O Patrocínio do Mal escrita por Goldfield


Capítulo 11
Epílogo




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Epílogo

Ark corria, corria e corria. Sem dar conta, já saía pela caverna que utilizara para penetrar no reduto inimigo. Estar de volta ao ar livre lhe deixava mais tranqüilo, porém ainda não chegara o momento de parar e descansar. Continuando a fugir em disparada, o eterno sobrevivente se embrenhou novamente na floresta, desviando dos pinheiros em seu caminho conforme se afastava do esconderijo maldito. Até que, sem mais nem menos, ouviu um urro alto e apavorante.

Tremeu da cabeça aos pés. Seu coração, pulsando intensamente, parecia ter lhe subido à garganta. De alguma forma sabia que “Mr. X” ainda estava vivo, e naquele instante provavelmente subia pelos túneis para pegá-lo. Decidido a deixá-lo para trás, Thompson apressou ainda mais seus passos, temendo ser aniquilado pela grotesca criatura. Nunca pensara que aquela missão poderia terminar daquela forma.

Logo ganhou um espaço aberto forrado de neve. Mais um urro ecoou pelas montanhas, e Ark, desnorteado, olhou ao redor procurando uma nova direção para continuar correndo. Deu-se conta de que não se lembrava do trajeto de ida, e agora estava perdido num ambiente inóspito e selvagem com um monstro em seu encalço.

E ele surgiu em sua verdadeira forma: sem o traje verde, músculos expostos num misto de branco e vermelho e com afiadas garras em ambas as mãos. O encurralado fugitivo lembrou-se do Wolverine dos X-Men. O mutante diante de si era uma versão mais bizarra e mortal do personagem. Parecendo sorrir para Ark, o T-00 partiu em alta velocidade em direção ao ex-detetive, preparado para liquidá-lo com um só golpe. Conformado, Thompson parecia já aceitar seu destino trágico, quando o inesperado aconteceu...

Uma grande explosão lançou o amigo de Leon para trás, embaçando sua visão temporariamente. Ao voltar a enxergar normalmente, deparou-se com uma cratera negra diante de si, sem qualquer vestígio do “Mr. X”. O assassino fora transformado em poeira, e Ark entendeu o que ocorrera ao ouvir o som de um helicóptero se aproximando.

Era um Comanche. O piloto salvara a vida de Thompson, disparando um míssil contra o T-00. Imensamente agradecido, o sobrevivente acenou para a aeronave, e foi jogada uma escada para que subisse a bordo. Ao entrar no helicóptero, viu que a pessoa diante do painel de comando era um homem de óculos escuros, o qual imediatamente se identificou:

–         Meu nome é Ernest Adams, agente do FBI! Não se preocupe, estou aqui para ajudar!

–         Obrigado – disse Ark, desabando sobre um assento de tanto cansaço. – Mas como me encontrou?

–         Estou mantendo contato com o agente Leon S. Kennedy, do Serviço Secreto! Vocês são bons amigos, certo?

O ex-detetive sorriu, ao mesmo tempo em que o Comanche se afastava do local. Adams informou:

–         Os agentes Marrin e Zarek estão seguros em Leadville! Washington mandou uma ordem de emergência à Academia da Força Aérea em Colorado Springs, e uma esquadrilha está sendo enviada para cá com o objetivo de bombardear White Creek e a base da FPA usando napalm, eliminando quaisquer resquícios do vírus!

–         E pensar que tudo isso foi causado por esse maldito grupo terrorista...

–         Na verdade, senhor Thompson, a FPA não está sozinha nisso...

Franzindo a testa, Ark, sem pestanejar, exigiu uma explicação mais detalhada:

–         Como assim?

–         Um homem em especial está por trás de parte dos acontecimentos ocorridos nas últimas vinte e quatro horas. E tal indivíduo é um antigo conhecido seu... O nome dele é Vincent. Vincent Goldman.

Aquela revelação o assustou mais do que a reaparição do T-00. Era algo difícil, e doloroso, de engolir. Vincent Goldman estava vivo. Um sujeito que causara tanto mal a pessoas inocentes sobrevivera à ilha Sheena e ainda se encontrava em circulação.

–         Eu não posso crer...

–         Com o fim da Umbrella, Vincent trocou de identidade para não ser preso. Tornou-se Josh Burke, um cidadão acima de qualquer suspeita. E, pelo que pude averiguar, ele sempre teve um sonho: reerguer a empresa para qual trabalhava.

Ark ouvia com atenção.

–         Para atingir tal meta, Goldman, ou melhor, Burke, precisava de subsídios – continuou o federal. – Dinheiro. Por isso seus olhos se voltaram para a FPA. As atividades ilegais do grupo movimentavam recentemente uma exorbitante quantidade de dólares. Isso chamou a atenção de Josh. No período, ele possuía alguns soldados experientes sob seu comando, entre eles o misterioso mercenário conhecido apenas como Hunk. Um dos membros da FPA, o major Jack Krauser, roubou uma amostra do T-Virus de dentro de uma base militar e a forneceu ao movimento. O líder, Ronald Freewell, poderia manipular o governo como bem entendesse com o que tinha em mãos. Foi quando Burke surgiu, e ele soube explorar a grande fraqueza de Freewell: sua ambição. Oferecendo o auxílio de seus homens em troca de alguns milhões em sua conta bancária, Josh prometeu a Ronald que lhe forneceria um vírus muito mais poderoso, com o qual poderia infectar uma grande cidade de forma rápida e infalível. Acontece que, desde os tempos da falência da Umbrella, Burke desconfiava da existência de alguns barris criogênicos contendo zumbis em hibernação, legado de Raccoon, que acabaram sendo espalhados pelo país devido a descuidos do Pentágono. Algum tempo depois descobriu que dois desses recipientes estavam em posse de James Murray, chefe de pesquisas do Laboratório Vinnewood, em São Francisco, Califórnia.

–         Por que o interesse neles?

–         Segundo o raciocínio de Burke, o tempo que o T-Virus permaneceu incubado nesses barris faria com que ele sofresse alterações em sua estrutura genética. E ele estava certo, pois o período de infecção tornou-se muito mais rápido. Usando o dinheiro cedido por Freewell, Josh passou a patrocinar a pesquisa realizada em Vinnewood e enviou seu ingênuo protegido, Lott Klein, para trabalhar no local, realizando assim uma espionagem involuntária...

–         Lott... Oh, meu Deus...

–         Enquanto isso, numa ação repudiada por Burke, a FPA contaminou White Creek com o T-Virus numa tentativa de intimidar o governo. Freewell sabia que o Serviço Secreto os estava investigando, e por isso encarregou Krauser de criar uma distração em São Francisco e desviar temporariamente a atenção de Washington enquanto eles semeavam o caos aqui no Colorado. Convenientemente, Josh iniciou uma operação para invadir Vinnewood com seus homens na mesma noite, e Freewell, desconfiando que seu recente sócio poderia traí-lo, não lhe entregando os barris, enviou Jack até o laboratório para “supervisionar” a ação. Por um descuido de Murray, o vírus dos recipientes escapara dentro do prédio, transformando todos em mortos-vivos. A situação foi contornada, e o esquadrão de Burke, liderado por Hunk, levou embora um dos zumbis em hibernação...

–         Mas o que explica aquele T-00 que massacrou a FPA?

–         Eu presumo que Jack Krauser tenha sido descoberto. Burke, como você sabe muito bem, não admite ser enganado, e por esse motivo enviou o mutante ao esconderijo do movimento para aniquilar a todos. De qualquer forma ele não precisava mais deles. Antes que você pergunte, Josh conseguiu o T-00 e outros monstros da Umbrella através de saques a instalações secretas da empresa abandonadas ao redor do mundo. Ele é um homem esperto.

–         Então Vincent tem em seu poder uma versão mais poderosa do T-Virus e eliminou aqueles que poderiam de alguma forma ameaçá-lo...

–         Errado. Ainda havia uma pessoa que ele não pôde assassinar. Sherry Birkin. Lembra-se do atentado há alguns dias? Burke pediu a cabeça dela a FPA, pois um ex-colega de Vincent, atualmente na prisão, revelou o segredo dele à promotora. Krauser manipulou um ex-fuzileiro chamado Billy Coen para que organizasse a emboscada, porém, como sabemos, a jovem felizmente sobreviveu. Há algumas horas ela me contou tudo, e neste momento estou aqui falando com você. Nosso objetivo atual, senhor Thompson, é unir forças para que Josh Burke não consiga concluir seu plano de ressuscitar a Umbrella!

Atônito, Ark gostaria de fazer mais mil perguntas a Adams, mas apenas reclinou a cabeça, completamente exausto. Precisava recompor suas forças, pois a batalha, ou melhor, a guerra que se seguiria seria decisiva para todos que um dia haviam sentido na pele a destruição que a Umbrella poderia causar. Olhando através de uma janela, o ex-detetive viu intensas chamas e fumaça ao longe, concluindo que o bombardeio mencionado pelo agente do FBI já tivera início. Colocando a Samurai Edge sobre o assento ao lado, Ark relaxou o corpo e fechou os olhos.

Sobrevivera mais uma vez.

San Jose.

A movimentação na base se intensificara. Um helicóptero Black Hawk aguardava Josh Burke num heliporto situado ao norte do alojamento principal. O comandante embarcou junto com Hunk e mais três soldados. O piloto ligou as hélices, perguntando ao superior:

–         Para onde, senhor?

–         Raccoon City, depressa! – respondeu ele.

Instantes depois a aeronave levantou vôo. Burke abriu uma pasta de documentos e passou a examinar os papéis, assim como fizera quando estava em sua sala. Hunk informou:

–         O helicóptero trazendo o barril também partirá rumo a Raccoon, daqui a aproximadamente quinze minutos, senhor! Quanto a Krauser, será enviado para nosso centro provisório de detenção!

–         Ótimo, meu caro. Sua eficiência me impressiona.

E Josh voltou a ler o relatório referente ao “Projeto Nemesis X”. Enquanto percorria com os olhos as informações nele presentes, lembrou-se de uma célebre frase de Napoleão: “Centenas de séculos decorrerão antes que as circunstâncias acumuladas sobre minha cabeça encontrem um outro na multidão para reproduzir o mesmo espetáculo”. Realmente as condições que possibilitariam o êxito de Burke não poderiam ser melhores. Adquirira uma nova arma biológica, a evolução do T-Virus, a qual nomeara de “TX”. Não haveria nenhum obstáculo em seu caminho. A Umbrella renasceria para subjugar todos os governos do mundo, e aquele que um dia fora Vincent Goldman se tornaria seu líder máximo.

O verdadeiro e duradouro espetáculo estava às vésperas da estréia.

FIM

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes, “Goldfield”.


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