Vidas Em Guerra escrita por A Granger


Capítulo 5
Trovões


Notas iniciais do capítulo

Não é um dos caps que eu mais gosto, mas tem certa importancia no passado da Sarah. Bom, tambem foi um dos que eu achei mais dificeis de fazer até agora.
Bom, surpresas nos proximos capitulos. A historia começa finalmente a se desenrrolar, então boa leiruta.



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Mesmo com todas as ameaças de Bris não demorou muito para que todos os habitantes com menos de 16 anos soubessem da surra que o mais jovem Snown havia dado em Bris. O que garantiu longos meses de paz aos dois amigos.

Naquele dia, depois de muito chorar, John e Sarah voltaram para casa. Ele ainda se culpava pelo que havia acontecido com menina, mas ela estava contente pelo amigo, porque sabia que, dali em diante, os encrenqueiros pensariam duas vezes antes de incomoda-los. Mesmo assim ela tentava ignorar o fato de John tê-la salvo, só que não era bem isso que ela queria ignorar. Era a pequena irritação que isso lhe causava, junto a um sentimento estranho de contentamento pelo mesmo fato. Mas ela ainda era criança demais para que isso lhe causasse muitas reflexões.

Quanto ao treinamento, nenhum dos dois queria parar. De uma forma ou de outra havia funcionado. Além de que ambos sabiam que Bris não ficaria quieto para sempre, uma hora ele voltaria para o acerto de contas. Mas enquanto isso não acontecia os dois acabaram por aproveitar visitas ao vilarejo sem terem de se preocupar em como escapar. As caminhadas pela estrada ficaram ainda mais cheias de brincadeiras. Mas como já era de se esperar, Bris e os outros não os deixaram em paz tão facilmente. A diferença era que os dois amigos já não fugiam, eles os enfrentavam. E se antes os mais velhos tinham vantagem, agora os papéis tinham se invertido.

Mas algo a mais havia mudado: a diferença de forças entre eles. E por quê? Pensemos em termos práticos: os três encrenqueiros não tinham de enfrentar a mesma rotina diária de John. Bris era o filho do dono da mercearia; Frank o mais novo de quatro irmãos filhos de um pastor de ovelhas; e Nick, filho dos donos da pequena estalagem. Nenhum deles tinha muito o que fazer. Enquanto isso, John, o filho de um agricultor, além de ter de andar por toda a plantação, tinha que trabalhar muito nela. Ele ajudava no plantio e na colheita, e muitas vezes a carregar e descarregar a velha carroça que o pai usava para transportar os grãos até a vila. Resumindo, o passar dos anos de trabalho duro na fazenda foram tornando os músculos do menino firmes e potentes e seus ombros cada vez mais largos. No fim, apenas Bris que tinha uma idade bem superior tinha chances numa disputa com Snown mais novo.

Assim os anos foram passando. Se você puder imaginar duas crianças em uma fazenda, com uma floresta enorme em volta de suas casas e muito tempo livre, saberá exatamente como foi a infância desses dois. Mas houve um acontecimento que não foi tão simples assim. Algo que marcou os dois e, na minha opinião, só apressou o que acabaria por acontecer uma hora ou outra.

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Era uma manhã de inicio de outono quando os dois saíram da casa dele com uma cesta contendo alguns pães e queijo. Traziam também uma toalha de mesa que Sarah havia conseguido em sua casa. O plano deles era ir até o rio onde John costumava pescar. Era um lugar muito bonito, um trecho com poucas arvores próximas a margem, exceto por carvalho que parecia centenário e cuja copa se estendia até a beira da água. Aquela parte da floresta também tinha muitas frutas silvestres e nozes. Os dois pretendiam passar o dia todo ali.

Alguns dias antes Sarah havia completado 12 anos e John tinha prometido-lhe uma surpresa naquele dia. A caminhada durou pouco mais de uma hora. John foi então colher algumas frutas enquanto Sarah arrumava as coisas que haviam trazido. Quando ele voltou não a encontrou. Viu a toalha estendida junto às raízes do grande carvalho com todas as coisas arrumadas sobre ela, mas nem sinal da amiga. “Ela vai me pregar uma peça” ele pensou enquanto andava até a toalha. Era uma das brincadeiras preferidas dela arrumar uma forma nova de assustá-lo. “Se ela espera que eu vá procurá-la e caia na armadilha está muito enganada. Vou me sentar aqui e esperar ela se cansar” foi o que ele pensou enquanto sorria e se aproximava da toalha. Foi quando escutou um barulho acima de sua cabeça, entre os galhos da arvore. Olhou pra cima e viu Sarah em um dos galhos mais baixos se preparando para pular nas costas dele. A única coisa que John teve tempo de fazer antes dela pular e jogá-lo no chão foi soltar a sacola com as frutas e gritar de surpresa.

Sarah ria como nunca por ter conseguido pegá-lo, tivera a ideia por acaso, e nos últimos tempos estava cada vez mais difícil fazê-lo cair em suas pegadinhas. Logo depois dele sair para buscar as frutas ela trocou as saias por uma calça que tinha trazido dentro da cesta. Arrumou tudo embaixo da arvore e subiu pelo tronco até um galho baixo se escondeu entre as folhas e esperou que ele voltasse. Depois de pular sobre ele, estavam então os dois deitados de costas na grama baixa sob a arvore quando ele disse:

–-Podia ter machucado a nós dois, sabia?

–-Mas não pode negar que foi divertido – respondeu ela rindo e olhando para cima.

Os dois riram mais um pouco antes de se levantarem. John resolveu que era hora e mostrou a surpresa. Com a ajuda do irmão ele esculpiu duas espadas de madeira maciça, a partir de um galho grosso. Brinquedo que eles logo estrearam. Depois daquele primeiro embate os dois passaram a fazer duelos quase que todos os dias.

Naquele final de manhã e inicio de tarde eles correram, lutaram com as espadas, brincaram, e então fizeram tudo de novo. Quando tiveram fome comeram as frutas e o que haviam trazido na cesta. Depois da metade da tarde eles decidiram dormir um pouco. Deitaram-se sobre a toalha e adormeceram, mas dormiram demais. Logo que caíram no sono o tempo começou a mudar e uma tempestade começou a se formar, ventos raios e nuvens negras começaram a escurecer o final de tarde. Quando acordaram com o som de um raio já não havia tempo de voltar para casa. Tudo o que puderam fazer foi recolher suas coisas e tentar encontrar um abrigo. John os guiou pela floresta por alguns minutos de caminhada até um abrigo que ele e o irmão usavam quando tinham de dormir na floresta. Tinham-no encontrado no inverno anterior quando, voltando de uma caçada mais longa que o normal, foram pegos por uma tempestade de neve muito forte que aliada a noite os tiraram um pouco do caminho fazendo John cair por um buraco e encontrar o pequeno abrigo que era um buraco no chão com as paredes formadas por terra, pedras e as raízes de duas grandes arvores sobre ele.

Mas os dois amigos não tiveram tempo de chegar lá, na metade do caminho a chuva os atingiu com fortes rajadas de vento que impedia uma visão clara do caminho. John segurou a mão de Sarah e a guiou pelo caminho até o abrigo. Chegaram ensopados, não haveria como voltar, teriam de passar a noite ali. Lá dentro era escuro, frio e úmido, mas John e o irmão tinham feito uma espécie de cama com várias peles.

–-Não podemos dormir molhados, John – reclamou Sarah.

–-E o que você sugere? Não trouxemos outras roupas – ele respondeu.

–-Mas assim não podemos ficar – ela resmungou.

A chuva veio acompanhada de um vento frio que entrava pelas frestas da entrada do abrigo e que já fazia os dois começarem a tremer. Sarah tentou olhar o que havia a sua volta. Depois de um tempo, no qual os dentes de ambos começaram a bater, ela acabou por ter uma ideia, que não foi lá muito boa pra ela, mas que parecia a única alternativa. Ela foi até a cesta e retirou as saias que usava pela manha, não eram grandes o bastante para servirem de cobertores, mas eles poderiam se enxugar.

–-O que está fazendo? – John pergunta ao se assustar ouvindo ela rasgar a roupa.

–-Tome – ela joga metade em cima dele – eu fico de costas, você tira as roupas molhadas e se seca com isso, depois se cobre com uma das peles maiores. Então você se vira e eu faço o mesmo. Separe duas peles para nós.

–-Esta louca! Não podemos fazer isso – ele disse sentindo o rosto esquentar e agradecendo a falta de iluminação.

–-Ora, não seja fresco, John – ela respondeu irritada – Também não me agrada a ideia. E depois, corremos o risco de pegarmos uma pneumonia se continuarmos molhados assim.

–-Ma ... mas – ele tentava encontrar uma alternativa ao plano dela.

–-Mas nada. Faz logo o que eu mandei – ela o interrompeu irritada e se virou.

Sem conseguir encontrar outra opção ele a obedece. No fundo ela tinha razão, não poderiam passar a noite toda com a roupa molhada e pingando. Depois de seco ele encontra duas peles grandes (o bastante para se enrolarem), pega uma para si e deixa a outra aos pés da amiga. Quando Sarah tem certeza de que ele não esta olhando em sua direção (mesmo que enxergar naquela escuridão não fosse nada fácil), ela se troca e se seca, pega a pele e se enrola bem nela. Os dois deitam de costas um para o outro, um pouco afastados, mas o sono parece fugir deles. É quando os raios aumentam e deixam de ser apenas clarões para retumbar e fazer tremer o chão. Um tempo depois John percebe que ela esta encolhida e tremendo.

–-Frio? –ele pergunta, virando-se um pouco até poder enxergar o vulto dela.

–-Não – é a resposta curta e seca que ele recebe.

–-Então por que está tremendo? – ele insiste, nessa hora um grupo de raios clareia o interior do abrigo fazendo a terra tremer quase que imediatamente junto ao som alto. O que indica que aqueles haviam atingido o solo em algum lugar bem próximo. Quando a terra treme ele vê Sarah tremer ainda mais. “Raios? Sarah está com medo de algo?”, ele pensa. Virando-se completamente de frente pra ela ele pergunta – O que houve?

–-Nada – a resposta dela ainda é rápida e curta.

–-Então pare de tremer toda vez que ouve um trovão – ele diz.

Mal termina de falar e sente o tapa lhe acertar o ombro. Ela tinha se virado rápido e lhe acertado o golpe que estralou mesmo com a proteção da pele que ele usava. Mesmo sentido o ombro arder John ri um pouco da reação dela. Mas antes que ela lhe acerte outro tapa um enorme relâmpago ilumina o Céu e cai por perto, fazendo-a tremer mais que o chão. Ele suspira.

–-Sarah? – ele chama, como se perguntasse se ela estava bem, tentando ter a atenção da amiga.

–-Cale a boca – ela responde ainda mais ríspida e irritada, e ele acaba por sorrir um pouco.

–-Não faz mal ter medo – ele diz de forma calma

Sarah continua em silencio por um tempo. Quando ele acha que foi ignorado e que ela não responderia ouve-a falando bem baixinho:

–-Eu tinha quase cinco anos, foi logo antes de chegarmos aqui – ele se aproxima mais para escutá-la – Paramos na beira da estrada, não me lembro do por que. Veio uma tempestade como essa. Eu estava brincando na orla da floresta. Um raio caiu numa arvore bem ao meu lado. Disseram que tive sorte de não ter sido atingida também e sair só com alguns arranhados. Não ligo para os clarões e o som, mas quando a terra treme eu lembro daquele dia. Por isso fico com medo.

Ele não disse nada, não sabia o que dizer. Esticando o braço ele a segura pelo ombro. John a puxa e os dois se aproxima ainda mais, ele encosta as costas na parede. Ele solta os braços das peles e a abraça. Sarah se encolhe ao lado dele com o rosto escondido na curva do pescoço do amigo. A cada tremor ela se encolhia mais e tremia, ele a acalmava. Não levou muito tempo e mesmo com o som e a tempestade ela adormeceu. Ele fez o mesmo logo depois.

No dia seguinte eles vestiram as roupas ainda úmidas e voltaram. Os pais de ambos estavam muito preocupados, mas ficaram aliviados ao ver que os dois estavam bem. Sarah voltou para casa e John foi fazer seus deveres. Nenhum dos dois falou sobre, mas não paravam de pensar sobre aquela noite de tempestade que eles não esqueceriam nunca. Sarah se confundia quando se lembrava do cheiro e do calor do abraço dele, assim como da segurança que sentiu só por tê-lo tão perto. Ele tinha o cheiro dos cabelos dela nas memórias, além do instinto protetor que tê-la em seus braços havia despertado.

Nenhuma dessas lembranças se perdeu. Ao contrario, com o passar dos anos pareciam se tornar ainda mais vivas nas mentes deles. Que não conseguiam não notar as mudanças que aconteciam um no outro. John ficava maior, mais alto e mais forte. Sarah mais esguia e aos poucos as roupas começaram a denunciar o aparecimento das curvas. E, mesmo nenhum dos dois pensando sobre o assunto, se qualquer um perguntasse a eles era provável que dissessem achar o outro muito bonito. Com o tempo esses sentimentos foram ficando mais claros, apesar das duas partes tentarem ignorá-los.


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Notas finais do capítulo

Lembrando, surpresa nos proximos caps =]



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