Lembranças escrita por MisuhoTita


Capítulo 1
Capítulo Único




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Naquela praia, ao por do sol, as ondas totalmente alaranjadas pelos últimos raios de sol do dia, que começa lentamente a se por... O céu totalmente alaranjado, se despedindo de mais um dia, para dar lugar a escuridão e as trevas de uma nova noite...

Aquele menino via de longe a bela garotinha construindo um castelo de areia. Com afinco, ela trabalhava com seu pequeno baldinho branco e sua pá vermelha, enchendo o baldinho com terra para tentar dar forma ao castelo...

O que lhe chamou atenção foram justamente os cachos da menina, cachos ruivos, vermelhos como o fogo, que brilham intensamente tocados pelos últimos raios de sol. Um tanto tímido, se aproxima da menina e lhe estende a mão, querendo ajuda-la a construir o castelo de areia.

- Posso? – pergunta o menino, um tanto receoso.

A garotinha o encara com um sorriso infantil em seus lábios, e, a primeira coisa que nota são os intensos olhos verdes, profundos e belos como duas esmeraldas. O vestido branco totalmente sujo, mas ela parece não se importar, ao invés disso, passa para ele a pá com a qual brinca.

- É claro! – responde a menina.

- Eu sou o Daniel. – diz o menino.

- Christine. – ela responde, com os olhos verdes brilhando de contentamento.

*****

- Você se lembra, Christine? – pergunta Daniel, observando as ondas do mar se agitarem sobre as águas, no mesmo tom alaranjado de um fim de tarde.

Os olhos verdes de Christine encaram os castanhos de Daniel, enquanto os dois continuam a observar o belo por do sol daquela praia.

- Como poderia esquecer, Daniel? Foi aqui que nos conhecemos, tantos anos atrás.

- E nesta praia, eu me apaixonei por você. Éramos apenas duas crianças, Christine, porém eu já sabia que você era a pessoa por quem meu coração sempre bateria mais forte.

- Você me disse que queria ser minha rocha protetora... O meu refúgio... Minha proteção... Daniel, você é tudo o que eu preciso, minha alma gêmea, a metade que completa meu coração...

Escutam o barulho das ondas se quebrando nas áreas da praia, enquanto o sol se põe, Christine observa mais um dia chegar ao fim, e Daniel coloca uma de suas mãos no bolso de sua calça, sabendo que o momento pelo qual havia se preparado há tantos dias finalmente havia chegado.

O homem observa o vestido simples e florido de Christine voar junto com a brisa do vento, da mesma forma que seus longos cachos ruivos, e sente seu coração bater mais rápido do lado esquerdo de seu peito, de uma forma que só sua doce Chris é capaz de fazer.

Sabe que a hora finalmente chegou.

- Christine, foi nesta praia que nos conhecemos, e, é aqui, com as ondas do mar por testemunhas, que quero jurar meu amor eterno a você.

E, após dizer estas palavras, Daniel tira de seu bolso uma pequena caixinha de veludo preta, a abre e Christine nota um pequeno anel de ouro com uma esmeralda solitária.

- Chris. – diz Daniel ajoelhando-se na frente de sua amada – Sei que o costume é um anel de diamantes, mas eu optei por uma esmeralda, para combinar com os olhos de seu verde. E então, rainha do meu coração, me daria à honra de casar-se comigo, e partilharmos uma vida juntos, até que a morte nos separe? Eu te amo!

Christine estende sua mão para que Daniel se levante, e, quando ele o faz, a olha bem no fundo dos olhos, esperando uma resposta.

- Eu te amo, Daniel. – responde à ruiva – E, se tem algo com o qual eu sonhei a minha vida inteira, foi com o dia em que nos casaríamos, meu amor! E é por isso que eu aceito, sim, me casar com você!

Tomados por uma emoção indescritível, Daniel tira o anel da caixinha e o coloca no dedo indicador da mão direita de Christine, enquanto a moça apenas observa em silêncio. E, após colocar a solitária esmeralda no dedo de Christine, ele deposita um beijo suave na palma da mão da moça.

Por sua vez, ela o ajuda a se levantar e os dois aproximam seus corpos, abraçando-se de forma apaixonada, para então Daniel tomar a boca de Christine na sua em um beijo repleto de sentimentos, beijo este que a moça corresponde com a mesma paixão.

Daniel sente sabor de mel o morango, enquanto continua envolvido nos braços de sua Christine, em breve sua esposa... É incrível quando se conhece uma pessoa e se sabe que ela será sua para sempre... Fora assim, outrora, nesta mesma praia, com as ondas como testemunha, da mesma forma que agora, tantos anos depois, selam este juramento de amor eterno.

Terminam o beijo de forma relutante e, Daniel se senta na areia, fazendo sinal para que Christine se sente em seu colo. E os dois, sozinhos sob as areias da praia, contemplam o por do sol.

Ficam ali durante horas, conversando, fazendo planos para uma vida toda que terão juntos pela frente, uma vida juntos, em que o amor e a fidelidade serão a base para toda a construção de uma nova felicidade.

Estão tão absortos em seus planos para o futuro que não se dão conta de que o dia termina e mais uma noite tem início, com a lua cheia e as estrelas brilhando no céu. Escutam a buzina de um carro e Christine vê seu pai, a chamando para leva-la de volta a seu lar. Despede-se de seu noivo e combinam de se verem no dia seguinte, para combinarem um encontro entre as famílias, a fim de oficializarem sem compromisso de amor.

*****

- Daniel, nós ficaremos juntos para sempre?

- Para sempre e mais além, Christine.

- E se um dia o destino nos separar?

- Não vai, porque eu prometo, Christine, que não deixarei que nada e nem ninguém tire você de mim! E esta é uma promessa que vou cumprir durante todos os dias de minha vida, e enquanto nós vivermos!

*****

Daniel acorda sobressaltado com seu telefone celular tocando sem parar. Sonhava com o passado, em que ele e Christine eram apenas dois adolescentes, ele com dezoito e Christine com quinze anos.

O telefone continua tocando. Olha para o identificador e se assusta “Mirella”. Rapidamente seus olhos se voltam para o relógio de cabeceira, que marcam três horas da manhã. Seu coração se acelera com um medo que não consegue entender. E, sem mais demora, atende o celular.

- Mirella. – diz Daniel, sem rodeios – O que aconteceu?

- Daniel. – a vos de Mirella é de puro desespero – Um acidente... De carro...

- Christine... – o pânico da mãe de Christine automaticamente passa para Daniel, e sente sua mão tremer enquanto segura o telefone.

- Ela está em coma no hospital – responde Mirella – Daniel, o estado dela é grave...

Por uma pequena fração de segundos, Daniel sente seu coração congelar em seu peito e, no instante seguinte, seu órgão vital começa a bater de forma totalmente descompassada...

Christine...?! Acidente...?! Como...?!

- Como...?! – é tudo o que Daniel consegue perguntar.

- Ela estava voltando de carro com o pai. Um bêbado vinha dirigindo em contra mão, meu marido tentou desviar mas não houve tempo, o carro capotou. Daniel, não fosse o conto de segurança...

- Não diga mais nada! – fala Daniel – Estou indo para o hospital!

Apressadamente, Daniel desliga o telefone, levanta-se de sua cama e vai para seu closet, onde pega a primeira calça e a primeira camisa que vê em sua frente. Ainda com pressa, calça um par de sapatos e deixa o closet, sem nem ao menos pentear os cabelos. Pega a chave de seu carro e, vai para a garagem, liga o carro e começa a dirigir por uma cidade sem transito, no meio da madrugada.

Tudo o que pensa é em Christine...

Christine...

E Christine...

Como isso foi acontecer? Como sua Christine pode sofrer um acidente? Como isso é possível...?

Seus pensamentos não saem de sua amada enquanto continua a dirigir, e rapidamente chega a seu destino, o hospital. Estaciona seu carro de qualquer maneira, para entrar apressadamente pelas duas grandes portas de vidro da entrada principal do hospital, que dá acesso a grande recepção.

Com passos apressados e o coração batendo rápido demais devido a preocupação, chega ao balcão principal do hospital.

- Posso ajuda-lo, senhor? – pergunta a recepcionista de forma cordial.

- Christine Albuquerque. – diz Daniel, de forma apressada – Preciso saber como ela está.

- O senhor é algum parente?

- Sou o noivo dela.

- Um momento senhor, que vou procurar o quarto da senhorita Albuquerque.

Impaciente, Daniel observa a recepcionista digitar algo no teclado do computador e, imediatamente, a atenção da mulher se volta para ele.

- Senhor, a senhorita Albuquerque encontra-se no CTI Três, quinto andar.

- CTI?! – Daniel assusta-se com a palavra – O estado dela é tão grave assim?

- Não estou autorizada a dar nenhum tipo de informação, senhor. – responde a recepcionista – A senhora Albuquerque está no quinto andar com a equipe médica, suas perguntas serão respondidas lá.

- Obrigado pela informação.

E, dizendo estas palavras, Daniel ruma diretamente para a porta do elevador, e com os dedos trêmulos, começa a apertar os botões para chamar o elevador ao térreo, achando que ele está demorando demais. Para ele, os dois minutos que o elevador levou para descer do décimo andar ao térreo pareceram durar uma eternidade e, quando ele finalmente chegou, apertou com grande pressa o botão para o quinto andar. E, enquanto elevador sobe, seus pensamentos não saíram de Christine.

As portas do elevador se abrem e, a primeira pessoa que vê é Mirella, que parece estar a sua espera. Sai do elevador para ir de encontro a sua sogra.

- O que aconteceu, Mirella? – pergunta Daniel, sem delongas – Como aconteceu? Christine está bem?

Com os olhos vermelhos de tanto chorar, Mirella faz sinal para que Daniel a acompanhe pelo longo corredor, enquanto se dirigem para o CTI Três.

- Por telefone contei exatamente o que aconteceu, Daniel. – diz Mirella com a voz embargada por soluços provocados por seu choro – Um acidente horrível. Fernando está bem, mas o estado de Christine é grave, e os médicos ainda não sabem dizer se ela vai ficar bem.

Daniel sente seu coração se despedaçar em um milhão de pedaços, enquanto escuta as palavras de sua sogra. Em seus pensamentos, reza para que nada de mal aconteça a sua Christine.

Mirella abre a porta do CTI Três e os dois entram no quarto, e os olhos de Daniel congelam ante a visão que ele tem. Sua Christine, tão cheia de vida, tão alegre... Agora tão imóvel... Aproxima-se do leito dela e observa o rosto de sua amada... A pele branca cheia de cortes, alguns ainda vermelhos devido ao sangue que secou. Ela toda conectada a tubos e aparelhos... Seu coração dói ao ver sua Chris neste estado.

Aproxima-se do leito de sua amada e, com suas duas mãos, envolve uma das dela, enquanto deixa cair todas as suas lágrimas por seu rosto, sem se importar com mais nada... Não se importa com o fato de ser homem... Não se importa com os ditados de que homens não choram... Quando se ama alguém com a intensidade com a qual ama Christine, só se está feliz e completo quando sua metade também está...

E agora, sua metade parece estar a caminho de um lugar para o qual ele não pode ir... E não consegue aceitar essa realidade... Christine não pode deixa-lo... Não consegue pensar em um mundo, em uma vida, na qual ela não esteja presente...

- Você vai ficar bem, Christine... – murmura mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa.

Mirella se aproxima de Daniel e coloca a mão direita no ombro do noivo de sua filha para confortá-lo, pois a dor que compartilham é a mesma.

Passam o resto da madrugada assim, um confortando o outro. E na manhã seguinte ficam sabendo que Fernando, que sofrera ferimentos leves, já está fora de perigo. Os três estão no CTI Três quando um homem e uma mulher chegam, carregando radiografias, tomografias computadorizas e ressonâncias magnéticas.

- Doutor, a Christine vai ficar bem? – Daniel pergunta sem conseguir conter um misto de medo e ansiedade.

- Não se preocupem. – diz o homem, o médico – Apesar de ter sido um acidente grave, a senhorita Albuquerque irá sobreviver. Porém...

Daniel não gosta nada de ouvir este “porém”. Mas, por outro lado, sabe que precisa ouvir o que o médico tem a dizer.

- Porém no acidente, a senhorita Albuquerque levou uma pancada em um dos lóbulos temporais, ocasionando uma lesão de natureza grave, e isso fez com ela perdesse todas as memórias. Eu lamento dizer, mas, Christine jamais será capaz de lembrar-se de seu passado.

Daniel vê seu mundo ruir e seu coração se estilhaçar como vidro enquanto seu cérebro processa o que acaba de ouvir do médico. Christine não pode... Simplesmente não pode perder suas memórias... Ela não pode se esquecer de tudo o que já viveram juntos... Não pode...!

- Me diga que isso não é verdade...! – exclama Daniel – Eu não posso acreditar em uma coisa dessas!

- Como médico, não devo e não posso mentir. – confirma o médico – Eu lamento, mas esta é a verdade! A senhorita Albuquerque nunca mais será capaz de lembrar quem ela é!

Lágrimas começam a cair pela face de Daniel, e, deixa o CTI, querendo ficar sozinho. Não quer ver ninguém... Não quer falar com ninguém... Pois acaba de perder tudo... Perder sua razão de viver...

Segue descendo as escadas, e, para no meio delas, sem conseguir mais se conter e se senta no meio delas. Coloca suas mãos em seu rosto, tentando em vão impedir que as lágrimas caiam, e desejando inutilmente que tudo isto seja um sonho...

Mas, para sua infelicidade, isto não é um sonho... E, tudo o que ouviu é a mais cruel das verdades... Christine, perdera a memória e nunca mais será capaz de lembrar-se dele... Nunca mais será capaz de lembrar-se de todos os momentos maravilhosos que viveram juntos... De todos os planos que fizeram para o futuro que deveriam viver juntos...

E enquanto seus olhos choram lágrimas amargas da mais cruel das infelicidades, seu coração chora lágrimas de sangue por toda a dor que esta notícia lhe causara...

Chora até não aguentar mais... E, quando acha que já não tem mais lágrimas para chorar, as lágrimas tornam a cair...

*****

Cinco dias de passaram desde o acidente com Christine e a triste notícia com relação a seu destino. Porém, para Daniel, pareceram uma eternidade, em que os ponteiros do relógio simplesmente pareciam não se mexer.

Ela ainda não recobrara a consciência e, enquanto uma parte de si queria que ela abrisse os olhos e voltasse para a vida, à outra parte de si queria poder adiar este momento mais um pouco, pois, não se sentia, de forma alguma, preparado para encarar uma Christine que não se lembra do passado... Encarar uma mulher que não terá nem lembranças de quem ela é.

Está nas escadas, contemplando o vazio. Perdido em seus próprios pensamentos quando Mirella se aproxima.

- Daniel... – diz sua sogra, colocando uma das mãos em seu ombro – Christine acordou...

O coração de Daniel dá um salto em seu peito, ao mesmo tempo em que começa a bater em disparada, ante a notícia que acaba de receber, e, embora o que mais queira no mundo é vê-la com os olhos abertos e de volta a vida, uma parte de si sabe que existe uma pergunta a ser respondida, e que dessa resposta depende todo o seu futuro e a sua felicidade.

- Ela... – Daniel gagueja e não consegue terminar as palavras.

Mirella faz um sinal de negativa com a cabeça.

- Ela não se lembra de nada. – diz a mãe de Christine – Ela não é capaz de reconhecer o próprio reflexo, Daniel.

Mesmo já sabendo que isto ia acontecer, a notícia não deixa de ser menos chocante para Daniel, e usa suas forças para reprimir as lágrimas amargas que começam a se formar em seus olhos.

- Preciso vê-la... – Daniel consegue dizer.

- Claro. – responde Mirella – Só tome cuidado, ela está muito confusa.

- Tomarei.

Daniel deixa as escadas e segue para o CTI Três. Com a mão esquerda trêmula, gira a maçaneta da porta para que possa abri-la, achando que já está preparado para o que está por vir. Mas, prova estar totalmente errado quando seus olhos encaram os belos olhos verdes de sua amada.

Os olhos de Christine estão totalmente desfocados da realidade, como se ela nem estivesse ali. E pior, o encara como se ele fosse um completo estranho, um desconhecido qualquer que não faz diferença nenhuma em sua vida. E isso acaba por arrasar completamente o seu coração.

Com passos relutantes, se aproxima do leito de Christine e, tenta envolver uma das mãos dela com as suas, mas, para seu espanto e total surpresa, ela tira sua mãos de forma abrupta das dele, o que só faz com que a dor em seu coração aumente ainda mais.

- Christine... – consegue murmurar.

Ainda com os olhos totalmente desfocados da realidade, Christine o encara, sem reconhecê-lo, como sabia que aconteceria. Mais uma vez tenta tocá-la, mas ela repele seu toque, como se não entendesse porque ele a toca.

- Não... Não quero que me toque... – murmura Christine com a voz incerta.

- Chris...

- Por que me chama assim...?

- Porque sempre a chamei assim... Dói-me ver que você não me reconhece, querida. Dói de uma forma que você não é capaz de imaginar...!

- Eu não sei nem quem eu sou... Como posso reconhecer alguém se não sou capaz de reconhecer a mim mesma...?

Totalmente tomado pela dor, Daniel observa sua doce Christine levar as duas mãos ao rosto de forma desesperada e começar a chorar... Ela chora tanto, que começa a soluçar. E neste momento Daniel percebe que não aguenta mais... Que está a ponto de desabar... E, sem pensar duas vezes, deixa o CTI.

Vai para o terraço, e se senta ao chão, encostado na parede, ao mesmo tempo em que uma tempestade começa a cair. A água da chuva se mistura a suas lágrimas. Conhece Christine desde que eram crianças, e, ela nunca lhe olhou como um estranho, sempre o olhava com carinho, com amor... E hoje, o olhou com indiferença... Como se ele fosse um estranho qualquer no mundo, e isso fora demais para ele...

O destino é cruel demais!

Fica na chuva por horas a fio, sem se importar em se molhar. E quando o céu volt a ficar azul e a água para de cair do céu, Daniel se dá conta do quanto está molhado. Queria se sentir uma rocha, forte e que ninguém é capaz de quebrar, mas, se sente como um grão de areia, frágil e que com apenas uma brisa o vento é capaz de levar.

Tira de seu bolso seu smartphone e liga em uma rádio qualquer. E começa a escutar e prestar atenção à música o rádio toca:

“Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma idéia vale uma vida...

Quando não houver esperança
Quando não restar nem ilusão
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós
Algo de uma criança...

Enquanto houver sol
Enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol
Enquanto houver sol...

Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando
Que se faz o caminho...

Quando não houver desejo
Quando não restar nem mesmo dor
Ainda há de haver desejo
Em cada um de nós
Aonde Deus colocou...”

A letra da música mexe com ele, de uma forma que nem sequer imaginaria que uma música fosse capaz de mexer.

E se este não for o fim...? E se existir uma forma de trazer as lembranças de sua Christine de volta? Dizem que a esperança é a última que morre... E a sua não precisa morrer, desde que tenha um objetivo para o qual lutar! E seu objetivo se chama Christine!

Não deixará que tudo de bom que viveram ao longo de uma vida inteira se perca por conta de um acidente... Não pode deixar que nada disso aconteça! E, a chama da esperança que acaba de renascer em seu coração lhe diz que a força de um amor verdadeiro pode ser capaz de fazer qualquer coisa, inclusive de trazer de volta as lembranças de sua doce Christine.

Porque, com a força de um verdadeiro amor, tudo pode ser possível...! E acredita verdadeiramente que um milagre pode acontecer e que sua Chris pode vir a recuperar suas memórias!

É isso! A partir de agora, tem um novo objetivo de vida...! Viverá para sua amada Chrisine...! para dar a ela todo sue amor, toda sua compreensão e reviver com ela todos os momentos que passaram juntos. E, dando a ela novas lembranças, fará com que as antigas retornem!

Por que com a força de um verdadeiro amor, um homem é capaz de fazer qualquer coisa...! E, ele será capaz de fazer com que as lembranças de Christine retornem!

*****

Christine ficou internada por mais duas semanas, até se recuperar de todos os ferimentos que o acidente lhe causara. E, durante estas duas semanas, Daniel teve um grande trabalho para convencer Fernando e Mirella de seu plano.

De início, os dois não concordaram, achando demasiada loucura a ideia de Daniel. Totalmente focados e tristes pela dura realidade, disseram ao homem que mesmo um amor verdadeiro não pode ir contra a triste realidade, e que, infelizmente ele tem de se conformar em perder Christine.

Mas, a certeza e a força de vontade de ao menos tentar de Daniel é tanta que os dois acabaram concordando com o estranho plano do homem. E, para colocar em prática seu audacioso plano de trazer as lembranças de Christine de volta, aluga uma casa na praia em que se conheceram, para que posam ser só os dois por um tempo. Pois assim, no lugar onde viveram tantos momentos felizes juntos, sabe que terá a chance, e talvez até sua única chance, de fazer com que as lembranças de sua doce Christine retornem.

E naquela manhã, em que finalmente Christine recebera sua alta hospitalar, Daniel deixa seu pequeno apartamento com uma mala em mãos e o coração repleto de esperanças, pois tem toda a certeza do mundo que a força de seu amor por Christine é mais poderosa do que qualquer outra coisa, e assim ele não apenas dará a ela novas lembranças, como recuperará as antigas, demore o tempo que levar!

Na garagem de seu prédio, abre o porta malas e ali deposita sua bagagem, para então abrir a porta do motorista, sentar em seu assento e ligar seu carro, para rumar pela última vez ao local que virara um verdadeiro inferno para ele.

Enquanto dirige, liga o som de seu carro em uma rádio qualquer, apenas para distrair sua mente de coisas que obviamente não quer pensar no momento, como uma vozinha irritante, bem no mais escuro de seu ser, lhe dizendo continuamente que seu plano jamais dará certo e que, por mais que queira, não será capaz de trazer as lembranças de sua amada de volta.

Talvez essa voz irritante seja um reflexo do que, ao longo de duas intermináveis semanas ouvira continuamente os médicos dizerem. E que, decididamente, não concorda. Por mais que a medicina diga que Christine jamais será capaz de recuperar as lembranças, ele está disposto a provar o contrário.

Passa todo o caminho de seu apartamento para o hospital ouvindo músicas calmas, para tirar de sua cabeça todos os pensamentos negativos. De agora em diante, só tem que pensar em coisas boas e no seu plano, de fazer com que a força de seu amor possa trazer de volta as lembranças de sua amada, não importa quanto tempo isso leve!

Por não pegar muito transito pelas ruas da cidade, não demora quase nada para chegar ao hospital e, encontra Fernando, Mirella e Christine nas portas dele, já com a mala de Christine em mãos.

Estaciona em uma das vagas livres e desce do carro, para ir de encontro a seus sogros e sua noiva, pois, por mais que Christine não se lembre de quem ela é e de tudo o que viveram juntos, ela ainda é sua noiva, e o será até o dia em que se casarem e ela finalmente se tornar sua esposa, até que a morte os separe.

Mirella o recebe com um sorriso em seus lábios, enquanto Fernando o encara ainda com um olhar incrédulo, sem ter muitas esperanças de que seu plano possa dar certo. Já Christine, para sua infelicidade, continua o olhando como se não o conhecesse.

Cumprimenta Mirella com dois beijos no rosto, e Fernando com um aperto cordial de mãos, mas, para com Christine, não sabe como se dirigir, nestas horas, o receio fala mais alto e, tudo o que consegue fazer é estender sua mão para que ela a aperte. Hesitante, Christine aperta sua mão de forma leve. E, o breve contato da pele dela com a sua trás em sua mente doces recordações.

- Espero sinceramente que você saiba o que está fazendo, Daniel. – Fernando o tira de seus pensamentos – Porque eu não quero ver Christine machucada e, nem mesmo você, a quem eu tenho grande consideração.

- Eu sei o que estou fazendo, Fernando. – responde Daniel, sem deixar que ele tire suas esperanças – E, de qualquer forma, nunca saberemos se dará certo se não tentarmos. E, mesmo que eu não possa recuperar as memórias de Christine, sei que posso dar novas lembranças a ela.

- Você sempre foi teimoso demais. – diz Fernando, com um leve sorriso em seus lábios.

- Esta sempre foi uma das minhas qualidades, Fernando. – Daniel sorri para o sogro – Confie em mim, sei que dará certo.

- E quando é que não confiei? – é a resposta de Fernando.

E, após dizer estas palavras, os dois homens dão um forte abraço cordial, mostrando que finalmente conseguiram chegar a um consenso e que para eles, o bem estar de Christine é mais importante do que qualquer coisa.

Daniel se despede de Mirella e Fernando, coloca a bagagem de Christine no porta malas de seu carro e abre a porta do carro do bando do passageiro para que ela possa entrar. Ao longo de duas semanas, a presença de Daniel fora diária ao lado de sua amada e, por este motivo, Christine não o estranha mais, embora ainda não faça ideia de quem ele é. Disse a ela que era um amigo de longa data, e que tem praticamente uma vida juntos, o que não deixa de ser uma mentira. E, por este motivo, decidira passar um tempo com ela em um local isolado, para que ela possa ter alguma tranquilidade enquanto se recupera deste horrível acidente, que, infelizmente ela não consegue se lembrar.

- Por que faz isso por mim? – Christine pergunta, quebrando o silêncio do carro.

A pergunta pega Daniel completamente desprevenido. Estava tão concentrado em seus planos que só ouvir a voz de sua amada já serviu para quebrar toda a sua concentração.

- Porque somos amigos. – responde simplesmente o homem, sem tirar os olhos da estrada – E é isso que os amigos fazem, ajudam uns aos outros.

- É só por isso?

- Quem sabe, Chris. Você ainda está confusa devido ao acidente, o que é perfeitamente normal. Só vamos passar um tempo só nós dois, para que você possa ficar menos confusa e se preparar melhor para retomar sua vida.

- Sabe que para mim você é um completo estranho?

- Querida, no momento, você é uma estranha até para você mesma.

Os olhos de Christine se enchem de lágrimas, fazendo com que Daniel se arrependa na mesma hora das palavras proferidas.

- Eu sei... – a ruiva responde derramando suas lágrimas – Você não sabe como isso é horrível... Olho-me no espelho e não reconheço o reflexo dele... Não sei quem sou... Não sei mais nada... Não tenho mais nada...

“Você tem a mim, e sempre terá.”

Daniel sente vontade de verbalizar este pensamento, porém, sabe que ainda não é o momento certo para isso.

- Você tem, Christine. – responde Daniel – Tem mais do que você imagina, só ainda não conseguiu se dar conta disso.

- Seu nome é Daniel, não é mesmo? – ela pergunta.

- Sim.

- Não sei por que, mas gosto do seu nome.

Daniel não consegue deixar de sorrir ao ouvir as palavras de Christine.

“Muito em breve, farei com que você goste de muito mais em mim do que somente de meu nome.”

Terminam a viagem em completo silêncio, e, Daniel finalmente estaciona seu carro em frente à casa que alugou para passar um tempo com sua alma gêmea.

Primeiro sai do carro, em seguida abre a porta do passageiro para Christine e, por último, abre o porta malas para pegar a bagagem. Tira de seu bolso um molho de chaves, escolhe uma e abre a porta da pequena casa, fazendo sinal para que Christine entre em seguida.

Assim que a ruiva coloca os pés na sala da casa, sente uma sensação de nostalgia que não sabe explicar. Seus olhos verdes como duas esmeraldas percorrem todo o cômodo, decorado de forma muito simples. As paredes são recobertas por papel de parede em tom pastel, decorado com delicadas flores em vários tons de rosa e amarelo bem claro, dando ao ambiente um tom bastante harmonioso. Os móveis são todos em tons marfim, uma estante, equipada com uma televisão LCD, um aparelho de DVD, um aparelho de som e alguns livros estão pela estante. Um jogo de sofá de dois e três lugares, decorados com almofadas brancas e azuis claras. Uma mesinha de centro, com enfeites de anjos, três, um com roupa rosa tocando uma harpa, um com roupa azul tocando um violão e o terceiro com roupa amarela toando um sino. Nas paredes, quadros com as mais belas e tocantes paisagens.

Christine sorri ao ver a decoração, acabando por descobrir que gosta dela, pela primeira vez desde que acordara sem memória, sentindo-se em casa, se é que isso é possível.

- Gosta? – pergunta Daniel, se colocando ao lado de Christine com as duas malas nas mãos.

- Sim, muito. – responde Christine com um sorriso tímido – Eu gostava deste lugar?

- Mais do que você imagina. Venha, vou levar as malas para nossos quartos para então te mostrar o resto da casa.

Em silêncio, Cristine segue Daniel, subindo algumas escadas de madeira para em seguida andarem por um pequeno corredor, com as paredes decoradas com o mesmo papel de parede da sala. Ao final do corredor, chegam a duas portas, uma em frente à outra, que dão para dois quartos. Daniel coloca as malas no chão e abre a porta do quarto à direita e faz sinal par que Christine entre.

- Este é seu quarto. – anuncia Daniel.

Assim como fizera na sala, os olhos de Christine percorrem todo o ambiente, passando pelo papel de parede, em tom rosa bebê com delicadas flores brancas, aos quadros com paisagens nas paredes. No centro do quarto, uma cama de madeira, forrada com uma colcha de seda rosa e decorada com almofadas de corações rosa e brancas, seis no total. Um criado do mudo ao lado da cama, com um abajur a alguns livros. Um guarda roupas e uma penteadeira terminam de decorar o ambiente e no outro lado do quarto uma porta que dá para uma pequena varanda.

Em um momento de puro impulso, Christine corre em direção à pequena varanda, e se debruça sobre as grades da mesma. A vista que tem faz seu coração disparar de contentamento. O azul do mar, quase chegando ao verde, de tão pura e limpa que é a água, misturada com as areias da praia.

A sensação de nostalgia aumenta, como se realmente conhecesse aquele lugar, como se pertencesse a ele... Mas não consegue se lembrar... Tenta com todas as suas forças evocar lembranças, por menores que sejam, mas é tudo em vão... Por mais que tente, sua mente é o mais profundo vazio, a mais profunda escuridão... É como se estivesse totalmente tomada pelas trevas... Sem qualquer chance de se recuperar...

Lágrimas desesperadas começam a escorrer por sua face, e instintivamente Daniel corre para o lado de sua amada, a abraçando em um geste altamente protetor. Sem nem ao menos conseguir entender o porquê, Christine retribui o abraço de Daniel, se sentindo com um minúsculo grão de areia nos braços protetores de Daniel, deixa vir à tona todas as lágrimas que ao longo de duas semanas não conseguiu derramar... Não sabe explicar, mas, ali, sendo abraçada por alguém do qual não consegue se lembrar, consegue se sentir totalmente reconfortada...

*****

- No que você acredita...? – pergunta uma voz feminina, no meio da escuridão.

- Acredito em muitas coisas. – uma voz masculina responde, vinda da mesma escuridão.

- Você acredita no destino...?

- É claro que acredito. Acredito que o destino seja capaz de unir duas almas que estão destinadas a se encontrarem, para uni-las em um laço de amor eterno.

*****

Christine acorda sobressaltada e suando frio. As vozes que escutara na escuridão de seu sonho ecoando em sua mente.

- O que foi isso...? – se pergunta a moça.

Fica uns minutos sentada na cama, tentando relembrar cada frase que as vozes disseram em seu sonho... Será possível que elas tenham algum significado especial? Ou fora apenas um sonho esquisito por seu desejo desesperado de se lembrar de seu passado...?

Infelizmente, não sabe responder a esta pergunta. Mas, pode ser que seja seu primeiro vislumbre de esperança de ao menos se lembrar de quem é... Há mais ou menos um mês está nesta casa, com Daniel, a fim de se recuperar de seu grave acidente, e durante todo este tempo, não conseguira se lembrar de absolutamente nada de seu passado.

Sabe que se chama Christine porque lhe disseram, mas... Não é a mesma coisa de se saber quem realmente é... Queria olhar-se no espelho ao menos uma vez e não ver uma estranha...  E, embora Daniel esteja lhe dando novas lembranças, deseja ardentemente que as antigas retornem... Não quer viver como se não tivesse passado, pois sente que assim jamais será uma mulher completa... Quer ter suas lembranças novamente para poder enfim viver plenamente, pois seu coração lhe diz que está faltando algo fundamental em sua vida... Mas o que é que esta faltando, ela não consegue se lembrar...

Decide se levantar da cama para se encontrar com Daniel na cozinha, para poderem tomar café da manhã juntos. Durante este mês, conseguiram estabelecer uma rotina, e seu amigo tem se mostrado com uma paciência sem limites para com ela...

Logo quando acordou, ainda no hospital, a primeira impressão que teve de Daniel fora que ele queria desesperadamente que ela se lembrasse de algo, do qual ela ainda não consegue se lembrar. Porém, no decorrer deste mês que tem vivido juntos, ele tem se mostrado um amigo leal e companheiro, sendo seu porto seguro e tudo o que ela precisa que ele seja, sem jamais reclamar. Às vezes, tem a impressão de ver o pequeno vislumbre de uma sombra de tristeza nos olhos de Daniel, mas, quando volta seu olhar para ele, ele sorri para ela de forma calorosa, misturada a outro sentimento que ainda não consegue identificar, e a sombra de tristeza desaparece tão rápido quanto havia surgido...

Deixando seus pensamentos de lado, abre o guarda roupas para encontrar algo para se vestir. Decide-se por um vestido branco de alcinha, com algumas contas na alça, algo bem simples. Durante este mês, acabou descobrindo que gosta bastante de simplicidade, e que prefere roupas simples aquelas mais sofisticadas que algumas mulheres preferem usar no dia a dia.

Desce as escadas e vai direto para a cozinha, onde encontra Daniel preparando o café da manhã. Involuntariamente seus lábios se curvam em um sorriso, pois já está acostumada a agradável presença de Daniel. É como se realmente o conhecesse de uma vida inteira.

- Bom dia, Daniel!

- Bom dia, Chris. – diz Daniel virando-se para ela com uma garrafa de café nas mãos – Dormiu bem?

- Mais ou menos. – responde Christine, se se sentando à mesa e pegando uma xícara para que Daniel a sirva – Tive um sonho estranho.

- Sonho? – pergunta Daniel se sentando em frente a ela e servindo café para ambos – Quer me contar?

- Na verdade, não sei bem se era um sonho... Ouvi vozes na escuridão...

As palavras de Christine reascendem as chamas de esperança dentro do coração de Daniel, pois este é o primeiro sinal, após um longo mês de que algum vestígio da memória dela possa estar voltando.

- Quer me contar? – pergunta Daniel, tentando manter uma calma que está longe de sentir.

- Escutei vozes na escuridão que se tornou minha mente. Vozes de dois jovens, um rapaz e uma moça. Não reconheci as vozes, nem vi seus rostos, mas senti uma sensação de nostalgia.

- O que elas diziam?

- “No que você acredita...?”

- Isto é uma pergunta.

- Se fosse, você a responderia?

- Não custa tentar, Chris. Por que você não tenta?

- Daniel, no que você acredita?

Recordações de um doce passado invadem a mente de Daniel, enquanto ele decide continuar com seu plano.

- Acredito em muitas coisas. – uma voz masculina responde, vinda da mesma escuridão.

- Você acredita no destino...?

- É claro que acredito. Acredito que o destino seja capaz de unir duas almas que estão destinadas a se encontrarem, para uni-las em um laço de amor eterno.

As palavras de Daniel, ditas com a mais profunda calma, fazem o coração de Christine disparar em seu interior, pois Daniel proferira exatamente as mesmas palavras que ouvira uma voz masculina dizer em seu sonho... Será que possível que Daniel seja esta pessoa...?

- Qual o problema, Chris? – pergunta Daniel.

- Você... Você respondeu a minha pergunta exatamente como a voz do meu sonho...

“Bingo!”

- Existem coisas que não são mero acaso, Christine. E, se me permite, vamos passear pela praia depois que tomar seu café da manhã. E, enquanto estivermos na praia, quero ler algo para você.

- O que? – Christine não consegue esconder a curiosidade por trás de suas palavras.

- Você verá.

E, enquanto Christine termina de tomar café, Daniel vai até a estante da sala e pega um livro qualquer, com um sorriso em seu rosto e a certeza de que está no caminho certo. E, o próximo passo para tentar reviver as lembranças perdidas de Christine, é trazer recordações do passado. Viver novamente situações que viveram outrora, para quem sabe, momentos de um amor destinado a ser eterno possam trazer as antigas lembranças de seu amor de volta.

Volta para a cozinha e encontra Christine já pronta para saírem.

- Estou pronta, Daniel!

- Ótimo! Podemos ir.

Caminham pelas areias lado a lado, mas Christine sempre mantém alguma distancia entre os dois, querendo proteger a si mesma, sem saber exatamente do que, já que Daniel, ao longo deste mês, se mostrou ser a pessoa mais amável que já conheceu, fazendo com que se sinta totalmente à vontade na presença dele.

Daniel para de caminhar e se senta na areia, abrindo o livro em uma página marcada por uma pétala de rosa vermelha. Em seguida, faz sinal para que Christine se sente a seu lado, coisa que ela faz sem pestanejar.

- Que livro é esse? – pergunta Christine.

- O livro que contém um poema que gostaria que você escutasse, costumava ser seu favorito.

As palavras de Daniel provocam um misto de tristeza e alegria em Christine... Tristeza por infelizmente não conhecer absolutamente nada a seu respeito e, alegria, por estar ao lado de alguém que parece conhecê-la muito bem.

- Eu tenho um poema favorito? – pergunta Christine, querendo saber mais sobre si mesma.

- Sim, tem. Quer que eu leia para você?

- Sim, por favor.

Daniel começa a ler para Christine trechos do poema “Amor é fogo que arde sem se ver”, e, enquanto vai recitando para ela, ela começa a recitar junto com ele, terminando juntos de recitar o poema.

- Daniel... – Christine diz, totalmente surpresa – Como é que de repente eu consegui recitar um poema que nem ao menos conhecia?

Daniel não consegue deixar de sorrir, sentindo, mais do que nunca, que pode estar no caminho certo para trazer as lembranças de Christine de volta.

- Chame de destino. – responde Daniel.

- Será que você pode me contar um pouco mais sobre mim...? – pede Christine, com ar de súplica.

Com um sorriso, Daniel começa a contar para Christine coisas sobre ela mesma, coisas simples, como cor favorita, comida que ela mais gosta, livros, o que ela gostava de fazer... E, descobriu que gostava de recordar pequenas coisas que sempre fizeram parte do dia a dia de sua amada, e, percebia, para sua total satisfação, que Christine sorria, enquanto ouvia sobre seus próprios gostos.

*****

- Você promete que estará sempre comigo? – a mesma voz masculina volta a perguntar, porém, desta vez, consegue ver a sombra de um homem, que lhe soa extremamente familiar.

- Por que quer que eu prometa isso?- a voz feminina já lhe é bem familiar, agora tem quase certeza de que a voz feminina pertence a ela mesma.

- Apenas prometa... Por favor...

- Eu te prometo que não apenas estarei a seu lado para sempre, como também prometo que te amarei, por toda a eternidade, até que a morte nos separe.

- Promete...?

- Eu prometo, Christine...

*****

Mais uma vez, Christine acorda assustada, com este estranho sonho, que agora tem certeza serem lembranças de seu passado.

Sete meses... Sete meses desde que perdera todas as suas lembranças, e, nenhum vestígio de reencontrá-las novamente. Mas, dia após dia, ao longo de todo este tempo, reaprendeu a viver sem lembranças, e, reconstruiu novas para poder se lembrar.

E, em todo este tempo foi Daniel quem lhe deu todas estas novas lembranças...

Lembranças que se tornaram inesquecíveis, únicas e especiais... Este tempo todo em que reaprendeu a viver sem memórias de seu passado, conseguiu criar novas e especiais e, em todas elas, Daniel está mais do que presente... Nestes sete meses, Daniel se tornou seu escudo, sua força, sua proteção...

Sempre dizendo que é seu amigo de infância, que se conheceram nesta mesma praia, desde que eram crianças, e, pela forma como Daniel sempre mostrou conhece-la muito bem ficou claro que ele realmente é seu melhor amigo...

E realmente, durante todo este temo Daniel se tornou seu melhor e mais leal amigo, sendo tudo o que ela sempre precisou que ele fosse... E, mesmo que de vez em quando veja um vislumbre de dor e tristeza no olhar de Daniel, ele sempre está sorrindo e disponível para ela, como um verdadeiro amigo deve ser.

Só que, infelizmente, seus sentimentos por este homem, que esteve do seu lado desde o momento em que acordou em uma cama de hospital sem qualquer memória estão mudando... Em seu coração, Daniel está se tornando muito mais do que um amigo... Ele está se tornando o homem pelo qual seu coração começa a bater mais depressa...

Só de ouvir a voz de Daniel, seu coração começa a bater de forma descompassada, suas mãos começam a suar de nervoso e seus olhos brilham de contentamento... Ao longo de todo este tempo, vem percebendo que só Daniel é capaz de lhe preencher desta forma. Mas ninguém consegue despertar os sentimentos que Daniel lhe desperta.

E acaba sofrendo com isso, porque praticamente todas as noites sonha com o casal sem rosto... Agora, sabe que a mulher dos sonhos é ela própria, mas o homem... O homem deve ser o que amou antes de perder suas lembranças... Um homem que agora não tem importância em sua vida, pois, seu coração bate mais forte somente por Daniel...

O homem do passado agora não tem significado nenhum em sua vida atual, uma vida que fora preenchida pelas lembranças maravilhosas criadas por Daniel, à pessoa que no momento é mais importante do que qualquer outra em sua vida...

E se, por acaso vier a se encontrar com o homem do sonho, o de seu passado, do qual não tem nenhuma lembrança, este será um completo estranho em sua vida. Ao contrário de Daniel, que já lhe preenche por completo. E agora, tem medo de recuperar sua memória, e ter que lidar com o homem do passado e provavelmente se separar de Daniel...

Daniel...

Seu maior medo é confessar seus sentimentos a ele, pois sabe que ele a tem somente como uma querida amiga, como já deixou bem claro ao longo destes sete meses. E agora, a única certeza que tem em sua vida, é que não quer ser apenas uma amiga de Daniel, quer ser a mulher da vida dele, quer preencher o coração dele, da mesma forma que ele lhe preencheu o coração e lhe deu novas lembranças para viver.

E, infelizmente, a cada dia que passa, sente medo de relembrar seu passado, e ter que dizer adeus ao presente que Daniel foi capaz de lhe dar...

*****

Daniel está nas areias da praia, olhando o sol que mais uma vez começa a se por, colorindo com seus últimos raios o belo mar da praia, e sentindo em seu coração um misto de sentimentos que não sabe explicar.

Nove meses...

Nove longos meses em que viu todos os seus esforços para trazer as lembranças de Christine de volta não darem resultados... Nove meses em que a força de seu amor se mostrou incapaz de trazer sua Christine de volta...

Durante todo este tempo, tentou mostrar a Christine de todas as formas possíveis que tinha certeza de que a força de seu amor poderia trazer as lembranças dela de volta, que, com a força do amor dos dois, tudo seria possível...

Porém, está provando a dura realidade de que tanto tentaram lhe prevenir... A dor da frustração de ter que ser somente um amigo para Christine, quando na verdade quer ser muito mais...

Começa a caminhar pelas areias da praia, enquanto as águas banham seus pés descalços, desejando que as águas levem todos os seus pensamentos ruins, e que lhe deem a coragem necessária para fazer o que precisa ser feito... Se afastar definitivamente de sua amada Christine...

Por nove meses, se manteve ao lado dela como apenas um amigo, mas, querendo ser muito mais que isso, desejando-a a todo instante, escutando no silêncio as batidas fortes de seu coração... Querendo-a mais do que qualquer outra coisa... E sabendo, mas sem conseguir assumir, que jamais a terá novamente...

Chega...! Não dá mais para continuar assim...! Prefere mil vezes ficar longe de Christine a ter que vê-la e fingir uma amizade que não existe, a esconder dela todo o amor que sente em seu coração.

Está tão concentrado em seus pensamentos que não percebe a aproximação de Christine, que para a alguns metros de distancia de dele.

- Daniel...

Daniel olha para trás e seu coração começa a bater em disparada, totalmente descompassado, enquanto encara totalmente mudo o rosto angelical de sua doce Christine.

- Christine, o que faz aqui?

Christine olha para o chão, encarando as areias da praia, totalmente decidida a dizer às palavras que por tanto tempo ensaiou e que agora parecem ser incapazes de sair.

- Daniel, eu vim me despedir...

As palavras doem mais do que um profundo golpe em Daniel. Se despedir...? Do que raios ela está falando...?

- Não entendo... – Daniel consegue proferir.

- Daniel, eu sinto muito, você é um amigo leal, se mostrou ser a melhor pessoa do mundo, o melhor amigo que alguém poderia ter, mas...

- Mas eu me apaixonei perdidamente por você... E não consigo mais te ver como somente um amigo, quando na verdade meu coração deseja muito mais...! Sei que você, no passado, foi meu melhor amigo, mas eu não tenho mais um passado, tudo o que tenho, são as lembranças de que você construiu ao meu lado... Essas são tudo o que tenho...! E você está presente em todas elas! Você conquistou meu coração, Daniel...! Posso não saber quem fui no passado, mas sei que, no presente, eu amo você, e não posso mais suportar ficar a seu lado somente como sua amiga, e é por este motivo que preciso ir embora...!

Daniel começa a rir, de tão contente que fica ao ouvir as palavras de sua Christine! Como é engraçado o destino! Estava pensando em como se despedir dela, e, acaba de descobrir que conseguira o que achava impossível...!

Mesmo sem memória, Christine o ama! Ela acaba de lhe dizer! Não precisa de mais nada no mundo! Após nove longos meses, se sente completo novamente!

- Qual é a graça? – pergunta Christine, sem entender por que Daniel está tão feliz.

- Christine, sinto em dizer, mas você não vai a lugar algum. Eu nunca fui para você somente um amigo, e acho que já está na hora de você saber que havíamos acabado de ficar noivos, quando o acidente que lhe tirou a memória aconteceu. Eu te amos, Chris, você foi, é e sempre será a mulher da minha vida, e para mim não existe um mundo... Uma vida, na qual você não esteja presente!

Os olhos de Christine se enchem de lágrimas, enquanto ela se aproxima com passos vacilantes na direção de Daniel. O homem cobre rapidamente a pouca distancia que separa os dois, e sem pensar duas vezes, abraça Christine como há muito não fazia e toma a boca dela com a sua, beijando-a com todo o seu amor.

Christine corresponde ao beijo de Daniel com a mesma intensidade, e enquanto o beija, uma sensação de nostalgia começa a tomar conta de si... E imagens vão surgindo em sua mente sem parar...

Lembranças...!

Lembranças de seu passado. E, em todas elas, Daniel está presente. Lembra-se com exatidão de toda a sua... De todo o seu passado... E finalmente consegue perceber que Daniel sempre foi seu verdadeiro amor...!

Daniel...!

Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto as lembranças não param de invadir sua mente e seu coração bate cada vez mais rápido, enquanto com um beijo apaixonado recupera todo o seu passado!

Por fim, terminam o beijo, e permanecem abraçados enquanto um escuta os batimentos acelerados do coração do outro.

- Christine, por que choras...?

- Porque acabo de recuperar todas as minhas lembranças, Daniel...! Sou capaz de me lembrar de toda a minha vida...! E estou impressionada com o poder da força do nosso amor, que é tão poderosa que foi capaz de trazer as minhas lembranças de volta...!

Daniel sente seus olhos se marejarem de lágrimas, percebendo que todos os seus esforços não foram em vão! As lembranças de Christine voltaram graças à força de seu amor! Abraça mais uma vez a sua doce Christine, e a rodopia no ar, enquanto o sol termina de se por, ambos com os olhos tomados de emoção.

E com o mar como testemunha, se beijam mais uma vez, comemorando o início de uma nova vida juntos, e o poder de um verdadeiro amor.

Pois a força do amor dos dois é tão forte, que foi capaz de trazer as lembranças de Christine de volta.

FIM!


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