Inverno escrita por VenusHalation


Capítulo 1
Capítulo 1 - Chegada


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, só introdução.
Não betado, abafem os erros. ♥



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Kentin chegou à escola militar em um anoitecer de inverno. Não estava tão certo de que estaria pronto para o começo de uma dura vida dentro da academia militar, afinal, havia se mudado para aquele colégio graças as suas atitudes fracas e patéticas, pelo menos assim descrevera seu pai.

“Atacado por garotas, Kentin? Fraco e patético... Já chega! Você vai embora e vai amanhã! Não me importa o quanto aquela sua amiga seja importante para você, despeça-se da forma que desejar amanhã pela manhã. Fique ciente de que será mandado para o colégio militar logo de tarde.” – Aquelas haviam sido as palavras de seu pai no dia em que o nerd voltara para casa todo esfolado e sem um centavo no bolso, quando foi roubado e humilhado por Ambre.

O garoto magricela desceu do táxi, pegando as malas – com dificuldade, como se carregasse o peso de três cavalos - e agradecendo ao motorista, indo em direção ao colégio. Respirou fundo e naquele momento não soube dizer se o frio na barriga era por conta do ar gelado que atravessava as narinas ou da insegurança. Olhou para cima buscando conforto na neve que caía, enquanto protegia os óculos da neve, mirando exatamente o topo da torre, viu uma luz azul fraca lá em cima, coçou os olhos por debaixo dos óculos, talvez em busca de lucidez e fixou o olhar novamente apertando os olhos em busca de um foco melhor. Não havia nada além de uma torre branca e alta, com o telhado coberto pela neve.

Olhou a sua frente e viu um rapaz esperando-o na entrada colégio. Olhou receoso por de trás dos óculos de grau - diga-se de passagem, as lentes eram tão grossas que deixavam os olhos do garoto com um aspecto bizarro - tentando ajeitá-los no rosto enquanto se atrapalhava com as malas. O rapaz era o que se podia chamar de grande, não sabia se o tamanho todo era por causa das roupas pesadas de inverno ou se pelo treinamento.

_Kentin Legrand? – O veterano se aproximou. – Bela torre não é?

_É sim, senhor...

_Andrew Mathieu. – Sorriu amistoso. – Não me chame de senhor, não hoje! Andrew, apenas. Vamos, me siga até o alojamento.

_Desculpe, Sen... Andrew. – Ajeitou os óculos no nariz seguindo o colega. – Mas sim, é uma torre maravilhosa, o que tem lá em cima?

_Ninguém nunca subiu lá.

O silêncio se fez no momento seguinte enquanto Ken puxava a mala pelo caminho na neve e tentava, aos poucos, assimilar toda a paisagem em volta. Aquele lugar seria sua casa pelos próximos meses e, visto assim, parecia um centro interno de ensino comum com seus alunos, provas, exercícios, laboratórios, regras e professores, nada tão assustador como pensara, afinal a primeira coisa que passou pela cabeça dele era uma espécie de cadeia para pessoas problemáticas onde ele sofreria bem mais que arranhões de garotas.

Andrew resolveu abrir a boca e explicava que o local onde o colégio funcionava era dividido em vários prédios de no máximo cinco andares, estes alojavam os alunos divididos cuidadosamente entre séries e entre sexos em extremos opostos e, entre eles, as salas e laboratórios, além disso havia o centro de treinamento militar, onde eles aprenderiam disciplina, ordem e até mesmo auto-defesa.

A parte de “auto-defesa” fez Kentin sentir um calafrio, talvez seus piores temores se realizassem ali dentro, entre elas empurrões, socos, pontapés, podiam ensinar aos outros alunos a lhe arrancar um olho. Consolou-se pensando que ao menos não precisaria mais de óculos. Balançou a cabeça e tentou afastar os pensamentos negativos, se seu pai o mandara para lá, provavelmente não queria que ele morresse.

_Então Kentin, parece perdido no que falo. – Andrew o encarou com os olhos castanhos. – Será que se pararmos aqui você me ouve?

_Eu... Eu... – Ken juntou as mãos no peito, deixando o carrinho das malas cair na neve. Estava esperando pelo soco, era bem comum acontecer logo no primeiro dia.

_ A arquitetura radial dos prédios tem como seu ponto de origem uma torre antiga, muito alta, feita de blocos de mármore tão brancos e vistosos que brilham a luz do sol, precisa vê-la no verão! – Andrew apontava para a extensão da escola.

Kentin sentia o peso dos ombros saírem enquanto tomava coragem de abrir os olhos e escutar a explicação do colega. Ao mesmo tempo tentava debilmente levantar as malas. 

_Reflete como uma bela pedra preciosa! – O menino sorriu. - Embora seja uma torre tão incrível, ninguém, nunca entrou lá. A chave da única porta que levaria a torre sumiu e qualquer tentativa de abri-la, é inútil. A força a faria ruir e tantos chaveiros já chamados encontravam em naquela tranca uma complexidade maior do que a de qualquer cofre bem protegido. Então, ao longo dos anos, ronda na escola, o mistério da torre. Por décadas, diziam que a “Luz do Inverno” não queria ser incomodada, por isso, havia se trancado lá.

_Luz de inverno?

_Uma luz azul que aparece rapidamente enquanto neva, você a viu quando chegou, não é? Achei que estivesse perturbado querendo saber o que era e por isso não me escutava. – Encarou franzindo o cenho recebendo um desajeitado aceno positivo de Ken. - Talvez haja algo lá dentro, alguns dizem que lá tem um fantasma perturbado com o frio outros dizem que é alguma máquina que reage a neve ou ao vento forte que passa pelas janelas. A "Luz do inverno" é uma lenda que circula entre os alunos do colégio interno, sempre que neva, no topo da torre podia-se ver a luz azul. E a história passa de boca em boca a cada ano, por isso não me preocupei em contá-la, você saberia logo.

_Mas e a história?

_Bom... Não vou ficar aqui congelando, pois, a história por de trás é longa, vamos para o alojamento. – Continuou guiando o colega pelo caminho na neve. - Enfim, as aulas só começam daqui três semanas. – O rapaz mais velho parou de frente a uma porta imensa em um dos prédios, empurrando-a.

O prédio era imenso, aos olhos de Kentin, parecia menor visto de fora. O térreo tinha uma espécie de área comum, havia uma lareira ao fundo – que deixava o clima bem mais agradável que do lado de fora - rodeada de sofás de estofado vermelho, algumas mesas de estudo estavam dispostas e no chão um grande tapete repleto de desenhos onde alguns garotos jogavam xadrez. Em cima, o teto mostrava o maior lustre que o garoto já havia visto na vida, este que refletia as luzes do resto do local em pequenos prismas de cores sortidas. Ainda em êxtase com a sala, ele foi guiado até a escada de mármore, já desgastado pelo tempo, que levava aos andares acima, onde se encontrava cada alojamento. Pararam no terceiro andar e seguiram pelo corredor, parando de frente para uma porta de madeira ao fundo, onde Andrew ajudou-o a colocar suas malas do carrinho para o chão e abriu a porta, levando-as pra dentro.

_Sinta-se à vontade no alojamento. Instale-se tranquilamente, seus colegas de quarto estão fora. – Colocou a cabeça de volta para dentro do quarto. - Se precisar de algo pode falar com qualquer um aqui, como pode ver lá embaixo, ainda há alguns de nós no alojamento.

_Obrigado. - Disse o magricela abrindo a porta e puxando a mala para dentro do quarto, vendo o colega fechar a porta atrás de si.

O alojamento, diferente do resto, era bem simples - era um espaço grande, com alguns tapetes simples, três beliches cada uma delas trazendo ao lado um armário e no canto uma porta, que provavelmente seria o banheiro. Kentin olhou as camas, todas tinham placas, indicando o dono de suas camas, a dele estava lá “L. Kentin” na cama de baixo do beliche encostada à janela. Puxou a primeira mala jogando-a em cima da cama com dificuldade, em seguida, sentou-se na frente dela e a desfez vagarosamente. Olhou para fora, ainda nevava e ele pode ter um vislumbre nada nítido da torre lá fora, ficou olhando de novo e lá no topo, mais uma vez, ela acendeu uma luz bela e muito, muito rápida. O garoto olhava intrigado lembrando-se das palavras do colega “Sinta-se à vontade no alojamento, há algumas pessoas que não saíram do colégio para as férias, como viu lá embaixo, se precisar de algo fale com eles.”.

Desceu as escadas, vendo os garotos que jogavam xadrez e, sentado a ler um livro, um rapaz de cabelos louros-esbranquiçados, parecia ter a mesma idade dele. Todos eram grandes, de verdade, não por causa da roupa de inverno, estavam com roupas bem leves no conforto e calor da lareira. Todos que estudavam naquele colégio deveriam ter o mais ou menos o mesmo porte físico, fortes e grandes. Engoliu seco e tentou vencer o medo, aproximou-se do garoto que lia e este o encarou por cima do livro, tinha olhos tão azuis que se tornavam intimidadores, mas no momento a única expressão que Kentin podia ver era tedio.

_Olá? - O loiro disse.

_É... Oi?

_Prazer. - O menino abaixou o livro estendendo a mão.

_Sou Ken, cheguei hoje. – Apertou a mão do garoto com receio, aquilo em qualquer outra escola seria seguido de um belo cutucão no meio da testa e a piadinha "Deixa que eu toco sozinho, manezão!".

_Eu sei, Ken...tin. O vi chegando com Andrew, bem-vindo. Sou Henry, você está no primeiro ano? 

_Obrigado. - Sentiu os óculos escorregarem pelo nariz, ainda impressionado pelo aperto de mão amigável. - Sim, primeiro ano.

_Estranho alguém se transferir assim, no meio do semestre. - Levantouj uma sobrancelha. - Mas deve haver seus motivos. Então, você parece perdido e bem cansado.

_Estou bem. Na verdade... Cheguei, estava nevando, mas estou...

_Nevando, sim. - Ele o interrompeu. - Viu a luz do inverno, não é? Por isso está tão inquieto?

_Na verdade eu... – Kentin abaixou os olhos, esperava que agora sim o colega o mandasse pastar. – S-Sim, gostaria de saber mais.

_Normal, alunos novos sempre se inquietam com ela. - Ele sorriu, marcando o livro com uma fita vermelha e o fechando no colo. - Existem várias histórias a cerca da luz da torre, mas a mais conhecida é a de dois amantes que viveram aqui há muito tempo.

“Antes, muito antes de neste local existir uma escola, em volta havia uma pequena vila e nela vivia garota muito bela, seu nome era Noelle. Apesar da beleza, Noelle, era muito pobre e para ajudar a família no inverno, ela patinava no gelo e fazia manobras perigosas para conseguir algum dinheiro com o espetáculo e foi em uma dessas, por volta de seus 16 anos, que Noelle conheceu Laurence, o filho de um embargador de navios da costa, ele vinha pela primeira vez na vila para conhecer os negócios do pai. Quando o rapaz a viu rodopiar no gelo, foi amor a primeira vista. Mas como Laurence e Noelle não podiam ficar juntos, graças à condição financeira dela e de sua família que precisava sobreviver ao frio dos invernos rigorosos, eles tinham de se esconder para se encontrar, então Laurence mandou construir a torre pra lá da vila, e sempre que ele vinha trazer o carregamento da costa, justamente no inverno, ele se encontrava com ela no topo da torre, tendo como sinal de que ela estava lá a luz azul. Porém o pai de Laurence descobriu e o proibiu que voltasse a cidade, mandando-o para longe, então no primeiro dia de inverno após patinar o dia todo, Noelle subiu a torre e acendeu a luz, mas seu amado não veio. E isso voltou a se repetir durante todos os dias até chegar o ponto em que a jovem, doente de amor, trancou-se na torre e manteve a luz acesa até morrer de frio dias depois. Mas como podemos ver, até hoje, Noelle mantém as esperanças de que seu amado apareça e quando neva, ela acende sua luz.”

_Incrível... - Kentin olhava fixamente para o colega. - Mas isso não é verdade, não é? Andrew disse que ninguém jamais entrou lá...

_Ninguém! - Henry sorriu, pegando o livro em seu colo. - Só existiam duas chaves, como dito na lenda. Se alguma das duas chaves existirem, uma seria a de Noelle, provavelmente lá dentro, e a de Laurence, perdida.

_Não há pistas? Nada?

_Apenas uma, que não me lembro bem, algo como para porta abrir a porta da mente deve achar, não lembro bem da frase, eu...

_Tem algo na biblioteca? - Empolgou-se.

_Bom, tem a seção reservada, e a seção de história... Há alguns arquivos velhos com a história da escola em ambos, enfim, só poderá ler lá. Mas como a biblioteca já está fechada a essa hora da noite, espere até amanhã. Tome um chá e descanse, uma lenda pode esperar. - Henry abriu o livro na frente do rosto, sem o menor interesse na curiosidade de Ken.


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Notas finais do capítulo

Bom, minha primeira fic. de Amor Doce.
Pq escrever assim? Pq sempre pensei no que aconteceu com o Ken pra ele voltar tão diferente, simples assim. xD
Espero que gostem!



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