É, não está sendo difícil me adaptar a essa cidadezinha. Só me preocupa meu primeiro dia de aula, que por sinal, é segunda agora.

A cidade tem uma biblioteca. Nada comparada às de filmes, em que estantes sobem até o teto e onde são necessárias escadas para alcançar os livros mais altos. Mas ainda sim é um paraíso. E serão alguns livros dessa biblioteca que irão me fazer companhia esse fim de semana.

Minha casa ainda está uma bagunça, então a primeira roupa que achei vesti. Calcei meu All Star preferido, passei os habituais sombra preta e delineador e prendi os cabelos em coque.

– Mãe, vou à biblioteca.

– Sozinha filha?

– Claro mãe. Eu tenho quinze anos, já sou bem grandinha. E além disso, eu estou com o celular, fui!

Uma brisa fresca tocou minhas maçãs do rosto, bagunçando ligeiramente meus cabelos. Minha mãe gritou da cozinha algo que não entendi. Coloquei meus fones de ouvido e saí.

Ruborizei imediatamente ao passar pelo portão. Os quatro garotos da rua estavam ocupados, por sorte -ou azar- o único que pareceu notar minha presença foi um garoto que estava sentado, enquanto os demais andavam de skate.

Após algumas dezenas de morros, cheguei à biblioteca. O silêncio era magnífico. Todos aqueles livros, que enchiam estantes pareciam pedir que eu lesse-os inteiros. Rezei para não estar com cara de louca, pois naquele exato momento uma gordinha, baixinha e de cabelos louro-escuro encaracolados estacou diante de mim.

– Oi. Você já leu esse livro?- como eu era a única na sala, percebi que era à mim que ela se dirigia.

– Não.- respondi analisando bem a capa e o título.

– Ah.- Ela respondeu com uma voz chorosa.- Mas obrigada. E prazer, meu nome é Bella.

– De nada. Charlotte.

Fui embora com quatro livros no braço e com uma dúvida na cabeça: porque aquela menina falou comigo?

– Ai! Cuidado!

Trombei com algo cabeludo.

– Me desculpe. Eu estava muito distraída.

O menino tinha um quê de desengonçado. Era alto, os cabelos castanhos cacheados caíam-lhe sobre a testa e os olhos marrons me fitavam.

– Sem problema. Eu sou o Leonardo. Você é nova aqui?

Os outros, ao perceber que eu supostamente conversava com o amigo deles, vieram em minha direção. Só o garoto que mais cedo estava sentado ficou para trás, apesar do olhar curioso.

– Sou sim, meu nome é Charlotte eu tenho quinze anos.

O garoto moreno, magro e dos olhos cor de mel apresentou-se como Emanuel. Algo nele me intrigava. O que se apresentou como Eduardo era loiro, olhos negros com a noite e mais corpulento que os demais.

–Meninos, eu adoraria ficar conversando com vocês, preciso mesmo conhecer gente nova, mas eu realmente tenho que entrar.

O mais simpático, Leonardo disparou:

– Olha, a gente pode te chamar amanhã no fim da tarde pra bater um papo, se conhecer mais, sabe?

– Claro isso seria ótimo!- eu não aguentaria o fim de semana todo sem conversar com alguém.

Para: Jéssica

Assunto: Amigos

Jéssica,

parece que vou em dar bem aqui. Três garotos me mostrarão o bairro amanhã enquanto conversamos, ou como diria um deles, nos conhecemos mais. Tomara que dê certo.

Minutos depois, a caixa de entrada piscou:

Res: Amigos.

Sério Char? E eles são bonitos? Você e essa sua capacidade de conquistar os meninos involuntariamente. Até hoje não entendo como nunca beijou ninguém. Qual é a explicação mesmo?

Saudades demais aqui.

Ela precisava mesmo tocar nesse assunto?