Plantio Maldito escrita por fosforosmalone


Capítulo 4
Prenúncio da tempestade


Notas iniciais do capítulo


Perdoem a demora gigantesca em atualizar a historia, mas a coisa andou muito corrida por aqui. Acredito que devo começar a postar os capítulos com mais regularidade

Como faz muito tempo que postei, segue aqui nas notas iniciais um pequeno previously dos principais acontecimentos que acarretam neste capítulo.

Boa leitura!

ANTERIORMENTE EM PLANTIO MALDITO


LINDA

— Eu estou grávida (Diz em um fôlego só).


TIMOTH

— Quem é o pai?

Uma lágrima escorre do rosto dela.

LINDA

— Rob Soul é o pai


Timoth, Linda e a Família Soul estão sentados na sala dos Soul.

TIMOTH

— Muito bem. Agora a pergunta que realmente me interessa, Rob. Você quer casar com a minha filha?


ROB

— Eu amo a Linda, Xerife Harris. Eu quero me casar com ela.


O Assistente Doyle surge na porta da casa dos Soul.


DOYLE

— Estamos com dois garotos sumidos, Xerife. Keith Winter e Wally Thorbald não voltaram pra casa.


David, acompanhado de Wally, Deigan, Keith e Zack andam pelo milharal.

Os pés de milho atacam os adolescentes.


No milharal, o pequeno David enterra uma foice na cabeça de Keith.

Wally tenta estrangular David, mas Deigan degola Wally com o seu canivete.


DAVID

— A jornada para a salvação pode ser difícil. Sacrifícios são precisos para atingir o bem maior.

Na cozinha de casa, David crava uma tesoura no pescoço de Julie, sua mãe.

No milharal, Deigan cai de joelhos diante do garoto David.


DAVID

Você acaba de renascer, Irmão. E pra mostrar isso diante daquele que Anda Por Trás Das Fileiras, você passara a ser chamado de Amos a partir de agora.

DAVID

Temos que ser fortes, Irmão. Ainda há muito trabalho há ser feito em Gatlin. Há muito que construir. Estamos só começando.







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"Eis que a tempestade do Senhor, a sua indignação, já saiu; uma tempestade varredora, cairá cruelmente sobre a cabeça dos ímpios."

LIVRO DE JEREMIAS

DELEGACIA DE GATLIN

Timoth entra em seu escritório acompanhado de seu assistente, Stuart Doyle. Eles acabam de voltar da casa de May Winter, a mãe de Keith. O rapaz não havia voltado pra casa desde que saiu pra ir pra escola naquela manhã, e nem deu sinal de vida. A mãe foi procurar o rapaz na casa vizinha, onde mora Wally Thorbald, outro garoto com quem Keith vive grudado.

Lá, a Sra. Winter descobriu que Wally também não havia voltado pra casa. Preocupada, May foi até o Corns Bar, um boteco perto dos limites da cidade, e único local em que se encontra algo que se pode chamar de vida noturna em Gatlin. Mas os dois rapazes não estavam lá. May então foi até a delegacia da cidade, atrás de ajuda para achar o seu filho.

Embora estivessem sumidos há poucas horas, Doyle achou melhor levar o caso ao Xerife. Em Gatlin, em noites em que não havia festa ou nenhum tipo de evento, mesmo arruaceiros como Keith e Wally voltavam pra casa cedo em um dia de semana.

Neste momento, Tim começa a preparar um café, enquanto Stuart acomoda-se em sua mesa.

DOYLE

Acha que a Sra. Winter pode estar exagerando?

TIMOTH

Talvez. Aqueles dois nunca foram nenhum exemplo. Prendemos Wally uma vez, lembra?

DOYLE

Claro. Ele e mais outro quebraram o nariz de um menino.

TIMOTH

Quem foi o outro que nós prendemos junto com Wally mesmo?

DOYLE

Deigan pelo que eu me lembro. Richard Deigan.

CASA DO XERIFE: AMANHECER

O Xerife Timoth Harris entra em sua casa, e sente o cheiro de ovos mexidos. Ele entra na cozinha esperando ver Linda, mas não é a sua filha que esta diante do fogão, mas sim Annie.

TIMOTH

Achei que já tivesse ido pra casa (Diz surpreso).

ANNIE

Não quis deixar as meninas sozinhas.

TIMOTH

Você dormiu pelo menos? (Pergunta sentando-se)

ANNIE

Não se preocupe com isso. Linda me contou sobre os rapazes. Você os achou?

TIMOTH

Não. Mas se quer saber a minha opinião, esses dois devem estar bêbados em algum canto.

ANNIE

Keith Winter e Wally Thorbald, não é? Eles foram meus alunos. Wally era uma peste quando criança. E até onde eu saiba, não melhorou com a idade.

Ela senta-se a mesa com Timoth, servindo-lhe o prato de ovos mexidos.

ANNIE

O que vai acontecer?

TIMOTH

Ah, não se preocupe. Eles vão aparecer cedo ou tarde.

ANNIE

Eu estava falando de Linda e do bebê

Tim permanece em silêncio, tentando afastar a memória de que sua garotinha agora será mãe.

TIMOTH

Marquei um exame para ela em Lexington amanhã. Quero saber como o bebê esta.

Ela sorri com aprovação, enquanto toma um gole do seu próprio café.

TIMOTH

Você acha uma boa ideia... Linda ir ao colégio?

ANNIE

Sua filha não esta doente. Sua filha esta grávida. As pessoas vão falar dela. Elas sempre falam. Mas Linda é forte. Ela aguenta.

ESCOLA BLOCH: HORAS DEPOIS

O Xerife estaciona seu carro em frente á escola. Após pedir para a filha mais nova descer, Timoth coloca delicadamente a mão no braço de Linda.

TIMOTH

Procure não se esforçar muito. Você tem que se cuidar em dobro agora e...

O Xerife suspira longamente, tirando o chapéu da cabeça.

TIMOTH

Avise aos seus professores que você não vai a aula amanhã. Vamos fazer o seu pré natal.

Após um breve momento de hesitação, a garota se inclina e beija o rosto do pai.

LINDA

Obrigado.Por... Estar se esforçando (Diz sorrindo carinhosamente)

PÁTIO DA ESCOLA BLOCH

A pequena Kathryn esta com mais três amigas, brincando de pular corda. A filha mais nova do Xerife segura uma das pontas da corda, enquanto a menina chamada Cheryl pula habilmente. Kathryn e sua outra amiga aumentam a velocidade da corda. A princípio, Cheryl sai-se bem, mas no oitavo pulo seu pé se enrosca na corda, e ela cai de joelhos no chão.

KATHRYN

Cheryl!

Kathryn e a outra menina correm até Cheryl, que segura o joelho avermelhado, enquanto seus olhos se enchem de lágrimas. Algumas crianças em volta param para ver o que aconteceu.

CHERYL

Tá doendo!

Uma pequena sombra cobre momentaneamente as meninas. Kathryn ergue os olhos, e vê um garoto de cabelos negros ajoelhar-se ao seu lado. David tem o rosto marcado por leves olheiras.

DAVID

Eu posso ver?

Antes que Kathryn possa impedi-lo, David estica os braços, pousando as mãos delicadamente sobre o joelho de Cheryl. A menina para de chorar, e olha para David com surpresa e fascínio.

DAVID

Melhorou?

Uma supervisora abre caminho entre as crianças até chegar aonde Cheryl esta caída.

SUPERVISORA

Tudo bem por aqui?

David ergue Cheryl do chão. O menino fala com uma voz macia como veludo.

CHERYL

Eu caí. Mas to bem agora (Diz parecendo um pouco confusa)

A supervisora lança um olhar desconfiado para a menina, e vai embora. Kathryn olha curiosa para o joelho da amiga, que não está vermelho nem ralado.

CHERYL

Obrigada.

David sorri para ela, como quem diz que não há o que agradecer.

KATHRYN

Qual é o seu nome mesmo?

DAVID

David. O seu é Kathryn, né? (pergunta sorrindo)

KATHRYN

Como foi que você fez pra dor dela sarar? (diz desconfiada)

David simplesmente sorri, e sobe em um banco do pátio , ficando de pé sobre ele. Kathryn observa o menino, enquanto outras crianças fazem o mesmo. Ele fala em voz alta para todos.

DAVID

Eu queria convidar todo mundo aqui pra uma festa que eu vou fazer lá na minha casa. Vai ter comida como se não via há muito tempo nessa cidade. Garanto que ninguém aqui vai esquecer. Vão passando adiante, por favor.

David estica maços de papeis para algumas crianças ao redor, entre elas Cheryl, que começaram a distribuir os papéis entre si. Kathryn recebe um dos convites das mãos da amiga. O convite é feito de papel cartão branco, contornado com folhas de milho cuidadosamente costuradas ao papel. No convite se lê em uma caligrafia caprichada a seguinte mensagem “David convida você para uma grande festa de aniversário no Rancho Franklin, amanhã, 26 de agosto de 1964 as 16:30. A fartura é uma promessa. Tendo fé que todos venham, David Franklin”.

RECREIO: HORAS DEPOIS

Linda esta sozinha na sala de musica. Por ser assistente da Professora Marion, ela possui a chave da sala. A aula havia acabado há alguns minutos, mas a jovem permaneceu na sala. A garota senta-se em frente ao piano, e dá algumas dedilhadas. A professora dizia que Linda tinha o potencial para ser uma pianista brilhante, e que poderia ter um grande futuro na musica se quisesse. Levando a mão a barriga, Linda pensa que este é um sonho que deve ficar para trás. Ao ouvir sons de passos na entrada da sala, a estudante vira-se e vê Rob, o pai do seu filho.

LINDA

Entre Rob.

O rapaz a encara em silencio por alguns instantes enquanto entra na sala.

ROB

Eu sinto muito, Linda. Por tudo.

LINDA

Eu já disse que você não tem que sentir. Nós dois fizemos essa criança .

O rapaz se aproxima dela, ficando ao seu lado.

ROB

E vamos cuidar dela.

LINDA

Você falou sério ontem na casa dos seus pais? Quando disse que queria casar comigo por que me amava?

Rob coloca as mãos sobre os ombros de Linda, e inclinando-se sobre ela, lhe planta um delicado beijo na boca, ajoelhando-se ao lado da moça em seguida.

ROB

Eu nunca falei tão sério na vida.

LINDA

Não vai ser fácil.

ROB

Eu sei. Mas a gente vai conseguir. Juntos.

Linda sente as lágrimas queimarem em seus olhos ao ouvirem aquelas palavras. Em um impulso, ela envolve o pescoço do namorado, dando-lhe um beijo apaixonado.

HORAS DEPOIS

O sinal de saída tocou. Linda joga o seu material na mochila, e levanta-se para sair. A moça não via a hora de chegar em casa. Ninguém havia falado sobre a gravidez, mas ela sentia de que alguma forma a notícia havia se espalhado. Não há como guardar segredos em Gatlin. Ao longo da manhã, ela sentiu os olhares dos professores, e dos colegas. Já não aguentava mais.

Quando estava saindo da sala, Richard Deigan barrou a sua passagem.

LINDA

Sai da minha frente, Deigan. Eu to com um pressa (Diz irritada)

DEIGAN

Calma, Harris, eu vim em paz.

LINDA

Então diz logo o que quer de mim!

DEIGAN

Eu quero te fazer um convite. Vai ter uma festa amanhã lá pelas quatro e meia da tarde. A gente tá se organizando pro pessoal ir em grupos e...

LINDA

Desculpe, mas eu to com muita coisa pra fazer. Fica pra próxima.

Linda passa apressada por Deigan, que a segue, continuando a falar.

DEIGAN

Você tá passando por uma barra. Talvez seja uma boa ideia ir. Pode lhe dar alguma luz sobre o futuro.

Linda vira-se com a raiva queimando nos olhos.

LINDA

Eu não to interessada! (Diz com a voz gélida)

Deigan encara Linda por um instante, como se a medisse. Depois ri, e dá de ombros.

DEIGAN

Você que sabe. Mas Pensa no que eu disse. Talvez você mude de ideia.

ARREDORES DA ESCOLA BLOCH

Amos, que um dia foi Richard Deigan caminha pela rua. Seguindo as ordens de David ele e Zack permaneceram separados, cumprindo a missão que lhes foi dada. Os dois espalharam para todos os jovens do colégio sofre “a festa” no Rancho Franklin que aconteceria no dia seguinte.

Tanto Deigan quanto Zack tinham influência o bastante para fazerem os colegas quererem ir a festa, ou pelo menos a maioria. O rapaz estava feliz. A missão que “Aquele Que Anda Atrás das Fileiras” havia dado a ele através de David havia sido comprida. Deigan é arrancado de seus pensamentos ao ouvir uma buzina. A caminhonete do xerife o esta seguindo em marcha lenta.

TIMOTH

Oi, Richard. Eu queria falar com você, pode ser? Entre no carro, eu te dou uma carona.

DEIGAN

Valeu Xerife, mas não precisa.

TIMOTH

Dois colegas seus desapareceram, Richard. Podemos conversar aqui ou na delegacia.

O tom de voz de Timoth não foi agressivo, porem foi firme o suficiente para fazer Deigan parar de andar . O xerife para o carro, e desce do veículo, sem desviar os olhos do rapaz.

TIMOTH

O porteiro me contou que você saiu da escola com Keith Winter e Wally Thorbald ontem.

DEIGAN

E o que tem de errado nisso?! (Diz agressivamente)

TIMOTH

Não há nada de errado em você sair com seus amigos da escola. Então, por que está tão nervoso?

O rapaz dá uma risadinha forçada.

DEIGAN

Polícia sempre deixa todo mundo nervoso, né?

O jovem dá uma nova risadinha, mas Timoth não esboça nenhum sorriso.

TIMOTH

Quando foi a ultima vez que viu os dois?

DEIGAN

Ontem. A gente deu umas voltas depois da aula, e depois cada um foi pra um lado.

TIMOTH

Que horas “cada um foi pro seu lado” e onde exatamente vocês deram “Umas Voltas”?

DEIGAN

No campo. Não sei dizer onde. Também não sei dizer a hora, mas já tava anoitecendo.

TIMOTH

Keith e Wally não pareciam estranhos? Disseram algo sobre sair da cidade?

DEIGAN

Não. Que eu me lembre não disseram nada.

TIMOTH

Recapitulando. Você, Zack Stanton, Wally e Keith saíram da escola, bateram perna no campo o dia todo, e então cada um foi pro seu lado?

DEIGAN

Isso.

Timoth observa a expressão no rosto do ruivo. O garoto estava com medo. E não era da polícia.

TIMOTH

O porteiro da escola também disse que viu vocês quatro conversando com um menininho quando saíram ontem. Quem era ele?

DEIGAN

Eu... Eu não lembro (Diz com a voz trêmula)

TIMOTH

Como assim não lembra? Você estava lá.

DEIGAN

Era só um pirralho que a gente tava implicando, Ok! (Grita ele)

Timoth espanta-se com o pânico nos olhos do rapaz. Ele estava simplesmente apavorado.

TIMOTH

Muito bem. Pode ir agora. Mas se estiver escondendo alguma coisa, eu vou descobrir.

Deigan volta a virar as costas para Timoth, e sai andando em passo apressado, deixando o Xerife intrigado. A menção ao tal menino pareceu assustar Deigan mais do que qualquer coisa.

HORAS DEPOIS

Zack Stanton sai de dentro de uma casa, acompanhado de seu pequeno irmão Scott, de sete anos. May Winter, a mãe de Keith estava seguindo os irmãos há horas. Doyle lhe contou que havia interrogado Zack pela manhã, e que ele não sabia nada sobre Keith. O policial disse a mulher pra ela não se preocupar. Keith provavelmente havia se metido em uma farra e ido parar em uma das distantes cidades vizinhas. Mas seu coração dizia que algo de ruim havia acontecido com seu filho, e que Zack e aquele Deigan sabiam o que era.

Depois de conversar com Doyle no começo da tarde, a mulher foi direto para a casa de Zack, e viu quando os dois irmãos saíram de casa de bicicleta. Desde então, ela os tem seguido em sua própria bicicleta. Mas tudo o que os irmãos fizeram foi parar em algumas casas. Às vezes eles entravam e permaneciam algum tempo no local, em outros casos, os dois apenas conversavam com jovens em frente das casas. O que May achou curioso é que enquanto alguns desses jovens eram adolescentes, outros claramente eram colegas do pequeno Scott.

Mas o importante é que cedo ou tarde, Zack a levaria até o seu filho.

CASA DO XERIFE HARRIS

Assim que Timoth entra em casa, ele mal tem tempo de tirar o chapéu, quando Kathryn vem corre sorrindo em sua direção. Timoth se agacha, e abraça a filha mais nova com força.

KATHRYN

Como foi o trabalho, papai?

TIMOTH

Foi difícil, filha. Mas nada que o papai não possa dar conta. Cadê os seus irmãos?

KATHRYN

A Linda tá no quarto dela, e o Dan tá na sala com a Srta. Leigh.

TIMOTH

Annie esta aqui? (Diz surpreso)

Timoth entra junto com a filha na sala, e vê Annie embalando Dan em seu carrinho de bebê.

TIMOTH

Que surpresa boa, Annie. (Diz abafando um sorriso)

A professora parece um pouco envergonhada.

ANNIE

Ola Timoth. Linda queria conversar um pouco e me chamou. Ela parecia cansada, então mandei ela deitar. Então achei melhor esperar você chegar, por causa das crianças.

TIMOTH

Obrigado

ANNIE

Já deve estar cansado de me ver por aqui, não é? (Diz a professora sorrindo)

TIMOTH

Na verdade, eu estou aliviado. Kathryn, não tá na hora dos desenhos do Pernalonga?.

KATHRYN

É mesmo! Licença, Pai! Licença Srta. Leigh (Diz a menina antes de sair correndo).

O Xerife e a professora se olham e riem.

TIMOTH

Você fez o meu café hoje. Será que eu posso retribuir?

COZINHA

Timoth entrega uma xícara de café a Annie, e senta-se de frente para ela na mesa da cozinha.

ANNIE

Tim, eu acho importante você saber que é pela Linda que eu estou aqui. Ela não tem ninguém pra conversar sobre o que esta acontecendo e...

TIMOTH

Annie, você não precisa...

ANNIE

Eu acho que preciso. Eu não quero que você pense nem por um segundo que eu estou me aproveitando da situação, ou tentando substituir a Martha de alguma forma.

Tim estica o braço sobre a mesa, e segura a mão de Annie, como ela fez com ele antes..

TIMOTH

Eu estou muito feliz que você esteja aqui, e onde quer que esteja, a Martha também esta.

Annie olha para os olhos verdes de Timoth, e lembra-se de sua adolescência. Ela passou grande parte de sua juventude o amando. E parte dela nunca deixou de amá-lo.

Mas ela foi sincera. Era por Linda que fazia aquilo. Como a garota, Annie também passou a adolescência sem uma mãe. Ela não podia imaginar pelo que a moça estava passando, mas embora não fosse a mãe dela, faria todo o possível para dar apoio a garota.

ANNIE

Já tá ficando tarde. Melhor eu ir andando (Diz pondo-se de pé)

TIMOTH

Eu te levo em casa.

ANNIE

Não precisa. Mas pode me levar até a porta se quiser.

O Xerife levanta-se para acompanha-la. Ao passar pela bancada da cozinha, bate em uma mochila cor de rosa, que cai no chão. Timoth a recolhe com impaciência.

TIMOTH

Eu já falei pra Kathryn não deixar as coisas dela espalhadas por ai!

Um papel cai da mochila de Kathryn quando Timoth a põe de volta no balcão. Annie recolhe o papel do chão, com um olhar intrigado.

ANNIE

Dá uma olhada nisso (diz entregando o papel a Timoth)

Timoth lê as estranhas palavras escritas á mão, e devolve o papel para Annie.

TIMOTH

Um pouco cedo pros Franklin darem uma festa, não acha?

Annie volta a olhar para aquele estranho convite, adornado com folhas de milho. As palavras escritas naquele convite não pareciam com nenhum outro convite que ela já havia visto para uma festa de criança. Por alguma razão que não soube explicar, a professora estremeceu.

CASA DOS FRANKLIN

Os últimos raios de sol entram pela janela da cozinha. David encontra-se sentado na mesma cadeira onde matou a mãe no dia anterior. O menino ainda veste as roupas escuras que usou no colégio naquela manhã, e parece exausto, estando de olhos fechados com a cabeça sobre a mesa. David abre os olhos, e vira a cabeça para á porta, antes mesmo de Deigan surgir na soleira.

Mesmo na luz fraca da cozinha, o rapaz consegue perceber as olheiras fundas em torno dos olhos do menino, assim como a sua palidez.

DAVID

Como foi a sua missão?

DEIGAN

Foi bem. Falei pra todo mundo que ia ter uma festa aqui amanhã.

DAVID

E você tem certeza que eles vêm?

O rapaz dá um meio sorriso.

DEIGAN

É só fazer o convite pras pessoas certas. Eu sei fazer uma festa, pirralho.

Quando o menino se levanta da cadeira, Deigan imediatamente se arrepende do seu comentário. Mesmo parecendo exausto, ainda havia algo assustador no olhar daquela criança, que fez o ex- valentão da Escola Bloch recuar alguns passos.

DAVID

Eu sei que sabe. Mas lembre que não é uma festa. É algo muito maior (Diz com frieza).

Deigan concorda, mantendo a cabeça baixa.

DAVID

E é bom não esquecer. Tem mais algo pra me contar?

DEIGAN

O Xerife veio me perguntar sobre os rapazes. Mas eu não disse nada! (Diz rapidamente).

O menino manteve-se pensativo por um momento antes de responder.

DAVID

Ele percebeu alguma coisa?

DEIGAN

O Xerife Harris sempre foi um cara desconfiado. Mas acho que não sacou nada.

DAVID

Aquele que Anda por Trás das fileiras me falou sobre alguém que pode atrapalhar nossa missão sagrada. Um homem azul. O uniforme do xerife é azul, né?

Deigan concorda com a cabeça com certo assombro.

DAVID

Aquele que Anda atrás das fileiras me disse que devemos ter muito cuidado com ele.

DEIGAN

Mas o Xerife é só um cara. Se o que você falou que ia acontecer realmente...

DAVID

Vai acontecer! (Grita o menino)

Deigan já vira alguns meninos se esforçarem para engrossar a voz na tentativa de intimidar os outros. Geralmente o resultado é risível. Mas David não fez esforço nenhum. A voz dele saiu tão grossa quanto pode ser a voz de um garoto de oito anos. E fez o seu coração pular no peito.

DAVID

Não vamos subestimar o inimigo, Amos. O homem azul pode pôr tudo a perder. Mas não se preocupe. Aquele que anda atrás das fileiras me disse como lidar com ele.

CASA DO XERIFE HARRIS

Timoth está sozinho, sentado na poltrona da sala, enquanto o Kingston Trio canta “O Willow Waly” no rádio. O carrinho de Dan esta ao seu lado. Ele esta quase dormindo quando sente alguém tocando a sua mão. Ao abrir os olhos, o Xerife Harris vê o rosto de Linda.

LINDA

Você não devia dormir na poltrona, pai. Já tomou café?

O homem levanta-se da poltrona, esfregando os olhos.

TIMOTH

Tomei sim. Não se preocupe.

Timoth anda até o rádio que continua a tocar o som do Kingston Trio.

TIMOTH

Essa musica era uma canção infantil, lembra?

LINDA

Claro que sim. A mamãe costumava cantar pra mim. Acho que a letra era um pouco diferente, mas a musica era essa mesma (Diz lembrando-se da mãe).

Os dois ficam em silêncio, ouvindo os músicos cantarem:

“We lay my Love and I beneath the weeping willow”

“But Now alone I lie and weep beside the tree”

“Singing “Oh willow waly” by the tree that weeps with me”

“Singing “Oh willow waly” till my love return to me”

“A broken heart have I. Oh willow I die, Oh willow I die”

O Xerife desliga o rádio e volta-se para Linda.

TIMOTH

Eu preciso te pedir desculpas, filha. Pelo que eu disse sobre a sua mãe ontem. Eu estava nervoso, mas isso não é desculpa. Foi errado usar o nome de sua mãe.

A moça leva a mão ao ombro de Timoth.

LINDA

Tá tudo bem, pai. Vai ficar tudo bem.

TIMOTH

Vai sim (Diz dando um beijo na testa da filha);

LINDA

Pai, eu quero te pedir uma coisa. Eu falei com Rob hoje. Ele quer ir com a gente fazer os exames amanhã.

TIMOTH

Ele te pediu pra me dizer isso? (Pergunta desconfiado)

LINDA

Rob queria falar com você, mas eu insisti pra que não. Eu quis falar com você primeiro.

Timoth pesa as palavras da filha por um instante antes de responder.

TIMOTH

Ele é o pai. Tem direito. Eu vou ligar pra ele pra dizer a que horas o pegaremos amanhã.

RANCHO FRANKLIN

Escondida no milharal, May observa os Stanton acomodar as bicicletas ao lado da casa dos Franklin, e bater na porta dos fundos. Segundos depois, ela vê Richard Deigan abrir a porta para os dois, e lançar um olhar suspeito em volta. Por um momento, May acha que o rapaz á havia visto entre os pés de milho quando olhou em sua direção, mas ela logo concluiu que foi apenas impressão quando Deigan deixou Zack e Scott entrarem, e fechou a porta.

Foi difícil seguir os Stanton sem que estes percebessem. Enquanto ficaram na cidade foi fácil, mas quando foram para o campo, a coisa se complicou. Várias vezes, a mulher teve que pegar outros trechos da estrada para evitar que os garotos notassem que estavam sendo seguidos. Mas May viveu em Gatlin a vida toda, e conhecia os caminhos da região. Assim, embora perdesse os Stanton de vista vez ou outra, logo os encontrava novamente.

Após os garotos entrarem, a Sra. Winter aproxima-se o mais silenciosamente possível da casa, olhando para janela da cozinha para certificar-se de não estar sendo observada. Ao chegar a construção a mulher encostou-se sorrateiramente na parede e espiou para dentro da cozinha, mas tudo que ela viu foi a silhueta da mesa da cozinha recortada na escuridão.

A mulher levou a mão até a maçaneta da porta, e lentamente começou a empurra-la para baixo. May tinha a impressão de ouvir cada estalo que o metal da maçaneta dava a medida que ela o ia empurrando, como se cada pequeno estalo fosse um rojão. Mas era apenas impressão, e assim que a maçaneta desceu até o limite, May empurrou a porta, mas ela resistiu. Estava trancada.

Praguejando em silêncio, a mulher começou a dar a volta na casa.

May chegou a escura varanda da casa, e subiu os dois degraus que levavam em direção a porta o mais silenciosamente possível. Mesmo assim, ela voltou a ter a incomoda sensação de audição ampliada, ao sentir a madeira do chão ranger levemente sob os seus pés. A mãe de Keith Winter parou diante da porta, tentando ouvir algum ruído ou conversa dentro da casa, mas não escutou som algum. Eles deviam estar no andar de cima, pensou ela.

Uma vez mais, a mulher colocou a mão sobre a maçaneta. Desta vez, o metal não estalou nenhuma vez. A maçaneta girou com descrição, e a mulher percebeu eufórica que a porta estava destrancada. May começou a sentir o coração bater mais forte dentro do peito.

Com a certeza que encontraria as respostas sobre o seu filho, May empurra lentamente a porta, enquanto entra na casa. Infelizmente, May não tinha como ver que no outro lado da porta, um barbante estava amarrado a maçaneta, nem que a outra ponta do barbante estava amarrada a um causo de madeira em uma estante suspensa ao lado da porta, que segurava uma bola de boliche.

Assim, enquanto May abria lentamente a porta, o barbante foi tencionado, puxando lentamente o causo que segurava a bola. Quando a mulher abriu completamente a porta e parou na soleira, só teve tempo de ouvir o som de algo rolando antes de sentir algo bastante pesado bater em sua cabeça.

Dois fortes ruídos encheram a casa em sequência. O primeiro foi o som da bola de boliche caindo no chão, o segundo foi o baque do próprio corpo de May, que caiu desacordada.

A bola rola pelo chão até ser parada pelo pé de Deigan, que sai de dentro da cozinha acompanhado de David.

DAVID

Eu duvidei que isso fosse funcionar, mas não é que deu certo? (Diz satisfeito).

DEIGAN

Ela ainda tá viva?

Como se respondesse a pergunta do rapaz, May dá um fraco gemido de dor. David sorri, erguendo levemente a sobrancelha.

DAVID

Vamos prepara-la.

POUCO TEMPO DEPOIS

May acorda com a sensação de algo lhe apertando a garganta. Ela abre os olhos, arquejando em busca de ar, enquanto sente a cabeça latejando desesperadamente. A mulher percebe que esta de pé, e tem algo enrolado em volta de seu pescoço. Ela tenta mexer as mãos, mas elas estão amarradas.

A mulher olha apavorada ao redor, e percebe que o local esta iluminado por velas. Ela olha para baixo, e vê que esta de pé em uma cadeira. A corda enrolada em seu pescoço esta amarrada no balaustre do topo da escada. Com os olhos começando a encherem-se de lágrimas, May vê Zack e Scott surgirem de um dos cômodos. Os dois parecem olhar para ela com certo receio, especialmente o menino.

MAY

O que... O que vocês estão fazendo?! Cadê o meu filho?! Cadê o Keith?!

May debate-se um pouco e quase cai da cadeira. Quando a corda tenciona-se em seu pescoço, ela tosse, engasgada com a saliva, enquanto sente o coração pular. Um terceiro rapaz surge diante da mulher, sem que ela consiga definir de onde ele veio.

DEIGAN

Cuidado, Sra. Winter. A senhora vai acabar se enforcando.

Diferente dos outros dois, Deigan não parece assustado ou temeroso. Há certo prazer no rosto do rapaz que a assusta.

MAY

Deigan! Seu marginal desgraçado! Eu sabia que Keith não devia andar com você! Onde ele está?!

DEIGAN

Morto.

As palavras do rapaz atingem May como uma bofetada. Ela sente o desespero subir pelo seu corpo como vapor sendo expelido de uma chaleira. As lágrimas desceram fartas pelo seu rosto.

MAY

Não! Seus filhos da puta! Não! Meu deus!

DAVID

Seu deus não vai ajuda-la.

A voz que veio de cima da cabeça de May era a voz de um simples menino, mas o jeito como ele falava fez seu sangue gelar nas veias. David esta no alto da escada, observando a mulher amarrada com desprezo. O menino começa a descer as escadas.

DAVID

Mas pelo menos a senhora acredita em alguma coisa. Keith não. Ele era um descrente. Eu tentei salvá-lo, mas o seu filho não queria ser salvo. Então eu tive que mata-lo.

MAY

Você... Você o matou?

David termina de descer as escadas, e já era visível para May. Mas o menino começa a andar em direção a um cômodo escuro, sendo aos poucos engolido pela escuridão.

DAVID

Foi preciso. Era a vontade de Deus. O verdadeiro. O que se importa de verdade.

MAY

Como... Como pôde? Você é só uma criança. (Diz com a voz trêmula)

DAVID

Por isso ele me escolheu. Por que eu sou puro. Por que a minha alma não foi corrompida. Já você, Sra. Winter, não tem salvação. Sua alma esta velha demais.

MAY

Você... Você é um monstro (Diz com o horror estampado no rosto)

DAVID

Não, Sra. Winter. Eu tive uma professora no ano passado. A Srta. Leigh. Ela era excelente. Ela disse que um monstro é alguém que não sente nada depois de fazer algo errado. Eu sabia que não havia nada de errado no que eu fiz, mas ainda assim parecia errado. E doeu, Sra. Winter. Doeu pra caramba fazer isso.

A mulher vê uma pequena chama surgir na escuridão que engolfou David, vinda de um isqueiro que o menino segurava. Ele acendeu velas apoiadas em alguns moveis, e a luz do fogo revelou á May a macabra visão de Julie Franklyn crucificada na parede. Ela usava uma camisola branca, e tinha as mãos presas a parede por enferrujados pinos de ferro. Os cabelos caídos cobrem-lhe o rosto, e no alto de sua cabeça, repousa uma coroa feita com folhas de milho.

MAY

Meu deus! Você... Você é o demônio, garoto!

DAVID

Não. A alma da minha mãe já não era pura, mas eu amava ela. Doeu muito fazer isso.

David começa a se afastar do corpo da mãe, indo em direção aos irmãos Stanton. Ele fala sem olhar para a mulher amarrada.

DAVID

Com a senhora vai ser mais fácil. Eu não amo a senhora, sabe?

May sente-se tomada por uma onda de fúria assassina. Aquilo não era uma criança. Era um demônio. Um demônio que matou o seu filho, e que foi capaz de matar a própria mãe.

MAY

Seu moleque filho da puta! Você vai queimar no inferno, ouviu bem?! Vai queimar!

DAVID

Adeus, Sra. Winter. Amos (Diz dando as costas para a mulher).

Amos Deigan entende a ordem que lhe foi dada, e dá um chute na cadeira em que May estava de pé, jogando-a para longe. A mulher sente o nó em torno de seu pescoço fechar-se, bloqueando a sua respiração. A mãe de Keith Winter balança as pernas desesperadamente, mas somente consegue fazer com que a ponta de seus sapatos arranhe o chão.

O pequeno Scott Stanton olha para a mulher enforcando-se lentamente com os olhos cheios de água. Enquanto um grosso fio de saliva começa a escorrer da boca de May em um mudo pedido de socorro, David anda até Scott, e passa o braço em torno do seu ombro.

DAVID

Não olhe pra ela, Scott. Eu tenho algo bonito pra te mostrar.

David leva Scott para outra sala, enquanto as pernas de May começam a parar de sacudir-se.

SCOTT

Por que... Por que a gente fez aquilo com a dona Winter?

DAVID

Por que era necessário. Ás vezes Scott, algo tem que morrer, pra que outra coisa possa nascer. É a vontade de Deus. Aquele que se importa com a gente de verdade. Aquele que anda atrás das fileiras.

Os dois param diante de um vaso de planta. Dentro dele, há uma rosa murcha.

DAVID

Você viu a morte, Scott, e é importante que tenha visto. Agora veja a vida.

Por um instante, nada aconteceu. Então, o bulbo da rosa começou a pulsar, dando a impressão de que ira explodir. As pétalas ganham cores mais vivas, a medida em que se erguem, ficando belas e cheias. Novas folhas verdes nasceram no cabo da flor. Ao fim da transformação, a rosa parecia esta no ápice de seu frescor, para fascínio de Scott.

SCOTT

Aquele... Aquele que anda atrás das fileiras fez isso?

DAVID

Fez sim, Scott. E pode fazer muito mais. Quer ver Gatlin florescer de novo, Scott? Quer ver nossos milharais cheios de vida novamente?

SCOTT

Sim (Diz emocionado)

DAVID

Então se ajoelhe para a criação dele.

Lentamente, o menino se ajoelhou diante da magnífica rosa. David olhou pela janela, e viu um relâmpago cortar o horizonte. Uma tempestade estava chegando. “Isso é bom” pensou o garoto. Não havia nada melhor do que uma boa tempestade para preparar o terreno para um novo plantio.


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Notas finais do capítulo


Espero que tenham gostado. No próximo capítulo, os planos de David e "Daquele que Anda por trás das fileiras" para Gatlin começaram enfim a se desenrolar.


A musica "Oh Willow Waly" gravada pelo Kingston Trio foi bastante popular na época em que se passa a história, além de ter uma ligação temática interessante com a fic, já que a versão infantil da musica foi tema do clássico horror com crianças "Os Inocentes" lançado em 1960. Achei que a escolha da musica seria apropriada.

Quem puder, deixe um review, dizendo o que gostou e o que não gostou. Estimula o autor, e o ajuda a melhorar.

Grande abraço!



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