–Eles são crianças! Não deveriam caçar monstros nessa idade!

Alex estava dando uma palestra sobre "crianças não deveriam matar monstros ainda", o que era bastante hilário, por que ele era um monstro.

Eu estava lá, sentada na minha cadeira, esperando ele acabar para nós podermos ir embora.

Mas o mais engraçado de tudo isso, era que ele estava brigando com o diretor.

Eu ainda não entendia o que o diretor tinha a ver com tudo isso, se ele era humano, mas aparentemente ajudar os caçadores era o suficiente.

Eu sabia que as pessoas de fora que olhavam para Alex discutindo por mim parecia que ele era muito mais que meu professor.

–Alex...

–Não, ele precisa ouvir. -Ele se virou novamente para o diretor- Ela poderia ter sido morta ontem e eu não vou aceitar que isso aconteça novamente!

–Você é um lobisomem! Não tem poder nenhum sobre os caçadores.

Alex bateu as mãos na mesa com força. -Eu não pedi a sua opinião.

Eu me levantei. -Desculpe, mas eu fiz um acordo com os caçadores. Nada de mortes desnecessárias. O que aconteceu ontem poderia ter sido evitado.

–Desculpe senhorita, mas o mundo não gira ao seu redor.

–Eu nunca disse--

O sinal tocou. Eu mordi os lábios. Eu não penso só em mim mesma. O quem eles pensam que eu sou?

Eu mal percebi que eu segurava a mão de Alex, até que eu percebi ele me olhando fixamente. Eu senti meu rosto esquentar e eu soltei a mão dele.

Fomos direto para a aula dele, andando lado a lado em silêncio.

–Desculpe se o que eu fiz mais cedo a deixou chateada.

–Tudo bem.

Entramos na sala, eu me sentei no mesmo lugar de sempre, e esperei enquanto Alex organizava os papéis na mesa.

–Hoje, eu vou ler alguns poemas para vocês. Eu quero que vocês analizem e escrevam um texto para mim, tudo bem? -Ele deu uma pausa, limpou a garganta e começou. -My Love Is Like To Ice, de Edmund Spenser:

My love is like to ice, and I to fire:
How come it then that this her cold is so great
Is not dissolved through my so hot desire,
But harder grows the more I her entreat?
Or how comes it that my exceeding heat
Is not allayed by her heart-frozen cold,
But that I burn much more in boiling sweat,
And feel my flames augmented manifold?
What more miraculous thing may be told,
That fire, which is congealed with senseless cold,
Should kindle fire by wonderful device?
Such is the power of love in gentle mind,
That it can alter all the course of kind.

Meu amor está para o gelo e eu para o fogo:
Como pode então esse calor dela que é são bom
Não ser dissolvido pelo meu desejo tão quente
Mas crescer mais duro quanto mais eu a suplico
Ou como pode meu calor excedente
Não ser aplacado pelo frio do coração congelado dela
Mas que eu queime muito mais que suor em ebulição
E sentir minhas chamas múltiplas aumentadas?
O que mais miraculoso pode ser dito,
Que fogo, o qual é congelado com frio sem sentido,
Deve acender o fogo por dispositivo maravilhoso?
Tal é o poder do amor em mente gentil,
Que pode alteral o curso de uma espécie.

Ele parou por alguns segundos, deixando o significado daquelas palavras penetrar a mente de todos. Meu coração estava batendo acelerado, o sangue correndo rápido em minhas veias, a respiração curta.

Eu reconhecia nós dois nesse poema.

Éramos diferentes, supostamente deveríamos matar um ao outro, mas de certa forma, juntos ficávamos mais fortes. Quantas vezes eu estava em perigo de vida e ele me salvou? E o final "Tal é o poder do amor em mente gentil,/Que pode alteral o curso de uma espécie.", o que era isso se não a guerra entre as nossas espécies? E ele dizendo que nós poderíamos mudar tudo?

Então eu percebi que todas as garotas ao redor estavam suspirando por causa desse poema. Aparentemente, elas também se reconheceram. Eu duvido muito que os garotos não tenham se reconhecido no poema também, como o eu-lírico. Alex tinha esse poder, de inebriar todos com sua voz.

Ele levantou os olhos e os fixou em mim. Seus olhos azuis que eu conhecia também, agora profundos, intensos, concentrados, focados em mim. Meu coração bateu ainda mais forte e eu tive a impressão que todos alí poderiam ouví-lo.

–Agora, Because She Would Ask Me Why I Loved Her, de Christopher Brennan:

If questioning would make us wise
No eyes would ever gaze in eyes;
If all our tale were told in speech
No mouths would wander each to each.

Were spirits free from mortal mesh
And love not bound in hearts of flesh
No aching breasts would yearn to meet
And find their ecstasy complete.

For who is there that lives and knows
The secret powers by which he grows?
Were knowledge all, what were our need
To thrill and faint and sweetly bleed?

Then seek not, sweet, the "If" and "Why"
I love you now until I die.
For I must love because I live
And life in me is what you give.

Se questionar nos fizesse sábios
Olhos jamais olhariam nos olhos
Se todo o nosso conto fosse contado em discurso
Bocas não vaguariam para outras

Eram espíritos livres de malha mortal
E amor não ligado em corações de carne
Seios doloridos não ansiariam para conhecer
E encontrar seu completo êxtase

Para quem está lá e vive e sabe
Os poderes secretos pelo qual ele cresce?
Eram do conhecimento de todos, qual era a nossa necessidade
De emocionar e desmaiar e docemente sangrar?

Então não procure, querida, o "se" e "por que"
Eu amo você até morrer.
Eu devo amar por que eu vivo
E vida em mim é o que você me dá.

Minha pele vibrava a cada palavra que ele pronunciava. Ele recitava esses poemas com tanta paixão que não havia quem não seentisse os mesmos sentimentos que o eu-lírico.

Ele limpou a garganta. -Podem começar o texto

–***-

–Eu esqueci do seu aniversário, pode pegar.

Pela primeira vez, Alex havia me convidado para almoçar na sala dele. É claro, no começo era meio desconfortável, mas ele apenas sentou na cadeira e começou a comer, o que me obrigou a fazer o mesmo.

De acordo com ele, ele havia comprado meu presente à alguns dias (depois do meu aniversário, é claro) e queria que eu recebesse de qualquer maneira.

–Eu esqueci totalmente por causa da sua transformação e do aniversário da minha... Me desculpe.

Eu sorri.

–Ah sério, você vai se desculpar? Você nem me conhece a tanto tempo assim. -A verdade era que eu queria abrir e ver o que ele havia escolhido para mim

–Eu sinto como se eu conhecesse você desde sempre. Então abra logo. -Eu deixei meu sanduíche de lado e rasguei a embalagem. Um pequeno pote vidro estava pendurado por um acorrente. Eu reconheci o líquido dentro do vidro. Lágrimas de fênix.

–Se você precisar de mim e eu não puder ir. -Ele havia se levandado e estava em pé, apoiado na mesa. Ele deu um sorriso irônico e me olhou nos olhos.

Eu abracei ele e sussurrei um "obrigada". Eu senti o corpo dele balançando enquanto ele sorria.

–***-

Após me deixar na esquina da minha casa, Alex estava sentado na moto, esperando que eu me despedisse e fosse embora.

–É sério, eu adorei o presente.

–Só não use com besteiras, ok? Somente. Quando. Estritamente. Necessário.

–Tudo bem.

Ele passou a mão pela nuca. -Sobre mais cedo, com o diretor--

–Alex, eu agradeço o que você fez hoje mas... Não faça de novo, ok?

–Eu não vou deixar você ser morta e apenas ficar assistindo. Você entendeu? Eu não vou--

Eu dei um passo para a frente juntei nossos lábios antes que ele me afastasse.

Eu coloquei os dedos entre os fios de cabelo dele e sentindo o quão macio era.

Ele colocou a mão na minha cintura e me puxou mais para perto, eu perdi o equilíbrio e tive que me apoiar na moto.

Eu só queria sentir daquele jeito para sempre, a língua dele na minha, os meus dedos no pescoço dele, ele me puxando mais para perto, mas eu me afastei dele.

Eu esperei alguns segundos, mas ele não disse nada, então eu apenas saí caminhando o mais rápido que eu podia.