Prólogo.

A leve brisa da noite lhe tocava a face, trazendo consigo um frescor e o cheiro adocicado do prazer, da luxúria e da bebida. O barulho, que vinha de todos os lados, esquentava-lhe o sangue. Era uma mistura de música, gritos e tiros. Katherine sorriu levemente. Tortuga era, de fato, um lugar único, mas, muito além disso, era um lugar livre! E ela adorava a liberdade!

Voltou a caminhar, sem nem ao menos perceber que havia parado. Olhava admirada para todos os locais prováveis, já estivera outras tantas vezes em Tortuga, mas sempre acabava se surpreendendo. Tortuga era uma Ilha de vivacidade admirável! Todos naquele lugar viviam sempre em festa! Também pudera! O local era ancoradouro de navios piratas, e servia de porto para estes por tempo suficiente para deixá-los mais bêbados que o normal, e terem seus desejos carnais satisfeitos, para então, voltarem para o mar, para os saques a navios mercantes, para suas vidas de roubos, bebidas e mulheres. Tortuga, o paraíso dos piratas e bucaneiros! Era um porto livre e com clima de festa, um lugar de vida fácil e agitada! Um porto livre... pensou Katherine mais uma vez, sorrindo.

Parou diante da porta de uma taberna e não pode evitar sorrir debochada quando um homem bêbado fora arremessado de lá por outros três homens mais bêbados ainda. Taberna Del Rei... Realmente, o nome faz jus ao lugar, pensou ela, ainda debochada. Entrou na taberna e buscou com o olhar aquele a quem viera procurar. Um pirata destemido, e muito conhecido por todos. O homem com o mapa que ela queria.

O que ela achou, no entanto, foram homens bêbados a brigar louca e cegamente, além de mulheres da vida a satisfazer a alguns ali presentes, soltando risadinhas que faziam o estômago de Katherine embrulhar. Não importava há quanto tempo ela fosse pirata e vivesse aquela vida, existiam coisas com as quais ela jamais se acostumaria. Caminhou em direção ao balcão de bebidas, passos firmes e uma mão sempre no cabo de sua espada. Mantinha os olhos fixos no balcão, não pretendia atrair a atenção das pessoas ali presentes para si.

Um homem, não, um pirata ali presente, acompanhava a trajetória da garota desde sua entrada na taberna. Um sorriso ladino lhe enfeitava os lábios enquanto ele acompanhava o andar dela. Era bela, e decidida, ele percebeu. Mas era muito segura de si, e mantinha o queixo empinado demais, não valia a investida. A garrafa de rum, que se encontrava sobre a mesa onde estava, lhe era muito mais agradável. Sem mencionar que os prazeres da carne ele poderia saciar muito bem com Giselle e Scarlett, as duas “mulheres da vida” com quem costumava se divertir, no momento em que quisesse.

Katherine chegou ao balcão e pediu um copo do wiskhy, que lhe foi logo servido. Ela pagou e levou o copo aos lábios. Suas costas ardiam diante do olhar de algum dos homens naquele lugar... Virou-se em direção as mesas, procurando a pessoa que a observava. Foi quando o viu, sentado em uma das mesas mais afastadas, uma garrafa, provavelmente de rum nas mãos, e um jeito único de ser. Ele levou a garrafa de rum aos lábios, e tomou um longo gole. Ela bebeu todo o conteúdo do seu copo e fez uma leve careta. Ele não.

Os olhos azuis dela faiscaram para os olhos negros do pirata. Enquanto ela caminhava na direção dele, o sorriso ladino voltou aos lábios do pirata, e ela retribui com um sorriso que foi do debochado ao sensual. Enquanto caminhava em direção ao pirata, ela teve a certeza que ele era o homem a quem procurava, não havia outro como ele.

- Jack Sparrow! - disse ela – Eu lhe encontrei, afinal.

- Capitão, – disse ele, levando a garrafa por um curto período de tempo aos lábios - Capitão Jack Sparrow!

- Oh, claro! – disse ela, enquanto passava por ele, deixando sua mão passear levemente de um ombro ao outro do pirata.

Sentou-se na cadeira ao lado dele, que virou em sua direção olhando-a um tanto quanto intrigado. Onde estava o queixo empinado que ele havia notado há tão pouco tempo?!

- Como quiser... Capitão! – foi o que ela disse, tomando a garrafa de rum das mãos dele e bebendo um gole da mesma.

- O que traz tão bela dama - dizia ele, um tanto quanto trôpego, devido a quantidade de garrafas de rum que ele havia bebido naquela noite – até aqui? Você não me parece uma mulher da vida, se é que me entende!

- E com certeza não sou! – disse ela, sua voz deixando de ser sedutora para tornar-se autoritária, os olhos faiscando brevemente.

Oh sim, pensou ele, ali está o queixo empinado de antes!

- Mas então, Capitão... - recomeçou ela, voltando ao tom sedutor – como eu lhe disse, tenho lhe procurado há um bom tempo...

Ele aproximou-se mais dela, agia como se estivesse bebendo toda e qualquer palavra que saísse da boca da mulher. Boca esta, a qual ele olhava atentamente.

- Talvez, jovem dama, - ele disse, alternando o olhar entre os lábios bem desenhados dela e seus olhos azuis. - a senhorita apenas não tenha procurado nos lugares certos!

- Talvez... - disse ela, tocando o rosto dele com as pontas dos dedos – talvez você esteja certo, - continuou, aproximando seus lábios do ouvido dele e sussurrando a última palavra – Capitão...

Jack virou seu rosto em direção ao dela, deixando seus rostos perigosamente pertos. Olhos nos olhos... os lábios separados por uma distância mínima... uma mão dela em sua nuca e a outra em seu peito. E então... Ela o beijou.

Inclinando seu corpo por sobre o dele, Katherine o beijava, enquanto uma de suas mãos passeava por entre o peito do pirata, e ia descendo em direção a cintura do mesmo.

Ele retribuía ao beijo, segurando e apertando a cintura da mulher, enquanto a outra mão dirigia-se ao pescoço dela e, logo após, ao colo.

Na cintura do pirata, por entre a blusa e um dos lenços que ele usava como cinto, Katherine finalmente achou aquilo que procurava. Jogando seu corpo por cima do corpo do pirata, e sentando-se de frente no colo do mesmo, ela retirou a mão da cintura dele e percorreu-a por sua perna, chegando até o cano de sua bota, de onde retirou um pequeno mapa. Jack puxou-a contra sim, unindo mais seus corpos, e beijando-a mais intensamente, fazendo com que Katherine tivesse sua atenção desviada em maior quantidade para o beijo, e esquecesse por alguns segundos daquilo que ela realmente precisava.

Quando se separaram para tomar fôlego, Katherine o olhou maliciosamente. Estava sendo muito mais fácil (e até mesmo prazeroso) do que ela havia imaginado.

Jack a olho brevemente intrigado, para depois sorrir com o olhar dela, ele ia abrir a boca para perguntar-lhe algo, quando ela voltou a colar sua boca na dele.

Com o mapa que havia retirado do cano de sua bota em mãos, Katherine voltou a passar sua mão sob o peito do pirata, mas cuidando para tocá-lo apenas com as costas da mão, não o deixando desconfiar do mapa que tinha em suas mãos. Quando chegou a cintura dele novamente, depositou o pedaço de pano muito próximo ao mapa que ela encontrara antes. Jack nem ao menos percebera, pois no mesmo instante, ela intensificara o beijo, fazendo com que ele soltasse um leve gemido. A mulher, então, começou a puxar o mapa do pirata, fazendo-o lenta e calmamente. Era algo complicado, devido à proximidade dos corpos, mas ela por fim conseguiu o retirar, e colocou-o no cano de sua bota, de onde havia retirado o falso mapa.

Jack Sparrow sorriu. Ela era uma boa ladra... Quase que não sentiu os movimentos sutis dela, quando a mesma lhe puxou o mapa da cintura. Não fosse a leve distração da mulher enquanto lhe beijava, ele jamais teria notado que as atenções da mesma estavam direcionadas a outro local que não a boca dele. Ele separou a boca da dela, e fez com que ela afastasse-se um pouco.

- Ladra. – ele disse de um jeito que a teria feito beijá-lo novamente, se ela não fosse quem fosse, e ele não fosse apenas um pirata excêntrico que gostava de rum.

- Como é? – ela perguntou, fingindo-se de desentendida.

- Eu lhe chamei de ladra Senhorita. - respondeu ele, saboreando cada palavra que saia de sua boca, e apreciando demasiadamente a encenação da mulher a sua frente, que agora já havia saído de seu colo, e parava em pé diante de si – Caso você seja surda, ou apenas não tenha entendido direito.

- Como ousa?! – ela voltou a questionar, sua voz até mesmo atingindo um tom mais agudo.

 Jack teve de convir que ela realmente representava muito bem.

- Ora, minha bela ladrazinha, - disse ele, sorrindo – não importa o quão bêbado eu possa estar ou parecer, - ele levantou-se, apoiando-se na cadeira, pois estava tonto. – não havia como não notar suas mãos rápidas e leves surrupiando o mapa que deveria estar... – continuou ele, colocando sua mão na cintura. - Aqui!

Katherine teve de se segurar para não rir quando o homem a sua frente levou a mão a cintura e encontrou lá exatamente o que ele havia dito que ela havia pegado.

Um mapa.

Se ele tivesse especificado do que era o mapa, então ele estaria com razão ao dizer que ela o havia roubado, mas ele não especificou, apenas falou em um mapa em sua cintura, e bem, Katherine o havia deixado com um mapa na cintura, ele apenas não era o mesmo, mas ainda assim, era um mapa. A reação do pirata foi reduzida a olhar para sua cintura e tocá-la novamente, para então, olhar para a mulher a sua frente com uma cara de espanto.

- Idiota! – disse ela, rindo-se internamente. E logo após, sentou-lhe um belo tapa na cara, saindo dali supostamente enfurecida.

- Talvez eu tenha merecido isso! – disse o pirata, sentando-se novamente, e bebendo mais um pouco de rum.

Katherine sorria, agora já de costas para o pirata, e caminhava em direção a porta da taberna. Distraída, acabou por esbarrar em um homem de vestes pretas, olhos claros e uma barba grisalha que, junto com suas vestimentas e o sorriso sarcástico, lhe davam uma aparência assustadora. O chapéu do mesmo parecia velho e era um tanto esquisito, para o gosto da mulher.

- Perdão, Senhor. – disse ela.

Ele apenas acenou com a cabeça e lhe deu passagem, enquanto caminhava em direção ao local do qual ela havia acabado de vir.

- Jack Sparrow, - disse o homem que acabara de esbarrar nela. - temos negócios a tratar!

Katherine apurou os ouvidos, apenas para ouvir algo ao qual ela já desconfiava que seria dito.

- É Capitão, - respondeu ele – Capitão Jack Sparrow. E você sabe disso, Barbossa!

 - E onde está o seu navio, capitão? – perguntou Barbossa, com um sorriso sarcástico no rosto.

E então, sorrindo mais ainda, Katherine saiu da Taberna Del Rei, para caminhar pelas ruas de Tortuga, sob um céu especialmente estrelado.

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