Não tão diferente das séries e filmes sobre zumbis, nossos mortos-vivos também eram atraídos por nosso cheiro e pelo barulho que nós ou nossas criações faziam. Qualquer coisa que os aproximasse dos humanos atraíam os zumbis como ímãs. O que precisávamos agora era juntar tudo isso e usar a nosso favor - ou pelo menos tentar.

Pelo o que Nagisa dissera, havia uma entrada lateral, que levava diretamente para o alto da torre da Catedral. Preferimos não nos separar, pois éramos, sim, mais rápidos e fortes juntos. Parecia absurda a ideia inicial de Kobashi, só que escolhemos tentar ela. Então, prendendo firme nossas armas nos ombros e deixando apenas facas e outros pequenos objetos pontudos nos bolsos, começamos a pular de galho em galho, nos camuflando entre as folhas e o aroma das árvores enquanto tentávamos chegar o mais perto que podíamos da entrada.

Em silêncio, com os galhos cortando nossas mãos e arranhando nossa pele, eu temi que aqueles cortes, mesmo que pequenos, atraíssem a atenção deles. Assim que estávamos há duas árvores de distância, quando enfim achamos que podíamos relaxar e ter esperança, o desastre aconteceu. Primeiro veio na forma de uma faca que caiu do bolso de Kobashi, atingindo o chão e denunciando a gente com seu tintilar metálico, e em seguida veio por um galho que quebrou nas mãos de Yuri e quase a derrubou no chão. 

Seu grito de susto e surpresa aliado ao corte que se formou em sua mão, decretaram o nosso fim.

-Desçam para o chão e corram! - gritei aos demais, quando vi o primeiro zumbi a detectar nossa presença.

Naquele instante, quando nossa vida dependia do instinto, corremos com todas as forças que tínhamos.

-Está trancada! - Nagisa gritou, quando tentou abrir a porta.

Alguns passos atrás dela, Kobashi atirou a primeira faca no zumbi mais próximo, mas sem força o suficiente para derrubá-lo no chão ou acabar com ele. Yuri foi ajudá-lo, enquanto eu me dirigia para perto de Nagisa a fim de abrir a porta. Peguei às pressas um canivete de dentro do bolso e o coloquei na fechadura arranhada da entrada.

-Tentaram abrir isso antes - falei a ela, apenas como uma observação - mas não conseguiram.

-Zumbis ou pessoas? - a garota perguntou, confusa.

-Acho que só pessoas mesmo.

Demorou quase 10 segundos para a porta se abrir. Com os braços e mãos tremendo, foi um alívio ouvir o som do click quando a porta se abriu.

-Yuri, Kobashi! - exclamei, não tão alto para não sermos escutados pelos mortos-vivos de toda a praça.

Os dois, que felizmente não precisaram usar nenhuma bala, vieram apressados até nós. Todos arfávamos quando entramos na torre, a imagem de uma dupla de zumbis querendo nos devorar sendo a última cena que vimos antes de fecharmos a porta atrás de nós.

-Como vamos trancá-la? - Yuri perguntou, sendo a primeira a perceber que não havia nenhuma fechadura por dentro.

Confusos, olhamos todos em volta atrás de alguma coisa, só que não encontramos nada.

"E agora, Shiro?", pensei comigo mesmo, receoso. Mas foi Kobashi, com uma expressão assombrosa nos olhos, quem revelou sua ideia primeiro:

-Alguém tem que ficar aqui segurando a porta, é nossa única opção se quisermos resgatar o Scorpio.