Dia Dos Namorados De Cam & Lillith

Eu sinto algo diferente em mim. Alguma coisa vai acontecer e eu tenho certeza que irá mudar minha vida completamente. Odeio quando isto acontece, fico sempre com uma sensação presa em mim e não consigo descrever o que é. Não entendo, mas sei que não é comum.

Minha vontade é de trancar-me nestes aposentos e não sair nunca mais. Pronto, resolvido! Vai ser isso que vou fazer...

-Lillith, querida, seu pai esta te aguardando. –Dora, a arrumadeira, grita do lado de fora do quarto. E o meu plano vai por água abaixo. Deito-me na cama e suspiro fundo. Novas batidas na porta. Que ótimo, nem sossego eu tenho neste lugar. –Quer ajuda para se vestir? O senhor mandou-me escolher uma roupa perfeita para você! –Ela exclamou com orgulho. Aff, até parece eu não tenho capacidade de escolher minhas próprias roupas.

-Entre Nora. Vá escolhendo a roupa enquanto eu tomo banho. –Eu saio o mais rápido que consigo, mas ela insiste mais:

-Deixe-me ajuda lá a despir-se. –Ai meu deus, eu com certeza nasci no século errado! Eu tenho dezessete anos e sei bem trocar minha roupa sozinha.

-Não. Eu sei fazer isso sozinha. –Digo com desprezo. Posso ter soado mal educada, mas não me importo. Já estou cansada desse nhe nhe nhe. Estou muito velha e já deveria estar casada, todos dizem isso. Qual é! Eu preciso de uma vida. Não quero apenas ser do jeito que um marido me queira e me tratem como se eu fosse uma peça de xadrez. Eu sou uma pessoa e quero o reconhecimento disso. Os homens não nos desejam, eles querem qualquer uma de família rica. E eu? Eu quero sentir, ser amada, valorizada. Caso contrario, prefiro ser a encalhada pro resto da vida. Meu sonho é casar em uma igreja que meu pai escolha e que meu marido seja alguém respeitável e amável. Todos iriam dizer como eu tenho sorte. Mas chega de sonhar, eu tenho que tomar banho.

Entrei no banheiro desnecessariamente grande e decorado. Um pequeno problema em viver em família rica, é que eles gastam dinheiro com qualquer coisa insignificante. Eu comecei a me despir e dei graças a deus de estar de camisola. Os espartilhos me atormentam. Eu não me importo em ter uma cintura não definida. Mas o que meu pai fala? “Para atrair homens, você deve estar sempre preparada, isso inclui a sua beleza.” Sinceramente? Isso é machismo! Nós mulheres temos que nos produzir toda e os homens apenas pegam qualquer roupa e pronto.

Enquanto eu esperava a água do banho esquentar, olhei meu reflexo no espelho. O que meus olhos enxergam? Uma mulher, obviamente. Mas no fundo, avaliando os aspectos interiores? Nada. Minha vida era um buraco vazio esperando que alguém preenchesse. Alguém que merecesse completa-lo.

Entro na banheira e percebi que era exatamente isso que precisava. Como eu amo relaxar! Isso é completamente, absolutamente perfeito!

Depois de um banho relaxante, demorado e merecedor eu tive que vestir a roupa escolhida por Nora. Ate que ela tinha um bom gosto. Ajudou-me a vestir o espartilho e colocou o vestido delicadamente em mim.

-Ah, Lillith! Como você esta maravilhosa. –Ela soltou um suspiro longo e demorado. –Vários cavalheiros vão querer ter a senhorita!

-Ah claro. –Eu ironizei. –E por que tantas cerimônias para hoje?

-A senhorita não se lembra? Hoje é o dia dos namorados! Seu pai acredita que hoje você será escolhida. Por um cavalheiro nobre e corajoso. –Aff esse papo de novo. –Como eu queria ter a tua sorte e ter lindos vestidos e impressionar os cavalheiros! –Nora começou a dramatizar a vida dela, falando que era pobre e não tinha nada e blá, blá, blá.

-Nora, escolha um dos meus vestidos, qualquer um. E um sapato também. Considere-os um presente, por você ter-me ajudado por tanto tempo. Hoje é um dia importante para você e quero que aproveite. Depois de se arrumar esta dispensada por hoje. –Caramba! EU estou sendo generosa. EU! Euzinha.

-Ahh! Muito obrigada! Deus lhe abençoe! Serei eternamente grata pela senhorita! Eu...

-Vá se arrumar. Hoje será um dia especial para ti. –Ela assente e sai devagar, pulando e sussurrando coisas aleatórias.

Como eu me esqueci do dia dos namorados? Esse sempre foi o meu dia favorito! Sempre sonhava que o príncipe encantado ia bater na minha porta e nós íamos ser felizes para frente. Qual é, não me julgue. Cresci com todos falando que era exatamente isso que ocorria. Eu tinha que acreditar, certo? Mas agora acho que desiludi.

-Lillith, seu pai a aguarda para a refeição.

-Nora? O que eu lhe disse sobre trabalhar hoje? Vá arrumar-se!

Saio do meu quarto e desço as escadas. Chego à sala de jantar desnecessariamente grande e arrumada até de mais. Tudo nesta casa/castelo era assim. Exagerado de mais. Arrumado de mais. Eu realmente nasci na família errada.

Sento-me em uma cadeira do lado oposto do meu pai. É estranho olhar para o meu pai depois do ocorrido. Ele quase nunca mais falou comigo depois da morte de minha mãe. Pensa que eu sou culpada, mas na verdade, nem sei o que aconteceu. Por que alguém me culparia por algo que eu não sei?

O almoço foi estranhamente silencioso e rápido. Falei pela primeira vez na semana com o meu pai:

-Eu vou sair agora, preciso de ar. Até mais ver. –Ele apenas concordou e eu saio devagar.

Não aguento ficar muito tempo nesta casa. É tudo “perfeito” demais. Arrumado demais. Isto é o sonho de muitas pessoas, mas não consigo imaginar o por que. Será que ter uma vida deste jeito é privilegio? Ah por favor, né! Não aguento isso.

Acho que sei o melhor a fazer: Compras! Não importa em que século você esteja, pois comprar sempre vai fazer uma mulher relaxar. Sempre. Nem que eu vá realmente comprar algo, mas o ato de ir a uma loja de costuras é absolutamente maravilhoso!

Ah que Ó-T-I-M-O! Ninguém trabalha nos comércios no dia dos namorados! Que raiva! O que eu vou fazer para relaxar, se não comprar? O jeito é esperar a festa começar. Vou ser vitima de brincadeiras de novo, mas okay. Não tenho nada melhor para fazer mesmo.

Voltando para casa, para dar os últimos retoques na minha produção, eu vejo Nora. Ela estava debruçada na rua em frente de minha casa, chorando.

-O que aconteceu? Por que não esta arrumada? –Eu estava preocupada. Da pena de ver ela neste estado.

-Seu pai disse que eu estava roubando suas coisas. Não me deu a palavra de explicação e jogou-me no olho da rua. –Ela não parou de chorar. Soluçava e lamentava-se. –O que eu estava pensando. Sou apenas uma serviçal e... –Parei de ouvir ai. Como ela era dramática! Como eu que inventei isso, vou ter que arranjar um jeito de sair. Então já sei o que é o certo a se fazer.

-Relaxa, eu vou dar um jeito nisso. Vem comigo. –Eu arrasto ela pela casa e nós entramos no meu quarto.

-Não! Se o senhor me ver aqui, ele me manda para as masmorras e...

-Eu sei o que estou fazendo. Agora escolha um vestido. –Isso soou como uma ordem. Mas escolheu um, com vergonha. Eu peguei um sapato para ela e ajudei-a a se arrumar. Penteei seus cabelos e os arrumei em um coque. Nora se olhou no espelho e sorriu. –Você esta maravilhosa! –Eu disse e era verdade. Estava magnífica!

-Mas e o seu pai?

-Depois nós vemos isso. O importante agora é irmos para a festa e nos divertimos! –O sorriso de Nora é inexplicável. Por uma coisa tão simples ela ficou maravilhada. Isso é realmente emocionante.

Eu fui guiada pelo barulho. Fui em direção à festa e o meu coração só batia mais e mais. Em uma sintonia agradável com o barulho. Tum... Tum... Tum...

Nora de dispersou e foi curtir a festa junto com a multidão. Não me interessei em segui lá. Simplesmente fui à direção contraria. Alguma coisa me puxava para lá. Como se eu fosse um metal atraído pelo imã.

Mas não tinha nada ali. Nada alem de um homem virado de costas. Nossa, mas que homem! Ele escuta um barulho e olha para mim. Mostrando os seus olhos azuis brilhantes e perfeitos. Eu não disse nada. Não conseguia. Estava sem voz no instante. E ele? Apenas me derretia com aquele olhar. Ele se aproximou e eu percebi que eu causei o mesmo impacto nele. Como não sei. Mas seu olhar era de homem apaixonado. Como... aquilo tudo, poderia ao menos me achar bonitinha?

Não entendi como, ou por que aconteceu. Mas antes que eu recuperasse minhas forças, ele se aproximou o bastante de mim para que nossos lábios quase se encostassem. O deus grego que estava na minha frente abriu a boca e nós nos beijamos em uma sintonia agradável. Sua língua explorava a minha boca e eu fazia o mesmo. Após longos minutos, ele se afastou um pouco, olhou para os meus olhos castanhos e voltou a beijar-me.

Explicar eu não consigo, mas eu me apaixonei instantaneamente por ele e o mesmo por mim.

E para todos os corações apaixonados, que sonham em encontrar seu amor verdadeiro, siga meu conselho e espere o momento correto. Pois para um coração puro e bonito, sempre terá a sua alma gêmea!

Cam & Lillith