Talvez ninguém pudesse perceber que algo estava errado com Superboy além de Tim. Mas isso não se devia a suas habilidades de detetive ou a toda essa coisa de “ser treinado por Batman”. Ah, e por Asa Noturna, o ex-Robin.

Não eram os sorrisos forçados nem a testa franzida, nem mesmo o ginásio semidestruído. Não. Tim sabia que algo estava errado com Conner pois ele era seu amigo.

(Mas a parte do ginásio era uma boa pista.)

Tim analisou a destruição causada pelo superclone e respirou fundo.

– Superboy, nós precisamos conversar.

O clone parou o punho que estava prestes a socar a parede a sua frente. Ele virou-se para Tim da maneira mais inocente possível e o atual Robin tentou manter a expressão dura no rosto.

Repreender Conner era quase como chutar um gatinho.

Um gatinho com superforça, supervelocidade e debilidade a kryptonita. Ele revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito.

– Posso saber o que a parede te fez?

Superboy olhou para a parede, para Tim e depois para o chão. Deixou um “nada” escapar de seus lábios antes de sentar-se no chão do ginásio com a cabeça baixa. Tim suspirou e foi sentar-se ao lado do melhor amigo.¹

– Superboy, eu não tenho telepatia como a M'gann. Você terá que falar comigo.

Os ombros do clone ficaram tensos e Tim percebeu a verdadeira razão por trás da fúria e, porque não, tristeza de Conner: a marciana de cabelos vermelhos que partiu seu coração. Em questão de milisegundos, seu olhar severo desapareceu quase por completo, sendo substituído por um de simpatia; Era verdade que nunca tivera uma namorada por isso não sabia exatamente como o clone se sentia, mas Tim experimentara a dor de perder alguém amado muito cedo em sua vida.

– Você não vai perguntar se estou bem, vai? – disse Conner, incerto.

– Umm, por que eu perguntaria isso? – Tim perguntou, sem saber se deveria achar graça.

O superclone deu de ombros.

– É o que as pessoas fazem nos filmes.

Não sei quais filmes você anda assistindo, mas isso é realmente clichê – Tim permitiu-se rir um pouco. – A menos que você seja Dick². Você sabe como ele adora clichês.

Conner soltou uma risada um pouco forçada.

– M'gann gostava de assistir esses filmes e me fazia assistir com ela.

Tim não sabia como responder a isso, em vez disso moveu-se para mais perto do clone. Superboy descansou a cabeça no ombro de Tim. Pouco tempo demorou para que encontrassem uma posição confortável, devido a diferença de altura (“ainda estou em fase de crescimento!”, resmungava Tim), mas assim que conseguiram, Robin deitou sua própria cabeça na do clone, acariciando de leve os cabelos negros com sua mão.

– Você quer conversar? – perguntou o menor.

Conner assentiu e Tim achou a atitude inegavelmente adorável.

– Eu estava pensando na M'gann.

Usando todo seu treinamento e força de vontade, Tim resistiu ao desejo de revirar os olhos. Era claro como água o amor que o clone ainda sentia pela marciana branca, apesar da mesma estando com outra pessoa. Ou seria porque ela estava com outra pessoa?

Robin tinha conhecimento da situação do superclone. Sabia que o mesmo terminara o relacionamento com medo de machucá-la ou do que aconteceria caso ela descobrisse o “problema” dele (o que viesse primeiro). Superboy a amava demais, preferindo quebrar seu próprio coração enquanto via outro cara cuidar do dela.

Uma atitude bem intencionada, porém idiota.

– Posso ouvi-la chorar todas as noites, toda a noite, porque Lagoon Boy foi capturado – continuou Conner – e eu não posso deixar de pensar que isso foi culpa minha.

– Por que você não vai consolá-la? – Tim comentou sem querer. – Vocês poderiam voltar...

– Não – o clone falou rapidamente. – Mesmo se eu o fizesse, uma hora La'gaan irá retornar e nós voltaremos a terminar. Não posso... não quero machucá-la outra vez.

– Então desse jeito você vai ser o único a se machucar? – Robin soltou um longo suspiro. – Muito esperto, Superboy.

– Sou a prova de balas, nada pode me ferir – ele disse, com um pequeno sorriso.

– Isso é verdade, mas... – Tim afastou-se um pouco, retirando a mão que há pouco acariciava os cabelos de Conner e encostando o dedo indicador no 'S' vermelho no peito do clone. – Seu coração não está imune a uma bala. E essa bala é chamada amor. Ela também é mais dolorosa do que qualquer criptonita.

Os olhos do clone arregalaram-se e um lampejo de dor atravessou seu rosto ao lembrar-se da dor que aquela pedrinha verde brilhante o fizera sentir quando lutara contra o Homem de Aço. Tim sentiu vontade de estapear sua testa, como se houvesse lidos os pensamentos do maior.

– Isso foi figurativo, Con. Não existe uma bala chamada amor.

Quando o clone pareceu acalmar-se, Robin continuou:

– Superboy... Conner, M'gann não é a única pessoa nesse mundo ou em qualquer outro. A pessoa certa está lá fora, ou mesmo aqui, esperando por você.

– Mas... Mas ela é tudo o que eu conheço.

Gentilmente, Tim empurrou Conner e arrastou-se até ficar de frente com o Garoto de Aço. O terceiro Robin inalou fundo, ponderando suas escolhas e nas consequências caso Batman viesse a descobrir que sua primeira e mais importante regra havia sido quebrada (e, é claro, Batman iria descobrir, de alguma forma).

Mesmo assim, ele decidiu-se. Com as mãos hesitantes retirou os óculos escuros que cobriam seus olhos. Ele olhou para Conner por poucos segundos antes de estender sua mão na direção do maior.

– Timothy Jackson Drake-Wayne, nascido no dia 19 de Julho. Tenho 13 anos, gosto de videogames, resolver crimes e dos biscoitos do Alfred; meu meio irmão mais velho é Asa Noturna, de dia chamado de Richard John Grayson, e também sou filho adotivo e atual ajudante de Batman, cuja identidade secreta é Bruce Wayne. Quem provavelmente vai me matar por te contar isso.

– O que...? – foi tudo o que o superclone conseguiu falar enquanto seu cérebro tentava assimilar as novas informações; sua boca estava aberta e seus olhos estavam presos nos de Tim.

– Você disse que ela era tudo o que você conhecia. Agora você me conhece – Tim falou, com as bochechas quentes, sentindo-se definitivamente em um daqueles filmes clichês que Dick tanto gostava de assistir.

Conner encarou a mão estendida a sua frente e a segurou com receio. Ela era pequena e quente, podendo facilmente ser esmagada pela sua. Conner afastou esse pensamento de sua mente, nunca iria querer que algo acontecesse ao menor, mas a mão de Tim apenas... parecia encaixar-se perfeitamente na sua, como nenhum outra, nem mesmo a de M'gann, já o fizera.

– Prazer em conhecê-lo, Timothy – disse ele sorrindo. – Eu me chamo Conner Kent.

– Eu sei. Já nos encontramos, não se lembra?

Pela primeira vez em muito tempo, Conner deixou escapar um sorriso quente e sincero. Enquanto observava aqueles olhos azuis, de uma cor tão pura, diferente dos seus próprios, sentia como se todos os seus problemas evaporavam-se lentamente, um a um. Pela primeira vez em semanas, Conner esqueceu-se de M'gann, de Lagoon Boy, de Aqualad e até mesmo de Ártemis. Tudo o que podia ver e pensar era Tim e como aqueles olhos eram belos e como apenas o toque de sua mão fazia seu coração palpitar em uma velocidade que deixaria Flash orgulhoso e Kid Flash com inveja.

– Acho que eu poderia querer conhecê-lo um pouco mais – ele deixou escapar.

Tim sorriu.

– Não é uma ideia ruim, mas devo avisar logo: eu não beijo no primeiro encontro – brincou ele, observando o rosto do clone adquirir uma cor quase igual ao 'S' de sua camisa.

O meio-Kryptoniano sentiu o coração bater com força contra seu peito quando tomou a mão do Menino Prodígio para levantar-se e, com um sorriso bobo, disse o quão bonito Tim era sem nada cobrindo seu rosto; foi a vez de Robin corar cinco tons de vermelho.

Naquele momento, passou por sua cabeça que talvez realmente existisse um arma carregada com uma bala chamada amor, e um sádico menininho de frauda (estranhamente semelhante a Asa Noturna) ficava por aí atirando em pessoas aleatória para sua diversão pessoal.

E mesmo que doesse mais do que Kryptonita, Conner sentia-se feliz por não ser imune a ela.

FIM