Abro a torneira para encher a banheira - por sorte a água era bem quentinha – pego uma esponja de banho e um sabonete que achei jogado num canto do banheiro, e me viro para encará-lo.

–Venha aqui, chaninho! –digo, rindo.

–Chaninho? –ele pergunta.

–Isso. Chaninho! –respondo.

–Por quê? -ele quis saber

Ai meu Deus... Ele sabe se comunicar!!!

–Porque você se parece com um gatinho!!

–Como?

–É... Olha só para você: unhas compridas e afiadas, caninos pontudinhos, carinha fofa, e aqueles barulhos estranhos que você faz!E o seu comportamento! Você é quase um gatinho de estimação!

–Não sou não! –ele grita - Sou igual a qualquer outra pessoa... – ele para de repente e me observa atentamente – ou talvez não, mas mesmo assim não sou um animal!

–Não foi isso oque eu quis dizer... –tento me explicar.

–Não foi, é?

–É claro que não!

–Então o que foi que você quis dizer?

–Não sei... Mas não é nada disso que você está pensando! –digo, com lágrimas nos olhos.

Por que estou chorando?

–Por que é que você está chorando? –ele pergunta de um jeito azedo.

–Não estou chorando! –grito.

Caio de joelhos no chão, sem saber ao certo oque estou fazendo, encosto-me na parede e abraço minhas pernas, e choro como uma criancinha.

–Não está chorando... –ele diz sem piedade alguma.

Por que eu?

–Não acha que já está bom? Que você já chorou de mais? –ele pergunta.

Não respondo. Estou planejando dar um gelo nele, quando algo quente e líquido molha minhas roupas: A água da banheira! Esqueci de fechar a torneira! Quando estou prestes a me levantar, uma mão surge em meu campo de visão e fecha a torneira, enquanto outra – que não vejo –segura minhas mãos.

–Desculpe. –ele sussurra.

–Tudo bem... Eu é que deveria pedir desculpas! –digo.

–Não... Eu fui um grosso com você...

–Acho que mereci aquilo...

–Mas é claro que não mereceu! È que faz tempo que não tenho contato com pessoas de verdade... Acho que me esqueci de como era...

–Há quanto tempo você está sozinho? –pergunto.

–Não sei... - ele responde.

–Sinto muito.

Ficamos no encarando por um tempo, até que me lembro o porquê de estarmos ali.

–Você precisa de um banho...

–É... E você também.

Acabo corando com o comentário dele, oque o faz rir. Não resisto; acabo rindo junto com ele.