O Sol Da Meia Noite escrita por Midnight Sun


Capítulo 4
Encurralado: A Caçada Noturna




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Nas profundezas da floresta do sul de Zul’aman, Kariel encontra-se desacordado próximo de uma árvore que queima intensamente em chamas que mesclam-se entre sombrias, arcanas e o puro fogo incandescente. A explosão repentina havia chamado a atenção de dois trolls que patrulhavam as cercanias e já se deslocavam numa velocidade absurda ao encontro de sua causa.

Kariel começa a movimentar-se logo após a queda de um galho em chamas.

– Whooa! O que aconteceu?! - Surpreendido, ele se afasta das chamas com agilidade e cautela.

Recompondo-se do impacto sofrido há pouco, ele busca lembrar o que ocorrera. Algumas memórias são claras, outras desfocadas pelo fluxo de energia e velocidade extrema.

Logo após transmutar sua forma corpórea para imergir no fluxo de energias arcanas das linhas meridionais e avançar até seu destino, ele foi surpreendido pelo rompimento abrupto do fluxo normal nas proximidades da voragem. Por sorte ele já havia ultrapassado o ponto atingido, mas estava sendo perseguido pela energia caótica proveniente do colapso.

Na forma etérea, incapacitado de agir livremente, o mago percebe o iminente perigo e tenta interagir com o fluxo de mana, obtendo sucesso ao romper uma fissura que lhe possibilita escapar. Instantes após, aturdido pelos efeitos da transmutação forçada, a onda de energia alcança o ponto e causa uma explosão que deflagra a árvore mais próxima. Por certo, a explosão lhe arremessara contra outra árvore, deixando-o inconsciente.

Era uma noite escura e o mago continua desorientado. Mas, de certa forma, a vegetação do local lhe era familiar.

– Essas árvores... Elas são típicas do sul de Quel’thalas. Devo estar perto. - Indaga o mago em voz alta enquanto se apoia no tronco à sua frente.

Ao escutar alguns estalos das folhagens logo atrás, ele vira-se e é surpreendido por uma lança atroz que vinha em sua direção em alta velocidade. Não havia tempo para esquivar e sendo a única alternativa, num lampejo, transportando-se metros a frente, ele consegue evitar a colisão da lança consigo. Ao invés, a lança troll atinge a árvore, perfurando-a totalmente e colidindo contra o chão.

Antes que notasse, os trolls já estavam ao seu redor. Eles eram bem maiores do que o elfo. Sua estatura e músculos davam a impressão de que possuíam o dobro do tamanho da maioria dos elfos.

Numa rápida vistoria da postura e equipamentos dos trolls, o mago elfo percebe que eles são escoltas em patrulha noturna e que se não lidasse com eles rapidamente, a chegada de reforços seria inevitável e potencialmente problemática.

Os trolls começam a dialogar desinibidos na sua língua nativa, ameaçando ataques de forma esnobe. No entanto, em meio as palavras rudes do dialeto, Kariel podia distinguir o significado de alguns dizeres, em sua maioria: insultos, piadas infames a respeito dos elfos e a intenção de despojar e devorar os restos do mago.

A convivência com as diversas raças em Dalaran, inclusive os lançanegras, tinha lhe dado a oportunidade e curiosidade de conhecer várias culturas e linguagens. Mas essa vantagem não era suficiente para sobrepor a força bruta dos inimigos.

Um dos trolls busca na cintura por suas armas e levanta dois machados improvisados num brado de guerra, avançando numa investida viciosa. Kariel evita o primeiro ataque com dificuldade, se esquivando com a mão empunhada em sua espada, mas apesar do guerreiro cambalear após errar o ataque, ele se vira rapidamente e arremessa um dos machados. O mago instintivamente conjura uma barreira de mana que ricocheteia a arma para uma rocha bruta no solo, partindo-a em dois.

– Isso é absurdo. Como uma arma dessa qualidade causou...? O início de ataques incessantes de setas arremessadas pelo segundo inimigo interrompem e obrigam Kariel a tentar se distanciar.

Novamente, ele teleporta-se metros à frente ficando fora da área de visão dos inimigos. Por alguns segundos, Kariel pôde avaliar a situação minuciosamente e traçar um contra-ataque.

Os trolls, sem perder tempo, percebem a movimentação do mago por trás de uma árvore rodeada de arbustos e vinhas. Eles avançam impetuosamente. O guerreiro agarra o elfo pelo pescoço, sem permitir espaço para reação, e o prende contra o tronco da árvore, pronto para finalizar o combate com um golpe dilacerante de seu machado. Nesse instante, Kariel percebe o encantamento imbuindo a arma com a força sobrenatural vista há pouco e sorri.

– Entendi! Havia um condutor mágico. – O som provém dos arredores.

Para a surpresa do guerreiro, a imagem do mago desvanece em suas mãos enquanto uma runa inscrita na madeira começa a reagir, tornando-se mais vívida e intensa em meio a vegetação. Uma explosão devastadora irrompe da runa, abatendo o inimigo.

– Esses dois selvagens não possuem instrução nem maestria para dominar esse nível de encantamento. – O mago fala, saindo do estado de invisibilidade, enquanto se aproxima do corpo inerte, inconsciente e parcialmente em chamas do guerreiro Amani.

Ele coleta o armamento e remove o membro deflagrado que, apesar de separado do corpo, ainda permanecia agarrado à arma.

O segundo troll que demonstrou claramente perícia típica de um caçador evade da explosão sem sofrer danos. Ele recua drasticamente e posa em defesa.

Seus instintos apuravam-se a cada segundo de combate. Sua visão aguçada, seu foco infalível nos movimentos e sons, e o conhecimento familiar do território o tornavam a maior ameaça daquela floresta. Contudo, Kariel continuava indiferente e o artefato em sua mão exercia certo fascínio sobre ele. Intrigado, ele analisa as runas que adornam o objeto.

– Interessante. Essa magia é poderosa e... antiga.

Ele finalmente desperta do momento de reflexão, banhado em questionamentos e ponderações, e saca um pergaminho de sua algibeira, levantando-o em face do machado. O pergaminho reage mostrando um reflexo da figura a sua frente e em seguida, essências translúcidas cruzam o intervalo entre os dois objetos, ao fim, a arma pairava sem cor, obsoleta e imprestável ao tempo que o pergaminho espelhava runas místicas reagindo em tons multicoloridos.

O mago perde o interesse sobre o artefato, descartando-o pela sua lateral, enquanto envolve o pergaminho e o sela. O troll involuntariamente reage ao som e movimento distante na floresta escura e dispara, destruindo o alvo no ar.

– Ataque imprudente – O mago sussurra – Acabou de denunciar sua posição... O que fazer quando a caça se torna o caçador? - Pergunta para si, esboçando um tom de ironia.

Ao concentrar-se à frente, com os braços estendidos na mesma direção da origem do ataque, o mago permeia os obstáculos naturais com uma visão extraordinária, buscando seu alvo, e enfim, o feitiço alcança o selvagem e sucede.

– A batalha terminou. – Diz ao deixar seu posto protegido atrás do tronco robusto.

O troll está imóvel. Uma pressão colossal recai sobre seu corpo e a força dos seus membros falha ante ao poder arcano, obrigando-o a se apoiar com as mãos sobre o solo, de joelhos. Numa tentativa desesperada de convocar reforços, o Amani extrai uma força sobrenatural, inclusive para um troll guerreiro, conseguindo sacar uma espécie de trombeta formada por chifres de animais e adornos de ossos e penas de pássaros de sua cintura.

– Tarde demais. - A trombeta é arremessada por impacto arcano– Vocês me subestimaram; Zombaram de meu povo e cultura; Agora, olhe agora para si. – Pronuncia em tom ríspido, sem se importar se seu inimigo o compreendia.

Ele continua se aproximando em uma caminhada tranquila.

– Vocês se orgulham delas, não é verdade? – Toca as presas do troll – Extensões de sua força e coragem, não é verdade? Eu lhe pergunto: Onde elas estão agora?

O mago se afasta enquanto suas mãos entram em combustão. As chamas dançam ao vento enquanto o claro realça a face do conjurador, sem lhe causar dano algum. Ele se vira, encarando o caçador e diz em nítida linguagem troll.

– Fuja! - O feitiço que restringia os movimentos do adversário é liberado.

Ao sentir-se incontido, o caçador evade rapidamente, saindo do campo de visão do mago e afastando-se em velocidade por entre o emaranhado da vegetação. A este ponto, alcança-lo seria impossível. Sua destreza e agilidade são uma vantagem implacável.

O fogo incandescente se dissipa das mãos do elfo tão logo o troll evade. Dando som aos sussurros:

– Misericórdia nunca foi demonstrada ao meu povo. Por que eu deveria retornar-lhe este favor? - Fala ao abaixar-se, coletar o outro machado na rocha partida e fechar os olhos.

O troll não percebera, ainda que tardiamente, que suas presas estavam imbuídas pelo mesmo poder que deflagrara seu companheiro minutos atrás. Sua ruína era inevitável.

Uma explosão distante irrompe na copa das árvores.


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