O Casamento Da Minha Melhor Amiga escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 7
Capítulo 7




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Capítulo Sete

O baile

— E aí, descobriu alguma coisa? – perguntou Harry a Ryan.

Sexta-feira era normalmente o dia mais corrido para os aurores, contudo a manhã transcorria tranquilamente para Harry e os outros colegas de departamento. Era a data combinada para o baile organizado pelo Ministério da Magia em homenagem ao bem sucedido caso do assassino de Oxford e havia poucas pessoas trabalhando “realmente” naquele dia.

Ele não tinha mais o que fazer dentro da sala. Já havia lido e relido todos os relatórios, tinha ajeitado as gavetas, ido tomar café duas vezes com Ryan, pedido os detalhes que faltavam para o seu relatório sobre o caso da pequena Susana e até fofocado com a velha secretária sobre os últimos romances da coluna social do Profeta Diário.

Decidindo relaxar, ele caminhou até a mesa do amigo, que estava detrás de uma pilha enorme de papéis. O cubículo onde Harry trabalhava ficava defronte ao do loiro, por isso era fácil arrastar as cadeiras giratórias pelo corredor.

— Potter, eu já disse que não tem nenhuma novidade no caso da Susana. Também falei que os fios de cabelo que você achou ainda estão em análise. Pelo amor de Merlin, é a terceira vez que você me pergunta isso só agora de manhã. Tá sem nada pra fazer? Aproveita e lê esses relatórios aqui! – reclamou Ryan sem retirar os olhos do memorando que lia.

Ele perdeu as contas de quantas vezes passou pela mesa de Ryan. O caso da garota estava mais complicado que o normal para os aurores e, apesar da pista encontrada no dia anterior, ainda não havia um caminho até o assassino. Rebecca trouxe as digitais que estavam impregnadas na porta do quarto e na fechadura da casa, algo que eles acreditavam ser um indício de quem tinha causado a morte.

Contudo, Harry não poderia ir a campo hoje, uma vez que sua parceira no caso, Rebecca, estava se arrumando para o baile. Bob deu dia de folga para quem quisesse, mas somente as mulheres aderiram ao benefício.

Naquela hora, só estavam ele e Ryan dentro do departamento, uma vez que o chefe estava conversando com o ministro para acertar os últimos detalhes do evento. As pessoas só sabiam falar sobre isso e aquilo do baile, qual banda iria tocar, como o Centro de Convenções Bruxo estava preparado para a noite, qual vestido ou gravata usar, etc.

— Por que as mulheres precisam de tantas horas para um simples baile? – indagou a Ryan. O bruxo apenas ergueu a sobrancelha para o amigo.

— E eu lá que sei Potter? Amanda também pediu o dia de folga porque iria ao salão. Agora me fala se é justo ela e Rebecca se mandarem e deixarem todo o trabalho pesado para gente. Bob estava com neurônios a menos quando permitiu esse tipo de coisa.

Harry bufou. Ele estava entediado com o pouco trabalho. Resolvendo que seria mais útil caçar alguma coisa para revisar, ele arrastou a cadeira para sua mesa e pegou algumas pilhas de ocorrências noturnas, começando a organizá-las por ordem alfabética.

“Deixa Hermione ver essa organização. Ela ficaria orgulhosa”, pensou.

O silêncio voltou a reinar na sala, enquanto Ryan lia quietamente em sua mesa e Harry deixava os pensamentos irem longe. Ele lembrou-se do melhor amigo, Rony, que estava de férias, viajando com a namorada e também melhor amiga de Harry, Hermione, pela França. Já fazia 21 dias que os dois não conversavam. Ele sabia que os dois estavam para voltar em breve, mas não tinha a menor ideia do dia ou horário.

Contudo, ele foi despertado de seus devaneios por um grito vindo da porta.

— Alguém sentiu a minha falta? – Rony Weasley estava parado olhando para Harry e Ryan com um grande sorriso nos lábios.

O Quartel General dos Aurores era um local pequeno para acomodar todos os bruxos que trabalhavam dentro dele. As 30 mesas ficavam espremidas uma contra as outras e pequenos corredores formavam labirintos de cubículos, que poderiam servir de mesa de trabalho ou mesa de planejamento para missões, dependendo da forma com que estão alojadas.

Rony caminhou tranquilamente até os dois amigos. Sua baia ficava do lado da de Harry, no corredor central.

— Onde é o incêndio, Weasley? – gritou Ryan por cima do cubículo. Ele odiava ser interrompido enquanto lia as pilhas de relatórios, mas sorriu pela presença do amigo.

Ouvindo a reclamação do bruxo, Harry e Rony se abraçam de forma tipicamente masculina – cheia de tapas nas costas.

— Tentei animar essa seção morta. Cadê todo mundo? As meninas sumiram do ministério? Não há uma alma viva pelos corredores! Achei que isso aqui estaria mais animado depois das minhas férias.

Os três riram com o “comentário” egocêntrico do ruivo. Velhos hábitos não podiam ser quebrados.

— Você voltou hoje da França? – Harry e Rony puxaram cadeiras para se sentarem no corredor, próximo a Ryan.

— Eu queria ficar até domingo aproveitando o mar, mas Hermione não queria perder o baile. Afinal, por que todas as mulheres desse ministério querem ir nesse evento? Vai ser mais uma daquelas noites chatas, com gente chata, bebendo hidromel vencido e comendo aquelas tortinhas que mal dão para matar a fome. Vai ser um pesadelo.

— Some isso ao som daqueles discos riscados que o ministério sempre compra daquela cantora que a sua mãe adora. Vai ser um tédio! – comenta Harry revirando os olhos ao lembrar-se de Celestina Warbeck.

— Sem falar nos políticos fazendo campanha, já que a eleição será daqui a dois meses. – resmunga Ryan.

— Para o governo de vocês três, vai ter As Esquisitonas no palco – a estagiária da seção tinha acabado de entrar. Ela depositou mais um documento para a imensa pilha de Ryan e saiu batendo a porta. Porém, os rapazes ainda conseguiram ouvir um claro “idiotas”. Harry e Rony olharam para Ryan em busca de apoio, mas ele não prestava atenção na conversa, já que sua pilha de trabalho acabava de aumentar, e ambos bufaram.

— Afinal, arrumou um par decente para este ano? – cochichou Rony.

Harry deu um longo suspiro.

— Vou com a sua irmã.

— G-Gina?

— Por acaso você tem outra irmã? – Harry levantou uma sobrancelha.

— Mas ela topou ir com você?

— É óbvio né?– Harry revirou os olhos sentindo o familiar puxão no umbigo. Já era de se esperar que Rony, o “irmão superprotetor”, iria atacar.

— Sua irmã gostosa aceitou ir com o Potter, Weasley. Supere isso! – resmungou Ryan por detrás da pilha de relatórios. “Pra quê colocar mais lenha na fogueira, não é mesmo?”, pensou Harry.

— Fica na sua aí, Graysson. O papo ainda não chegou aí! E se eu souber que você está se engraçando com a minha irmã, você é um homem morto, entendeu?

— Tô morrendo de medo. Uhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Sua irmã é maravilhosa, Rony, tem umas pernas que Merlin me perdoe, mas... – Harry tossiu no momento exato. Era só o que faltava ouvir provocações entre os dois amigos, já que ele sabia que Ryan não via Gina com esses olhos, mas adorava cutucar o ruivo.

— Além do mais, a Gina não olharia para o Ryan, Rony. Ela tem noivo, não é mesmo? – Harry fuzilou o amigo, que morria de rir enquanto Rony olhava de um para outro sem entender a piada.

— O idiota escocês. Pomposo! Enfim, eu tenho uma amiga da Hermione para te apresentar, Harry. Você vai gostar da Bridget. Ela tem uma bunda, que olha...

Ryan finge que coloca a varinha no pescoço como se quisesse amplificar a voz.

— Alô Hermione? Sabe o que é? O Rony está falando que você tem uma amiga muito da gostosa, se eu fosse você...

Harry caiu na gargalhada quando Rony levantou da cadeira para bater em Ryan, gritando coisas como “seu idiota”, “nem sonha em contar essas coisas para ela”, “quer destruir o relacionamento dos outros, você vai ver o que eu faço com sua vida”, “retardado”, “vou te matar se abrir o bico”.

Quando Harry conseguiu retomar o ar, ele caminhou até os dois amigos.

— Querem parar? Não tô procurando ninguém, Rony. E você, Ryan, para de provocar o Rony. Já pensou se o Bob aparece na sala? Era demissão para os dois.

— Você tá parecendo a Hermione, Harry. Credo! Larga de ser careta! Mas ficamos avisados hein, Graysson. Bico fechado.

Harry revirou os olhos. “Crianças”.

— Vocês dois sabem que horas o baile começa?

— Bob disse 21h. E pediu para não atrasarmos porque o ministro vai fazer um discurso na abertura e blá blá blá... – respondeu Ryan.

— Bem, já que sabemos o horário da festa e eu ainda estou de férias, vou curtir meus últimos dias de sol na companhia da mamãe e seus maravilhosos bolos. – Rony levantou, guardou a cadeira e deu cumprimentos com aceno de cabeça para os dois bruxos.

Após a partida do ruivo, Harry suspirou. Ainda faltavam dez horas para o baile. “Vai ser uma grande tarde”, foi o pensamento que o acompanhou quando ele voltava para a pilha de ocorrências.

XXX

Gina entrou correndo em casa. Ela passou toda à tarde no escritório do Profeta para terminar e entregar sua última coluna. O editor era tão exigente, que ela fora obrigada a arrumar o texto três vezes. Contudo, isso atrasou seu horário no salão e a manicure não ficou nada feliz em pintar as unhas de uma cliente com pressa.

Com as mãos para cima, ela andou em direção ao quarto para verificar os últimos detalhes antes da festa. Ela precisava tomar banho, prender os cabelos, colocar o vestido e fazer a maquiagem em tempo recorde, já que Harry combinou de pegá-la às 20h30.

Isso dava a Gina aproximadamente 1h30. “É, vai dar tempo”, pensou. Ela nunca fora a garota mais cuidadosa com a aparência, como as meninas com quem dividira o dormitório em Hogwarts. Ela era vaidosa, com certeza, mas não via a necessidade de passar maquiagem toda a hora ou viver em função do espelho.

Suspirando, ela se encaminhou para o banheiro, que ficava no corredor, e após meia hora, já estava secando os cabelos com a varinha em frente à penteadeira do quarto. Decidida por um coque frouxo, ela ajeitou os fios de maneira a ficarem do jeito que queria e colocou brincos. Passou a maquiagem calmamente e borrifou duas vezes seu perfume preferido.

Rumando em direção ao closet, ela pegou o vestido e o colocou no corpo, ajeitando-o para não sobrar nenhuma dobra ou vinco. Os saltos altos estavam próximos à porta, então não foi nada difícil se encaminhar para a cama e colocá-los perfeitamente nos pés pequenos.

Após concluir todo o trabalho, Gina se dirigiu ao espelho do closet. O vestido verde escuro estava contrastando perfeitamente com os cabelos ruivos presos e a maquiagem leve dava um ar saudável à produção, sem carregar as feições delicadas que ela possuía.

“Definitivamente Harry irá gostar”, pensou a bruxa.

Com o pensamento distante, ela voltou para a tarde de ontem quando os dois passaram bons momentos embaixo dos cobertores de sua cama. Fazia semanas que eles não aproveitavam um momento íntimo como aquele. Conversas, risos, piadas e segredos de uma semana de trabalho foram compartilhados entre os amigos. Gina se sentia bem como não se sentia há meses. Era como se ela estivesse sentindo falta da companhia e dos minutos agradáveis que Harry proporcionava.

Peter também não entrara em contato com ela desde domingo, quando sua coruja marrom pousou na janela do apartamento e a carta contou sobre os preparativos do casamento na Escócia. É claro que ela também sentia saudades de passar considerável tempo com seu namorado, mas ela não observava o coração apertar ou doer pela falta do noivo.

Por outro lado, fazer aulas de dança com Harry, ver seriados até tarde em sua cama, como na noite anterior, correr atrás de presentes e detalhes para a cerimônia ou simplesmente observá-lo dormir serenamente no sofá, como no início da semana, após um exaustivo dia no ministério deixavam Gina aquecida e com o coração preenchido de um sentimento que ela não tinha há anos. Ou jurava não ter.

Era verdade que não deveria pensar assim do vizinho nas vésperas de se casar com outro homem, mas era mais forte que ela mesma. Sabia também que precisava conversar com Hermione assim que ela voltasse da França, porque somente a cunhada poderia ajudá-la a desmistificar essa charada que chamava “sua vida” no momento.

A campainha do apartamento tocou e ela sabia que era Harry na porta. Se olhando mais uma vez no espelho, a ruiva arrumou mais uma vez o vestido sobre o corpo, suspirou e rumou em direção à saída do closet, percorrendo o quarto e indo até a porta para atender o amigo, sem reparar na carta que uma coruja marrom acabara de deixar em sua cama.

XXX

Harry estava perdido em pensamentos enquanto esperava Gina à porta. Ele abotoava os últimos botões do punho da camisa branca enquanto ponderava como poderia ser aquela noite. Sabia que Rony e Hermione iriam ao evento, o que seria ótimo para colocarem a conversa em dia e aproveitarem a festa da melhor maneira que existia: em amigos.

Também esperava que o baile não fosse um desperdício de tempo. Ele sabia como foram as edições anteriores de qualquer grande acontecimento promovido pelo ministério: chato, cheio de velhos querendo se vangloriar do passado e comida “passável”. Foi difícil não se lembrar com saudades dos grandes banquetes de Hogwarts.

O bruxo estava tão absorto em ideias e lembranças que não reparou quando Gina abriu a porta.

— Já estou pronta, Harry. Só vou pegar minha bolsa e podemos ir, ok? – disse a ruiva, enquanto dava passagem para o amigo. Ela voltou para o corredor, onde ele sabia que poderia facilmente chegar ao quarto.

Porém, quando Gina voltou para desligar as luzes da sala, ele pode observar com atenção cada pequeno detalhe dela. Ela realmente estava com o vestido que ele virá ontem no closet. A pele alva com o verde escuro dava um contraste belo à produção.

— Alguém já te disse que você fica linda vestida de verde? Parece uma fada! – Ele notou quando ela enrubesceu.

— O-obrigada.  – Ela deu um passo em direção a ele.

— Fica perfeito, principalmente porque dá um contraste incrível com seus cabelos. E eu adorei. Você tá esplêndida!

— Assim você me deixa sem jeito, Harry! Mas você também não está nada mal de smoking.

— Tenho que fazer jus a minha acompanhante, não é mesmo? – Gina sorriu.

Os dois já estavam um de frente para o outro.

— Mas eu ainda acho que está faltando alguma coisa!

Ele acompanhou o olhar espantado da garota quando ele pegou uma caixinha preta de dentro das vestes de gala e caminhou em sua direção.

— Espero que goste. – Harry estendeu o objeto e observou ansiosamente enquanto ela abria o presente.

Ele recebeu ótimas recomendações do vendedor sobre o colar de prata, que naquele momento, Gina admirava em suas mãos. Com o pingente em formato de folha, salpicado de pequenas esmeraldas, a peça combinava com os brincos e o formato do decote do vestido de sua acompanhante. Realmente fora uma excelente escolha.

A ideia de presenteá-la surgiu após a tarde de ontem, quando ele entrou sem ser convidado em seu apartamento e a olhou contemplando o espelho com uma peça de roupa nas mãos. Sem saber explicar, ele soube que deveria dar algo para deixá-la ainda mais bela para o baile. Aproveitando o expediente livre da tarde, ele correu para a Londres trouxa para achar o item ideal.

— É lindo Harry. Não sei como agradecer. Aliás, sei sim. – Ela ficou na ponta dos pés e plantou um beijo carinhoso em sua bochecha. – Faria a gentileza de colocá-lo para mim?

As mãos do moreno tremiam quando ele pegou a delicada joia em suas mãos e empurrava o cabelo da ruiva para o lado com todo o cuidado. Errando o fecho duas vezes e aproveitando a oportunidade para percorrer apropriadamente o pescoço com os dedos, Harry colocou o colar e plantou um beijo na nuca da garota, que sentiu arrepios na mesma hora.

Tossindo levemente para disfarçar a inquietação que sentiu ao ver os pelos daquela região do corpo de Gina se arrepiar, ele prosseguiu com o diálogo. - Se quiser podemos aparatar, o que acha? O baile será no Centro de Convenções Bruxo e eu sei que haverá um grande esquema de segurança, mas os aurores podem desaparatar próximo à entrada.

— Por mim, tudo bem! Vamos?

— Uhum!

Gina trancou a porta e os dois se encaminharam para o elevador, dando olhadelas um para o outro. Harry ainda sorria quando chegou ao andar de baixo do prédio. Entrelaçando seus dedos com os dela, ele aparatou para Londres, onde ficava o local do evento.

O rapaz nunca tinha estado no Centro de Convenções Bruxo, mas ele tinha que admitir que pelo lado de fora o prédio deixava, e muito, a desejar. Parecia uma antiga fábrica de cimento trouxa, com grandes rachaduras e latas de lixo espalhadas por toda sua extensão. Ele conduziu Gina até uma porta de madeira e deu três toques. A maçaneta emitiu uma pequena luz e uma boca se materializou.

— Nomes, por favor? – uma voz esganiçada de mulher preencheu o ar.

— Harry Tiago Potter e Ginevra Molly Weasley. – sussurrou o bruxo tolamente para a porta.

— Hum, vejamos. Certo. Podem entrar. – A porta girou lentamente, mas o interior do recinto ainda estava escuro. Harry empurrou gentilmente Gina para dentro.

Quando ele colocou os dois pés dentro do local, ele mal pode acreditar no que os seus olhos estavam vendo. O salão era enorme e as paredes eram preenchidas por grandes quadros de bruxas e bruxos famosos. Mesas para quatro ou seis pessoas estavam espalhadas por todo o ambiente e homens e mulheres caminhavam despreocupados pela multidão com suas taças de champanhe.

Ele notou que o teto era estrelado como o salão principal de Hogwarts, porém era possível ver que as estrelas estavam mais brilhantes e grandes cometas passavam de tempos em tempos pelo “céu”. No palco, localizado do outro extremo da porta, instrumentos já estavam posicionados para receber As Esquisitonas. Harry estava abismado com tamanha beleza e organização.

— As festas do ministério são sempre assim? – perguntou Gina, tão admirada quanto ele.

— Não exatamente. – respondeu com a voz fraca pelo espanto.

— Isso são flocos de gelo? – ela apontou para uma porta do lado esquerdo de onde eles estavam. Certamente, era um jardim de inverno encantado para parecer uma réplica de um pequeno bosque. Era perfeito para casais apaixonados que gostariam de um momento a sós. – Está tudo tão lindo.

— Realmente está. – Ele se virou para a garota. - Gina, você quer encontrar uma mesa? Acho que a maioria já estará ocupada se não nos apressarmos.

Ela assentiu e não reclamou quando ele colocou as mãos possessivamente em sua cintura. Harry observava pelo canto do olho o sucesso que a ruiva estava fazendo com o público masculino. Os dois caminharam por entre as mesas e o moreno cumprimentou um ou outro bruxo conhecido do ministério ou da época da escola.

— Harry, a Marjorie está aqui! – Gina puxou o seu braço para a direita, apontando para sua amiga de escola. – Vamos cumprimentá-la, vem!

Os dois caminharam até a mesa da garota, que estava localizada à direita do salão. Harry era puxado pela mão delicada de Gina e olhava pelos cantos para ver se encontrava Rony, Hermione ou Ryan.

— Gina? Que surpresa! Não sabia que trabalhava no ministério! – disse a loira, que continuava com os mesmos cabelos longos que Harry vira outrora em Hogwarts.

A ruiva não perdeu tempo e abraçou a amiga.

— Não estou não. Sou repórter do Profeta Diário. Não sei se você anda acompanhando a minha nova coluna no jornal? Aquela que estreou após o fim do campeonato e da minha aposentadoria das Harpias. – Gina explicou após sair dos braços de Marjorie.

— Não sabia que era você! Estão ótimas por sinal. Meu Ben adora os bastidores dos campos, não é Ben? – O homem moreno e alto, que estava sentado na mesa, apenas balançou a cabeça e deu um pequeno sorriso para Harry e Gina.

— Ben é o meu marido. Querido, esses são Gina, uma grande amiga dos tempos da escola e... me desculpe, mas você é? – Ela olhou com curiosidade para o moreno.

— Ah, me desculpe. Sou Harry. Harry Potter. – O bruxo estendeu a mão para a loira, que sorriu sem graça para ele.

— Me perdoe Sr. Potter. Não o reconheci de smoking.

Gina riu.

— Harry mudou muito desde os tempos de escola, Marjorie. – A mulher riu.

— E pelo jeito vocês estão juntos. Por que não recebi o convite de casamento, Ginevra?

— Ah, então... não é bem isso, Mah! Harry e eu somos... somos só amigos, não é Harry?

Harry engoliu seco.

— É, só amigos! – forçou um sorriso que lhe pareceu simpático.

— Me desculpe novamente! Que gafe a minha. Mas é que eu vi o seu anel e os dois estão abraçados. Ah, meu Merlin.

— Marjorie, querida, acho que está na hora de parar com o vinho, vamos? – Ben se levantou da cadeira e pegou a taça da esposa.

Harry se adiantou e apertou a cintura de Gina.

— Não há problema algum, Marjorie. Gina está mesmo noiva. Acontece!

— Aliás, eu até estou com o seu convite em mãos, mocinha. Espero que o seu endereço continue o mesmo.

— Pode apostar que sim.

Gina conversou por mais cinco minutos com a ex-companheira, que atualmente trabalhava no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Enquanto ela colocava a conversa em dia, Harry se distanciou das duas e começou a olhar mais uma vez pelos lados. Rony caminhava em direção ao casal.

— Até que enfim, Harry. Achei que você não vinha mais. Bob está tendo um infarto e Ryan teve que estuporá-lo dizendo que você já estava para chegar. Sinceramente, nosso chefe tá ficando biruta!

— Ele só está preocupado demais com esse evento. Você sabia que ele está para se aposentar? Parece que vai anunciar hoje a vacância do cargo.

— Sério?

— Sim!

— Rony? – A amiga de Gina tinha acabado de voltar para sua mesa. Os dois irmãos se abraçaram e Rony ergueu a caçula no ar, enquanto Harry dava risada pelas imprecações que a ruiva soltava.

— Você voltou quando?

— Para ser mais sincero hoje de manhã. Só passei no departamento para ver como Harry e Ryan estavam e voltei para a casa. Aliás, Carlinhos virá da Romênia dar os parabéns pelo aniversário de casamento dos nossos pais, que será na semana que vem, e ela pediu para avisar os dois – Ele apontou para Harry e Gina - que o almoço de domingo será transferido para amanhã.

— Pode contar comigo. – Sorriu Harry.

— Aí Ronald, aí está você. Harry! Gina! – Hermione tinha acabado de chegar à roda. Ela abraçou demoradamente. – Vocês chegaram há muito tempo?

— Na verdade, acabamos de chegar. E vocês?

— Uns 20 minutos. – comentou Rony, enquanto enlaçava a namorada pela cintura. – Aliás, a gente reservou uma mesa para nós. É ali no canto. A gente sabe que você odeia publicidade, Harry. – Os quatro riram.

Os quatro caminharam por entre as mesas rindo e fazendo pequenos comentários sobre os convidados. Rita Skeeter estava em um canto à esquerda, ditando frases e mais frases para sua pena de repetição rápida; do lado direito, Guga Jones compartilhava uma mesa com antigas jogadoras das Harpias e todas cumprimentaram Gina com acenos de cabeça; no centro, Harry conseguiu notar as gêmeas Patil, que conversavam animadas com dois bruxos de aparência estrangeira, possivelmente membros do Departamento de Cooperação Internacional em Magia.  

Assim que se sentaram à mesa reservada, um garçom passou para oferecer taças de champanhe.

— Os vasos estão encantados para que as flores durem a noite toda – comentou Hermione sobre os vasos dispostos no centro da mesa. Ao redor do salão, era possível notar diferentes arranjos e cores.

— Está tudo tão lindo. Me pergunto porque nunca vim antes em eventos como esse! – disse Gina.

Rony resmungou.

— Nem sempre foi assim. Antigamente, era meia dúzia de pessoas, com um CD velho e riscado tocando e comidas horríveis. – Ele abaixou o corpo para que somente os três pudessem ouvir. Harry se aproximou ainda mais, já que estava de frente para o amigo, do outro lado da mesa. – Acho que a campanha ministerial tem algo a ver com a melhora das condições da festa!

Harry queria concordar com o amigo, mas foi impedido por uma mão em seu ombro.

— Cara, Bob tá atrás de você como um louco. Já tive que estuporá-lo duas vezes. Parece que é você que terá que fazer o discurso de boas-vindas, já que ele tá morrendo de medo de ir ao palco. Francamente! – Ryan tomou fôlego - É para contar o caso, a resolução e dizer que o ministério está a postos para qualquer emergência. – disse o loiro, que estava impecável em suas vestes de gala e falava de forma muito rápida.

— Ryan, pode respirar um pouco. – riu Hermione.

— Oi Hermione. Desculpe-me, mas Bob tá me deixando louco ali atrás.

Harry sentiu suas entranhas contorcerem. - Tudo bem Ryan. Mas por que eu? Rebecca não seria mais adequada?

— Ela vai junto. Nós sabemos que você odeia esse tipo de coisa! Porém, ela tá bebendo desde que chegou aqui, não sei se está em grandes condições. – Ele apontou para um grande bar que ficava aos fundos do grande salão. A loira estava com um copo de uísque e balançava os cabelos para o barman que a atendia com cara de poucos amigos. Ela parecia querer afogar mágoas inexistentes.

— E por que você não fala?

Ryan riu. – Por que eu não participei desse caso. Eu estava com o do Malfoy, esqueceu?

O julgamento dos Malfoy. Como esquecer! A família tinha sido destinada à prisão domiciliar após os crimes que cometeram durante a guerra e também foram condenados a pagar uma grande indenização ao ministério. Além disso, Harry sabia bem pouco sobre o que acontecera aos três.

— Droga! Diga ao Bob que vou pensar.

— Pensar? Você tá louco, né? O discurso é daqui a dez minutos e ele já deu o seu nome pro locutor.

Harry estava lívido. Ele não gostava desse tipo de exposição.

— Vai Harry. Diga algumas palavras sobre o caso, sorri e volta para o seu lugar. Não deve ser de todo o mal. E ninguém irá rir se você gaguejar ou algo do tipo. – Gina colocou a pequena mão em seu braço, que estava apoiado na mesa. Ao olhá-la, ele pensou em concordar com Ryan.

— Diga por você mesma! – riu Rony.

— E aí? Vai ou não? – perguntou Ryan.

Harry considerou suas opções: ele poderia negar e deixar todo o discurso com Rebecca, que naquele momento não deveria ter estar em plenas condições de fazer corretamente o trabalho, ou poderia concluir rapidamente a tarefa e ainda propor uma dança a Gina pelo seu sucesso em cima do palco. Sorrindo, ele decidiu tentar.

— Ok, Ryan. Pode dizer ao Bob que eu vou. Eles me chamam?

— Chamam. Até daqui a pouco. – Harry observou o amigo caminhar até o chefe. Os dois trocaram breves palavras e o loiro se dirigiu à mesa que dividia com Amanda e outros dois companheiros de departamento.

— Você vai se sair bem, Harry. Não é como se nunca tivesse feito algo assim antes, não é mesmo? Você já foi capitão do time de quadribol da Grifinória! – comentou Hermione ao observar que o amigo estava suando friamente.

Rony concordou. - Qual é Harry! Vai dar tudo certo homem!

— Eu tenho certeza que você vai se sair bem! – Gina sorriu na direção do bruxo e passou a mão pelos seus cabelos bagunçados, gesto que fez com que ele fechasse momentaneamente seus olhos. Quando os abriu ele observou um leve franzir de testa de Hermione. “Será que ela notou alguma coisa?”, pensou Harry, porém seus devaneios foram suspensos por uma voz alta e grave que soou por todo o salão.

— Boa noite a todos. Estamos reunidos nesta noite para saudar o grupo de aurores dirigido por Harry Potter e Rebecca Bowers que concluíram com êxito o caso do assassino de Oxford, nos proporcionando essa belíssima festa! Por favor, peço aos dois que se dirijam ao palco.

Harry levantou no mesmo instante e prendeu o botão do terno. Caminhando em direção a Rebecca, ele não pode evitar que suas mãos suassem de nervosismo, afinal era a primeira vez que falaria em frente a um grande público.

A parceira de discurso, Rebecca, já se encontrava próximo ao palco e os dois subiram juntos, porém quem ficou próximo ao microfone foi Harry. Ele pegou o objeto com uma das mãos e se posicionou diante das pessoas.

— Boa noite. Gostaria de agradecer a presença de todos, principalmente aos amigos e familiares que acompanharam todo o nosso trabalho. O caso só foi um sucesso pelo apoio de vocês até o fim. – ele olhou para a multidão e viu os sorrisos confiantes de Gina, Hermione, Rony e Ryan. Bob fazia sinais positivos com a mão mais ao fundo do salão.

Harry prosseguiu. – Eu e Rebecca concordamos – ele pode vê-la acenando timidamente com a cabeça – que este caso seja o mais difícil já enfrentado no departamento após a queda de Voldemort. Sentimos muito pelas pessoas que perdemos no meio do caminho, mas sabemos que lutamos bravamente até o fim para justificá-las e dá-las um destino digno. Afinal, nenhuma vida deve ser perdida ou mutilada. Espero que a captura de Edward Frozen seja um exemplo para que novos assassinos em série, como ele, não nasçam ou circulem por aí. Que nós, do ministério, saibamos lidar com esse novo tipo de perspectiva e, tenho certeza, que o conhecimento conquistado aqui será aplicado no futuro. Essa luta não será em vão. Muito obrigado!

Com os olhos fechados, ele conseguiu escutar muitas palmas e sentir uma mão em seu ombro quando Rebecca o deu os parabéns. Harry suspirou aliviado e sorriu para cumprimentar o mestre de cerimônias. Após devolver o microfone e sentir suas mãos serem esmagadas pelo bruxo, ele caminhou em direção à escada com um sorriso grande no rosto.

Ele ganhou o abraço “quebra-costelas” de Hermione e também recebeu os costumeiros socos e tapas de Rony, porém seus olhos procuravam Gina, que estava mais afastada do pequeno grupo de amigos.

— Foi brilhante. Me senti ouvindo um político. Mandou muito bem, Harry – comentou Rony.

— Obrigado cara!

— Realmente foi fascinante, Sr. Potter. O senhor deveria pensar em seguir por esse caminho. Quem sabe, com toda certeza, chega ao cargo de ministro. – Um senhor atarracado dizia próximo à roda.

— É verdade, Sr. Dickens. Potter me inspirou a ser uma pessoa melhor e a lutar pela vida dos meus companheiros. Muito obrigada, Sr. Potter! – A parceira do homem queria abraçar Harry a todo custo, mas ele agradeceu os cumprimentos e se desvencilhou de todo o alvoroço.

— Me desculpem senhores, mas eu não pretendo nada disso. Na verdade, só quero chamar aquela linda ruiva para pista de dança neste momento. Com licença! – Dando um sorriso aos amigos, ele caminhou até o local onde Gina estava.

Ao vê-la, ela apenas deu um balançar de ombros.

— Demorei? – A ruiva riu.

— Só um pouquinho! – Ela fez o gesto com os dedos. Os dois gargalharam.

— Gostaria de saber se você me concederia a honra de uma dança?

— Seria um prazer, Sr. Potter.

— Vamos logo, Gina. As Esquisitonas estão fazendo um cover do U2.

— U o quê? – Harry entrelaçou seus dedos e ambos se encaminhou para a pista.

Hermione acompanhou de longe a movimentação do casal de amigos até o centro do salão. Sem dúvidas, ela teria uma esclarecedora conversa com a ruiva amanhã. “Será que?”, pensou. O sorriso não saiu de seus lábios até voltar à mesa na companhia de Rony.

XXX

Quatro horas da manhã não é um bom momento para se chegar em casa rindo ou fazendo grandes barulhos. Quando você mora sozinho, tudo bem! Mas quando você habita um prédio, a ação pode ter consequências catastróficas. Primeira coisa que se deve fazer ao morar em apartamentos é abolir o ato de andar de salto alto. Porém, Gina não estava ligando ou se atentando ao fato quando chegou “alta” em casa.

Ela e Harry cambaleavam e se sustentavam um no outro até o elevador. Eles não saberiam contar quantas taças de champanhe e vinho beberam naquela noite, mas diriam, com grande orgulho, que não estruncharam ao aparatar. Harry conseguia estar em um estado muito pior que o de Gina, porque ele mal via as pessoas ao redor, já que seus óculos estavam tortos no rosto.

Os dois passaram o hall com grande dificuldade e apertaram o botão que os levaria até o quinto andar. Ao som do elevador, eles riram ao contar o número dos andares até o destino e Gina cantarolava a última música que conseguia lembrar de As Esquisitonas, aquela que ela e o amigo cantaram e dançaram até cair no chão.

O aparelho emitiu um som estranho ao chegar no andar solicitado e os dois se obrigaram a desencostar das paredes. Começaram a andar muito devagar até o apartamento de Gina, mas eles mal conseguiam ficar em pé. Quando a bruxa pegou a chave de dentro da bolsa, o objeto caiu duas vezes no chão, causando mais risos que raiva pela distração.

— Sua mão tá furada hein, Gina!

— Cala boca Harry!

— Ah, mas tá furada, olha só – ele deu um leve tapa na mão da garota – Ops, caiu!

— Capitão idiota! Pega pra mim!

— Eu não! Pega você, porque a chave é sua – ele apontou para o outro lado do corredor como se fosse apontar para a cara de Gina.

— Ah, faça-me o favor. – Ela desceu até o chão com muito esforço, pegou as chaves e abriu a porta.

Quando o movimento foi concluído, Harry olhou em seus olhos, de repente muito acordado e sóbrio. Ele deu dois passos para frente, ficando próximo à ruiva.

— Harry, obrigada pela noite! Eu realmente me diverti como nunca. Faz tanto tempo que eu não ia a um evento como esse! Você não precisava me levar e... – Ele colocou dois dedos em sua boca.

— Não precisa me agradecer. Foi um prazer e uma honra tê-la como minha acompanhante, Gina Weasley. Eu me diverti como nunca e bebi também. – Os dois riram. – Obrigado por ser a melhor...

Ele colocou uma mão no pescoço de Gina e a outra se posicionou na cintura, onde o moreno deu uma leve apertada. Com os polegares, ele fez pequenos círculos em sua pele e os cabelos dela se encaixaram perfeitamente com seus dedos. Harry deu outro passo e encostou o nariz na bochecha da garota, que percebeu certa hesitação da parte dele.

Por outro lado, ela colocou as duas mãos no peito dele o prendendo em um semi-abraço. Aproveitando a boa vontade da ruiva, ele começou a dar pequenos beijos no pescoço, face, nariz, testa e no canto próximo à boca. Porém, quando Gina achou que ele iria completar o serviço, Harry apenas roçou seus lábios no dela e saiu.

— Boa noite, Gina. – Ela acompanhou quando ele pegou as chaves do próprio apartamento, colocou as mesmas na fechadura e se trancou em seu mundo particular. Enquanto isso, ela continuava parada no corredor saboreando o quase beijo. Ela não sabia, mas Harry conseguiu o terceiro passo.


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