Nico sentou na cama, o seu próprio grito ainda ecoando por seus ouvidos, ofegos escapando sua garganta seca e seu corpo respingando suor, mesmo que só usasse uma boxer no momento. Não tinha completa certeza se havia gritado só no pesadelo ou se havia falado enquanto dormia, mas não era algo com o qual se importava agora, tudo o que passava por sua cabeça era aquelas lembranças horríveis e dolorosas, que pareciam prometer assombrá-lo para o resto de sua vida.

Seus ofegos eram altos, ao contrário dos sussurros que ainda martelavam em sua cabeça. Entrar naquele lugar foi terrível, todo o transe entre a morte e a vida era agonizante. Nico pensava que estaria bem... Não, não bem, mas melhor, quando saísse daquele inferno, mas parecia enganado. Era tão aterrorizante quanto realmente estar lá, apesar de nada ser físico, a dor mental não era menos dolorosa.

– Nico? – Disse uma voz, vinda do outro lado do quarto em que se encontrava, tirando o filho de Hades de seus devaneios. O garoto virou seu rosto em direção à voz que tão bem conhecia e que o confortava toda vez que tinha seus “ataques”. – Pesadelos outra vez? – Continuou o dono da voz, dessa vez se aproximando de onde Nico se encontrava.

– S-sim – Gaguejou Nico. Sua voz – que normalmente era grave – não passava de um mero murmúrio que se quebrou no final, revelando que ele estava prestes a chorar. O outro garoto de aproximou mais do outro, deixando a luz trêmula e fraca da lua contornar sua silhueta.

Leo Valdez sorriu, sentando-se ao lado de Nico e puxando-o para um abraço. O filho de Hades sorriu levemente em meio aos soluços ao sentir o calor reconfortante de Leo o embalar, mesmo que ainda chorasse contra seu ombro. Passaram alguns minutos assim, só abraçados, Nico chorando e Leo o apertando cuidadosamente, ou então fazendo círculos em suas costas. Quando o garoto pálido se acalmou um pouco, suspirou e se afastou de Leo com um leve empurro.

Por um momento se encararam, castanho no preto, antes de Nico desviar o olhar, corando levemente. Leo sorriu ao notar a vermelhidão no rosto pálido do outro, deitando-se na cama. O latino deu duas batidinhas ao seu lado, indicando para di Angelo deitar-se ao seu lado, o que ele não tardou a fazer.

Se viraram um de frente para o outro, encarando-se. Nico se encolheu contra o peito de Leo, que por sua vez o abraçou. O garoto de cabelos negros suspirou, novamente sentindo o calor de Leo contra seu corpo pálido e frio.

– Sabe, Leo... – Nico começou a falar, ouvindo um murmúrio vindo de Leo indicando que ele estava ouvindo. – Você me apara enquanto eu caio... É só ver que você está aqui que tudo some, se você não estivesse por perto eu cairia dentro de mim mesmo. Toda a verdade dos pesadelos que eu tenho poderiam me levar à loucura, mas eu sempre consigo parar a dor graças a você – Continuou o rapaz, recebendo um aperto afetivo de Leo. – Eu tenho medo de tudo que vejo e tudo que vi relacionado àquele lugar, mas mesmo assim tenho a sensação que tem muito mais por vir... – Nico parou por alguns segundos, suspirando profundamente para tentar impedir mais lágrimas de rolarem por seu rosto. – Eu fico imobilizado pelo medo e, logo após, cego pelas lágrimas.

Leo ficou por alguns segundos em silêncio, apenas aproximando Nico de si, em um primeiro instante não sabia o que dizer, mas logo algo veio à sua mente. Uma única, pequena frase, mas que tinha um impacto maior do que o desejado.

– E eu te agradeço por me fazer ver que se vale a pena viver – Murmurou o latino. E com essa única frase, fez Nico sorrir e o puxar para um beijo. Um beijo terno e calmo.

Talvez aquilo fosse estranho para qualquer um que visse, mas era o pequeno segredo deles, algo que ninguém poderia tirar.