Hostage escrita por Gwen


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Então, desculpem a demora. Tá aí.



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A luz forte do sol que passa pela janela me acorda. Isso, e o fato de eu quase não ter conseguido fechar os olhos durante toda a noite. Talvez fosse o frio, ou o fato de eu não ter gastado energia para absolutamente nada (além de chorar) desde meu último cochilo. Minhas costas estavam duras por conta do colchão fino demais.

Sento-me devagar e me espreguicei.  Meus braços estralam quando os alongo. Depois de me senti melhor, suspiro e me encosto-me à parede, olhando para frente. Não sei quanto tempo de passa, se são horas ou minutos. Se aqueles homens desconhecidos não me matassem, eu com certeza morreria de tédio.

A porta de abre, e o garoto mais jovem entra, segurando uma marmita e uma garrafa d’água. Até agora, não percebi o quanto minha garganta estava seca. Não havia bebido nem uma gota de água desde que chegara nesse lugar. Eu me encolho involuntariamente quando ele se aproxima e estende o que trouxe para mim.

Eu pego a marmita e a garrafa de suas mãos, sem dizer uma palavra. Vou direto para a garrafa, dando logo longos dois goles. Então vou para a marmita, que é igual a anterior, e vou comendo junto com a água. Por fim, estou de barriga cheia se saciada. Deixo o que restou no chão, afastado do colhão, para que o garoto pudesse pegar.

Mas, em vez de pegar o prato e a garrafa vazios e ir embora, o garoto se agacha na minha frente. Ele está perto de mim, então consigo examinar seu rosto. Ele parece ter minha idade, talvez um ou dois anos mais velhos. Seus cabelos são negros, como seus olhos, e bagunçados. Tem o rosto sereno, e até simpático. O tipo de pessoa que eu julgaria um bom amigo. Demoro para admitir para mim mesma, mas ele é lindo.

 O garoto hesita durante alguns segundos, depois fala:

- Você realmente não sabe de nada, não é?

Fico surpresa com a pergunta. Não que eu esteja acostumada, mas já entendi que as pessoas por aqui não são lá muito educadas. Sua pergunta me pegou desprevenida, porque não foi hostil, como aqueles que o homem mais velho havia feito no dia que chaguei aqui. Ela era uma pergunta simples, como se para acabar com todas as dúvidas existentes. Pergunta de alguém que só quer a paz.

- Não, eu não sei. – murmuro em resposta.

- Eu disse a eles. – ele murmura para si mesmo.

Tomo coragem e falo:

- Olha, eu não sei o que está acontecendo.  Sério, não faço à mínima idéia do porque eu estou aqui. Seja o que for, já disse que não sei de nada. Não tenho valor nenhum!

O garoto ri, desgostoso.

- Eu sei disso. Tentei falar com eles sobre isso, mas não me escutam.

Eu sei, quis falar. Não sei qual seria sua reação ao saber que eu havia escutado sua tentativa de me salvar.

Ficamos em silêncio durante alguns segundos. Então ele suspira.

- Sou Chris, á proposito. – ele diz, estendendo a mão. Eu a aperto hesitantemente. Seu toque é quente.

- Elena. – digo.

- Então, Elena, boas notícias. Tom e os outros caras vão passar uns dias na cidade, então você está fora de perigo. Por enquanto.

Eu não tinha pensado por esse ponto de vista. É claro que eu já pensei na possibilidade de ser morta nesse cativeiro. Em algum momento eles perceberiam que eu não servia para nada, ou simplesmente enjoariam de mim, e acabariam logo com o incômodo. Mas eu não havia pensado que isso poderia acontecer a qualquer momento. Mesmo não tendo pensado nisso, sorrio aliviada. Depois meu sorriso se transforma em um suspiro melancólico.

- Mas vou voltar para a forca quando eles voltarem. – eu murmuro.

Chris suspira também e me olha nos olhos.

- Tente não pensar nisso agora, ok. Vai dar tudo certo.

- Como você pode saber? Você também não está com eles? – eu digo, com a voz cheia de suspeita.

Chris olha para baixo.

- Sim, mas... Eu não sou como eles. Nem queria estar aqui.

- Bom, nem eu. Mas você pode sair se quiser. Por que simplesmente não vai embora, então?

Ele faz uma careta de desgosto.

- É complicado...

- Aposto que não. Mesmo se alguém estiver te obrigando a ficar aqui, você já é bem grandinho para tomar suas decisões, você não acha?

Chris ri um pouco e balança a cabeça.

- Como eu disse, é complicado. Já terminou? – ele pergunta apontando para o prato e a garrafa vazia. Eu balanço a cabeça em concordância e ele os leva embora.

Encosto-me de novo na parede e fico encarando a porta. Minha cabeça começa a formar motivos para Chris simplesmente não ir embora. A mais plausível é que ele está mentindo, e não quer ir embora coisa nenhuma, e que agora mesmo está ligando para “Tom” e falando tudo que conseguiu (ou melhor, que não conseguiu) de mim.

Mas então a porta se abre novamente, e Chris entra, segurando outra garrafa d’agua cheia.

- Toma.  – ele diz, entregando-a para mim. Eu olho para ele. Seus olhos ainda são gentis, e começo a pensar se minhas desconfianças fazem sentido.

- Obrigado. – eu digo, pegando a garrafa e dando um gole. A sede já está voltando, já que o quarto está quente de novo.

- De nada. – ele responde. Chris senta ao meu lado, mas não exatamente perto, pondo todo o comprimente do colchão entre nós.

- Então... Quer dizer que eles saíram e te deixaram aqui... sozinho? – eu pergunta, tentando não parecer muito interessada.

- Claro que não. Ainda tem dois homens cuidando da guarda. Mas só eu tenho permissão de... cuidar de você. Essa é a palavra certa?

Eu riu um pouco.

- Acho que “guardar” ou “ficar de olho” seria melhor, dadas as circunstancias.

Chris ri também.

- Obrigado. Então, eu sou o único com permissão de “ficar de olho” em você.

- Por que? – pergunto.

Ele dá de ombros.

- Longa história.

- Temos tempo.

Ele se vira para mim. Vê minha expressão, que provavelmente é de curiosidade, e dá um sorrisinho de rendição.

- Ok, então. Lá vai.


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Notas finais do capítulo

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