L e Eu: Malvistos, Malquistos e Malditos escrita por Signore Hemlock


Capítulo 1
Personas Non Gratas


Notas iniciais do capítulo

Música de fundo: "Karma Pollice" (Radiohead)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34792/chapter/1

   Otakus (para dizer no geral referente a esse site – apesar de haver também os fãs de seriados e congêneres) adoram personagens de animes (ou seriados, livros, bandas, etc.) – e tem motivos mesmo para isso, já que no geral eles são incríveis.

 

   Muitos otakus também louvam alguns personagens – sem problemas, desde que não seja algo doentio.

 

   E enfim, muitos otakus têm a mania de se acharem parecidos com qualquer personagem. Quando se perguntam para uma pessoa porque ela se acha parecida com, vejamos, Kurosaki Ichigo de “Bleach”, os mais simplórios dizem algo como “ah, porque ele é sugoi desu ne, né? xD”. Outros com mais “argumentos” dizem algo como “porque ele é valente, protege seus amigos, é radical, além de ser kawaii! *-*”. Uns poucos mais respeitáveis (e esses eu particularmente levo em consideração) podem dizer algo como “Porque eu, assim como Ichigo, me preocupo mais com as pessoas que eu amo do que comigo mesmo. Eu também provavelmente estaria me lixando para regras, leis e tradições para salvar meus amigos. E sei que mesmo eu sendo um cabeça dura, assim como o Ichigo sabe disso ele mesmo, ainda assim eu continuaria a ser desse jeito, que nem ele” – e esse tipo de otaku mais consciente tem o meu carinho e minha simpatia e não é para esse tipo de otaku que ao todo essa fic foi feita (Antes que eu me esqueça, acreditem: o Ichigo é resumidamente assim tal qual foi descrito – mas não é de Kurosaki Ichigo que eu vou falar aqui :P)

 

   Enfim, otakus no geral (vou começar a pegar pesado a partir de agora) se acham dignos de se parecerem com qualquer personagem, acham que tem a mesma envergadura para, por exemplo, suportar os mesmos sofrimentos de um Uchiha Itachi, por exemplo, e acham que isso é bonito, isso é legal e, principalmente, acham que ser parecido com um personagem é sempre uma honra e algo que não machuca.

 

   Se você é esse tipo de otaku, lamento informá-lo, mas você não sabe a besteira que você está fazendo e não sabe a desonra que está dando ao seu personagem com o qual você acha que se parece. Por que eu digo isso? Por que eu, com toda a franqueza do mundo, afirmo que me pareço com L Lawliet do mangá/anime “Death Note”

 

   E acreditem: eu não gosto nada disso. Isso me dá calafrios. E vou explicar a partir de agora...

 

 

 ---

 

   Antes de qualquer coisa, permita-me desde já esclarecer algumas coisas: eu não tenho o maior trunfo de L: a sua genialidade prodigiosa. Também – ainda bem! – não me sento daquele jeito esquisito dele. No que se refere à alimentação, até que eu atualmente ando comendo bobagens que nem ele (apesar de que eu, ao contrário dele, como coisas salgadas. Ele porém sabe fazer outras coisas que não seja Nissin Miojo...). No que se refere a vestuário, eu, apesar de ser um tanto quanto desleixado, sou beeeemmmmmm mais higiênico (não tem nem comparação!) e com maior variedade de roupas (apesar de basicamente se resumirem a camisetas negras com logos de bandas que eu gosto, calças jeans nas cores azul ou cinza e outras coisas). Tem um monte de outras características com as quais eu me pareço ou não ou pouco com ele, mas no principal eu e L somos parecidíssimos nos aspectos mais deprimentes de nossas personalidades: a frieza no trato com a maioria das pessoas, a carência sentimental (nós não somos emos! *irritado de antemão*), certa percepção cruel e melancólica do mundo e das pessoas (embora que o verdadeiro sucessor de L, Near, de quem eu sou fã, seja ainda mais tudo isso – além de ter a vantagem de ser, por dentro, mais auto-suficiente que L), certo senso de dever masoquista acima das demais coisas – em especial do bem-estar daqueles que nos cercam... Para aqueles que vêem/lêem bem Death Note (cujo anime para mim é uma obra-prima no que concerne à profundidade no enredo e em seus conceitos – ainda falo disso um dia, prometo!) os detalhes trágicos da personalidade e atitudes de L são visíveis. É quase a mesma coisa comigo. E é de me dar angústia internamente.

 

 

---

 

   No começo de sua aparição em “Death Note”, L se mostrou, protegido por uma tela do computador, como um sagaz detetive à caça de Yagami Raito. Toda essa sagacidade à distância, porém, se mostrou inútil diante de um oponente fenomenal como Yagami Raito (sério: Raito tem todos os requisitos para, por exemplo, enfrentar de igual para igual, intelectualmente falando, o imponente Aizen Sousuke de “Bleach”. Essa é outra coisa que eu gostaria de falar um dia desses. Voltemos à L) e do despreparo – descambando muitas vezes até em incompetência – da Polícia Japonesa, do FBI e dos governos ao redor do mundo. L então, diante de tamanho problema, teve de fazer algo extremamente arriscado: se mostrar para um grupo confiável de policiais e trabalhar com eles para capturar Kira. Enfim, que viu/leu atentamente Death Note sabe toda a história e percebe que coisas como Yagami Raito ser filho de Yagami Souichiro (o personagem de moral mais inabalável da série, apesar da saúde frágil. Isso é fato) não foram meras coincidências. Mas isso tudo também não importa. O que importa é a impressão e reação que L causava nas pessoas que o cercavam.

 

 

   O julgavam, corretamente, como alguém esquisito, como alguém cheio de neuras e obsessões e até como alguém que não media esforços para fazer justiça – mesmo que ele tivesse que prejudicar a si mesmo, ele o faria, acredite! Amane Misa até o viu como um pervertido disfarçado...

 

 

   E no que isso tem a ver comigo? Tudo! Diante dessa tela do meu laptop, por exemplo, eu posso comprovar de forma segura a frivolidade dos fãs dessa coisa horrível chamada Tokyo Hotel (lembrem-se: isso aqui é um desabafo deveras insultuoso!), o mau-gosto desse pessoal que acha que Twilixo é literatura (pior: acha que Twilixo merece ser denominado como “livro”...) e as mutretas praticadas pela esquerda mundo afora. Mas, e daí? Amparados pelo descaso geral das pessoas e por serem a imensa e poderosa maioria, meus adversários (que muitas vezes nem tomam conhecimento de minha existência inútil) não são nem um pouco abalados com meus silenciosos despautérios. Logo, eu tento colocar um pouco da minha mão na massa e tacar minha boca nos trombones, não porque eu ache que com isso eu vá mudar todo o mundo (L também não achava que iria salvar o mundo do jeito em que ele se encontra erradicando a ameaça de Kira, acreditem), mas sim para fazer minha parte para ou pelo menos salvar alguma coisa, por mais ínfima que seja ou para obliterar algo, por mais fracamente maligno que seja (sim, espalhar o som de McFly, por exemplo, ao redor do mundo é sim algo diabólico... xD) ou, mais acertadamente, não colaborar com a decadência geral do mundo em quase nada, das maiores (não matar, nem roubar, não trapacear utilizando de coisas como o “jeitinho brasileiro”, por exemplo) às menores coisas (o fato de eu achar que Babacka Obama, por exemplo, não é o “salvador da lavoura” e nem ficar na torcida por aquela fraude que grande parte do mundo comprou ano passado é minha pequeníssima contribuição contra a estupidez generalizada, modéstia à parte).

 

 

   As pessoas que me conhecem, tanto pelo MSN quanto ao vivo são categóricas: eu sou esquisito. Pessoas mais próximas a mim, tanto pelo MSN quanto ao vivo também concordam que eu sou cheio de manias, obsessões, neurótico e sério. E nem pretendo aqui pormenorizar as acusações absurdas que algumas garotas fazem a mim de que eu, na verdade, por trás de toda minha timidez e recato, não passo de um baita dum pervertido...

 

 

   Quem dera se minhas similaridades com L acabassem aí. Ainda não chegamos às piores e mais deprimentes partes...

 

 

---

  

   Retornando à L e ao anime, logo após se revelar à Yagami Raito que o tormento de L se intensifica e se revela aos poucos que estão á sua volta. Raito, além de ser um rival de início à altura de L (desconsiderem por agora o trunfo sobrenatural com o qual Raito esmagará L no fim do conflito entre ambos), Raito tem características que fazem L ficar admirado (mas não invejadas, é bom que se diga): é popular, igualmente inteligente, admirado pela sua personalidade por seus parentes e amigos, faz sucesso entre as mulheres e é alguém com desenvoltura para ser importante ao mundo aos olhos vistos. Por tudo isso que L, acertadamente, sempre viu Raito como um grandioso perigo secreto para a ordem mundial – que por si só já está em contínuos frangalhos. L sabia que por trás de toda a boa figura de Yagami Raito, se escondia um sociopata doentio, cheios de conceitos relativistas e maquiavelistas (para não dizer logo maquiavélicos) de justiça e portador de uma megalomania assustadora que seria o fim do mundo. L dedicava seus esforços esgotantes para achar qualquer coisa, por mais mínima que fosse – desde que fosse algo irrefutável e devastador, como um calcanhar de Aquiles – para impedir que Raito triunfasse e assim manter o mundo em seu rumo ao abismo.

 

  Mesmo lutando em segredo (um segredo, porém, nem um pouco velado, diga-se de passagem) contra Raito, L vê nele alguém encantador, alguém que possa continuar seu trabalho, provavelmente sendo até melhor e tendo mais meios que ele próprio. Por favor, não me venham com essa história de que L nutria sentimentos levianamente yaoísticos por Kira. O sentimento que L tinha por Raito era de amizade – não qualquer amizade, mas sim a profundidade com o qual esse termo merecia ser tratado diariamente, pois há poucos amigos verdadeiros no mundo, que se completam, se corrigem, se parecem e, principalmente, se melhoram e se engrandecem. Por mais que um tenha lutado contra o outro, foi exatamente isso que aconteceu com Raito e L no pouco tempo em que ficaram juntos. Dizer assim, da forma mais banal e estúpida possível, de que L amava Raito de forma homoerótica não só é de uma boçalidade gritante, como é uma injustiça para com ambos – até porque Raito no fundo não amava ninguém e só via a todos como ou objetos ou obstáculos para seu objetivo final...

 

 

(Antes de iniciar mais uma comparação entre minha pessoa e a de L, permitam-me só pegando o gancho comparar outro “casal” que costuma ser muito mal observado: Ulquiorra não sentia nenhum amor sensual por Orihime. Entre os dois também há algo profundo: Orihime foi para Ulquiorra uma rara visão de bondade no meio de tanta monstruosidade e bizarrices no Hueco Mundo. Mas acreditem: se fosse para recuperar o conforto sombrio com o qual estava habituado, Ulquiorra inclusive mataria Orihime – e essa é a verdadeira tragédia dele. Continuemos com a idéia original da fic.)

 

  De novo: o que isso tem a ver comigo? Aqui porém as coisas ficam um pouco mais complicadas de se explicar. De antemão, já vou dizendo que eu não tenho nenhum amigo, rival e inimigo similar à Yagami Raito (se bem que um primo meu está se tornando de certa forma um verdadeiro Kira... mas isso não é importante xD). O meu caso é que quando. O que acontece (ou melhor: aconteceu) foi que eu cortei muitas e muitas relações por pessoas que moraram já uma vez em meu coração por conta de escolhas morais, ideológicas e espirituais que elas já tinham de diferente para comigo ou, pior ainda, que eles fizeram durante nosso relacionamento. E não que eu não aceite qualquer mudança de hábito ou conduta, eu só não aceito quando essas mudanças são erradas ou quando são pobres – o que dá na mesma. Já vi por exemplo ex-niilistas virando esquerdistas festivos, pessoas que eu considerava religiosas virando ateístas no estilo Richard Dawkins ou Karl Marx (quem conhece esses dois vai entender o que é que eu quero dizer com isso) ou pessoas que lutavam contra a sua própria imbecilidade enfim se rendendo a ela. E foram coisas tristes de se ver, eu garanto. (deve ter sido triste para muitas deles porém, eu reconheço, terem visto minhas mudanças ao longo dos anos: de socialista ateu para direitista agostiniano, de misantropo à humanista, etc.) Mas enquanto estivemos juntos, nós nos enriquecemos bastante e eu sou muito grato a muitas dessas pessoas. Sei que muitas dessas pessoas também diriam elogios quanto a mim, modéstia à parte. Mas nós não podemos mais andar lado-a-lado hoje, não mais, senão nos destruiríamos de muitas formas...

 

  E eu fiquei – fico ainda – contra muitas destas pessoas porque os projetos com os quais elas colaboram ou enfim decidiram prestar sua colaboração são um desastre para o mundo. Mundo esse que do jeito que ele está sendo posto para “funcionar”, não tem lá muita esperança. Mas os projetos revolucionários com os quais tanto ex-amigos quanto inimigos declarados meus apóiam ativamente ou não colocariam a nossa civilização no fundo do esgoto de uma vez por todas!

 

  Mas mesmo que eu vencesse, sozinho (porque de certa forma eu luto sozinho contra esse tipo de coisa – que não cabe aqui pormenorizar o que seja), isso ainda assim não salvaria o mundo e a humanidade. L sabia disso quando tentou extirpar o mal de Kira. Eu sei disso, mesmo tentando, por exemplo, dar uns baitas duns tabefes em ateístas militantes inspirados por Sam Harris ou em esquerdoídes doutrinados por Marilena Chauí. E isso é deprimente para nós dois em nossas respectivas batalhas derradeiras, já que justamente contra o maior de todos os inimigos – a estupidez –, originário tanto de revolucionários como patrocinador das “maiorias satisfeitas” que circulam putridamente mundo afora nós não temos como derrotá-la sozinhos. E a cada dia que passa, poucos são os que colaboram conosco por N motivos... 

 

---

 

   Algo que me inspirou a escrever essa fic foi um episódio do anime que vi mais uma vez recentemente. Como alguns de vocês devem saber, há uma versão dublada de Death Note no canal Animax. A dublagem em minha opinião não é lááááá a mais maravilhosa do mundo, mas cumpre bem o seu papel e merece louvor de qualquer forma. Mas retomando aqui, eu, que já havia assistido Death Note legendado umas duas vezes, assisti o episódio 18 (“Aliado”) já que eu tinha um tempinho sobrando em meus afazeres aqui. Para quem não assistiu ou esqueceu, nesse capítulo ocorre, entre outras coisas, uma briga entre L e Raito (a propósito: eu não luto capoeira nem nada que nem ele >.<), o abandono da Agência de Polícia do caso Kira (tudo por contadas ameaças de Kira, agora representado pela Yotsuba, a políticos japoneses), a auto-demissão de Souichiro, Mogi e o tonto do Matsuda e o mais importante nesse capítulo: o abandono de Aizawa do caso.

 

  Para quem não se lembra, nesse episódio fica decidido pela Polícia Japonesa que quem continuar trabalhando no caso Kira será demitido, sem direito a nenhuma bonificação. Em certa parte desse episódio, o solteirão Matsuda diz que para aqueles que tem família para sustentar (o caso de Aizawa) isso seria algo horrível. A partir dai começa uma das atitudes mais revoltantes, porém necessárias, de L: ele diz que, na sua opinião, todos os presentes deveriam continuar como policiais e que ele (L) e Raito (que estava preso a ele devido às fortes suspeitas quem recaiam sobre ele) resolveriam o caso sozinhos e que no final L levaria a cada um dos que colaboraram a cabeça de Kira para mostrar que os esforços de todos os presentes não foram em vão – mas salientando, de forma um tanto quanto repleta de menosprezo que contra com a ajuda de dois ou três civis é bem diferente do que contar com a ajuda da Polícia como organização. O inabalável Souichiro com convicção fica ao lado de L. Matsuda, empolgado como sempre, diz que também ficará no caso – além do mais ele ainda teria o emprego como agente da “Misa-Misa”... – e em sua empolgação nada contagiante, faz um comentário infeliz de que se sentiria um fracassado se abandonasse o caso com as mãos abanando. Nisso, Souichiro o repreende e nesse instante a câmera vai se focando ao rosto pesaroso de Aizawa, que a partir desse momento tenta arranjar uma forma de manter seu emprego na polícia e negociar com L sua permanência no caso. L, por boas razões, se mantém irredutível e a cena vai assim prosseguindo, de forma angustiante, com os policiais tentando consolar Aizawa dizendo que de forma alguma o culpariam por ele abandonar o caso enquanto este vai desabafando dizendo que pensava que estaria pronto para morrer se necessário pelo caso, mas que com o risco de desamparar sua família ele esteja titubeando. Nisso, piorando ainda mais a situação, Watari de repente comunica nos computadores do prédio que L estava escondendo um fundo que ele e Watari havia preparado para os policiais que abandonassem a agência e se dedicassem a eles na captura de Kira... Podem já imaginar como transcorreu o resto do diálogo após a revelação de que L estava testando a integridade dos seus companheiros involuntários. Em certa trecho da mesma cena, Aizawa tece seu desabafo derradeiro á respeito de L:

 

- Eu sei disso com certeza: Eu sempre odiei o Ryuzaki! [o codinome utilizado por L no caso Kira] Eu sempre odiei o jeito dele de fazer as coisas.

 

 

Nisso, L diz num pesar frio, porém tocante (tanto na versão original quanto na dublada):

 

 

- É uma pena, porque eu gosto de você Aizawa.

 

 

Aizawa, dividido entre o choro e a raiva, solta ainda mais os cachorros contra L:

 

 

- Eu também odeio o seu jeito de ter sempre a última palavra! Você me insulta e depois diz uma coisa dessas?! Chega, eu vou embora!

 

   Com um lacônico “obrigado por tudo”, L volta a se concentrar no caso enquanto Raito o observa. Nisso, a câmera vai focando nas costas de L, e para bom entendedor, fica evidente com esse simples foco de câmera como o jeito de L afasta as pessoas, que acabam sentindo desprezo, ódio e humilhação por ele.

 

   Mostrei essa cena recentemente à Aymee-chan, aqui mesmo do Nyah, e simples, direta e categórica, ela falou assim comigo:

 

- É assim que você trata as pessoas. ^^

 

  Não é necessário nenhuma explicação ou comparação minha com L depois disso...

 

  No que se refere à atitude de Aizawa, acreditem: eu não o culpo por nada nessa cena (até porque depois ele voltaria e seria a pessoa quem prenderia o Kira da Yotsuba). É extremamente compreensivo toda a atitude dele – e permitam dizer que os policiais em Death Note são os personagens com maior integridade moral. Até mesmo o mala do Matsuda persevera aos trancos e barrancos. Aizawa foi falho? Foi. Mas e você no lugar dele? Mais importante: e eu no lugar dele? Teria agido diferente?

 

 

   Num dos trechos finais do livro “A Resistência”, o grande Ernesto Sábato escreve algo que me fez refletir muito quando li e que cabe à perfeição nessa parte dessa enorme fic:

 

 

Acredito que é preciso resistir: esse tem sido o meu lema. Hoje, porém, muitas vezes me pergunto como encarnar essa palavra. Antes, quando a vida era menos dura, eu teria entendido por resistência um ato heróico, como negar-se a continuar sobre este trem que nos leva à loucura e ao infortúnio. Mas pode-se pedir às pessoas tomadas pela vertigem que se rebelem? Pode-se pedir aos homens e às mulheres do meu país que se neguem a pertencer a esse capitalismo selvagem, quando eles têm de sustentar os filhos e os pais? Se eles carregam tal responsabilidade, como poderiam abandonar essa vida?

   A situação mudou tanto, que devemos reavaliar com muita atenção o que entendemos por resistência. Não posso lhes dar uma resposta. Se eu a tivesse, sairia por aí como o Exército da Salvação, ou como esses crentes delirantes – quem sabe os únicos que realmente acreditam no testemunho –, proclamando-a pelas esquinas, com a urgência que nos deveriam dar os poucos metros que nos separam da catástrofe. Mas não. Intuo que é algo menos formidável, mais modesto, algo como a fé num milagre, o que quero transmitir a vocês nesta carta. Algo condizente com a noite em que vivemos, não mais do que uma vela, algo que nos ajude a esperar”. (SÁBATO, Ernesto; A Resistência, pág. 87, Companhia das Letras)

 

  Eu tenho muitas rusgas com Sábato (capitalismo selvagem... crentes delirantes da Praça da Sé em São Paulo ou Praça Sete aqui em BH onde moro...), acho os últimos livros dele embebidos de um certo dramalhão sentimentaloíde enervante. Mas ele também tem muitos acertos e foi, de uns tempos para cá, um dos autores que mais tem me dado forças e convicções pessoais. Quanto ao trecho em si, além do trecho que eu destaquei, eu também não tenho uma resposta para que tipo adequado de resistência deveria ser empregada. Não concordo, porém, com Sábato que deva ser esperado um singelo milagre. Acho sim que devíamos fazer alguma coisa. Mas o quê, corretamente falando, eu não tenho a menor idéia...

 

  E sim, retomando ainda certa idéia desse trecho, para gente como eu e L é fácil saltar do trem e dizer: “vocês que colocaram isso para se locomover dessa forma que se lixem! Nós estamos dando o fora! Não vamos colaborar com a locomoção dessa choça”. Mas e aqueles que foram postos neste trem descarrilado por livre e espontânea obrigação? E aqueles que tem o mínimo de culpa nisso? (digo mínimo de culpa porque, francamente pessoal, ninguém aqui é totalmente inocente. Eu tenho minha parcela de culpa. Acredite: você também que está lendo tem!)

 

  E mesmo no caso meu e de L, pular fora do trem não é garantia de que estamos salvos. Pode ser justamente o fato de que nossa derrota será ainda pior e perderemos sozinhos...

 

 

   (Antes de prosseguir com isso, ainda no que se refere ao episódio 18 do anime, nos dois últimos minutos do episódio mostra-se Aizawa já fora do caso encontrando inesperadamente sua família, Ao comunicar à sua animada filha de que agora terá uma folga toda a semana, Aizawa começa a dizer que poderá ir ao parque com ela... talvez ir ao zoológico... ou ao parque de diversões... e enfim começa a chorar, para a incompreensão de sua filhinha e esposa. Ainda estou pensando comigo porque ele chorou: será que foi de desgosto consigo mesmo por ter abandonado o caso? Ou será que foi de vergonha pela forma como foi retirado? Eu não consegui ainda responder adequadamente, só posso garantir que a cena dele chorando e de sua filhinha perguntando à sua mãe porque seu pai está chorando é de cortar o coração...) [1]

  

 ---

 

   Outro episódio que me fez escrever essa fic foi o episódio 25 (“Silêncio”).

 

 

   Sim, é o episódio no qual L morre.

 

  Mas esse episódio para mim não é importante nem pela morte de L nos braços de um triunfante Raito. Esse episódio é importante por uma outra cena, que após uma observação de certos comentaristas do YouTube, fez todo o sentido para mim.

 

   Recapitulando: O Kira da Yotsuba havia sido morto pelo Death Note que Yagami Raito (em uma estratégia assustadoramente genial, diga-se de passagem) recuperara. L não conseguia mais encontrar nenhum indício de que Raito ou Misa pudessem ser o primeiro e segundo Kira respectivamente (tudo graças às regras falsas que Raito conseguiu fazer com que Ryukku escrevesse no caderno). Os que viram esse capítulo devem se lembrar, além da morte de L, o diálogo dele com Raito no alto do prédio no qual estavam localizados no qual o franzino detetive dizia ouvir sinos, se talvez eles fossem de um casamento... Ou de um... (quando ele iria, provavelmente, dizer “um enterro”, ele é cortado por Raito) E confessa também que nunca se deu muito bem com as pessoas e que nunca confiou nelas (para depois olhar para Raito e perguntar se ele, no fundo no fundo, confia realmente em alguém, o que deixa o candidato a Deus do Novo Mundo bem desconcertado, diga-se de passagem) para depois entrarem no prédio esse secarem.

 

  Eis a parte que importa nesse trecho deste texto: encontrei recentemente um curto vídeo dessa cena em que L seca e massageia os pés de Raito antes de ser morto e no qual ele diz, entre outras coisas, que estava triste e que em breve os dois se separariam. Antes de tudo, é uma cena extremamente bonita e tocante (uma das mais em Death Note) – mas não é yaoi, por mais que a “estética” da cena toda sugira. O vídeo se chama “Death Note 25 – Who Is God?” [2], um nome bem estranho para um vídeo de Death Note, sendo o título mais parecido com aquelas músicas que usuários do YouTube costumam colocar em cima de trechos de alguns episódios dos seus animes favoritos, geralmente estragando a cena com músicas ridículas... Mas, felizmente, não é o caso desse vídeo que nem música tem. É simplesmente o que eu disse acima: L secando os pés de Raito e os massageando, se revelando triste pelo fato de que em breve ambos se separariam (seja pelo fato de que ou L morreria ou Raito seria enfim revelado como Kira, indo como resultado para o corredor da morte).

 

  Um detalhe que eu não captei na cena, porém, foi aludida por um astuto comentarista do vídeo, revelando que a cena, ao que tudo indicava, fazia alusão à Bíblia. Mais exatamente, a cerimônia de Lava-pés durante a última Ceia, relatada no capítulo 13 do Evangelho de São João no Novo Testamento:

 

 

Antes do dia da festa de Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora, de passar deste mundo ao Pai: como tinha amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 E acabada a ceia, como já o diabo tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a determinação de o entregar. 3 Sabendo que o Pai depositara em suas mãos todas as coisas, e que ele saíra de Deus, e ia para Deus: 4 levantou-se da ceia, e depôs suas vestiduras: e pegando numa toalha, cingiu-se. 5 Depois lançou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e limpar-lhes a toalha com que estava cingido”.

 

  Claro: L não é o Nosso Senhor Jesus Cristo (nem chega perto, assim como Raito não é Deus coisa nenhuma, por mais que algumas fangirls – e uns raros fanboys, convenhamos – insistam... :P) mas com esse gesto simbólico, pode-se deduzir que L, apesar de em breve saber que será apunhalado de alguma forma por Raito (seja por decepção – ainda que acompanhada de regojizo por finalmente provar que estava certo – por enfim confirmar que Yagami é Kira, seja por morrer chegando tão perto), mesmo assim estava grato por ter encontrado uma alma gêmea e um estimulante rival e amigo, apesar das circunstâncias. Vejam o vídeo, e depois tirem suas próprias conclusões se o que eu digo – baseado no que vi e li – faz ou não sentido. Só lembrando que o ilustrador Obata Takeshi disse em “Death Note 13: How to Read” que se inspirou muito em imagens religiosas para ilustrar muitas coisas no mangá...

 

  O episódio 25 por si só é todo triste, tendo seu ponto alto, obviamente, a morte de L aos braços de um diabolicamente sorridente Yagami Raito. Mais do que simplesmente ter sido derrotado por um adversário que, além de ser tão perspicaz e engenhoso como ele possuir como vantagem poderes do além que ele soube manipular de forma brilhante, a morte de L, tão perto de confirmar e alcançar seu intento, é o símbolo máximo de seu fracasso existencial. Permitam-me aqui lhes dizer que posso estar sendo extremamente dramático com o que vou dizer agora, mas a morte de L, um personagem fictício, se assemelha muito com a morte de uma outra figura folclórica, que realmente existiu e cuja biografia também me dá calafrios pelas similaridades.

 

  O nome dessa figura: Franz Kafka

 

 ---

 

 

 

  Franz Kafka (Praga, 3 de Julho de 1883 – Klosterneuburg, 3 de Junho de 1924), o grandioso e genial autor tcheco de língua alemã, um dos mais importantes escritores do século passado ao lado de James Joyce e Marcel Proust, autor de obras monumentais como “A Metamorfose” (aquela em que o personagem principal, já na primeiríssima frase que abre o livro, se transforma sem mais nem menos numa barata. Já leram, certo? *pergunta de retórica irônica*) e “O Processo”. Particularmente falando, por mais incrível que pareça, eu não sou o maior fã dos livros dele e acho que se criou uma aura muito exagerada sobre ele (apesar de que eu até que estou interessado nessa edição de “O Artista da Fome” que saiu agora pela L&PM Pocket e pretendo comprar seu “Zürau Aphorisms” no Natal... Ops! Mil perdões! Vocês não estão interessados em saber isso, não é mesmo? xD). Estou convicto também de que a obra dele é muito mal interpretada (não há só tragédia e melancolia nas obras dele. Há até um grande senso de humor zombeteiro nos escritos dele. Dizem inclusive que quando ele lia publicamente os textos que escrevia aos seus amigos, ele caía na gargalhada com o que ele próprio havia escrito...)

 

  Mas não são os escritos de Franz Kafka que importam aqui nessa análise, mas sim a biografia dele: A biografia de um indivíduo atormentado, oprimido por um pai repulsivo (e o pai de Kafka é uma das figuras folclóricas mais medonhas que podem ter existido) e uma mãe melindrosa, submetido a horas torturantes em trabalhos envolvendo a medonha burocracia monstruosa retratada em seus livros – burocracia essa, de “direita” ou de esquerda, que até hoje causa dores de cabeça em qualquer um se o chamado “espírito prático das coisas” (termo esse errôneo que serve para acobertamento de práticas cínicas, se me permitem a denúncia) – e vendo de antemão a catástrofe que seria a ascensão de forças fascistas na Europa e no resto do mundo. O mais importante da sua biografia, porém, é o fato de ele ter lutado, lutado e lutado, de forma árdua e exaustiva, contra seu próprio destino (e não se entregando tal qual uma ovelha dócil, ao contrário do que diz as famosas percepções vitimistas com as quais a personalidade dele foi e é impregnada até hoje) – do qual ele ainda assim teve como resultado uma derrota acachapante. Quem quiser ter uma visão de como ele sofreu, penou e resistiu, ainda que em muitos momentos se entregando e percebendo de antemão que as forças com as quais ele estava se digladiando eram muito mais poderosas do que ele em sua fraqueza, leiam os diários e as cartas que ele escreveu ou mesmo o livro Conversas com Kafka, de Gustav Janouch. Lá está um retrato de um indivíduo cheio de irresoluções que o esmagariam, frustrações que destruíram sua vida pregressa até o momento derradeiro, com pouquíssimas amizades e nenhuma delas tirando dele o sentimento real de solidão gritante e que carregava consigo um fardo que aumentava a cada dia e que combateu sozinho e à sua modesta maneira – ainda que relevante – inimigos que causariam desastres sem tamanho para a Europa e o resto do mundo em toda a primeira metade do século passado.

 

 

   Transfira agora toda a biografia de Franz Kafka e a adapte para a de L até o momento de sua morte.

 

   Transfira boa parte da personalidade de Kafka e L para mim (se não for incômodo :P).

 

   O efeito é terrível. Pelo menos para mim é.

 

   Kafka morreu em um sanatório nove anos antes da ascensão oficial de Adolf Hitler no governo alemão. L morreu meses antes da ascensão política e ideológica quase definitiva de Kira no resto do mundo. Eu ainda estou vivo o suficiente para ver Hugo Chávez e Manuel Zelaya golpeando Honduras e as “democracias” na América Latina, Kim-Jong-Ill na Coréia do Sul iniciando de vez seus testes atômicos, o reeleito Mahmoud Ahmadinejad no Irã cada vez mais irresoluto em extirpar Israel do mapa mundial, Vladimir Putin ressuscitando aos poucos a KGB, sob novos disfarces, na Rússia e, se bobear, o terceiro mandato do Apedeuta-Mor (leia-se: Lula). Isso sem falar nas massas e intelectuais que apóiam todos eles. As mesmas massas e correntes intelectuais que deram aos poucos seu apoio ao “Reino de Kira”. As mesmas massas que ascenderam e intelectuais que justificaram o domínio de gente como Hitler, Lênin, Mussolini, Stálin, Mao...

 

   Franz Kafka disse certa vez uma frase que cabe a perfeição para gente como ele, como L e como eu. A frase é a seguinte:

 

- Há muita esperança no mundo – mas não para nós.

 

   Por mais que ele tenha tentado escapar da sua sina, Kafka caiu. Por mais que tenha se atormentado, L perdeu. E francamente, eu não sei se, pelo andar da carruagem, eu conseguirei ter um destino diferente deles por mais que eu tente. Para ser mais franco ainda, eu não sei se eu não quero ter o mesmo fim de ambos...

 

  ---

 

  Fangirls costumam gostar de L porque elas vêem nele alguém “kawaii” e “sugoi” – além de ser alguém que seria adorável perverter, como eu já vi alguém confessando por aí... (como se não bastasse, tudo indica que L nunca teve nenhum relacionamento amoroso, para se dizer o mínimo – e eu me abstenho de falar qualquer coisa ao meu respeito sobre isso)

 

   Lamento informá-las, mas L não é “fofo”, L não é “meigo”, L não é um personagem feliz que fica fazendo caretas como “xD” ou “*-*” ou que gosta de brincar com inos ou nekos. L é um personagem que sofre, que tem pavor desse tipo de badalação feita por pessoas com comportamento cor de rosa e que já tem de carregar coisas pesadas demais sob seus ombros para ter de aturar tietagens como essas.

 

   Além do mais, a tietagem em cima de L é só por causa da figura esbelta, estranha e bonitinha dele com a qual ele se encontrava nos seus 25 anos de idade (a idade com a qual ele morreu). Imaginem SE L tivesse derrotado Kira/Raito e continuasse a levar a vida (se é que aquilo pode ser chamado de vida) que ele levava, comendo só doces, não tendo nenhum amigo, com prováveis problemas de insônia e dor nas costas, vendo o mundo piorando a cada dia que passa... Vamos dar ao L nessa suposição mais uns vinte anos de vida após sua vitória sobre Raito e respondam-me com franqueza: ele estaria sendo uma pessoa melhor? Alcançaria paz de espírito, felicidade e auto-suficiência? Continuaria a ser alguém que é esquisito mais ainda agradável? Se a resposta for “não” para todas essas perguntas, responda esta última (e a respondam, mesmo que nas questões anteriores vocês tenham respondido “sim”): vocês ainda continuariam a terem essa tietagem infantil em cima dele? Dificilmente...

 

  O autor deste texto aqui também não é “kawaii”, também não é “sugoi”, está acabando consigo mesmo nesse texto (ou vocês vêem algum auto-elogio aqui?), não está escrevendo um texto agradável de se ler (tanto pelo tamanho quanto pelo conteúdo – além do excesso de vírgulas e parênteses...), sabe muito bem que essa fic vai ser lida por poucas pessoas, se ela for lida poucas a comentarão e poucos serão os comentários positivos. Façamos comigo a mesma suposição “se” que foi feita com L: imaginemos que permaneça assim do jeito que eu me expus aqui e me dêem mais uns 30 anos de vida... Me acharam agradável? Vou melhorar com o tempo? Alcançarei a paz de espírito? (Além dessas perguntas, respondam mais essa se não for muito incômodo: meus textos serão mais concisos no futuro? Dificilmente...)

 

  Claro, garanto a vocês que eu não vou entregar aos pontos fácil e continuarei a resistir, a lutar contra tudo isso, a não me render, a não ser estúpido e ludibriado, a não colaborar ativamente com a degradação geral, contínua e irrefreável das coisas. Talvez eu obtenha êxito e salvação onde L, Kafka e tantos outros similares... Mas convenhamos: é provável que eu perca. O mais provável de acontecer é de eu me estatelar no chão hoje ou amanhã ou daqui trinta ou mais anos, sentir minha vida sendo ceifada aos poucos e ser “amparado” pelos braços de justamente um dos meus inimigos que em um sorriso diabólico e triunfante me dirá (não com a voz, mas com a expressão maligna em seu rosto) a frase que eu mais temo ouvir no final da minha existência:

 

- Você perdeu, Ac./Ab./S. H.

 

  Tal qual L, embora este tenha tido direito a uma morte em slow motion e uma fanart do seu rosto abismado diante de sua própria morte, como a que decora a capa dessa fic...

 

 

---

 

 

 

   Retomando ao início dessa fic, que está em seu fim (“Aleluia!”, dirão os leitores em geral – e eu não os culpo, é sério!): Otakus no geral adoram se achar parecidos com algum personagem no mínimo e a se acharem dignos de se parecerem com eles, além de acharem que esses personagens só tem coisas legais consigo mesmos e de acharem que tem os mesmos coglione [“culhões”, em italiano] para serem iguais esses personagens sejam lá que eles sejam, correto?

 

  Além de L, com quem, repito, eu não gosto de ser similar (mais sou), eu me vejo parecido com uma série de outros personagens das mais diversas origens, mas que carregam consigo algo idêntico entre eles: sacrifício sem recompensa apropriada [3], digamos assim.

 

 

   Me pareço com Uchiha Itachi, com quem fiz minha estréia no mundo das fanfics (em um texto beeeeemmm menos extenso, é bom frisar...) por, se necessário, me martirizar para evitar uma catástrofe.

 

  Me pareço com o grande Dr. Gregory House por ser o único quem tem o costume de tomar e insistir nas atitudes mais sensatas, por piores que elas pareçam ser ou sejam realmente – enquanto que as pessoas que me cercam, procurando primeiramente não desagradar ninguém, ficam sem saber o que fazer corretamente.

 

  Me pareço com Rorschach de “Watchmen” (a versão em quadrinhos, ok?) por não me render a vagabundos argumentos relativistas (sim pessoal: Bem é Bem, Mal é Mal, há sim Verdades Objetivas que nenhuma circunstância e os fins não justificam os meios quando estes são ruins) e levo a sério o ditado latino que diz: que o mundo pereça, desde que seja feita Justiça [Fiat justitia, pereat mundus]. E se for necessário quebrar alguns dedões para isso...

 

 

   Me pareço com Ayanami Rei de “Evangellion” por estar à procura do meu eu, de minha individualidade (algo muito maior do que ser simplesmente um homem ou uma mulher) e de um sentido real para a vida, ao invés de simplesmente aceitar o suposto vazio da existência humana.

 

  Me pareço inclusive com Jó, por suportar minhas dores e perceber que se assim as coisas se dão comigo, não é Deus e o mundo quem são os culpados. Aliás, eu inclusive agradeço a Deus por tudo isso, e não tenho a menor dúvida de que Ele é justo.

 

   E me pareço com Solid Snake de “Metal Gear” porque tenho consciência de que nada disso faz de mim um herói, e que eu mereço ser punido pelos meus pecados.

 

   Me pareço com muitos outros, enfim. E é pegando essa desagradável similaridade com todos esses personagens que eu quero encerrar este inegavelmente pretensioso texto: Enquanto Acauã agoniza, Abell sofre, Hemlock se vê obrigado a tecer a lamúria de ambos, Itachi falece em seu sacrifício inútil por ser “irmãozinho tolo” (e bota tolo nisso naquele traste do Sasuke), Ulquiorra desfalece justamente no momento em que encontra seu coração, o coração de Takayanagi Mitsuomi o mata lentamente, Rorschach é pulverizado por Dr. Manhattan, Moe é desprezado, Senhorita Farnesse tenta consertar os estragos que ela fez no passado, House tem mais uma de suas crises de saúde e Monk tenta com sofreguidão se livrar de suas paranóias, entre tantas outras coisas, pensem bem antes de se acharem levianamente parecidos com qualquer personalidade, seja fictícia ou real. O fardo que essas pessoas carregam podem ser pesados demais para a enorme futilidade de vocês em geral...

  

---

 

   Ah sim! Antes que eu me esqueça: eu não gosto de me parecer com L... mas poderia ser pior: eu poderia ser similar a Yagami Raito. Garanto que o mundo teria sérios problemas se isso ocorresse... (*sorriso maligno*)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] O vídeo em questão pode ser visto através deste link: http://www.youtube.com/watch?v=Z_LwRA5Og_A


[2] Eis o link para o outro vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=mqmaSWNWsdo


[3] Permitam-me só realizar um adendo a este comentário: No geral, esses martíres e vítimas não esperam egoisticamente receber nenhuma recompensa por seus atos. MuiTos, pelo contrário, acham que não merecem recompensa alguma por seus atos, por mais nobres que sejam...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "L e Eu: Malvistos, Malquistos e Malditos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.