Mochileiros Em Misericórdia escrita por Ghefrentte


Capítulo 4
Capítulo 4 - Dinamite Pangaláctica.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior, nosso grupo descobre com a ajuda do Seu João Raposo a localização de mais uma misteriosa reunião. Porém, novos membros da Liga de Malfeitores aparecem...



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– Ghe Reverso? – Perguntou o Necromante.

– Exato. Tipo um clone do mal do Ghe original. – Explicou Robotnik.

– E pra que isso seria útil? – Questionou Jack, o Espantalho.

– Veja bem, o Ghe viajou muito no tempo com o Doutor. Os dois são de uma estranha raça alienígena... e ele possui muito conhecimento, que pode ser transferido para um clone e... usado para o mal. – Disse o Conde Robotnik.

– E por que você não usou o DNA do Doutor então? Ele tem bem mais conhecimento. – Falou Gatilho Rápido.

Conde Robotnik fez um facepalm.

– Não é tão simples pegar o DNA do Doutor. – Explicou ele.

– Eu estou ouvindo, caras. E estou ofendido. – Disse o Ghe Reverso.

– Calma. Você, tenho certeza, fará muito bem o serviço a qual será requisitado. – Exclamou Robotnik.

– E qual seria? – Perguntou o Ghe Reverso.

– Preciso que, com seus conhecimentos, invada toda a rede de computadores da cidade e hipnotize os cidadãos. Assim, eles ficarão mais vulneráveis ao nosso ataque.

Meu clone maligno, o Ghe Reverso, pensou um pouco.

– E o que eu ganho em troca?

– Metade do que conseguirmos saquear nesse meio tempo. – Disse Robotnik.

– Eu topo. – Concordou o Ghe Reverso. – Por onde começo?

Robotnik indicou uma mesa com um grande e antigo computador.

– Você quer que eu invada todo o sistema da cidade com esse... dinossauro?! – Questionou o Ghe Reverso.

– Algum problema? – Perguntou Robotnik, seco.

– Nenhum. – Disse meu clone maligno, sentando-se a mesa e iniciando os trabalhos.

Nessa hora exata, Cobra, com uma arma cuja a origem eu desconhecia, atirou um dardo tranquilizante no pescoço de Robotnik, que caiu e desmaiou na hora.

– Invençãozinha do Clock. – Sussurrou Cobra, explicando.

– O que foi isso?! – Perguntou o Ghe Reverso, junto com o Necromante, Jack o Espantalho, Gatilho Rápido e Flecha no Alvo.

Eles procuraram por um tempo no recinto, mas acabaram não olhando o corredor da escada aonde estávamos escondidos, por nossa sorte.

– Que estranho... – Murmurou Gatilho Rápido.

– Relaxe. – Disse o Necromante. – Se meu palpite estiver certo, vai levar apenas alguns segundos...

Nesse momento, Rodrigo deu um grito, tropeçou e caiu, abrindo a porta e revelando nosso esconderijo. Atrás do lugar aonde ele há pouco havia estado, estavam os fantasmas da família d’O Necromante.

– Ahá! – Disse o mesmo, triunfante!

– Vocês estão muito encrencados. – Disse Flecha no Alvo, o puffle de Gatilho Rápido, que estava montado num suporte atirador de flechas murando para a testa de Rodrigo.

– Espere... – Murmurou o Ghe Reverso. – Eles podem ser úteis. Não matem-os. Deixem-os presos.

– Desde quando você está no comando? – Queixou-se Gatilho Rápido.

– Desde que sou o mais inteligente de vocês.

– Ei! – Queixaram-se Gatilho Rápido, Flecha no Alvo, Jack o Espantalho e o Necromante.

– Mas é verdade. – Falei, sarcástico.

– Agradeço, meu caro... progenitor. Mas CALE A BOCA! – Disse o Ghe Reverso.

Eles nos prenderam numa grande jaula, e, como tortura, colocaram-a em frente à mesinha de computador aonde Ghe Reverso executava seu trabalho. Tudo parecia perdido, quando tive a minha ideia.

– Doutor... – Sussurrei.

– O que? – Respondeu ele.

– Você ainda tem a chave de fenda sônica?

– Sim, mas seria arriscado usar. Faria barulho, eles iriam perceber.

– Aguenta firme, tive uma ideia. Vou puxar conversa para distrair meu clone, e tente usa-la, por trás das costas e na frequência mais baixa possível para abrir o cadeado, ok?

– Na frequência mais baixa? Isso pode levar até meia hora para abrir um cadeado!

– Eu dou meu jeito! Invento uma conversa, explico uma receita, sei lá.

– Receita? Ele tem a sua mente! Ele sabe todas as receitas que você sabe!

– Nem todas. Como o clone foi feito à partir de um pedaço de mim, e não da minha forma inteira, nem todas as memórias foram passadas. Tenho uma receita muito longa aqui. Espero que isso nos faça ganhar tempo.

– Certo. – Disse o Doutor, tirando discretamente de seu bolso a chave de fenda sônica, ajustando a frequência e colocando sua nadadeira atrás das costas. – Pode começar.

– Ei, Ghe Reverso! – Gritei.

Meu clone maligo parou de digitar.

– O que foi? – Perguntou ele.

– Sabe fazer Dinamite Pangaláctica? – Perguntei.

– Dinamite Pangaláctica? – Perguntou ele, com desdém. – Hm... essa memória não foi transferida para mim. Você está inventando isso?!

– Não. – Respondi. – Puxa, não sei como você pode perder essa informação. A Dinamite Pangaláctica é simplesmente o melhor drinque do universo.

– O melhor drinque? – Repetiu o Ghe Reverso. – Hm. Eu não devia confiar em você, sabe. Normalmente, eu suspeitaria de um plano, mas como sou uma versão melhorada de você, Senhor do Tempo inferior, estou ciente de que você nunca poderia me enganar com conversa fiada. Além disso, eu poderia muito bem resolver o trabalho que me foi imposto em minutos, e como tenho muito tempo sobrando, posso ouvir sim sua receita. Além do que, estou morrendo de sede. Aquele maldito do Robotnik... – Ele olhou por um momento para o Conde, ainda desmaiado no chão devido ao dardo tranquilizante de Cobra. – Não me deu nada para beber desde que saí da cápsula de clonagem. Então vá em frente. Mas diga-me... se esse drink é tão bom... qual é o efeito que ele causa?

– Oh, é uma sensação quase indescritível. – Garanti. – É meio que... hm... como explicar... é uma sensação parecida com a sensação de ter o crânio esmagado por uma fatia de limão envolvida numa barra de ouro de um bom tamanho.

– Wow... – Murmurou o Ghe Reverso. – Isso parece ser uma experiência única.

Meu clone maligno virou-se ao computador e rapidamente abriu uma nova aba, no bloco de notas.

– Qual é a receita? – Perguntou ele.

– Antes, só pra garantir... Como meu clone, você tem parte da memória de minhas viagens intergalácticas, não é? – Perguntei.

– Sim. – Confirmou o Ghe Reverso.

– Então, alguns dos ingredientes desse drinque não estão disponíveis nesse planeta. Mas creio que com toda a inteligência que você herdou de mim, conseguirá achar substitutos cabíveis. – Disse eu, inflando o ego do meu clone.

– De fato. Enfim, pode começar a dizer.

– Primeiramente precisará de um copo muito bonito. Muito mesmo.

– Ok. – Disse o Ghe Reverso, anotando isso no bloco de notas.

– Depois, de uma garrafa de Aguardente Janx.

– E depois...?

– Misture com parte de água dos mares de Santragino V.

– E depois?

– Ah, Santragino V... – Disse eu, para ganhar tempo. – Que saudade das praias de Santragino V...

– Prossiga. – Disse o Ghe Reverso, num tom zangado.

– Dissolva três cubos de mega-gim arturiano na mistura. – Expliquei.

– E...

– Se não for congelado da maneira correta, perde-se o benzeno. – Adverti.

– Tá, tá, e depois? – Perguntou meu clone, anotando tudo no bloco de notas.

– Faça com que quatro litros de metano dos pântanos de Fália borbulhem através da mistura, em memória de todos aqueles mochileiros bem-aventurados que morreram de prazer nos pântanos de Fália.

– Isso é realmente necessário? – Perguntou o Ghe Reverso.

– Totalmente. – Confirmei.

– Que receita mais estranha.

– De fato. Mas é o melhor drinque do universo. E o efeito é como...

– ... Ter o crânio esmagado por uma fatia de limão envolvida numa barra de ouro de um bom tamanho. Tá, isso eu já sei. Continue.

– Equilibre numa colher de prata virada ao contrário uma dose de extrato de Hipermenta Qualactina, com toda a fragrância inebriante das tenebrosas Zonas Qualactinas, sutil, doce e místico.

– Sabe, estou começando a achar que você está inventando isso... – Murmurou meu clone.

– Como ousa a questionar o seu pai?! – Falei em alto tom.

– Você não é meu pai!

– Claro que sou! Você é meu clone!

– Tá, mas... você não é meu pai. É só meu progenitor.

– E seguindo as mais vagas definições da palavra, sou seu pai sim. Agora não me desafie, mocinho, e continue anotando a receita.

– Ok, e o que vem depois? – Perguntou o Ghe Reverso, zangado.

– Acrescente um dente de tigre-do-sol algoliano e veja-o dissolver-se, espalhando os fogos dos sóis algolianos no âmago do drinque.

Ele anotou tudo, ainda que meio zangado, no bloco de notas.

– Já está terminando? – Perguntou ele.

– Sim, estou quase. – Falei, olhando discretamente para o Doutor, que, infelizmente, diferente de mim, não parecia nem perto de acabar o que estava fazendo. – Acrescente uma pitadinha de zânfuor.

– E agora?

– E o toque final é... uma azeitona. E voilà!

– Porque terminar a frase em francês?

– Francês tem uns termos bem legais. Voilà, Allons-y...

– Tá, tá, poupe-me dessas suas frescuragens francesas. Boa parte do que você sabe sobre essa língua está no meu cérebro, e oh céus, como eu odeio esse idioma... Enfim, ah, azeitonas. Finalmente algo que tenha nesse planeta.

– De fato. – Concordei.

– Vou demorar bastante para achar esses substitutos. – Afirmou o Ghe Reverso. – Vocês aceitam? – Perguntou ele para Jack o Espantalho, o Necromante, Gatilho Rápido e Flecha no Alvo, que estavam assistindo, com estranheza, aquela conversa sobre drinques intergalácticos.

Ninguém aceitou o drinque.

– Bom, azar o de vocês. Farei só pra mim. – Disse o meu clone maligno, levantando da cadeira do computador e indo até a bancada do esconderijo aonde ficava um bando de armários e prateleiras com comida, que, junto com um fogão e uma geladeira que claramente haviam sido roubados, deveria representar à cozinha.

Após preparar tudo com os substitutos cabíveis, o Ghe Reverso levantou o copo.

– À dominação mundial. – Brindou ele.

– Claro... – Sorri.

– Terminando... – Sussurrou o Doutor.

Meu clone maligno levantou o copo ao bico e tomou tudo em um gole só. Então ele largou o copo, que se espatifou no chão, caiu e começou a tremer e murmurar algumas coisas identificáveis.

O Doutor finalmente parou de apertar sua chave de fenda sônica e o cadeado cedeu e abriu.

Saímos da gaiola.

Jack o Espantalho, Gatilho Rápido, Flecha no Alvo e o Necromante, ainda retardados pelo susto, nos deram a vantagem do elemento surpresa.

Com sua chave de fenda sônica, o Doutor conseguiu fazer o suporte mecânico de Flecha no Alvo explodir, empurrando-o para trás. Quando ele estava prestes à levantar, foi impedido por Moe, que o deu uma forte mordida que fez o puffle maligno sangrar e fugir escadaria acima.

Gariwald, que era um cientista pacifista, mas não um lutador, também decidiu fugir.

Jack, o Espantalho, estava prestes à borrifar seu gás do medo, quando Cobra, agindo furtivamente, prendeu o tubo que expelia o gás do cilindro, fazendo-o explodir na cara do próprio Jack.

Azul tratou de dar um chute que nocauteou Robotnik, que finalmente estava começando a acordar.

Gatilho Rápido tentou atirar em mim com todas as armas possíveis, porém consegui facilmente desviar de tudo. Quando as munições acabaram, ele fugiu, seguindo o exemplo de seu puffle.

O Necromante estava prestes a conjurar os fantasmas de sua família para nos assombrar quando Rodrigo sabiamente prendeu sua cabeça com o saco de batatas retirado do rosto de Jack, fazendo-o ficar atordoado e dando tempo de Justin dar um forte chute em sua barriga, a ponto de deixa-lo fora de si.

Quando tudo acabou, andei lentamente até o Ghe Reverso, que ainda estava deitado, tremendo freneticamente e murmurando coisas sem sentido.

Peguei e estudei um dos cacos maiores que haviam sobrado do copo de Dinamite Pangaláctica que havia caído no chão.

– Oh, perdão. – Falei, ironicamente. – Como sou esquecido. Acabou que esqueci de mencionar que, apesar de ser o melhor drinque do universo, a Dinamite Pangaláctica também é o mais PERIGOSO do universo. Você tomou uma Dinamite Pangaláctica sem se prevenir, sem tomar os devidos cuidados que devem ser tomados antes de ingerir essa perigosa porém deliciosa mistura. Até mesmo eu, que sou um poderoso Senhor do Tempo, não consigo tomar mais que duas. Pelos sintomas, parece que o drinque afetou fortemente o seu sistema nervoso. Num momento palerma, eu sou o único que poderia te levar a uma ONG de Ajuda Para as Vítimas da Dinamite Pangaláctica agora.

Entre murmúrios distintos, o Ghe Reverso conseguiu pronunciar:

– E-e-eu tttteeee od-od-eeeeio...

Sorri.

Foi aí que percebi que o Doutor deixou sua chave de fenda sônica cair perigosamente perto do Ghe Reverso.

Meu clone pegou rapidamente o instrumento, antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, e apontou para algo perigoso que eu não havia reparado: Uma pequena protuberância de aparência maleável que pairava no meio da sala: A entrada de um buraco de minhoca.

[NOTA DO ESCRITOR: “Em física, um buraco de verme ou buraco de minhoca é uma característica topológica hipotética do continuum espaço-tempo, a qual é, em essência, um "atalho" através do espaço e do tempo. Um buraco de verme possui ao menos duas "bocas" conectadas a uma única "garganta" ou "tubo". Se o buraco de verme é transponível, a matéria pode "viajar" de uma boca para outra passando através da garganta. Embora não exista evidência direta da existência de buracos de verme, um contínuum espaço-temporal contendo tais entidades costuma ser considerado válido pela relatividade geral.

O termo buraco de verme (wormhole em inglês) foi criado pelo físico teórico estadunidense John Wheeler em 1957. Todavia, a ideia dos buracos de verme já havia sido proposta em 1921 pelo matemático alemão Hermann Weyl em conexão com sua análise da massa em termos da energia do campo eletromagnético.” – Definição da Wikipédia para Buraco de Minhoca, para explicar melhor pra vocês. Enfim, já interferi demais nesse momento fatídico e tenso da história, não é? Bom, vou deixar vocês aproveitarem. N.doE.]


– Oops... – Disse o Ghe Reverso, apertando o botão na chave de fenda sônica com um sorriso maligno numa frequência perigosamente alta.


Foi então que a Entrada do Buraco de Minhoca se expandiu por um segundo, levando todos que estavam na sala (isso era eu, o Doutor, o Ghe Reverso, Rodrigo, Azul, Justin, Moe, Cobra e os inconscientes Robotnik, Jack o Espantalho e o Necromante)

Olhamos em volta. Estávamos cercados por clones do Doutor, Justin, Rodrigo, Cobra e Moe, porém todos amarelos e com roupas vermelhas, laranjas e olhos pretos e vermelhos. Eram versões “reversas” de meus amigos. Estávamos num ambiente aberto, que parecia o bom e velho Club Penguin, mais especificamente o Centro. Porém tinha algo errado. O céu era vermelho, a neve no chão preta e as construções assumiam um horrível padrão de cores vermelho, laranja e amarelo.

– Vocês acharam mesmo que eu não tinha um Plano B? – Indagou o Ghe Reverso, sorrindo. – Bem vindos ao Universo Reverso.


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Notas finais do capítulo

Referências usadas no texto:
— A Dinamite Pangaláctica é um drinque originalmente mencionado na famosa série de livros de ficção científica O Guia do Mochileiro das Galáxias.
— Ghe Reverso e todos os outros Reversos são baseados no Flash Reverso, um inimigo do Flash.