23 de Junho, St. Canard, Califórnia.

Cachoeira próxima à casa dos McLean,

3:28 a. m.

As quatro amigas se colocaram lado a lado em cima da grande pedra em frente à cachoeira e olharam umas para as outras com um sorriso estampando no rosto. Todas estavam ali, no riacho quase vizinho da casa de Piper, para comemorar o primeiro dia das tão sonhadas férias de verão.

Silena, a morena dos olhos azulados, era bonita, com seus longos cabelos morenos lhe caindo às costas. Era filha de Afrodite, uma dona de uma famosa loja de roupas em St. Canard e assim como a mãe sempre andava na moda. Animada e divertida era, das quatro amigas, a que mais gostava de roupas e maquiagens, sempre se arrumando com o melhor que podia para seu namorado, Charles, do time de basquete do colégio. Apesar de ser meio patricinha às vezes e um pouco avoada de vez em quando, era uma ótima amiga.

Já Piper, a menina que se encontrava ao lado dela, era meiga, divertida e bonita, também, mas às vezes era um pouco misteriosa. Tinha cabelos castanhos e olhos que iam de um castanho-mel até um verde claro. Apesar de usar menos maquiagem que Silena, ela não abria mão de uma maquiagem básica. Era o tipo de menina que fazia as outras três se sentirem sempre especiais, era a que sempre ouvia as outras e sabia tudo delas. Tinha seu inseparável diário, no qual escrevia tudo, desde sua vida no colégio, sua vida amorosa, com seu namorado Jason, até todos os segredos mais íntimos.

Annabeth era a mais inteligente das quatro amigas e sempre foi muito ligada na amiga Thalia, que conhece desde que ambas tinham quatorze anos. Loira com os cabelos caindo em ondas douradas pelas costas e olhos cinza, era a perfeita representação de uma linda californiana, pelo menos ao ver de Percy, seu ‘melhor amigo’ que tem um rolo tão enrolado com ela que é até fácil de confundir com uma grande manta usada nos dias mais frios de inverno, mas os dois sempre diziam que ‘não tinham nada, eram apenas amigos’. Sua mãe era uma famosa arquiteta da cidade e Annabeth pretendia seguir a carreira da mãe.

E por fim tinha Thalia, a bonita morena dos olhos azuis elétricos. Após perder a mãe num acidente, há quatro anos, quando ela tinha quatorze anos, foi morar em St. Canard junto com seu pai e foi ai onde conheceu sua melhor amiga, Annabeth. Com estilo meio excêntrico de ser, optando algumas vezes por tons escuros em suas roupas, Thalia é uma ótima amiga, apesar de parecer um pouco fria para quem não a conhece. Fã de músicas, não abre mão de ouvir um bom rock sempre que pode, mas nunca deixa de ouvir as amigas também. Nunca ligou muito para namoros sérios, até que Luke desperta o novo sentimento nela. Os dois iam muito bem até que um certo moreno com um ar meio misterioso chega no colégio e deixa Thalia balançada.

...

Depois de mais um sorriso trocado elas se preparam para pular no riacho e iniciar as férias com o pé direito quando escutam a buzina de um carro vindo na direção atrás delas. Rapidamente as quatro se viraram assustadas, mas logo o susto passou quando elas reconheceram o motorista.

– Não acredito que iam começar a festa sem a gente! – Luke gritou do carro conversível se levantando do banco com seus óculos escuros no rosto.

– Claro que não, vocês chegaram na hora certa! – Piper gritou de volta enquanto os outros meninos desciam do carro. E então um a um, Jason, Percy, Luke e Charles se juntaram as meninas na beira do riacho.

– Então vamos começar a festa! – Percy disse animado se juntando as meninas e todos concordaram com ele, então as quatro amigas pularam no rio e logo depois os meninos se juntaram as elas.

Piper soltou um grito de alegria quando todos haviam retornado a superfície do rio depois de um longo mergulho.

– Viva as férias de verão! – Jason, seu namorado, disse chegando perto dela e todos responderam com um alto ‘Viva!’.

– Esse vai ser o melhor verão de todos! – Piper completou passando um braço em torno do pescoço de Jason e o beijando enquanto os outros comemoravam.

– Desculpa atrapalhar o momento do casal – Percy disse jogando água em Piper e Jason, os fazendo se separarem – mas acontece que temos um ótimo dia de verão para aproveitar!

– Ah é?! Então vamos aproveitar! – Jason disse jogando água de volta em Percy enquanto todos riam.

E assim os oito amigos passaram a tarde toda, entre muitas risadas, brincadeiras e algumas latas de cerveja que Charles tinha trazido escondido dos pais. Por volta das sete horas, quando todos já haviam montado suas barracas e estavam sentados em volta de uma fogueira, Silena disse:

– Nós não deveríamos beber mais cerveja. Iremos apagar completamente à noite se continuarmos assim.

– Que foi amor, é só por uma noite. – Charlie disse passando o braço em torno do ombro da namorada.

– Concordo com a Si, amanhã a gente pode ter uma ressaca daquelas. – Annabeth disse.

– Deixa de ser careta, Annie! – Percy disse brincando com a amiga que estava ao seu lado batendo de leve em seu ombro. – Amanhã então será o ‘dia da ressaca’. – ele completou fazendo aspas com os dedos.

A loira apenas riu rolando os olhos.

– Então... O que fazemos agora? – Piper perguntou olhando para os amigos?

– Hora dos contos e histórias? – Jason perguntou olhando para todos com um meio sorriso interessado no rosto.

Todos assentiram e Piper disse:

– Ok! Eu começo. - então ela apoiou os braços nos joelhos, se inclinando na direção dos amigos e começou a contar a história.

“Era uma vez, quatro amigos, que eram muito conhecidos numa cidadezinha no interior do estado. Em um belo dia de verão eles resolveram chamar quatro meninas que haviam acabado de chegar à cidade para irem acampar na prainha, que era um lago local onde todos gostavam de ir. Sem nem pensar duas vezes, as meninas aceitaram o convite dos rapazes e planejaram tudo para que o acampamento fosse ótimo.

Dias depois, na data marcada para o tão esperado acampamento, os meninos foram buscar as meninas e todos os oito seguiram juntos para a pequena trilha que levava a prainha. Todos estavam muito animados e passaram o dia todo se divertindo no lago. Quando a noite caiu, todos se reuniram em volta da fogueira e começaram a cantar, assar marshmallows e conversar.

Tudo ocorria muito bem até que eles viram um vulto de aproximando deles. Receosos, achando que poderia ser um ladrão, olharam uns para os outros, quando o tal vulto apareceu. Era um homem que aparentava ter seus vinte anos e tinha um estranho brilho prateado em sua volta. Poucos segundos depois os jovens perceberam, assustados, que o vulto estava flutuando.

As meninas soltaram pequenos gritos de espanto quando o vulto começou a murmurar algo como: ‘Vocês não deviam estar aqui! Saiam daqui! Aqui é o meu lugar! Vocês não deviam...’ e então o vulto sumiu. Com muito medo e muito assustados os oito amigos se levaram com um pulo e saíram correndo na trilha em direção à cidade.

Assim que saíram da trilha avistaram uma pequena pousada e correram para lá. Dentro da pousada eles encontraram um senhor de aparentemente quarenta anos. Ao dar a descrição do homem que viram para o recepcionista da pousada este apenas disse que o tal homem era um jovem muito conhecido da cidade anos atrás mas que, infelizmente, morrera afogado no lago da prainha.”

– Fim! – Piper concluiu sua história voltando à posição normal, sentada ao lado de seu namorada, Jason.

– Ok... Isso foi um pouquinho assustador... – Silena disse depois um pequeno silêncio. – Tipo, nós somos oito... E estamos acampando...

– Relaxa, é só um história qualquer! – Piper disse.

– Certo. Mas eu acho que seria melhor a gente, sei lá, só conversar agora... – Silena disse e todos assentiram, voltando a conversar sobre assuntos banais.

Depois de algumas horas todos foram dormir e a cachoeira perto da casa dos McLean entrou em um profundo silêncio. Por volta das três e meia da manhã, quando todos já estavam dormindo, Annabeth acorda de repente depois de um pesadelo. Olhou para o saco de dormir ao seu lado, Thalia estava apagada dormindo seu sétimo sono.

Devagar, para não acordar os outros, ela se virou para o outro lado, onde Piper dormia, mas ao olhar para o saco de dormir ao lado do seu apenas o achou vazio.

– Piper? – a loira chamou pela amiga. – Piper?!

Vendo que ninguém respondia Annabeth sentou-se no seu saco de dormir e sacudiu o braço de Thalia.

– Thalia, acorda. Thalia!

– Hum, quê? – Thalia murmurou com a voz de sono.

– Você viu a Piper?

– Não, ela deve estar dormindo. – a morena respondeu ainda com os olhos fechados.

– Thalia, a Piper não está no saco de dormir dela! – Annabeth disse e a amiga abriu os olhos.

– Já viu se ela tá com o Jason?

– Não. – Annabeth disse e levantou a cabeça procurando por Jason. Assim que o localizou, perguntou pela amiga – Jason, você viu a Piper?!

– Não, Annie, ela tá dormindo do seu lado. – Jason disse sentando-se no seu saco de dormir e esfregando os olhos com as mãos.

– Jason, a Piper não está aqui.

– Como assim ela não está ai? Ela tem que estar ai!

– Bom, ela não está! – Annabeth disse com um leve tom de desespero na sua voz.

Annabeth, que nesse momento já em pé, foi acordar os outros, para todos irem procurar pela amiga. Os sete amigos gritavam a plenos pulmões pelo nome de Piper, mas nenhuma resposta era obtida. Depois de passar o que se pareceram meia hora rodando o local em que estavam chamando Piper, os sete se reuniram no local onde os sacos de dormir se encontravam.

Silena enxugava algumas lágrimas, Annabeth tinha os olhos mareados e Jason continuava gritando pela sua namorada enquanto os outros estavam demasiadamente preocupados e desesperados para ter alguma reação. Depois de alguns minutos de silêncio enquanto uns encaravam os outros, Charles disse:

– A gente devia chamar os pais dela. E talvez a polícia.

– Sim. – Silena assentiu chorosa ao seu lado.

Poucas horas depois a cachoeira em que os amigos haviam escolhido para passar seu primeiro dia de verão estava rodeada de policias, as luzes azul e vermelha da viatura invadido a mata. A um canto, os pais de Piper respondiam questões para os policias, as lágrimas escorrendo pelos olhos. No outro canto, os sete estavam sentados numa pedra, enrolados em mantas.

Annabeth chorava aconchegada no abraço de Percy, que passava a mão por seu braço tentando esquentá-la, mesmo debaixo da manta. Charlie afagava o cabelo de Silena, que enxugava suas lágrimas na ponta do cobertor. Thalia se encontrava entre Luke e Jason, tentando se manter forte, pensando que todos não deveriam chorar ainda, não enquanto ainda existiam chances de Piper aparecer para eles e dizer que era tudo uma brincadeira dela.

Apesar de que algo no fundo dizia a todos que isso não era uma mera brincadeira. Piper McLean havia sumido. Talvez para sempre.