Durante um jantar, Pedro estava conversando com Caspian sobre algumas futuras providencias que segundo o magnífico rei poria boa parte dos planos dos seguidores da feiticeira branca por água abaixo. Uma notícia animadora afinal, diante da ameaça do retorno de Jadi. Um pouco afastados dali, na mesma mesa estavam Edmundo e Lucia conversando em segredo sentados um ao lado do outro.

_Lucy, você não acha um pouco estranho o comportamento da Agnes? _questionou Ed em tom de sussurro.

_Como assim Ed? _Lucia sequer recordou do modo como Agnes se retirou rapidamente com a chegada da irmã mais velha ao campo.

_Voce notou quando estávamos no campo de treinamento? _questionou Ed.

_É acho Agnes muito doce, mas confesso que é bastante misteriosa. _sussurrou Lucy. _Como se escondesse alguma coisa.

_Eu acho que sei o que é... _respondeu com o olhar voltado para a porta por onde Suzan adentrava a sala de jantar.

_Suzana! _disse Caspian se levantando e indo até uma cadeira onde Suzana pretendia se sentar e puxando-a como um cavalheiro.

_Me desculpem pelo atraso! _ela sorriu ao se sentar. _Estava tendo um pouco de trabalho com meu vestido!

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_Se tivesse escolhido um modelo com menos amarras já estaria aqui há meia hora... _Edmundo riu.

_Só que o outro não era tão bonito! _Suzana sorriu mostrando seus dentes brancos destacados entre os lábios vermelhos de batom.

_É só um jantar, não precisava ter se dado tanto trabalho... _Pedro franziu a testa diante da vaidade da irmã.

_Sou uma rainha de Nárnia, não posso me dar ao luxo de andar por aí com qualquer pedaço de pano... _concluiu Suzan.

Pedro sacudiu a cabeça em negação, enquanto Edmundo erguia as sobrancelhas, e Lucia apenas sorria olhando para Caspian que se sentou a cabeceira da mesa olhando Suzana com olhar curioso. Todos seguiram com o jantar, até que surgiu o assunto.

_Já que parece que as coisas estão um pouco mais calmas, eu gostaria de convidá-los a se unir a mim em uma pequena comemoração! _prosseguiu Caspian.

_Uma festa? _Suzana sorriu animada.

_Sim Suzana! _ele voltou a olhar pra moça. _Trata-se do aniversario de uma amiga muito querida!

_Agnes! _Ed concluiu sozinho.

_Sim! Agnes... _respondeu Caspian.

_Ah, a telmarina... _Suzana pareceu desinteressar-se rapidamente.

O problema com sua frase foi o adjetivo que ela adicionou ao se referir a Agnes. A moça era uma telmarina assim como Caspian, e a maneira como a rainha se referiu a Agnes, fez parecer que não era grande coisa, como se tivesse se esquecido do fato do rei também ser um telmarino. Todos ficaram em silencio encarando Suzana que se manifestou:

_Eu disse alguma coisa?

_Diga Caspian, quando será a festa? _Edmundo desviou o olhar da irmã tentando evitar o constrangimento.

_Ah... _ele gaguejou um pouco confuso depois concluiu. _Amanhã... Agnes preferiu se unir aos amigos de seu vilarejo. E eu prometi a ela que estaria lá!

_Bom então iremos todos... _disse Lucia. _Se ela não se importar!

_Creio que ela se sentirá honrada com a presença dos reis e rainhas antigos! _disse o rei com um sorriso gentil.

_Então está decidido! Certo Suzana? _Pedro ergue as sobrancelhas esperando resposta.

_Claro! _sorriu Suzan.

Assim todos seguiram com o jantar. Mais tarde, Lucia sentiu-se um pouco cansada e com sono, e pediu que Pedro a acompanhasse até seu quarto. Edmundo preferiu fazer um breve passeio pelo pátio do castelo e observar as estrelas antes de dormir. Já Caspian pediu a companhia de Suzana em uma caminhada pelo interior do castelo. Depois acompanhou a rainha até seus aposentos. Diante da porta, antes de entrar Suzana dirigiu seus olhares mais charmosos ao rei, que instintivamente se aproximou alguns passos e segurou sua mão.

_Suzana... _disse ele olhando aqueles olhos azuis. _Posso lhe pedir uma coisa?

_Pode! _Suzana umedeceu os lábios.

_Eu não sei bem como... _Suzana levou seu dedo indicador aos lábios de Caspian o interrompendo.

_Shh... _ela sorriu então tocou o peito do rei. _Eu sei...

Neste momento, seus olhos se cruzaram e então Suzana tocou o rosto do rei e o trouxe para junto de si, beijando os lábios de Caspian, como desejou a noite inteira. O rei tocou a cintura de Suzana gentilmente então sentiu os braços da moça ao redor de seu pescoço. Ambos recostaram-se a porta em um longo beijo de longos anos de espera. Ao fundo do corredor Edmundo flagrou ambos, então sorriu e seguiu seu caminho pelo outro corredor para não atrapalhar.

...

Doce Telmarina

No dia seguinte, no vilarejo onde Agnes nasceu estavam todos envolvidos com a festa. Que coincidia com a mesma data em que o verão se despedia e dava espaço para a bela estação que antecedia o inverno. As comemorações de outono tinham inicio na presente data, se alongando por mais três dias. A estação do ano favorita da telmarina, que adorava ver as folhas secas caírem cobrindo todos os campos, e seguindo seu processo natural. Agnes estava em casa, com a mãe que preparava uma grande torta para uma comemoração mais intima apenas com o marido e a filha. Depois do almoço, a moça começou a procurar por um belo vestido, com a ajuda da mãe.

_Queria ter algo mais bonito do que esses vestidos... _disse um pouco desanimada diante de seus vestidos modestos.

_São vestidos tão bonitos filha! _disse sua mãe Jasmine. _Alguns eu mesma fiz!

_São bonitos mãe, mas nenhum que se compare aos... _ela ergueu os olhos. _Deixa pra lá...

_Tem algum cavalheiro que queira impressionar? _Jasmine não sabia dos sentimentos da filha para com o rei.

_Não! _ela mentiu, pois sabia o que sua mãe diria se contasse a verdade. _Só queria estar bonita.

_Você é linda minha menina! _Jasmine andou até a filha e tocou seu rosto. _Qualquer rapaz ficaria encantado por voce!

_Nem todos, mãe... _Agnes desviou da mãe.

_O rapaz certo notará suas qualidades! _Jasmine notou o ar triste nos olhos da sua menina. _Tenha paciência!

Agnes se olhou em um espelho ajeitando um vestido escuro diante de si, enquanto sua mãe a olhava gentilmente. Jasmine deixou a filha sozinha em seu velho quarto, e foi cuidar de seus afazeres. Agnes ajeitou uma mecha de seus cabelos chocolate e forçou um sorriso, depois bufou retirando o vestido de sua frente e o jogou na cama. Andou até a janela, e viu todos envolvidos em colocar enfeites feitos com flores ao longo da rua. A telmarina debruçou-se na janela e se pôs a pensar no rei.

_Ele olharia mais pra mim se eu fosse tão bonita quanto ela... _disse a si mesma. _Se ao menos eu tivesse o vestido certo...

...

Comemoração de Outono (parte I)

À noite Agnes tratou de cuidar de sua higiene para a festa. A telmarina se banhou, depois adentrou ao seu quarto encontrando sobre sua cama um belo vestido verde musgo, bem escuro no estilo que ela gostava, bordado desde o decote até a barra, com flores de linha cor creme. Havia também um de seus cintos favoritos ao lado do mesmo, preto bastante largo, e uma caixinha contendo um par de brincos pequenos que pertenciam a sua avó falecida.

_Mãe! _Agnes sorriu ao apanhar o vestido.

A moça se vestiu, arrumou seus cabelos com uma trança bastante longa deixando-a presa sobre o ombro. E colocou os brincos sentindo falta apenas de um colar, mas já estava sentindo-se bela com tal vestido. Saiu de seu quarto e se dirigiu a cozinha onde seu pai e sua mãe a esperavam abraçados um ao outro com um belo sorriso.

_Mãe, pai! _ela sorriu e andou até os dois abraçando-os. _Obrigado pelo presente!

_Agradeça seu pai! _disse Jasmine.

_Deve ter custado um grande tributo pai... _a filha o olhou docemente. _Tem certeza que não vai fazer falta?

_O rei me paga muito bem querida! _respondeu Cleveland. _Minha única filha merece um pequeno agrado!

Agnes comemorou girando pela sala com seu vestido novo, tão bonito quanto ela desejava, sentindo-se uma princesa. Estava feliz, e só pensava na expressão do rei ao vê-la assim tão bonita. Caspian estava tão acostumado ao ver Agnes com roupas escuras que pouco lhe favoreciam, ou vestida como homem que provavelmente vê-la assim, tão feminina lhe causaria boa impressão.

...

As festividades de outono começaram do lado de fora. Alguns homens tocavam flautas e alguns tambores discretos para animar os moradores do vilarejo. Agnes acompanhava um de seus amigos de infância um pouco mais jovem que ela em uma dança, que era basicamente giros e pulos, e completavam-se com o bater de palmas, depois tudo se iniciava outra vez. Agnes estava feliz, recebendo alguns olhares e elogios de certos rapazes, mas isso pouco importava pra ela, já que quem realmente lhe interessava ainda estava por chegar.

A noite foi passando, e a passagem das estações logo se completaria assim chegando o dia de Agnes. Enquanto sorria batendo palmas junto a um pequeno grupo de jovens rapazes e moças, Agnes desviou o olhar para uma das esquinas pensando ouvir cascos batendo no chão. Ela sorriu ao ver a sombra de alguns cavalos, e seus olhos brilharam, mas isso durou pouco, apenas até Agnes perceber que apenas se tratava de um carregamento de bebidas para a festa.

_Venha Agnes! _disse uma moça lhe puxando pelo braço. _Vamos dançar!

A telmarina começou a perder as esperanças, logo imaginando que o rei estaria ocupado demais para deixar suas funções e comparecer em uma festa tão humilde. Além do mais, Suzana estava no castelo. O que mais o rei poderia desejar? Seus olhos ficaram tristes, e Agnes perdeu parcialmente o desejo de comemorar.