O Sol Da Meia Noite escrita por Midnight Sun


Capítulo 16
Ateneu: Perseguindo Ilusões




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Livros, códices e arcanuns empoeirados preenchiam inúmeras prateleiras, intocados por muitos anos, enquanto luzes bruxuleantes dançavam esmorecidas em braseiros encantados. As chamas de tons frios e claridade branda afogavam o ambiente num breu sinistro.

O som dos passos lentos do mago ecoavam pelos salões do conhecimento kaldorei ao tempo em que ele dedicava alguns minutos de silêncio, deslumbrado pelo poder que emanava daquele lugar. Vários escritos pairavam expostos sobre as bancadas, mas um deles atraíra atenção de imediato. Era um mapa repleto de anotações urgentes e rabiscos desesperados num dialeto arcaico de difícil interpretação. Por alguns instantes, Kariel arrasta o dedo pelo pergaminho envelhecido, interligando as anotações. Mas nada parecia fazer sentido. Ele então recolhe o manuscrito, o envolve, e coloca em sua algibeira de escriba.

– Trabalho de casa. - Diz pra si, sem perder o olhar disperso do ambiente.

Adiante, seus olhos pareciam ser fisgados por tantas outras obras enigmáticas. Não eram simples peças literárias, ele sentia o peso do poder emanado pelos inscritos rúnicos, cada qual numa sintonia diferente.

Sua visão, aos poucos, parecia despertar, percebendo cada vez mais a caótica sinfonia até distinguir um fluxo harmonizante e aterrador que provinha do ventre do ateneu.

– O que isto poderia ser?

O elfo não conseguia conter a ansiedade que se traduzia nos passos rápidos e largos. O chão na câmara central era gravado por runas que uniam-se formando o emblema dos shen’dralar. Além disso, largas cortinas adornavam o vasto complexo.

– Isto...Talvez fosse isto que aqueles nagas buscavam. - Kariel observa com cautela um pedestal no centro da área circular. - A herança de seus antepassados...

A imagem lhe causou inquietude imediata. Seu sangue corria rápido, como se pressentisse perigo. À sua frente, uma estátua de silhueta feminina permanecia altiva, numa vigília eterna e intimidante e em seu colo pairava um grimório petrificado.

– Toda essa energia está realmente irradiando deste pedaço de pedra rústico? Inimaginável.

Ao tentar tocar o artefato, ele é repelido por uma energia exterior. Inevitavelmente, a presença imponente fez valer-se como se repudiasse cada fibra do “saqueador”.

– Essa é uma representação de Azsh... - Interrompido pela crepitação repentina no teto, ele volta-se para o restante da sala.

O ateneu começava a desmoronar. O teto rompia-se em rachaduras profundas que despejavam poeira e davam ensejo para que blocos imensos de pedra se desprendessem e caíssem sobre os móveis de madeira, estilhaçando-os em estrondos. Os braseiros também eram atingidos e espalhavam as chamas frias no que rapidamente torna-se um inferno faminto. O fogo consumia os livros e móveis incrementando sua força, como se a magia contida ali fosse um combustível, alastrando-se até que o calor incendeia as cortinas de forma espontânea e forma cordões de fogo que interligam-se ao teto em formatos espiralados.

– Preciso alcançar a saída antes... - Um estouro irrompe causado pela queda de escombros flamejantes que obstruem totalmente a entrada.

Encurralado, o mago observa a situação caótica e rompe a inércia com uma nova tentativa de saquear o grimório.

– Que mecanismo de defesa incrível. - O foco infalível sobre o artefato era inconteste. Sua mana estava agitada, imbuindo-o de energia. - Essa ilusão está num nível além de qualquer outra que já conheci.

No momento do rompimento, uma rachadura na estátua denuncia que feitiço havia sido totalmente quebrado e que o ateneu permanecia intacto.

– Mas isso não será suficiente! - O mago finalmente toca o artefato, irrompendo a barreira.

Tudo desmorona freneticamente em cascatas de livros e magia, num abismo escuro rompido pelo sol ofuscante e o céu azul.

– O que aconteceu? Whoooou! - A surpresa de estar à margem de um pico montanhoso embrulha o estômago do mago.

Os ventos fortes dificultavam o equilíbrio, mas foi a tempestade arcana revolta e inesperada que precipitou sua queda. Após lutar para se prender, Kariel manuseia parar num pequeno platô e enfim olha para cima, buscando entender o que acontecera.

Luzes multicoloridas formam uma aurora boreal no cume do pico montanhoso e então ela se revela. A estátua ganhava vida num esplendor atordoante. Lentamente, as luzes esfacelavam a camada de pedra e originavam a pele macia e tentadora.

– Essa é uma fração ínfima do castigo que mereces por tentar pegar o que não é seu - As palavras brotaram juntamente com um olhar fulminante e um sorriso esnobe, mas ao mesmo tempo cativante.

Sem palavras, Kariel se ergue com livro nas mãos.

– Por que não tenta me castigar depois que retomar seu brinquedo? - O mago sorri e entona desafiador.

– Então, devemos dançar agora? - O livro desvanece nas mãos do elfo e surge nas mãos dela.

– Mais ilusões? Eu quebrarei essa, assim como fiz com a anterior.

– Mortais e seus apegos à ilusões, desilusões e as demandas da realidade. - Azshara movimentava as mãos, agraciando as nuvens.

O ar dançava ao redor deles, obedecendo aos gestos da elfa.

– Como uma Deusa generosa, eu irei te mostrar como dançar com as estrelas.

Para a surpresa de Kariel, centelhas de luz perfuram o enevoado céu em sua direção. Várias transpassam, riscando a atmosfera até que uma atinge o platô, causando um a explosão ofuscante. Kariel também é atingido pelos efeitos da colisão e é arremessado.

– Grrghhh! Ela me acertou. - Ele esfregava os olhos tentando recobrar a visão e recuperar o equilíbrio - Isso não é uma mera ilusão.

A velocidade aumentava vertiginosamente em queda livre e o mago ainda percebia a perseguição de outros focos de energia em seu encalço. Premeditando o choque, ele manipula a mana com uma essência gélida que logo reveste o ar em sua volta e cristaliza-se num bloco de gelo.

A colisão contra uma colina de pedras, centenas de metros de distância do ponto que fora atingido. causa o desmoronamento de rochedos e uma onda de poeira que se eleva. O local rapidamente é alvejado por inúmeras explosões de luz semelhantes a primeira e então, o silêncio retorna.

Kariel emerge abatido dos escombros de pedra e gelo, rastejando para respirar. À sua espera, Azshara continuava com o sorriso esnobe desenhado em sua face.

– Apenas mais um rostinho bonito sem atitude. - Ela fala, arregalando os olhos, ao ouvir um sonido de metal riscando a pedra.

– Você não é a única capaz de enganar os olhos. - A imagem abatida de Kariel se desfaz e o verdadeiro surge, empunhando a Quel’delar fincada nas costas e perpassando o corpo da elfa estática.

A ilusão da bela e perigosa kaldorei se desfaz voltando a forma original.

Logo em seguida, o mago remove a espada e saqueia concomitantemente o grimório das mãos da guardiã pétrea que se desmembra em pó. O local, contudo, parecia não ter sofrido dissimulação pelo arcano. Ele realmente havia sido transportado.

– Pelo visto, eu estou em Stonetalon mountains. - Ele olhava para os lados e horizonte, atentando para geografia e vegetação da região.

Após um longo suspiro, Kariel atenta para o grimório que perdia a camada de pedra e revelava os adornos ganhando a cor dourada, como a de seu bracelete.

– O melhor agora é voltar para Quel’thalas. Eu realmente preciso descansar.



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