Thalia nem teve tempo para falar com Luke. Sério, ela ficou muito fula da vida por conta disso.

Logo que liguei para o tio Hermes, ele praticamente "brotou" na casa da Thalia. Luke já havia voltado à si e tratado de tomar um banho, quando tio Hermes apareceu feito um furacão e começou a distribuir socos e xingamentos nada amistosos sob o filho.

– O que você tem na cabeça, Castellan? Merda? Como pôde fugir de casa e nos deixar mortos de preocupação? - gritou, para em seguida abraçar Luke e levá-lo embora puxando-o pela orelha.

Ah, como é bom ter o carinho dos pais. Pena que Thalia não tenha gostado nada do tio Hermes ter levado Luke embora e ela esteja toda emburrada.

(...)

Annabeth POV

Ainda bem que a temporada de provas já passou. Acho que hoje eu não estaria com cabeça para exame nenhum.

Faz um tempo que não falo com Percy e quero saber o que ele aprontou ontem para ter saído tão depressa da faculdade com Nico e Chris em seus calcanhares.

O sinal toca e dou graças à Deus por isso. Saio da sala com a turma de Arquitetura.

– Ei Annie! - Emily Hastings, um colega minha, surge ao meu lado. - O que houve? Hoje você não estava com a cabeça na aula.

– Não é nada ruim, não se preocupe - digo.

Emily arqueia uma sobrancelha, enquanto sacode seus cabelos escuros para longe do rosto.

– Se é algo bom para te deixar assim, aposto que tem à ver com aquele moreno bonitão que te levou à festa da Clarisse outro dia - dá uma piscadela e sorri maliciosamente.

Sinto minhas bochechas esquentarem e aperto os livros contra meu peito. Desde que Percy e eu nos beijamos à alguns dias atrás, foi como se uma chama se acendesse dentro de mim.

Ele realmente é especial para mim. Perto dele, me sinto diferente. Não me preocupo com nada e a segurança que tenho ao seu lado é certa.

Emily ri, logo que atraveessamos os portões da escola.

– Não precisa dizer nada - fala, animada. - Só de mencioná-lo seus olhos já brilham.

Não consigo controlar o riso e nós duas gargalhamos sem nenhum motivo aparente.

– Até que enfim você desencalhou - Emily me empurra de leve com sua cintura. - Pensei que fosse ficar para titia!

– HaHa - ironizo. - Olha quem fala.

Emily ri.

– Meu bem, eu pelo menos pegava alguém - dá mais uma piscadela e me empurra novamente.

– Mas nunca fica com alguém definitivamente - digo.

Ela dá de ombros.

– Não tenho culpa se ninguém me agrada.

Reviro os olhos.

– Você parece com um amigo meu - comento, lembrando-me de Leo.

Emily dá pulinhos.

– Quero conhecê-lo então! - ela passa um de seus braços por meu pescoço.

A encaro com a sobrancelha arqueada.

– Ele não está disponível no momento. Anda saindo com uma garota do primeiro ano.

Emily sacode oscabelos.

– Eu não tenho ciúmes - diz, convicta.

Reviro os olhos mais uma vez e balanço a cabeça negativamente.

– Sendo assim possod até apresentá-lo pra você - ela sorri e eu a acompanho. Nós nos abraçamos apertado, como sempre e nos despedimos com um beijo no rosto. Eu sempre gostei dela, por ser tão divertida e não ligar para o que os outros dizem. Tem que aguentar muitos desaforos.

Emily também gosta de meninas e não sei o que os outros tem contra isso. Sorri e segui para casa, feliz.

Percy POV

Me joguei sobre o sofá com lucros e cadernos. Eu precisava me dedicar mais aos estudos, estava ficando um pouco relaxado. Sempre fui um bom aluno, apesar de tudo, e o descuido sempre me deixava meio mal.

Thalia sai da cozinha com um balde de pipocas e se sentou ao meu lado. Desde a festa de Clarisse nós estamos mais próximos que nunca.

A única pessoa que eu não paro para conversar há muito tempo é a Bianca. Nico me disse que ela está namorando e além de tudo, atolada de trabalhos.

Bufo. Isso não é motivo para abandonar a família.

Resolvo alguns exercícios e largo meus livros e apostilas para lá.

– Que foi Percy? - minha prima pergunta, encarando-me com curiosidade.

– Não sei. Tô com uma sensação ruim, aperto no peito - falo, fazendo uma careta de desagrado. Thalia faz a mesma coisa. - Isso soou meio estranho, mas ok.

Deito-me em seu colo, tentando dormir. Eu simplesmente não consigo parar quieto. Alguma coisa vai acontecer, algo ruim.

– Já falou com Luke? – pergunto, tentando mudar o rumo dos meus pensamentos.

Thalia fica em silêncio, provavelmente pensando se deve me responder ou não.

– Bom – ela sorri. – Ainda não, mas... Marcamos de nos encontrar no cinema sexta à noite.

Encaro-a com puro divertimento.

– Um encontro?

– Não sei – percebo seu nervosismo e dou uma risada.

– Vocês dois são maneiros juntos – comento.

– Digo o mesmo de você e Annabeth – Thalia sorri maliciosamente. – O que há entre vocês afinal? Estão juntos ou não?

Dou de ombros.

– Não sei ao certo. Acho que estamos ficando.

– Você ainda acha? – Thalia ri. Reviro os olhos, mas não consigo ficar sério por muito tempo e acabo rindo também.

(...)

Annabeth POV

Chego em casa exausta. Não com cansaço físico, mas com cansaço da mente. Subo para o meu quarto e jogo minha mochila na cama, lançando-me sobre ela em seguida.

Em pensar que tenho tanto para estudar.

Fecho os olhos por um segundo, tentando relaxar. Mesmo morrendo de fome, recuso-me a abandonar minha maravilhosa cama.

Meu celular toca, assustando-me. Abro minha mochila e atendo o telefone, sem prestar atenção ao número.

“Alô?”

“Ei, Annie”, reconheço sendo Leo.

“Leo! O que foi?”, pergunto, percebendo seu nervosismo.

“Você já está em casa, Annie?”

“Sim. Por quê?”

“Vem para o hospital”, e antes que eu pergunte o porquê, ele acrescenta. “Sua amiga, Emily. Ela foi espancada próximo à minha oficina”.

Percy POV

Estudei por mais ou menos duas horas, até cansar e acabar tirando um cochilo.

Quando acordo, percebo que já escureceu. A sensação angustiante que me atormentou opor grande parte da tarde retorna com força total.

Fico me perguntando o porquê disso. Tudo parece bem, não é? Da última vez que senti isso, foi aos meus dez anos. Lembro-me de ter ligado para Thalia, Luke e até para o tio Hades, verificando se todos estavam bem.

No fim, tinha sido a calopsita de tia Deméter que foi esmagada por um caminhão, enquanto a sogra do tio Hades comprava cereal no antigo mercadinho do tio Hermes.

Talvez seja algo parecido novamente.

Pego o controle e ligo a TV. Começo a passar os canais, sem interesse em nenhum deles. Ainda estou angustiado, mesmo tentando me convencer de que tudo está bem.

Meu celular toca e vejo que é Annabeth. Atendo de imediato.

“Percy?”, quase não reconheço sua voz por conta dos soluços e nervosismo vindo dela.

“Annie, o que foi?”, pergunto preocupado.

“Eu tô no hospital”, solta o ar, tentando se acalmar. “Minha amiga foi espancada e... Eu não sei o que fazer.”

“Quer que eu vá para aí?”, questiono, cada vez mais preocupado.

“Não”, diz. “Clarisse está aqui com o Chris. Sério, estou bem”.

“Qualquer coisa liga pra mim, ok?”, digo, tentando deixá-la segura.

“Não se preocupe”, Annie parece melhor do que a segundos atrás. “Beijo”.

“Outro”.

Desligo o telefone e largo-me na cama, fechando os olhos. Pelo menos estou mais tranquilo por saber que não era nada tão grave.

Annabeth POV

Tentei ao máximo me acalmar, mas não tive êxito algum. Apenas quando liguei para Percy que consegui me controlar.

Ele me conforta mesmo estando longe.

De acordo com o médico que está cuidando de Emily, o estado dela é estável. Suspiro por um momento, com a cabeça entre as mãos. Emily está ainda pior do que Chris.

(...)

Uma semana se passou e felizmente, Emily está se recuperando. Ela acordou - o que é ótimo! – e já foi transferida para o quarto.

Percy ficou comigo enquanto eu permanecia no hospital, ao lado de Emily, sem querer deixá-la. Fico feliz por ter Percy ao meu lado, pelo simples fato dele me fazer bem.

Travis e Connor também vieram ver Emily, tal como Clarisse, Chris e Leo - que por ironia do destino, era o possível “interesse” de Emily.

Se ela soubesse... Pena que Emily estava dormindo quando Leo foi vê-la.

Já é de noite e Percy acaba de sair. Decido passar mais uma noite no hospital, prometendo à minha mãe que voltarei para casa amanhã mesmo.

Ela anda preocupada demais comigo.

Folheio o livro, enquanto as horas passam lentamente. Emily dorme pesadamente, sem acordar com nenhum barulho.

Olho para o relógio que está no alto da parede. São nove e meia da noite.

Resolvo dar uma volta. Mas algo me diz que não devo fazer isso...

(...)

Percy POV

Acordo com meu celular tocando de modo insistente. Atordoado e irritado ao mesmo tempo, levanto-me e apanho o aparelho na cômoda.

Pisco algumas vezes, tentando afastar o sono. O nome na tela me faz franzir o cenho. Por que Annabeth me ligaria tão cedo? Será que Emily piorou de novo?

“Annie?”

“Perseu?”, uma voz diferente da que eu esperava me deixa surpreso. “Sou Atena, mãe de Annabeth”.

“Ahn”, coço a nuca, nervoso. “Prazer em conhecê-la sogr... Sra.Atena. Algum problema?”

“Minha filha...”, seus soluços me deixam nervoso. O que está havendo? “Annabeth levou uma surra, Persey. Ela foi encontrada hoje de manhã em um beco próximo ao hospital...”

Deixo de ouvi-la a partir daí. Era isso o que eu temia. Annie se tornou vítima, assim cmo Chris e Emily.

Droga, de novo não.

(...)

Quando chego ao hospital, peço informações urgentes e subo correndo para o andar que Annie está.

Thalia, Clarisse, Chris e os outros me encaram quando adentro o corredor.

– Percy... – Thalia se levanta, secando o rosto.

– Onde ela está? – pergunto, sem delongas e provavelmente sendo ríspido.

Thalia indica a UTI e meu coração se aperta. Apressado, deixo meus amigos para trás e entro na UTI, vendo uma mulher de cabelos loiros abandonando uma das alas.

Ela passa por mim sem me ver e por instinto, sei que é. Atena Chase, mãe de Annabeth, chorando alto, seu rosto completamente vermelho.

Alguma coisa muito errada está acontecendo. Primeiro Chris, depois Emily e agora Annabeth. Eu precisava descobrir o motivo – mesmo que em minha cabeça, nada justificasse surrar estudantes que nada de mal faziam.