Legado - Escuridão escrita por Klein Hunter


Capítulo 9
Últimos dias com minha nova irmã


Notas iniciais do capítulo

P.O.V – Júlia Sonnenschein



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Katrina saíra com o Dean pela manhã, porém ainda não haviam voltado. Imaginei o que poderiam estar fazendo... Logo afugentei esse pensamento pois eu tinha a certeza de que não queria saber.

Eu criara uma enorme afeição por Katrina, mesmo antes de sua mudança. Ainda como humana eu a via amargurada, triste. Não falava, mal comia. Nunca sorria, pelo menos não verdadeiramente. Nem com o Dean. Seu rosto já era lindo, seu corpo a favorecia. Ela era mais baixa e magra, mas era proporcional.

Tudo havia mudado com a sua transformação. Ela ficara mais feliz – porém eu ainda podia ver uma pontada de tristeza em seus olhos -, mais comunicativa. Seu olhar estava mais vivos, pois agora podia enxergar. Ela havia crescido, estava mais linda do que antes. Se meu irmão já havia gostado dela antes, eu podia imaginar como o afeto aumentara.

Quanto a mim. Bem, eu estava em um “rolo” com um dos irmãos dela. Mais especificamente o Luca. Ele era bonito, legal, tinha uma linda voz. Seus olhos eram lindos, e seu corpo... Seu corpo era perfeito.

Ele era idêntico aos seus outros irmãos. As únicas coisas que me fazia diferenciá-los eram o corte de cabelo, a cor dos olhos – este nem tanto, o Luca e o Rafa tinham a mesma tonalidade de verde no olhar. O Damon, assim como Katrina, tinha olhos azuis. – e suas vozes.

Eu ainda não sabia o que realmente estava acontecendo, se era simplesmente uma atração física ou se um sentimento crescia. Cada toque do Luca era eletrizante em minha pele, mas aquilo não ocorria devido a meu poder ou ao dele, era simplesmente a sensação que ele me passava. Seus beijos eram intensos, seus olhos profundos...

Ninguém sabia ainda o que tínhamos, com exceção da Katrina e do Dean, claro. Que eram sempre muito curiosos. Mas eu tinha certeza que eles não contariam, eles não queriam que soubessem sobre os dois, afinal, Katrina iria embora em pouco tempo.

Eu estava triste por ela ter de passar quatro anos fora. Ela não teria nenhum contato com ninguém da família por todo esse tempo. Isso era triste, a vantagem é que ela conheceria várias pessoas diferentes. De diversas partes do mundo.

No dia anterior eu a havia levado para trocar tudo no seu guarda-roupa. Suas roupas antigas já não cabiam mais nela e o que eu havia escolhido não a agradava – eu tinha um bom gosto, eu estava certa disso. Ela passou o dia praticamente todo reclamando, mas lá no fundo eu sei que ela havia gostado.

Eu estava em meu quarto, não tinha nada que eu quisesse fazer naquele momento.

– Posso entrar? – Alguém bateu na porta. Eu sabia quem era.

– Pode sim.

– O que você está fazendo? – Perguntou Luca, entrando parcialmente no meu quarto.

– Estou curtindo o tédio. – Sorri.

– Vamos nadar?

– Onde vamos?

– Pensei na piscina daqui de casa.

– Não, vamos nadar aqui na minha cama. – Serrei meus olhos ironicamente.

– Tudo bem. – Ele concordou.

Luca se aproximou lentamente, e quando estava bem perto, pulou, mergulhando em cima de mim. Surpreendeu-me, mas logo eu estava sorrindo. Ele tentou me fazer cócegas, mas eu consegui resistir. Em alguns segundos ele estava montado sobre mim, segurando minhas mãos e pernas.

"Eu acho que ele gosta de me prender." Pensei. Passou alguns segundos fitando-me. Olhando meus olhos, minha boca...

Eu não conseguia resistir àquele sorriso torto, que mostrava segundas ou até terceiras intenções escondidas nele. Não conseguia resistir àquela boca que me chamava. Àqueles olhos sempre tão sinceros comigo e com todos a seu redor. Àquele corpo que ao tocar o meu sempre me transmitia sensações estranhas, porém ótimas.

Suas mãos desceram lentamente, escorregando por meus braços, pelas laterais de meu corpo até se depositarem em minha cintura, apertando-me para que eu não saísse dali. Mas não era preciso muito – ou seria nenhum? – esforço, eu estava sob o efeito dele, eu não fugiria, nem se quisesse. E então ele me beijou. Como sempre, com ímpeto, paixão, desejo...

Suas mãos deixaram minha cintura livre para se apossar de outras partes, passearam livremente por mim, enquanto as minhas depositaram-se em seu rosto, pescoço, costas...

Eu estava em estado de erupção. Meu coração batia muito rápido, fazendo todo o meu corpo pulsar.

Escutei passos vindos na direção de meu quarto. Percebi que ele os havia escutado também, pois interrompeu o beijo lentamente, mostrando-me a impressão de que não queria fazer aquilo.

Eu sabia quem era. Eu podia sentir o cheiro, e pelo que percebi, ele também.

Seus olhos se arregalaram. Era meu pai que vinha.

Luca simplesmente se levantou, correu e pulou a janela.

– Júlia? – Meu pai bateu na porta, abrindo-a.

– Oi. – Sorri. Eu sabia disfarçar muito bem, acho que eu poderia até ser uma atriz de sucesso.

– O que estava fazendo?

– Deitada aqui. – Sorri.

– Vim avisar que eu e sua mãe vamos levar Lili a um parque. - Fazendo uma breve pausa, ele voltou a falar. - E cuidado.

– Oh sim, tudo bem.

– Quaisquer problemas nos avisem.

– Tudo bem. – Falei, dando um abraço e um beijo de despedida.

E assim ele saiu. No exato momento em que ele fechou a porta, eu corri para a janela, procurando pelo Luca. Mas ele não estava em lugar nenhum. Provavelmente estava na sala, se despedindo de meu pai como se nada tivesse acontecido.

Naquele momento eu estava disposta, Luca havia me dado uma disposição e tanto. Vesti uma roupa de banho e sai do quarto, dirigindo-me à sala.

– Ei, aonde você vai? – Perguntou-me Jason.

Ele sempre gostou de implicar comigo. Sempre me contradizendo, me cutucando, me batendo. Como eu não tinha o sangue nem um pouco frio, eu sempre revidava, devolvendo tudo na mesma moeda. Porém eu sabia que ele me amava. Ele era como eu, tinha dificuldades para expressar sentimentos.

– Vou morrer afogada. – Não resisti.

– Ah, tudo bem, eu vou com você!

– Vocês já estão discutindo novamente? – Perguntou-nos Damon.

– Ele começou.

– Minha linda, não me interessa quem começou. Eu só queria uma pequena trégua de vocês. – Ele riu.

– Eu tenho uma ideia melhor do que nadar na piscina. – Rafa levantou a hipótese.

– Qual?

– Irmos nadar no mar. – Ele serrou os olhos.

Não precisamos de respostas. Quando percebemos, já estávamos correndo em direção ao penhasco. Quando chegamos onde queríamos. Nos preparamos, e saltamos de um por um. Dando cambalhotas extravagantes no ar. Soltando gritos de prazer enquanto o vento nos tocava.

Quando caíamos no mar, escalávamos e chegávamos ao topo do penhasco novamente, nos deliciando com a sensação.

Passamos a tarde fazendo isso. Não cansávamos. Katrina e Dean ainda não haviam aparecido no lugar onde nos encontrávamos. Talvez estivessem em casa, mas quiseram ficar por lá.

Chegou uma hora que não quisemos mais nadar, então voltamos para casa, e lá estavam eles, Katrina e Dean, cada um em seu quarto, tomavam banho.

Dirigi-me a meu quarto, tomei banho e desci novamente. Todos já estavam lá, menos nossos pais e Lili.

– O que vocês fizeram hoje? – Fiz esta pergunta para o Dean e Katrina enquanto eu descia.

– Não que interesse realmente a você! – Respondeu-me Dean.

– Não gostei dessa resposta, cara. – Luca se aproximou. Ele não falava isso por mim, mas sim por que ele queria saber – ou não – o que Dean tinha com sua irmã.

– Calma, meu amor! Não fizemos nada demais, apenas nadamos um pouco. – Kath tentou amenizar a situação.

– Tá, está bem.

– Onde estão os nossos pais? – Jason olhou em volta.

– Ainda não percebeu que eles não chegaram? Seu idiota. – Falei.

– E vocês, o que fizeram? O Dean voltou ao assunto.

– Nós pulamos do penhasco a tarde toda. – Damon riu.

– Interessante! – Falou Kath.

Logo nossos pais chegaram, já era tarde, Lili dormia enquanto era carregada pelo pai. Ela respirava regularmente, um pequeno sorriso estampava seu rosto, mostrando toda sua inocência e felicidade pelo seu dia.

Um pouco mais tarde, todos subiram, dirigindo-se cada um a seu respectivo quarto.

Porém eu não queria dormir sozinha. Não sabia por que, mas não queria. Então simplesmente levantei-me, dirigindo-me ao quarto do Luca.

Bati levemente na porta. Ele sabia quem era, disse-me para entrar, então atendi seu pedido.

– Boa noite. – Sussurrei, rindo.

– O que traz a senhorita aqui?

– Eu quero uma companhia para dormir. – Fiz bico.

– Sou todo seu! – Ele abriu os braços, sorrindo.

Uma batida soa na porta, que logo em seguida é aberta. Katrina entra, sem nada falar. Ela foi surpreendida por me encontrar naquele quarto.

– Ah, me desculpe. Você é a porta mais próxima. – Ela fez bico.

– Não precisa se desculpar, meu amor. – Ele aproximou-se da irmã e a abraçou.

– Tudo bem. Buscarei outro irmão com o qual eu possa dormir. – Ela sorriu. – Mas eu vou dormir com cada um de vocês.


– Tudo bem, mas não hoje. Quem sabe você não possa passar no quarto do Dean? – Eu sorri.

– Boa noite. – Falou entre dentes, quase rosnando.

– Boa noite. – Falamos juntos.

Fui puxada até a cama, onde nos sentamos.

– Então...

– Eu só vim para dormir. – Falei rapidamente.

– Claro. – Ele piscou.

– Estou falando sério. – Levantei-me, trancando a porta para o caso de um de meus pais entrarem.

– Eu sei. – Ele me entendia, enquanto me observava voltar para sua cama.

Deitamo-nos, conversamos por um tempo, porém logo as carícias ficaram intensas e irresistíveis para mim. Eu correspondia. Porém paramos algum tempo depois, eu não queria que acontecesse nada além de carícias, pelo menos não por agora. Por enquanto eu me contentaria apenas com seus beijos quentes e seus toques firmes.

Dormi, enquanto sentia suas mãos acariciarem meu rosto, costas, braços. Enquanto o sentia dar leves beijos em mim. Escutei as batidas de seu coração calmo e sua respiração tranquila e senti seu cheiro invadir toda a minha mente, anestesiando-me.

Acordei, percebi que estava em minha cama. Eu não lembrava como ou quando eu havia chegado ali. Provavelmente o Luca me trouxera, enquanto todos, inclusive eu, dormiam.

Ainda era cedo, porém eu já estava acostumada a acordar nesse horário. Desci, os únicos que estavam presentes na cozinha eram os meus pais. Eles se beijavam docemente. Tudo bem que eles eram meus pais, e foi quase assim que eu fui feita, porém eu não precisava presenciar nada daquilo. Sai dali o mais silenciosamente possível, sorrindo desse pensamento.

Subi novamente, eu não sabia o que fazer.

– Júlia? – Chamou-me Lili, apertado o ursinho que segurava.

– O que você está fazendo de pé? – Surpreendi-me, ela sempre acordava mais tarde.

– Eu acordei! – Ela sorriu.

– Vem neném, vou dar um banho em você. – Peguei-a no colo e a levei a seu quarto novamente.

Tirei suas roupas, ela não queria soltar o ursinho.

– Vamos, solte.

– Mas eu quero dar banho nele. – Ela fez bico.

– Mas se ele se molhar, ele ficará doente. – Argumentei. – Você não quer vê-lo doente, não é?

– Não, eu não quero! – Então eu consegui convencê-la.

Após o banho, a vesti e penteei seus cabelos, enquanto ela brincava com um de seus ursos. Seu quarto era repleto por ursos de pelúcia, bonecas, brinquedos. Tudo bem organizado e selecionado – afinal, eu havia escolhido tudo.

Desci novamente, desta vez acompanhada por Lilian – eu esperava que meus pais já tivessem acabado a sessão carícias -, o Damon e o Rafa já estavam na sala, conversando.

– Olá cunhada. – Rafa gesticulou com a boca, porém nenhum som saiu dela.

Arregalei meus olhos de surpresa, mas algum minuto depois sorri.

– Olá... – Interrompi-me. – Onde estão os outros?

– Você quis dizer o...

– Shh. – Interrompi.

Rafael sorriu, porém seu sorriso se fechou assim que ele levou uma tapa de seu irmão, que logo o acompanhou em uma risada.

– Como você sabe? – Sussurrei.

– Nós sabemos sobre muitas coisas. – Damon piscou, falando no mesmo tom que eu.

– Somos gêmeos! – Completou Rafa!

Logo uma música invadiu a sala. Lili estava ao piano. Era engraçado ver suas pequenas mãos tocarem, a rapidez com a qual se moviam no piano, porém o som que vinha dali era harmonioso. Ela era uma menina precoce. Qualquer pessoa de fora se impressionaria com aquela imagem.

– Caramba. – Disse Luca ao pé da escada. Ele ainda não havia visto Lili tocando de fato.

– Nós temos uma família de artista. Está pensando o que? – Sorri.

– Eu não estou pensando nada! – Ele retribui o sorriso, abraçando-me discretamente. – Apenas em como você é linda. – Sussurrou em meu ouvido para que somente eu escutasse.

– Mas o que é isso meu filho? – Perguntou Dean, rindo.

– O que, pai? – Luca brincou.

– Nada não. – Dean falou, direcionando-se a cozinha.

– O que faremos hoje? – Perguntei a todos.

– Eu quero ensinar a Katrina a jogar um pouco de ElectriBall. – Respondeu-me Damon.

– Isso é bom. – Sorri.

– Ela sempre quis saber como é, então agora vamos ensiná-la. – Completou Rafa.

– O que? Jason, você falou comigo? – Perguntou Katrina.

Katrina e Jason desciam as escadas lado a lado, porém meu irmão não havia falado.

– Não, eu não falei nada. – Ele a olhou estranhamente.

– Estranho. – Katrina falou consigo mesma.

– Vamos ensiná-la a jogar ElectriBall hoje Katrina. – Informou-a Damon.

Ela sorriu, simplesmente, não mostrando o entusiasmo esperado. Sentou-se no sofá, sua expressão parecia atormentada.

– O que há com você? – Rafa estava preocupado.

– Não é nada! – Katrina tentou tranquilizá-lo.

– Katrina, nós conhecemos você muito bem. O que há? – Luca perguntou com certa severidade, porém ele estava apenas preocupado.

– Não há nada! – Falou Katrina, levantando-se bruscamente e subindo as escadas.

– Tudo bem... – Damon franziu o cenho.

Alguma coisa certamente estava errada. Ela nunca tratava os irmãos daquele jeito. Aquilo não fora um mau tratamento, porém em comparação ao seu comportamento anterior...

Subi as escadas, buscando-a pela casa. Ela se encontrava no terceiro andar, equilibrada no parapeito da sacada na varanda. Mirava a sua frente enquanto o vento levantava seu cabelo .

– Katrina, você está bem? – Perguntei.

Ela se assustou com minha presença. Seu pensamento estava longe.

– O que? – Ela parecia confusa.

– Eu perguntei se você está bem.

– Acho que sim. – Ela estava em dúvida.

– Eu acho que você não está bem. Aconteceu alguma coisa com o Dean? – Eu estava preocupada.

– Não! – Suspirou – Será que estou enlouquecendo? – Disse ela, franzindo o cenho.

– Como assim? – Sentei a seu lado.

– Não sei, é estranho...

– Conte-me! – Insisti.

– Spectros ouvem vozes? – Ela sorriu. Um sorriso tímido.

– Você está louca? – Arregalei os olhos.

– Foi o que pensei.

– Ou...

– Ou...? – Ela se animou com a hipótese que eu iria dar.

– Você lê pensamentos agora. – Falei animadamente, lembrando-me de um caso parecido.

– O que? – Ela parecia mais confusa do que antes.

– Sim. Você é uma olhos pretos lembra? Todos os poderes irão se desenvolver em você!

– Isso é muita responsabilidade. - Preocupou-se ela.

– Sim, eu sei que é uma responsabilidade e tanta. Mas você vai aprender a lidar com isso.

– Isso é uma merda, sabia?

– O que?

– Parece que todo mundo está falando ao mesmo tempo. – Ela fez careta.

– Você vai aprender a bloquear isso.

– Espero.

– Oh meu Deus. Meus pensamentos não são mais seguros. – Arregalei os olhos.

– É só por mais alguns dias. – Ela disse.

– Eu tinha me esquecido desta parte. – Fiquei um pouco triste ao lembrar este fato. – Voltarei lá para a sala.

– Cuidado para não se derreter...

– O que?

– Quando você está perto do meu irmão...

– Que porcaria. – Falei, fazendo careta.

– Sabe, isto até que pode ser legal. – Seu rosto agora estava maquiavélico.

– Katrina, cuidado...

– Eu sei me cuidar.

Então eu desci. Voltando à sala e contando a todos o que se passava com Katrina. Ficaram um pouco espantados, mas logo o espanto transformou-se em admiração.

A tarde chegou, eu havia saído enquanto os outros ensinavam Katrina a jogar ElectriBall. Eu andava sem rumo pela floresta. Aquilo me lembrava dos contos que a minha mãe me contava quando eu era criança. A típica menina andando distraidamente pela floresta, enquanto algum ser maligno vinha para pegá-la. Ri com a lembrança.

Era engraçado pensar que algum dia eu tive medo disso. Agora, era mais fácil as pessoas terem medo de mim do que eu delas.

– Psiu. – Virei-me imediatamente para ver de onde vinha aquele som, porém não identifiquei sua fonte.

O som se repetiu enquanto eu olhava em todas as direções.

– Tem alguém aí? – Perguntei.

– Serve este alguém? – Reconheci aquela voz e logo sorri.

– Serve sim. – Falei. – Mas eu tenho que saber onde este alguém se encontra.

– Aqui em cima.

Olhei para cima. Ele estava sentado em um ramo de uma enorme árvore, seus pés balançavam ritmadamente, um sorriso estampava seu rosto.

– O que faz aqui? – Perguntei.

– Vim atrás de você. – Ele falou num tom óbvio.

– Claro.

– E você? O que faz aqui? – Perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– Estava apenas passeando na floresta.

– Esperando o lobo mal, garotinha?

– Você é o lobo mal?

– Se você quiser, eu posso até ser...

– Hum... – Sorri.

Ele pulou de onde estava, pousando com um baque surdo. Andou levemente em minha direção. Sua expressão era maliciosa, porém eu gostava daquilo.

– Então... Você quer que eu seja o lobo?

Eu ficava um pouco nervosa. Ele estava cada vez mais perto de mim. Fazendo-me andar de costas. Logo senti algo sólido se contrapor a meu corpo. E então eu estava presa.

Ele me prendia com os braços. Fazendo com que eu não tivesse saída.

– Bem, eu não sei...

– Você tem que dar a resposta. Sim ou não! – Falou ele, vagarosamente, enfatizando as ultimas palavras.

Ele serrava os olhos enquanto mordia o lábio inferior.

Eu ainda estava sem palavras, olhava para a sua boca e seus olhos, não sabendo para onde olhar ao certo.

– Já vi que você não quer que eu seja o lobo. – Ele ficou falsamente triste. – Mas eu não estou ligando. O lobo sou eu e ponto final. – Ele sorriu.

Eu ainda não conseguia falar.

– Você sabe o que o lobo faz com a mocinha?

Fiz sinal negativo com a cabeça.

– Ele a devora, lentamente. Mordendo-a...

E então ele mordiscou meu pescoço, depois minha orelha. Eu me arrepiei. Ele riu levemente em meu ouvido ao perceber. Porém continuou a me morder levemente.

Meus olhos se fecharam enquanto eu sentia seu nariz passear por mim.

– Você quer que eu pare? – Ele perguntou, sabendo a resposta óbvia.

Seu hálito maravilhoso invadiu minha mente, fazendo-me sorrir.

– Claro que não... – Respondi com dificuldade.

Então ele continuou. Suas mãos me libertaram da prisão, porém me prenderam fortemente a seu corpo, fazendo com que não houvesse nenhum espaço entre nós.

Após mais alguns minutos de “tortura”, seus lábios encontraram os meus, sedentos. Seu beijo era doce, porém ardente. Suas mãos passeavam loucas por mim, apertando-me cada vez mais... Meu corpo estava esquentando, querendo-o cada vez mais perto, seu aperto já não era o suficiente.

Faltava-me ar em alguns momentos, porém a falta de ar era suprida enquanto ele voltava à atenção para meu pescoço, fazendo-me arrepiar novamente.

Suas mãos apertaram-me ainda mais. Passeando por minha cintura. De repente sinto suas mãos tocarem minha pele, ele levantara um pouco à blusa. Meu corpo queimava.

Sua respiração variava, assim como a minha. De calma passava para acelerada em alguns segundos. Meu corpo necessitava cada vez mais do seu toque. Aquilo já não era o suficiente...

Ele interrompeu o beijo, ficando alerta. Assustei-me. Eu não havia escutado nada, eu estava absorta demais em suas carícias para perceber algo. Sua expressão era assustada, seus olhos arregalados fitavam o nada enquanto ele tentava escutar...

E então, eu também pude escutar.

Parecia uma explosão. Ecoou por toda a floresta. Eu estava mais do que absorta anteriormente, pois o barulho era muito alto e eu não havia escutado.

– O que foi isso? – Perguntei assustada

– Eu não sei. – Ele estava como eu. – Mas vamos ver neste exato momento.

Eu estava com medo. Poderia ser um ataque como aquele que houvera na casa dos irmãos antes de eles se mudarem para cá. Aquele mesmo ataque que os deixara órfãos, aquele que deixara Katrina sem ver...

Eu não queria ir ao local de onde vinha esse estrondo, porém, eu queria estar com minha família. Lutar com eles para todos os casos.

– Eu vou à frente! – Falou ele, enquanto sumia de meu campo de visão.

Levei alguns segundos para voltar a mim.

E então eu estava correndo a toda velocidade, pensando em tudo o que já poderia ter acontecido. Pensando na pequena Lilian, que não sabia se defender. Pensando em hipóteses para descobrir o que aquele olhos pretos tinha contra aquela família.

Enquanto me aproximava cada vez mais, eu tinha medo da cena que poderia encontrar. Talvez corpos estirados pelo chão, sem vida. Minha família ferida.

Após pensar em todas estas hipóteses, minhas pernas se movimentaram ainda mais rápido.

– Meu Deus. – Exclamou Rafa.

Eu estava perto o suficiente para ouvir.

– Isso é um desastre. – Luca falou, rindo.

– Ela é um desastre. – Corrigiu Dean.

Todos já estavam em meu campo de visão quando perguntei:

– O que aconteceu aqui?

Olhei a meu redor. Havia um buraco em uma das enormes janelas de vidro, outro na porta. Uma árvore caída pegava fogo...

Enquanto todos riam, Katrina olhava a sua volta, assustada, com olhos arregalados e a boca aberta.

– Katrina que não conseguiu controlar a bola de energia. – Jason explicou como se aquilo fosse óbvio.

– Mas... – Katrina tentou falar, porém logo se interrompeu. Seu rosto estava manchado de preto.

– Não fique assim. – Dean a reconfortou – Esta foi a sua primeira experiência, logo você será a melhor jogadora. – Ele riu, piscando.

– Não exagere. Por favor. – Katrina revirou os olhos.

– Vamos, tentaremos mais uma vez. – Disse Damon, com a bola de energia entre suas mãos.

– Talvez amanhã. - Katrina falou, examinando sua roupa esburacada.

– Amanhã faremos outros programas. – Intrometi-me.

– Como, por exemplo...? – Falou Dean.

– Irmos a uma festa. Uma boate talvez. – Sugeri.

– Gosto dessa ideia. – Concordou Rafa.

– Eu sei. É ótima.

– Ainda bem que você sabe! – Jason falou baixo. Ele queria começar com as discussões.

– Sim, eu sei que sou um gênio. Então não é preciso começar discussões desnecessárias. Ok? – Empinei meu nariz.

– Claro... – Jason falava com ironia.

Voltei para onde eu estivera antes, dentro da floresta. Luca me seguiu, eu já esperava por aquilo.

O resto do dia se passou vagarosamente, porém de uma ótima maneira. O passei com o Luca. Conversando, sendo acariciada, acariciando...


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