Anomalia Mutante escrita por Neko
Notas iniciais do capítulo
Mais um capítulo novo saindo do forno!
[...]
– Por que estamos escondidos? – Perguntou Ethan, fitando as outras crianças que estavam entretidas correndo para lá e para cá na hora do recreio.
– É que eu queria te entregar isso... – Ratificou Lindsay, entregando-lhe algo pequeno e mal embrulhado em um papel de presente sujo.
A menina o levara para longe de todos e agora eles se encontravam debaixo das pias do lavatório. Lugar onde, presumiu Ethan, ela se escondia toda vez que brincavam de pique esconde.
– Abra! – Exclamou ansiosa para o menino.
Ele rasgou o pacote sem hesitar e acabou por deixar o presente cair no chão, emitindo um estalido seco. O garoto abaixou-se e agarrou-o com suas pequenas mãozinhas, abrindo-as para ver o que era.
– Uma pedra?! – Indagou surpreso. Era uma pequena pedra cinza que detinha o curioso formato de um coração.
– É para você se lembrar de ser forte como uma rocha, mesmo que aqui estiver doendo... – A menininha botou a mão no magro tórax de Ethan, indicando seu coração.
[...]
– Ethan?! Lindsay?!– Murmurou com sua voz rígida. – Ai meu Deus, o que estão fazendo aqui?
Ela continuava praticamente a mesma, exceto pelos cabelos, que estavam grandes e pareciam abarrotados de tristeza, assim como ela.
– Estamos procurando por você e pelo jeito fugindo de você... Ou seria o inverso? – Refletiu Lind, confusa.
– Nós pensávamos que você estava morta! – Relatou o menino, abobado. – O que eles fizeram com você?
– Não há tempo para explicações. Vão logo antes que os outros os vejam! – Gralhou, olhando atenta para os lados. Mas os dois não se mexeram, somente olharam um para o outro.
– Não vamos sem você! – Disse Ethan, tomando uma posição.
– Eu não posso ir com vocês... – Disse, com sua voz falhando. O farfalhar de asas já podiam ser ouvidos ali perto. – Agora vão!
Os dois avançaram contra a menina, abraçando-a. Carly sentiu seu coração esquentar, assim como os dois amigos, que logo se desgrudaram dela e correram, mesmo com uma enorme relutância.
– Você os deixou escapar?! – Gritou o moreno, se aproximando. Seu rosto estava repleto de leite de coco, mas não parecia haver nenhum galo. Os gêmeos o acompanhavam logo atrás, mas pareciam completamente contidos. – Não sei onde estavam com a cabeça quando colocaram uma novata como você na chefia! Vou pegá-los sozinho.
Ele atravessou as duas portas bufando enquanto Carly o observava, contendo-se para não voar no pescoço dele (literalmente).
– Eram seus amigos, não eram? – Perguntou Miles, se encostando na prateleira.
– Sim... – Respondeu a garota, abaixando a cabeça. O gêmeo também fez o mesmo, em um ato solidário, enquanto Miley se mantinha calada, somente analisando a situação.
Enquanto isso a dupla de fugitivos era seguida de perto por Jake. Eles haviam corrido mais de um quilômetro e, embora estivessem cansados, ainda podiam aguentar muito. Ethan arfava pesadamente e sentia o ruído contínuo do sangue jorrar em sua cabeça, não pensava em nada somente em fugir. Lindsay sentia o mesmo.
Já estavam praticamente no centro da cidade. Diversos mercadinhos e lojas turísticas erguiam-se ao longo da avenida. Lindsay tivera uma ideia quando estavam próximos a Lanchonete Doce Sabor e puxou Ethan para outro beco ao lado desta, semelhante ao que eles haviam entrado. Era totalmente escuro e tinha uma grande lixeira na qual o excremento era mandado diretamente para um grande lixão no sul da cidade. O farfalhar de asas do monstro podia ser ouvida a uns duzentos metros dali.
– É agora ou nunca! – Gritou Lindsay para o menino que a olhou pasmo, mas concordando.
Os dois pularam juntos. A lixeira devia ter dois metros de largura, pois eles couberam facilmente. Ethan sentiu o ar passar rápido sobre sua barriga, afagando-a com cócegas e logo já deslizava para dentro daquilo. Ambos começaram a gritar enquanto escorregavam em uma velocidade enorme nas descidas e subidas pequenas do reduto até que o ‘’túnel’’ chegou ao final e eles caíram com um baque seco em algo fétido.
– Você está bem, Lind? – Perguntou Ethan, levantando-se com a mão direita na cabeça.
– Exceto por ter sido perseguida por monstros assassinos, pelo fato de ter perdido um dos meus melhores amigos, por ver que a minha melhor amiga foi transformada em um deles, por saber que eu vou ficar de castigo o ano todo se eu chegar viva em casa e por ter caído em um lixão fedorento, eu estou ótima! – Disse sarcástica, levantando-se e tirando uma casca de banana podre na cabeça.
O garoto subiu num pequeno monte de lixo, provavelmente o mais alto do lugar, e observou as poucas luzes acessas de Bran a cerca de dois quilômetros dali.
– Não podemos voltar para a cidade até o amanhecer... Teremos de ficar aqui.
– Ótimo! Dormir em um lixão fedorento com meu bff: tudo de bom! – Ironizou Lindsay, revirando os olhos.
Ela conseguia ser idiota, irônica, boba e chata quando queria, mas extremamente leal a um colega e era isso que Ethan mais prezava em sua amiga. Eles estudavam juntos desde pequenos mas só começaram a se conhecer de verdade há quatro anos atrás.
[...]
– Eu quero um trabalho bem feito sobre o processo de decomposição para a aula da semana que vem. – Dizia a professora de ciências. – Ele será produzido em duplas.
– Duplas de dois, professora? Pode fazer com o Google? – Zombou Lindsay, fazendo todos da sala rirem, exceto o nerd...
– Sinceramente, como consegue zombar de uma coisa tão importante?! – Bradou Ethan, com ar indignado.
– Se é tão importante para você porque você não se mata? Vai se decompor rapidinho e ainda vai fazer um favor à sociedade! – Disse a menina, acompanhada pelo uivo encorajador dos outros alunos.
– Parece que vocês estão bem afobados para fazer o trabalho não é? Pois bem! Já temos uma dupla. – Falou a professora, com um sorriso insano e provocador .
Os dois se olharam embasbacados.
– Nós dois fazermos um trabalho?! – Protestou a menina.
– Juntos?! - Continuou o rapazote.
– É isso aí! – Confirmou a professora, cruzando os braços e abrindo um sorriso maior ainda.
Por coincidência o sinal tocou na mesma hora e todos da sala saíram, menos os dois que ainda estavam em estado vegetativo depois do informado.
– Não ache que isso mudará nossa relação, cabeça de fósforo. – Disse Lindsay para ele, saindo da sua perplexidade.
– Nosso sentimento sempre será recíproco, fake da Barbie! – Respondeu o menino.
– Na minha casa às três? – Perguntou ela, levantando-se com a mochila nas costas e estendendo a mão.
– Já é! – Respondeu o menino, batendo na mão dela.
E assim os dois saíram juntos, conversando como se não se odiassem até um minuto atrás.
[...]
As lembranças voltaram na cabeça dele repentinamente. Era tão engraçado lembrar-se de como eles eram idiotas quando crianças, de como eles começaram uma grande amizade brigando...
– Do que você está rindo? – Indagou a menina, curiosa.
– Estou lembrando de como viramos amigos. – Disse, surpreendendo-se com o próprio sorriso repentino.
Lindsay soltou um risinho contido e fitou o chão com uma expressão triste. Ela sentia dor de relembrar tudo aquilo que ocorrera, de como eram bons aqueles tempos quando todos eram felizes e ninguém precisava se prender em suas casas, perdendo entes queridos e chorando em seus túmulos.
– Por que isso tinha de acontecer, Ethan? Por quê? – Reclamou a menina, numa vã tentativa de suprir o choro. Ela pôs as duas mãos em sua face, tentando esconder as lágrimas e algo a agarrou delicadamente.
– Precisamos ser fortes como uma rocha, mesmo que os problemas nos atormentem. – Sussurrou o menino, abraçando-a e lembrando-se da pequena pedrinha que recebera a muito tempo de uma amiga muito querida...
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Adorei os momentos Linthan e Etharly! E vocês? Comentem!