–Deus, Morgana! – Arthur exclamou exasperado, incrédulo e terrivelmente assustado com a cena diante de seus olhos.

Ela não respondeu. Para dizer a verdade, Morgana mal o ouviu entrar; Estava admirada demais com a substância vermelho-viva que escorria constantemente de seu pulso.

Era óbvio que Arthur não deveria estar lá. Afinal, este era o quarto da protegida do rei e definitivamente não era nada ético o príncipe invadir a privacidade dela dessa maneira. O plano de Arthur era simples: entrar, provavelmente flagrar algo que não deveria e provoca-la da maneira que só ele era capaz. Porém, nem em um bilhão de anos ele esperaria encontrar Lady Morgana nessas condições.

Jogada em um canto do chão, encostada desajeitadamente contra uma parede, seu longo vestido subindo perigosamente acima de seus joelhos. Sem mencionar, é claro, a faca ao seu lado e os cortes em seu delicado pulso.

Ele estava acostumado a ver sangue, afinal já matara inúmeras vezes. Entretanto, a imagem a sua frente formava um nó em sua garganta. Morgana... Cortara-se?

Decididamente, o príncipe rasgou um pedaço de sua camisa, e rapidamente amarrou-o no pulso esquerdo dela. Aparentemente, o direito parecia intacto.

Morgana pareceu nota-lo somente quando sentiu seu toque, zonza demais para formular pensamentos concretos.

–É vermelho, Arthur – ela murmurou, enquanto assistia a ele tratar seus ferimentos.

–Sua idiota, - ele rugiu – que infernos estava pensando?

Ela não respondeu, ocupada demais procurando algo para focar o olhar. De acordo com a quantidade de sangue que escorrera pelo vestido verde de Morgana, ela não perdera muito sangue, Arthur percebeu. Contudo, ela não parecia estar plenamente consciente.

–Não faça isso de novo – ele avisou-a, dando um nó final no tecido.

O cabelo dela estava estranhamente armado e uma fina camada de suor cobria-a. O que ela estivera pensando? Eles deveriam jantar com o pai dele em menos de uma hora! Morgana tinha que se recompor.

–Preciso de ajuda, Arthur – ela sussurrou, cravando os olhos verdes esmeralda nele.

–O que... aconteceu? – Ele perguntou, tentando não se acovardar sob o intenso olhar dela.

Morgana soluçou e seus olhos pareceram se arregalar sordidamente.

–Os sonhos... – Ela disse, mordendo os pálidos lábios com força.

Arthur levantou-se, tentando não olhar diretamente para ela. Não era essa imagem que ele gostaria de ter de Morgana. Ele queria apenas a versão nobre e impecável que frequentava os diversos bailes do castelo. Não essa... louca.

–São apenas sonhos – ele disse firmemente. – Agora, vá se arrumar, temos um jantar para comparecer. E não se atreva a fazer isso novamente.

Dito isso, ele andou apressadamente em direção à porta do quarto. Não queria deixa-la, mas não estava preparado para lidar com esta Morgana.

–Não quero ficar sozinha – ele ouviu-a dizer em um tom chorosamente agonizante. Todavia, não se virou. Apenas continuou seu caminho para longe de onde estava. De onde essa problemática Morgana estava.

Mal ele sabia o quanto iria se arrepender por essa decisão anos depois.