O Sol Da Meia Noite escrita por Midnight Sun


Capítulo 18
Provas: Sentença sob o Luar Escarlate




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As fileiras de guardas reais estavam imóveis e nada convidativos para intrusos. Há pouco, algumas das grandes lideranças da sociedade sanguinélfica passaram por eles e a ordem era evitar qualquer acesso ao espiral sunfury.

– Vocês esperam que acredite num contra-senso desses? - Aethas movia as mãos, inconformado - Kariel jamais faria isso!

– Não banque o ingênuo, Sunreaver. Seu pupilo saiu da sombra de sua asa há mais tempo do que consegue aceitar. - Rommath ironiza a reação.

– Há provas convincentes de que ele está envolvido, Aethas. - Lor’themar dá de ombros.

– Não há outra escolha, já que ele não colaborou conosco, omitindo a localização do amuleto e da Quel’delar - Rommath fitava alguns relatórios do sacerdócio de Silvermoon, com um sorriso contido. - Vamos começar o julgamento por... traição.

Aethas permanecia incrédulo.

***

Nos dias anteriores, desde a prisão, visitas reiteradas aconteciam às madrugadas, quando a cidade dormia.

Outro grupo, o terceiro, desta vez um trio de sacerdotes, surgia na penumbra do cárcere para mais uma sessão de interrogatório. Eles se organizavam enquanto as condições do prisioneiro eram averiguadas preliminarmente. Kariel estava agrilhoado por correntes preparadas para reagir com energia arcana a qualquer iniciativa e sua debilidade era evidente: Lábios ressecados denunciavam a precariedade de alimentos e água, obviamente visando enfraquecê-lo; Seus olhos não esboçavam o brilho intenso de outrora; Queimaduras de mana adornavam seus braços, rosto e torço; E outros sinais de tortura espalhados pelo corpo podiam ser vistos.

– De acordo com os últimos relatórios, ele é resistente aos métodos convencionais. - O líder do grupo esboçava certo interesse com aquele caso peculiar. Geralmente, as informações pretendidas eram obtidas durante as primeiras horas de um interrogatório ordinário.

– Outros buscando concretizar mentiras? - Kariel levantava o rosto, sobreposto pelos cabelos - Quando entenderão que eu sou inocente?

– Veremos em tempo. Eu vou arrancar as respostas que busco direto de sua mente. - O sacerdote sombrio se aproxima com as mãos espalmadas e agarra o rosto do mago, desencadeando uma infestação de mana sombria no ambiente.

Após várias tentativas de se infiltrar na mente do prisioneiro, tanto Kariel como o sacerdote estavam esgotados. As queimaduras reavivadas em ardor exalavam mana enquanto o interrogador suava sem sucesso.

– A tenacidade dele é admirável e o senhor já está quase esgotado. Talvez devêssemos alternar enquanto descansa, mestre Kath’mar? - Um dos aprendizes propõe.

– Não! - Brada o sacerdote em resposta - Eu irei ultrapassar essa torrente de poder que nubla minha visão! Nenhuma mente é forte o bastante perante mim, Kath’mar.

– Quem os enviou aqui? Quem está tentando me incriminar? - Kariel fraseava com dificuldade. O sangue em seus dentes provavelmente provinha da força despendida para suportar os danos infligidos.

– Deveria se preocupar com sua segurança... Desta vez, eu irei conseguir desbravar suas defesas nem que você morra no processo. - O sacerdote parecia tomado pela frustração e ânsia de vindita.

A inciativa do sacerdote converge as sombras em seu favor, impactando dolorosamente em Kariel. O grito de dor ecoou. O mago se debatia, forçando as mãos contra as correntes implacáveis.

– Não há escapatória. - Diz, o sacerdote.

Aquelas palavras, as mesmas ditas por Arthas na sunwell e repetidas em tantos pesadelos, causaram a ignição do poder dormente de Kariel. Dos seus olhos brotavam a erupção de intensos feixes de luz e o inseparávell bracelete brilhava incandescente, como se a qualquer momento fosse se desmanchar em puro fogo líquido.

– O que?! Que poder é es... - O sacerdote pronuncia surpreso antes de ser repelido violentamente.

Instantes depois, todos da câmara estavam inconscientes e uma figura distinta surgia para presenciar a cena. A única imagem que Kariel distinguiu antes de cair totalmente foi o vermelho dos cabelos.

***

O gotejar incômodo em sua testa acorda o mago num ambiente úmido e escuro. O dessabor do local provinha dos odores fortes que encharcavam não apenas as paredes, mas o próprio ar.

Kariel tenta abrandar o odor com uma das mãos enquanto avança pela escadaria de pedras de onde provinha um pouco de luz alaranjada, provavelmente tochas. Quanto mais se aproximava da superfície, mais o odor aumentava e sons distintos se ouviam.

– Olhe o que temos aqui. - O sotaque era, sem dúvidas, tróllico.

Receoso, o mago continua o passo e se depara com uma câmara própria das construções dos trolls Amani. Ele corre o olhar pelo piso, buscando seu interlocutor, e percebe rios de sangue correndo pelas rachaduras. Involuntariamente, sua mão se eleva e toca o ponto molhado em seu rosto. Ao distanciá-la, para comprovar seus medos, o sangue em seu rosto escorre, embaçando sua vista em tons escarlates.

A reação alvoroçada do elfo põe o troll, já alerta, às gargalhadas. Para qualquer lugar que Kariel voltasse o olhar, pilhas e pilhas de elfos mutilados recentemente adornavam a estrutura. Em meio às risadas, o elfo amedrontado persegue uma saída e se depara com exércitos de trolls em Zul’aman. Seus campeões animais à frente, estimulando-os à guerra iminente, sob um luar avermelhado pelo sangue em seus olhos.

– Junte-se a nós. - A voz feminina era familiar e chamava a atenção de Kariel novamente para dentro da construção.

Por trás do Troll, a figura surgia. Era Thaela. Ela estava diferente, sem expressões e banhada em sangue, mas era ela com certeza. Imobilizado pela cena, o mago observava enquanto ela trazia a frente um objeto arredondado, difícil de identificar nas sombras.

– Ele logo fará parte de nossa coleção, criança. - O troll afagava pervertidamente a silhueta da elfa enquanto ela se dirigia a saída.

– Então, nós ficaremos felizes com isso. - A imagem se desvendava na luz da lua.

Kariel pairava pasmo, totalmente estarrecido com visão pertubadora. Thaela segurava em seu colo a cabeça decepada de Ithuriel - Irmão de Than’dariel e também reconhecido como tal por ela.

– Você e sua patética raça estão condenados. - O troll advertia ao som dos brados de guerra dos exércitos.

Repentinamente, uma luz alva ofusca totalmente o cenário. Kariel desperta ofegante, ainda estremecido com as cenas.

– Você estava delirando. - A voz, rouca e também familiar, incia - Eu apenas intervi para evitar que o barulho chamasse atenção dos guardas.

– Uriel? - O mago questiona perplexo.

– Espero que não tenha tomado conclusões precipitadas. - O cavaleiro sangrento trazia a Quel’delar, Quel’serrar e o grimório para seu legítimo dono.

***

– Que provas irrefutáveis são estas? Vocês estão cometendo um engano e uma injustiça com herói não só dos sin’dorei, mas de Dalaran e da Horda. - Aethas tentava persuadir os demais.

– Então é assim que o Kirin tor trata seus heróis, atualmente? - Rommath busca na mesa um cartaz de procurado de Kariel e eleva para os demais verem claramente - Não me surpreende.

– Isso é um engano! Modera... - A defesa é interrompida.

– Há enganos demais para não vermos o óbvio, Aethas. - Rommath era incisivo - Há testemunhas que viram Ommon, antigo líder dos bruxos, com Kariel pela última vez antes de seu sumiço e a invocação do demônio; Resquícios de mana compatíveis no relicário; A morte de Azra’ael, meu campeão de confiança, que foi enviado para investigá-lo; E por fim, a manifesta confissão ao deflagrar seus carcereiros e fugir.

– Não é possível. - Aethas estava sem argumentos.

– Todos sabemos que estima o rapaz, mas justiça deve ser feita. - Halduron pronunciava enquanto se levantava de sua cadeira - Convocarei reforços para as tropas de busca do amuleto, assim eles serão capazes de capturá-lo.

– Ou executá-lo. - Rommath complementava para surpresa do líder dos Sunreavers.

– Como pode cogitar isso? - Aethas confrontava o Grão-magister.

– Está decidido. A sentença por traição é morte. - Lor’themar adiantava-se para findar o debate - Será melhor que sua punição seja dada fora dos territórios de Quel’thalas. Afinal, muitos ainda o tem como herói.

Todos concordam, exceto por Aethas que pairava incapaz de falar ao acolher tantas provas dos atos de seu ‘irmão’.

– Que isso sirva de lição para que jamais esqueçamos de que foi um dos nossos que nos aplicou o maior golpe. Que a sunwell traga-lhe paz no conforto da morte porque nós lhe daremos apenas o amargo sabor da justiça.



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