Mais Um Minuto Com Você escrita por Filha de Atena


Capítulo 8
Charlotte




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"Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijo na boca...
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...
Sem nada dizer..."

 As palavras de Shakespeare me definiam naquele momento choroso. Eu precisava de alguém, mas não queria ninguém. Aliás, qualquer um me acharia tola naquela situação. Chorando porque um menino fora grosso comigo, um menino que eu só sei o nome.

  Nem que eu me esforçasse, as lágrimas teimosas não paravam de cair, eu estava ali, desprovida de coragem para voltar pra casa- mesmo sabendo que não havia ninguém lá.

  - Charlotte?

  - Nicolas?- o que ele estava fazendo ali? Como ele sabia que eu estava ali? E o que era aquilo nas mãos dele?

 - Charlotte, posso falar com você?

 - Não!- eu não ia aturá-lo de novo.- Não pode. E vê se vai embora, que eu não quero mais olhar na tua cara, não precisa falar comigo nunca mais!

  Eu realmente não o queria ali, eu estava chorando e meu rosto estava vermelho, ele era a última pessoa do mundo que eu queria que me visse ali, daquele jeito.

  Virei-me e fui em direção à calçada, mas algo gelado roçou meu braço, e segundos depois, passou em torno deles e me fixou no lugar.

  -Espera, só quero que me ouça, não precisa me perdoar nem entender.

  - Na boa, o que você quer comigo? Eu já entendi que você  não queria estar aqui, eles que te arrastaram, então não vê porque falaria comigo. Agora me deixa em paz.

 - Não. E você vai me ouvir, querendo ou não.

 - Você tem cinco minutos.

 - Tá, é o suficiente.

 ***

 - Você acha mesmo que acredito nas suas desculpas? Acha mesmo que acredito que essa flor é pra mim?

  - É no que gostaria que você acreditasse. E se você o fizesse, retiraria um peso imenso de mim. Não sei porque fiz aquilo, só sei que meu pescoço dói até agora.

  - Como assim, seu pescoço?

  - Senta que lá vem a história. Depois que você saiu correndo que nem uma criança, com as mãos no rosto, meu irmão desconfiou que a culpa fosse minha, que eu tivesse falado alguma coi...

  - Então você é assim com todo mundo? - interrompi.

  - Grosso?

  - É.

  - Sim. Mas voltando ao que interessa, o Emanuel pulou em cima de mim e apertou meu pescoço. Ele gosta de ti sabia?

  - É, ele me deu uma cantada hoje. Mas ele não gosta não, ele nem me conhece direito, ele só se sente atraído, ou nem isso.

  - Se ele não estivesse nem um pouco "atraído" por você, ele não teria pulado no meu pescoço!

   Eu realmente não podia deixar de rir. Não só da situação, mas do garoto em si. Ele me parecia completamente bipolar, uma hora era grosso comigo, já alguns minutos depois, era todo sorrisos. Suas manias, confesso, apesar de fofas, me irritavam. E ele era diferente de qualquer outro, diferente até de Emanuel.

  Quando me dei conta, já estávamos no portão de minha casa.

  - Está entregue a princesinha. - disse ele em tom de deboche.

  - Não gostei, achei ofensivo.

  - Só estou te enchendo o saco! Boa noite.

  - Boa noite. - percebi que nossos dedos se tocavam, num reflexo recuei e ele pareceu assustado.

  - Se cuida criança.

  - Idiota!

  Ele deu um sorriso irônico, virou as costas e saiu, foi caminhando lentamente pela rua, balançando as laterais do casaco. E foi assim, de uma hora pra outra que meu ódio daquele menino sumiu. Puf! Que nem o sal some no mar.


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