Estava tudo numa confusão, ouviam-se gritos e Katniss e Peeta olhavam entre si com puro ódio, como lhes tivessem injetado uma substância que produzisse ódio em apenas duas frases. Familia Mellark e família Everdeen, inimigos de sangue.

                Johanna parecia prestes a ter um ataque de surpresa misturada com raiva, Jason gritava sobre tudo incluindo a escolha de batom da professora com a qual tinha tido aula antes, Katniss gritava tudo que tinha guardado para si desde o acidente e Peeta também. Clove continuava com os olhos fechados, arrependendo-se daquilo tudo que estava a ser um erro. Annie parecia estar paralisada com tudo o que se passava á sua frente, lembrando-se de assuntos que queria esquecer, enquanto isso Finnick tentava acalmar Peeta.

                Annie correu para a casa de banho e mal lá chegou, desatou a chorar, os gritos, a discórdia… faziam lembrar os seus pais e os seus tios sempre a discutir, sobre dinheiro e heranças. Finnick conseguiu visualiza-la a correr, sem pensar duas vezes foi atrás dela, parando apenas na porta da casa de banho feminina, ouvia-se um choro desalmado que Annie pretendia abafar a todo o custo. Ele sem pensar duas vezes abriu a porta e viu-a em frente ao espelho com as mãos na cabeça a chorar, criando uma linha de água continua entre as suas pálidas faces, o que se assemelhava a um rio, abraçou-a e encostou a sua cabeça ao seu peito sussurrando-lhe palavras de animo, em vão.

                Na mesa, a gritaria continuava e Peeta gritou mais do que devia:

                -Sabes Everdeen, já mataste o meu irmão e graças á tua mania de querer ser adorada pela tua família, e agora queres matar-me a mim?!

                Isso foi a gota de água, Clove já não podendo ouvir mais coisas falsas deu um estalo a Peeta, tão forte que ele ficou marcada sua mão na cara dele. Peeta continuou a gritar com elas, Katniss já chorava e gritava palavras que foram ouvidas pela cantina e escola. Katniss sentia-se tão frágil quando se tocava naquele assunto, era como abrir velhas feridas, Peeta deu á sola dali pouco depois, seguido por Johanna e Jason que lhe faziam alvo de todos os palavrões existentes no mundo  e arredores. Todos os alunos olhavam fixamente para ela, alguns olhavam com pena, outros pareciam-se estar apenas a se divertir.

                Clove empurrou Katniss para fora dali, aquela mesa seria sempre marcada pela discussão á pouco realizada.

                -Tu não sabias de nada, nem tu nem a Annie, certo?-perguntou Katniss cessando as suas lágrimas, pondo a máscara de forte para não ser incomodada

                -Não, nada. -mentiu Clove- Conhecemo-nos ontem, quando tu não querias ter vindo connosco à discoteca. Foi um encontro interessante, devias ter vindo!

                -Sabes que eu não gosto daquele tipo de coisas, aprecio muito mais um passeio ao ar livre. Não posso faltar á fisioterapia, só hoje?

                -Não , não podes. Não deixes este assunto levar-te abaixo! Be strong KitKat!

                Riram-se um pouco lembrando-se dos nomes que elas inventavam: KitKat (Katniss), Clouve (Clove), Anáfora (Annie)…

                Peeta seguia nervoso e frustrado pelo seu caminho em direção ao seu cacifo, onde iria levar os seus livros, perguntas corriam-lhe pela mente, sentia-se furioso por quase ser amigo de uma Everdeens, mas também se sentia triste por possivelmente magoado uma pessoa tão frágil, ele que sempre fora o defensor dos Everdeen naquela escola.

                Mal fechara a porta do cacifo deu-se de cara com o seu irmão Matthew, ou como costumava chamá-lo Matt.

                -Uau maninho… Onde foi o antigo defensor dos Everdeen? A tua discussão com a Everdeen é assunto em toda a escola, muito bem, estou orgulhoso de ti!

                -Quando é que as pessoas se param de meter na nossa vida? A sério!- Peeta tinha sinais de irritação muito bem visíveis

                -Hey! Calma, daqui a poucos eles já nem se lembram deste pequeno fiasco-comentou Matt

                Finnick vinha na sua direção e cumprimentou-os, Matt avistou a sua namorada e despediu-se dele.

                -Onde estives-te Finn?

                -Estava com a Annie…

                -Tu o quê? Eu acabei de ter uma discussão com a melhor amiga dela e tu vais ter com ela?

                -Aconteceram coisas, bem, tu sabes ao que me refiro. A Annie é especial…

                -Por favor Finn, para o próximo mês já não queres nem vê-la, ela não é assim tão bonita como as outras raparigas que tu tinhas em Inglaterra, nem aquilo que tu mais gostas numa mulher fisicamente!

                -Eu já não sou mais assim ,Peeta. Mudei e mudei por ela, para ela e com ela.

                Enquanto estes dois amigos discutiam, Katniss, Clove e Annie falavam omitindo todas as palavras que pudessem levar ao assunto da discussão. Ao chegar uma BWM luxuosa á escola, Annie despediu-se delas e entrou para lá. Ela é rica, mas mesmo muito, a sua família passava por constantes problemas sociais entre ela e ela não podia distrair-se dos estudos, pois a mesma a pressionava para ser a melhor em tudo, não a deixando ter aulas de canto, nem ter namorado sem a aprovação deles.

                Katniss e Clove seguiam para a fisioterapia de Katniss, embora desanimadas continuavam a esboçar um sorriso para não dar motivos uma á outra para se desvanecerem, chegaram lá e foram recebidos pela funcionaria que as guiou para o balneário, Katniss pediu ajuda para vestir as leggins, mas insistiu que Clove a deixasse vestir a camisola sozinha. Clove aproveitou e escapuliu-se para a sala de fisioterapia, onde provavelmente Cato estaria.

                Vinha alegre para não demonstrar que algo lhe tinha acontecido, no entanto, mal abre a porta depara-se com Cato com uma rapariga ao colo, a beija-la. O coração de Clove doía, não era pouco, era mesmo muito.

                Todos os seus sonhos com o seu ‘príncipe perfeito’ estavam oficialmente desfeitos em pedacinhos como o vidro ao estilhaçar no chão. Apenas permaneceu imóvel, eles beijavam-se verdadeiramente, ela reconheceu aquela rapariga, era a amiga de Katniss ela, também, era paraplégica, mas no caso dela ainda podia recuperar, Glimmer.

                Depois de o beijo acabar, sorriram com as suas bocas a milímetros de distância, até que se aperceberam de uma jovem rapariga loira a chorar, ali, paralisada pelo que acabava de ver. Cato no que pouco raciocinava e conseguia raciocinar naquele momento, olhou para ela e foi ter até ela, deixando Glimmer sentada numa cadeira.

                Cato seguiu-a e amarrou-a pelo braço:

                -Larga-me!-exclamou ela- Não tens que ir para perto da tua nova namorada?

                -Clove, aquilo não foi planeado, nos deixamo-nos levar pelo momento e aconteceu…

                -Eu não quero pormenores do que passou! Cato, eu amo-te! É assim tão difícil de perceber isso! Todo este tempo a tentar fazer com que tu gostasses de mim e tu ignoras-me!

                -Eu também te amo! Nunca te ignorei, apenas não queria dar nas vistas que eu apreciava cada toque que tu me fazias, cada palavra que pronunciavas, tudo.

                -Acabaste de beijar uma rapariga á minha frente! E quando uma pessoa beija outra é sinal que também gosta dela!

                -Eu já te disse! Foi uma coisa do momento,-insistiu ele-  ela nunca será como tu, o efeito que me provocas é tão fantástico que nem o consigo descrever!

                Após aquela declaração, puxou-a pela cintura e beijou-a, não aparentava ser um beijo como foi o da Glimmer, mas muito melhor, um beijo apaixonado no qual nenhuma das forças se recusava a continuar. Cato anunciou que tinha de ir para a aula, pediu para Clove lavar a cara e disse que a amava.

                Ao entrar na sala deparou-se com as suas duas alunas, organizou-as e deu-lhes exercícios simples para fazerem. Katniss errava na execução de todos, estando mais preocupada com o Mellark. Peeta Mellark. Soa bem, soa agora a um loiro de olhos azuis hipnotizantes da família inimiga.