Ceifadores De Corações escrita por Magarax


Capítulo 6
Capítulo Quinto - TARDE


Notas iniciais do capítulo

Depois de um hiato de quase um ano, espere que vocês ainda tenham interesse na minha história! Desculpe se tiver algum erro em relação aos capítulos passados. Qualquer coisa, vou consertando com o tempo! E não se esqueçam de comentar! :D



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— Pete? Está tudo bem? —perguntou Alicia que agora bebericava o chá com certo desinteresse.

Peter já estava observando o anel sem falar nada há mais de cinco minutos. Sentia a prata gélida na sua mão, perpassando o dedo pela insígnia encrustada. Não esperava aquilo. O anel ser uma herança? Não queria nunca mais vê-lo.

Guardou o anel no bolso. Desrespeitando a etiqueta, bebeu o chá de uma só vez. Levantou da mesa e foi em direção a porta, pegou seu casaco que descansava no pendurador de roupas do lado da porta e antes mesmo que Alicia pudesse perguntar o que estava havendo, ele apenas respondeu um breve “Até logo” e saiu rapidamente.

Virou a direita e seguiu em frente. Precisava pensar naquilo que tentou esquecer por muito tempo. A tarde no apartamento de Claire ficou vívida em sua mente, fazendo-o ter calafrios. Havia prometido a ela que toda vez que visse algum vulto de novo, escreveria em algum lugar tudo aquilo que tinha visto, nos mínimos detalhes, para livrar sua mente daquelas imagens. Mesmo depois de guardar o anel de volta no sótão, ele continuou vendo os espectros. Via-os de maneira menos vívida, mas igualmente cruéis.

Peter ficava aliviado por nunca mais ter presenciado nenhum ataque. Tudo que havia visto eram pessoas acompanhadas pelos espectros, onde a única coisa que diferia entre elas era a quantidade corações amarrados em torno da cintura. Entretanto, mesmo estando acorrentados, os corações continuavam batendo. Batidas compassadas, como se eles não tivessem notados de que tinham sido retirados de seus corpos ou ainda pior, talvez continuassem batendo na esperança de um dia retornar.

Peter alcançou a pequena ponte que levava para a Thames St., onde sentou em um dos bancos da ponte e ficou observando solenemente a correnteza do rio. Ele tirou o anel do bolso do casaco e mais uma vez se viu olhando para a insígnia. Passou o dedo pelo relevo metálico, sentindo o sulco das extremidades das letras. Ao mudar de posição no banco, ele sentiu algo lhe incomodar no outro bolso do casaco e, ao colocar a mão, sentiu o seu pequeno diário repousando no interior do bolso. Peter retirou o diário do casaco e analisou-o por alguns instantes. O diário cabia na palma da mão dele e era feito de couro, possuindo uma aparência gasta e uma tira de elástico impedindo que ele se abrisse. Tirou o elástico do diário e o abriu na página da última vez em que tinha escrito algo.

Havia sido há cinco meses atrás, no último dia da primavera. Embora tenha sido a última aparição que tinha presenciado desde três anos atrás, quando achou o anel no sótão, Peter tinha dúvidas se aquela seria mais macabra do que a primeira vez. Mais uma vez, estava deitado sob o Velho Carvalho, apreciando o jardim da escola. Tinha pegado no sono, sentindo a brisa vespertina em seu rosto, e quando acordou, lembrou que precisava voltar para casa logo, pois sua mãe havia lhe pedido uma ajuda no sebo mais cedo. Se sentia exausto, por causa da intensa semana de provas que havia tido, e por isso levantou com um pouco de dificuldade. Sua visão estava embaçada e foi andando lentamente pelo caminho que levava até o portão do St. George. Priscilla não havia ficado naquela tarde por causa do fim do período letivo, tendo viajado com os pais assim que foi liberada.

Peter atravessou o portão e virou a esquerda. Ainda não estava atrasado, mas acelerou o passo para não arranjar problemas com sua mãe, embora ela nunca tenha brigado sério com ele. Virou a direita na Thames St. e, vendo Flynn arrumando as mesas no The Dragon, resolveu parar rapidamente para levar algo para sua mãe e compensar a espera no resto do caminho e então pediu para Flynn separar alguns biscoitos finos para ele. De prontidão, Flynn pediu para que Peter esperasse por ele sentado em algumas das mesas ali fora que ele já voltaria em alguns minutos. Ele se sentou em umas das mesas que ficavam encostadas na grade do perímetro do The Dragon e reparou que havia outra pessoa sentada por ali.

Uma mulher bebericava o chá com gosto. Tinha uma pele bastante branca e usava um vestido preto simples. Na mesa, apenas o conjunto de chá branco e alguns biscoitos. O chá fumegava e a mulher acompanhava a subida do vapor com a mão esquerda, perpassando os dedos pelas linhas do vapor. Peter parou de olhar para ela durante um momento, voltando a olhar para o relógio, preocupado com o horário. Quando olhou de volta para ela, estremeceu. Um espectro repousava atrás dela, impassível e imponente. Peter congelou na cadeira e torceu para que o espectro não notasse ele ali, mesmo sem ter a certeza se isso era realmente possível. Ouviu o tintilar de correntes se chocando e ao olhar para debaixo da mesa da mulher, viu algo que fez seu estômago revirar mais do que a presença do espectro lhe afetava. Amarrados na cintura dela, jaziam dez corações que pareciam estar presos a muito tempo. Todos eles ainda batiam, embora com quase nenhuma força e estavam bastante machucados. Ele continuou encarando os corações até que a mulher levou a mão esquerda até o coração mais próximo. Aquilo deixou Peter atordoado. Ninguém que ele tinha visto sendo acompanhado por espectros tinha alguma consciência deles. Ela elevou o coração até a altura do ombro e esperou. O espectro moveu a mão vagarosamente em direção ao coração, abrindo-a e deixando as grandes unhas mortíferas bem evidentes. Assim que o espectro pegou o coração, a corrente envolta dele afrouxou, se soltando e sumindo em seguida. Ele cravou as unhas impiedosamente e levou o que restava do coração ao capuz, fazendo-o sumir na escuridão. Peter apenas conseguiu ouvir o barulho de um mastigar voraz e depois silêncio. Flynn havia voltado com os biscoitos e ao tentar entrega-los para ele, não obteve nenhuma resposta. Peter deixou o dinheiro na mesa e saiu, aturdido e com medo de olhar para trás.

● ● ●

Fechou o diário e colocou de volta no bolso. Aquela lembrança ainda lhe atormentava e sempre agradeceu por ter sido a última vez, pois não tinha certeza se poderia aguentar mais daquilo. Resolveu voltar para casa e descansar um pouco pois aquele dia tinha sido demais para ele.

Durante a caminhada de volta para casa, Peter tentou esquecer aquelas memórias atormentadoras e lembrou que ainda tinha que mandar uma mensagem para Claire, perguntando se ela gostaria de passar a tarde na casa dele amanhã. Puxou o celular do bolso e digitou um breve convite para ela, pedindo que viesse às duas e meia. Antes de chegar em casa, o celular vibrou e quando ele acessou o menu de mensagens, viu a resposta de Claire, onde podia-se ler “Claro que eu topo! E nem pense em me deixar de vela, senão sofrerá as consequências! Haha >:)”. Com um sorriso no rosto, Peter guardou o celular e entrou em casa. Sua mãe já havia arrumado as coisas da mesa e subido para o quarto dela. Ele apagou as luzes, subiu as escadas, entrando no quarto e se jogando exatamente como estava na cama, adormecendo quase que imediatamente.

O relógio da sala badalou duas vezes. A manhã no colégio havia sido bastante normal. Peter se esforçou para permanecer acordado, como sempre, e quando conseguiu, saiu para dar uma volta pelo pátio, parando embaixo do Velho Carvalho, aproveitando a brisa. Ele havia voltado para casa junto com Priscilla para poderem arrumar a sala e preparar alguns lanches para a tarde. Ou assim ele tinha contado para Priscilla. Ela era bastante ocupada, devido as atividades extracurriculares, então Peter a via pouco. Por isso, ele havia decidido aproveitar um pouco, antes que Claire chegasse em casa.

A animação do menu do DVD de V de Vingança já estava se repetindo pela décima vez. A casa estava silenciosa, exceto por alguns barulhos comprometedores vindo da cozinha. Peter havia pego Priscilla pelas costas de surpresa, enquanto ela servia copos com chá gelado, fazendo com que ela não terminasse de encher o terceiro. Ele colocou suavemente as mãos por baixo da blusa de Priscilla, segurando a cintura dela, enquanto beijava lentamente seu pescoço. Ela estremeceu, devido a respiração quente de Peter. Instigado pela reação, ele resolveu intensificar o beijo, agora chupando. Deixou que sua língua perpassasse pela pele dela gentilmente, enquanto exercia uma leve pressão com os lábios, até o momento em que ela soltou um gemido baixinho, mas que agradou a Peter imensamente. Aproximando a boca bem perto da orelha esquerda de Priscilla, ele sussurrou:

— Nós estamos apenas começando. — provocou.

—M-mas Claire pode chegar a qualquer mo... Hmpf...

Peter não estava interessado. Não ia perder aquela oportunidade com receio de ser pego por Claire. Trocou as mãos de lugar, subindo a esquerda pela barriga de Priscilla, fazendo com que seus dedos tocassem toda a extensão de pele possível com bastante intensidade até que alcançassem o seio esquerdo, envolto pelo top esportivo do colégio. Ela soltou um suspiro suprimido intencionalmente. Já esperava por aquilo desde o momento em que Peter marcou o filme, mas não gostava de ceder facilmente. Assim como ele provocava, resistir fazia parte da brincadeira. A mão direita se ocupou em descer pela perna direita, se deliciando com a coxa firme e tenra, que estava totalmente desprotegida em função de um pequeno short jeans, propiciando a Peter cravar as unhas de maneira leve, mas segura. Além disso, Peter começou a mordiscar o lóbulo da orelha esquerda, fazendo com que sua respiração eriçasse os pequenos pelos da orelha de Priscilla.

Nessa altura, bastava apenas uma pequena fagulha para que o incêndio começasse. Peter virou Priscilla e a colocou sentada em cima da pia, fazendo com que ela ficasse um pouco mais elevada que ele. Colocou a mão direta nos cabelos castanhos dela e segurou firme, porém gentilmente, enquanto a mão esquerda segura a cintura delineada dela. Agora se beijavam intensamente, sentindo suas línguas se entrelaçarem, a respiração ofegante em seus rostos, o batimento de seus corações se acelerando... Priscilla levou as mãos até a cintura de Peter e começou a tirar a blusa dele, posicionando as mãos por debaixo dela e perpassando os dedos firmemente até chegar na altura do pescoço, o que causou arrepios por toda a coluna de Peter. Eles pararam de se beijar para que ela pudesse retirar totalmente a camisa dele. Ela deixou a camisa cair no chão e o encarou. Olhou para os lábios, que reluziam por causa da umidade da sua própria saliva. Viu as bochechas coradas e ouviu com prazer a respiração ofegante. Seus olhos se encontraram com os de Peter no final do trajeto.

— Você sabe que a única coisa que me faz ficar com você são esses lindos olhos azuis que você tem. — disse Priscilla em tom de desdém. Ao terminar, mordeu o lábio inferior, só para aumentar a provocação.

— Eu até acreditaria em você, mas não são meus olhos que fazem você gemer à noite. — sussurrou Peter bem próximo da orelha dela. Priscilla então o agarrou e voltou a beijá-lo com a mesma intensidade de antes.

Batidas altas e frequentes na porta com a soar pela casa repentinamente. Tão repentinamente que Priscilla acabou mordeu o lábio inferior de Peter por causa do susto. Ele reprimiu um gemido de dor e um xingamento. Batidas como aquela só podiam significar uma coisa: Claire. Correu até a porta de entrada, se esquecendo de vestir a camisa, mas não foi necessário abri-la. A porta se escancarou com um chute dado por Claire, que tinha verificado e atestado que Peter continuava deixando-a aberta. Ela se encontrava ainda com a perna direita suspensa e com um sorriso jovial no rosto, quase como que insinuasse que fazer aquilo lhe dava prazer.

— O que eu te falei sobre me deixar de vela?? — gritou ela em tom de brincadeira, embora um pouco surpresa em encontrar Peter sem camisa.

— Hã... algo sobre consequên—

— Exato! Eu ainda não pensei sobre elas, mas pode apostar que serão terríííííveis! — Claire intensificou a fala com um gesto com os dois braços levantados em linha reta e mexendo os dedos freneticamente, típicos de vilões de filmes de terror trash.

— Do jeito que você quiser, Clairy. Aceita chá gelado? Não está exatamente gelado, mas nós podemos resolver isso. — sorriu Peter.

— Achei que não iria me oferecer, Pete! Onde está Priscilla? Preciso dar dicas de como botar você na coleira. Isso é, se ela já estiver vestida. — Claire cobriu a boca com a mão ao falar essa última parte, como se o que ela quisesse disfarçar, mas não se preocupou em diminuir o tom da voz de propósito.

— Eu adoraria ouvir o que você tem pra me contar, Claire, mas só depois do filme. — disse Priscilla, que acabara de sair da cozinha com uma bandeja prateada, onde sobre ela estavam três copos de chá gelado e algumas pedras de gelo dentro deles.

— Ótimo álibi, moça, mas da próxima vez, você pede pro Don Juan ali maneirar, ok? — falou Claire, no mesmo momento em que apontava para o próprio pescoço, mostrando que Peter havia deixado rastros no pescoço de Priscilla.

— Então, vamos fazer o que viemos fazer? Creio que o aparelho de DVD já esteja cansado de reproduzir essa animação. — Peter tentou salvar o resto da tarde, antes que o clima ficasse estranho demais ali.

— Você não se safou do seu castigo, Peter Hall! Mas concordo com você. Bring me the vengeance!!

● ● ●

Peter e Claire estavam na cozinha. Ela lavava a louça que eles tinham sujado com pipoca, chá e doces, e ele esperava ela terminar para secar e guardar. Priscilla ficou na sala, arrumando o cômodo. Aparentemente, o castigo de Claire foi uma luta inesperada com todas as almofadas que ela conseguiu arranjar no meio do filme e que quase acabou resultando em um vaso de flores estilhaçado no chão. O vaso passa bem.

— Você sabe que você não tem nenhuma obrigação de lavar isso, não é?

— E desde quando eu não posso fazer uma gentileza? Além do mais, eu prefiro lavar os pratos do quê enxugá-los e guardá-los, levando em consideração que ainda não sei como funciona a arrumação dos armários da sua cozinha. — brincou Claire.

— Eu... preciso te contar uma coisa.

— O que você aprontou dessa vez? — apesar de ter dito isso, ela percebeu a mudança na voz dele e sabia que o assunto era sério.

— Minha mãe conversou comigo ontem... E me disse que o anel de prata era uma herança deixada diretamente para mim. — sua voz falhou.

— O quê? Como assim diretamente?

— Aparentemente, minha avó deixou para mim. Como se eu fosse destinado a usá-lo. No tempo certo, é claro. — Um calafrio percorreu lhe a espinha. A imagem dos espectros ficavam mais viva a cada palavra que ele pronunciava.— Eu não sei o que isso quer dizer, mas começo a acreditar que minha avó podia vê-los também.

— O que você vai fazer agora? Ter um anel que lhe dá a capacidade de ver seres encapuzados que comem corações não parece ser uma notícia promissora. Nós temos que descobrir o que sua avó queria que você fizesse com esse anel. O que aquilo que aconteceu entre nós naquela tarde tem alguma coisa haver com isso. — Claire estava tensa, e pela primeira vez na vida de Peter, ele a viu daquele jeito. Com medo de que algo pudesse fazer mal para eles. Um mal que não poderia ser visto por mais ninguém.

— Concordo. Se você puder vir amanhã ou domingo, vamos procurar algo no sótão que nos dê alguma dica de por onde começar.

— Tudo bem. Amanhã estarei aqui! Só mais uma coisa... você pode me mostrar o anel de novo?

— Que anel? — Priscilla acabara de entrar na cozinha. Silêncio.


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