros dos braços - Era tão gostoso tê-lo de volta.

-Eu não quero nunca mais ficar longe de você-

Raito apenas sorriu e continuou a acompanhar a música lenta com Misa em seus braços.

(...)

Se eu pudesse esquecer o passado

Estar em outra

Esperar o futuro

Ir pra estrada

Sem dor

Riso frouxo

Sem saudade

Memorias boas

Se...

Eu pudesse ter escolhido...

Ah...

(...)

-Desculpe-

Misa apenas abaixou os lábios, a respiração estava controlada e as lágrimas realmente queriam lhe saltar os olhos e descer, afogar toda aquela dor atencipada.

Mas ela não conseguiu chorar, não conseguia pensar nada, no fundo ela sabia: isso iria acontecer de novo, o jeito instavel de Raito e como ele lhe dizia adeus de uma forma tão fria, como se os meses que elas tivessem passado juntas não valessem de nada; ah sua bosta, ela só conseguia ter nojo.

-Porque você voltou?-

-Porque eu fiquei com pena Misa, apenas isso-

Foi uma facada dentro de seu peito, a primeira lágrima caiu de seus olhos, seu corpo estava mole mas seus pés ainda lhe sustentavam no chão, ela estava morrendo por dentro, mas seu orgulho ferido não deixava demonstrar nada disso. Seja forte. Raito não merece nenhuma das lágrimas que você já derramou e o oceano que você ainda vai derramar.

-Como você pode ser tão frio?.. Com...o-

-Estou sendo sincero, eu não estou feliz, eu.. eu preciso ir embora, de um tempo-

-Não quero um tempo. Se você escolher ir embora Raito, não volte, não me dê esperanças.

Não sabia como tinha encontrado forças para dizer isso, talvez o cansaço de seu coração onde cada batida lhe jogava na cara todas as palavras de Raito novamente.

"Eu fiquei com pena"

"Eu não estou feliz"

Onde foi parar todos os risos? As declaraçoes de amor? Os planos? Os sonhos? As frases clichê as 4 da manhã? No lixo? Não significou nada para você?

-Desculpe, eu volto-

-Talvez eu não esteja mais aqui-

Ela não queria mais estar aqui. Só queria morrer, ir pra longe, outra dimensão, uma queda livre proposital do 5° andar.

E ele se foi. Sem olhar pra trás. Frio como sempre se enforcando dentro daquela gravata frouxa.

E ele lhe levou o coração.

(...)

Não tenho forças para ir

Não tenho forças para correr

Eu queria ir em frente

Mas sempre volto pra tras

Eu queria parar

Mas eu tenho esperanças mortas

Eu queria você

Mas já não sei mais.