– Se eu soubesse que beijar garotas era tão divertido, nós já estávamos fazendo isso há muito tempo. - disse Rafaela, com um sorriso safado, puxando o lábio inferior de Fernanda com os dentes.

– E se eu soubesse que estar com você é ainda melhor que na minha imaginação, já teria te pego a força. - afirmou Fernanda, beijando o pescoço da amiga enquanto passava as mãos por sua cintura.

Fernanda, que estava deitada por cima de Rafaela em sua cama, se afastou um pouco, apoiando-se nos ombros, pra poder olhar nos olhos da menina pela qual estava apaixonada. O encantamento estampado em seu rosto era evidente.

Ela delicadamente retirou alguns fios de cabelo que estavam sobre os olhos da outra e ficou acariciando a pele do seu rosto.

– Você é linda, sabia? - disse Fernanda depositando um leve beijo em seus lábios.

Rafaela não conseguiu responder e seu rosto inteiro ficou vermelho. Ela pegou seu travesseiro e cobriu o rosto.

– Para com isso, Rafaela. - disse Fernanda, rindo. - Eu quero te olhar mais um pouco.

– Não, você me deixa sem graça. - respondeu ela com a voz abafada pelo travesseiro.

– Deixa de ser boba.

Fernanda pegou o travesseiro e jogou longe. Não perdeu mais tempo e voltou a beijar a boca que ela tanto desejava. Rafaela era realmente muito boa naquilo, ela sabia o que estava fazendo.

As duas começaram a se acariciar de uma forma, como se quisessem se fundir em uma só.

– Fernanda...

– O quê?

– Acorda!

– Acordar? Como assim?

– Vamos, palhaça! Acorda! - Rafaela pegou o travesseiro e acertou em cheio o rosto da amiga, acordando-a de seu sonho. - Você não muda mesmo, né?

– Do quê você tá falando? - Fernanda abriu os olhos sentindo-os doer por causa da luz.

– Já são duas da tarde. - esbravejou Rafaela. - Porquê você ainda tá dormindo?

– Você sabe que eu durmo a tarde inteira. Me deixa. - Fernanda se virou na cama pra evitar a luz e o contato visual com a amiga.

– Nós estamos atrasadas. A gente marcou com a Aline e com a Nani no shopping, esqueceu?

– Ah, isso. Elas vão sobreviver sem mim. - resmungou Fernanda em estado total de sonolência. - Pode ir.

– Eu não vou sem você. - disse Rafaela firme, sentando-se na beira da cama. - Vamos, Nanda. Sem você não vai ter graça nenhuma.

Fernanda continuou imóvel, mas seus sentidos já estavam mais alertas. Sorte sua que estava virada de costas.

Como Rafaela não obteve nenhuma resposta, continuou implorando, passando as mãos entre os fios de cabelo castanho de Fernanda. Ela ficou paradinha, saboreando cada segundo daquele momento. Quando Rafaela parou, ela se sentou e encarou novamente a amiga.

– Desculpa, Rafa. Mas não to no clima. Quero ficar sozinha.

– Aconteceu alguma coisa? - perguntou Rafaela preocupada.

– Não. Eu só.... Não to no clima. - ela respondeu, passando as mãos nos cabelos desgrenhados.

– Tudo bem. - bufou Rafa resignada. - Então vou desmarcar com as meninas e ligar pro Sam.

– Sam?

– Ah, é um carinha que eu to ficando. - disse ela, já entretida com o celular. - Vou mandar só uma mensagem. Vou pedir pra ele me buscar de moto aqui.

Fernanda levantou sem dizer nada e foi ao banheiro escovar os dentes. Rafaela sempre percebia a mudança repentina de humor da amiga, quando o assunto era garotos, mas ela decidiu não se importar mais com isso.

– O que você vai ficar fazendo aqui? - gritou Rafa pra que Fernanda a escutasse do banheiro.

– Sei lá, qualquer coisa. - ela respondeu, voltando ao quarto. - Dormir, ficar na internet, tocar violão...

– Toca pra mim? - perguntou Rafaela animada, jogando o celular de lado. - Eu adoro quando você toca violão.

– Não tenho nenhuma composição nova essa semana. - disse Fernanda se sentando.

– Toca qualquer uma do Paramore e você fará uma criança feliz.

– Tudo bem. Eu toco todas as músicas do Paramore que você quiser, com uma condição. - disse Nanda, desafiadora.

– E qual é?

– Desmarca com esse tal Sam e fica comigo.

– Só isso? - disse Rafaela sorrindo e se jogando em cima da amiga, ambas caíram deitadas na cama e ficaram se olhando. - Você é mesmo uma cadela, sabia?

– E você é uma ogra. - disse Nanda, séria.

Elas ficaram se encarando com os semblantes fechados por uns instantes, até que Rafa não aguentou mais e começou um ataque de cócegas na outra. Fernanda odiava aquilo, mas amava estar com a amiga, então era um mal necessário.

– Toca logo senão não paro de fazer cócegas nunca.

– Eu toco até Michel Teló se você parar com isso. - gritou Fernanda, não aguentando mais rir. - Eu vou morrer sem ar, porra!

Rafaela se levantou e pegou o violão com o maior cuidado do mundo, pois sabia o ciúmes que Fernanda tinha dele.

– Qual música você quer?

– Pode ser a primeira que vier a sua mente.

Mal Rafaela disse isso e Fernanda já sabia exatamente qual seria. Aquela que toda vez que ouvia lembrava das duas. Ela começou os primeiros acordes e o sorriso de Rafaela se abriu instantaneamente.

When I was younger I saw                                                                             

(Quando eu era mais jovem vi)

My daddy cry and curse at the wind

(Meu pai chorar e xingar ao vento)

He broke his own heart and I watched

(Ele quebrou seu próprio coração e eu assisti)

As he tried to reassemble it

(Enquanto ele tentava remontá-lo)

And my momma swore that she would

(E minha mãe jurou que)

Never let herself forget

(Jamais se deixaria se deixaria esquecer)

And that was the day that I promised

(E aquele foi o dia em que prometi que)

I'd never sing of love if it does not exist

(Nunca iria cantar sobre amor se ele não existe)

But, darling, you are the only exception

(Mas, querido, você é a única exceção)

Well, you are the only exception

(Bem, você é a única exceção)

Well, you are the only exception

(Bem, você é a única exceção)

Well, you are the only exception

(Bem, você é a única exceção)

Foi naquele momento que Fernanda sentiu seu peito doer, graças aquele sentimento que a sufocava tão fortemente. Uma lágrima escorreu de seus olhos sem que ela tivesse controle.

Rafaela viu que ela não conseguiria finalizar a música e a abraçou, como se sentisse de que era disso que sua amiga precisava.

- Eu vou desmarcar com o Sam, tá? - disse ela, segurando o queixo de Fernanda para que ela lhe olhasse. - Eu não vou a lugar nenhum. Vou ficar aqui com você, até você enjoar de mim e me expulsar.

- Eu nunca enjoaria de você, Rafaela. - disse Fernanda, voltando a sorrir.