Andar direito, se comportar, manter um belo sorriso o tempo inteiro. Isso que me foi ensinado quando ainda era uma criancinha bem pequena. Mas na situação que eu estou, é impossível. Estou em uma corrida contra o próprio tempo, e estou perdendo.

Primeiramente, deixe em me apresentar, aí contarei como tudo começou.

Chamo-me Zelda, sou princesa de um reino inteiro, chamado Hyrule. Trabalhoso? Pode ser. Mas, fica mais difícil, quando sua vida começa a entrar no jogo e tudo se torna um risco a sua volta. Até seu melhor amigo.

Você imagina uma criancinha tendo lições de como ter a postura correta, parecer confiante de si, se sentar em uma mesa com elegância, ter sempre um sorriso calmo no rosto? Ser princesa nunca foi fácil, e não para por aí.

Além dos olhos desejando cada passo que dou em Hyrule, ainda tenho que aguentar algumas pessoas me irritando o tempo inteiro, falando sobre coisas do reino. Isso ainda não era meu problema.

A única e simples coisa que me aliviava em dias tensos, era sentar com meu amigo Link, no topo da colina, e ficar observando todo o reino. Desde a Villa que cercava o castelo, até o deserto mais distante. E observávamos também as mudanças ao redor do vulcão de Kakariko. Link sempre me fez rir, e eu sempre soube que podia ficar mais calma ao lado dele, ser quem eu sempre fui, não o que queriam que eu fosse. Ele era meu amigo desde que éramos pequenos.

Link nunca teve um pai, não que ele conhecesse. Era como uma criança abandonada, criada pelo tio. A mãe? Nunca ouvimos sequer falar dela. Mas, apesar de tudo, o que me impressiona nele, é a capacidade de viver sempre alegre, mesmo com os problemas. Ele é realmente alguém que não se acha em todo lugar.

Ele deve ser descendente da floresta, onde vive a arvore Deku, por uma pequena fadinha, de brilho azul, viver seguindo-o. Essa é somente uma das características daqueles que nascem lá. Mas, apesar dessa linhagem, tenho certeza que Link não é da floresta. Ele é um Hylian, tal como eu.

Os Hylians são guerreiros, com orelhas pontudas e uma aparência natural, alguns de altura mediana. Isso que diferencia Hylians de seres da floresta. Aqueles que vivem na floresta nunca crescem, sempre serão crianças. Já os Hylians crescem, deixam sua marca com a humanidade até o dia em que se sentam em uma cadeira, com os braços bambos, somente para contar suas jornadas, sem poder mais sair empunhando uma espada, em busca de aventuras nas profundezas do Deserto.

Lembro direitinho do dia em que um garotinho apareceu no pátio do palácio, carregando uma ocarina, sendo seguido por uma pequena fadinha. Tínhamos exatos 6 anos, mas eu já sabia dos problemas. Gannadorf era o problema.

Ele era para ser somente mais um súdito, disposto a servir ao meu pai e ao reino. Apesar de fingir submissão ao poder do rei, eu já sabia que tinha algo errado, no simples brilho avermelhado dos olhos escuros dele. Eu sabia que ele não seria alguém de confiança. Eu devia ter confiado nos meus instintos.

A única pessoa que sabia de minha desconfiança era Link, mas tínhamos um pacto. Ele iria me proteger, e eu iria proteger ele. Sim, eu sabia que era de pouca utilidade, que era só uma princesinha fraca, mas eu tinha minhas esperanças. Eu simplesmente iria atrás dele se algo acontecesse a ele. Eu era amiga dele.

E eu sabia que podia confiar em minha protetora, Impa. Ela dava a vida a minha proteção, vivia nas sombras a me observar. Eu me sentia mais segura sabendo que ela estava por perto, para zelar por minha segurança.

Como tudo começou? Pois bem. Vou lhe explicar.

Foi durante uma tarde. O dia não estava normal, isso era algo que eu notava principalmente. Havia algo errado com as forças do mundo, algo extremamente errado. Eu estava andando pelo palácio, quando ouvi um forte grito, que cortou o corredor e chegou até meus ouvidos. Não tive tempo de pensar, Impa foi mais rápida. Puxou-me para longe do som.

Eu ouvia passos. Passos a nossa procura. E minha certeza só aumentava. Saímos do palácio, Impa procurava algo. Algo para escapar. Assim que ela avistou seu cavalo, começou a me carregar.

Foi nesse tempo que eu vi. Era a figura robusta, alta, e extremamente feia do Hylian mais terrível que já vivera. Gannadorf.

Impa seguiu em disparada pelas ruas da Villa, pedindo para tomarem cuidados assim que passava. Viramos a esquina que dava no portão principal. Fechado. Impa não parou, não deu meia volta. Ela acelerou a velocidade. Eu já conseguia avistar Gannadorf virando a esquina, em seu robusto cavalo, preto. Estava imaginando no que Impa pensava, não havia como passar do portão. Seria bater nele. Chegamos perto, pertinho de isso acontecer, mas ele se abriu. Foi bem a tempo.

Com o céu nublado, Hyrule estava estranha. Mas eu não prestei atenção nisso. Avistei Link na entrada do castelo. Deu tempo de eu jogar o presente que eu tinha para ele. Caiu exatamente na água, mas, daquele ponto, não consegui mais olhar para trás.

Impa estava a toda velocidade, e continuo assim até Gannadorf nos perder de vista. Chegamos às profundezas do deserto, e foi onde Impa decidiu parar. O cavalo dela estava ofegante, com os cumpridos pelos da crina desalinhados. Não posso dizer que foi a experiência mais agradável do mundo, mas, a alguns dias, eu havia falado para Link que estava mais desconfiada ainda, principalmente da quietude de Gannadorf. Por isso deixei gravada uma mensagem para ele, explicando tudo sobre meus pressentimentos e, sobre as forças da Triforce.

Eu sabia que tinha muito mais por vir. Eu teria que aprender o meu verdadeiro poder, antes que Gannadorf me encontrasse. Eu tinha que me transformar em uma Hylian.