Olhares torturantes, incapazes de sentir piedade, apontam-me todo o seu ódio. "O que eu fiz?" - Perguntava-me - "Nada, apenas teve escolhas distintas" - a resposta ressoava - "Apenas foi diferente, foi você mesma". "Então por quê? Por que eles fizeram aquilo?"

Implorei que parassem, era o que eu conseguia fazer, queria fugir mas meu corpo não me obedecia, queria reagir mas da minha boca as palavras não saiam. Vi o primeiro rosto zombeiro, ele ria, apontava para mim e xingava-me.

Eu não queria sentir ódio dele, nem dos outros que me cercavam, mas eu, naquele momento, prometia que jamais esqueceria do que eles me fizeram. A raiva começou a fazer parte de mim, como se fosse a única maneira de poder afastar a dor. As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto um sorriso sádico se formava em meus lábios. Desabei de joelhos ao chão tomada pelas lágrimas e cercada pela dor.

Prendi meu olhar em minhas mãos, não queria vê-los, não queria ouvi-los, mas algo me chamou a atenção... Um garoto de cabelos e orbes negras que observava a cena de longe e aos poucos se aproximava,ele não ria de mim, apenas sorriu e, sobre tudo, foi um sorriso de compreensão, de preocupação, não de dó ou piedade, era como se ele entendesse...

Ele se aproximou mais, perfurando o circulo de tormento e me abrangendo em seus braços, fazendo com que tudo ao nosso redor parasse. Aqueles que antes riam, agora estavam perplexos com o que acontecia. Ele levantou-me e levou-me para fora da sala sufocante.

– Para onde iremos? - Perguntei confusa, porém agradecida.

– Nós só andaremos. E continuaremos andando até que o resto do mundo deixe de existir. Há coisas melhores adiante, melhores do que qualquer outra que deixamos para trás.