As Crônicas De Uma Renegada escrita por Norrie


Capítulo 6
Capítulo 5 - Paz


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora GIGANTESCA. Mesmo, pessoal, eu estava meio ocupada e tals. Enfim, espero que gostem!



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– Meena Trotski.

Vetra continua a me encarar, subitamente assente e desvia o olhar pro outro lado. O meu nome ecoa nos auto-falantes novamente e eu me levanto, indo em direção ao portão espelhado, a cabeça martelando. Toco o vidro gelado e o empurro, praticamente em transe. Só sinto uma luz forte e pesada cair por cima de mim e de todo e qualquer espaço da sala em um raio de 4 metros, contornando precisadamente o símbolo americano mais idealizado: A Águia. Apesar de ver tudo perfeitamente, só vejo o que está debaixo do feixo de luz e as áreas restantes estão mergulhadas no mais profundo breu.

Sinto um auto-falante ligar em algum ponto ás minhas costas.

– Vá até o bico da águia. - diz. Receio, mas obedeço ao comando. Nada acontece.

– Faça polichinelo. - A voz feminina não tem nem um pingo de deboche, mas tinha de ser alguma piada.

– O quê?

– Faça polichinelo.

– Não. - digo, firme. - Vocês estão tirando uma com a minha cara.

Há um momento de silêncio, até que os auto-falantes ligam novamente, mas não dizem nada. De repente, aparece á minha esquerda uma mulher levemente grisalha, vestida completamente de preto e com uma riffle nas mãos, apontando diretamente pra minha cabeça.

– Faça polichinelo - Ela repete, e o movimento da boca ecoa no auto-falante. Me limito á encará-la. Ela engatilha a riffle - Faça polichinelo.

Sinto o sangue gelar, mas permaneço imóvel. Faça polichinelo, sua tonta.– minha própria voz soa em minha mente - Vai acabar levando um tiro. Faça logo a droga do polichinelo!

Não faço.

A mulher apenas faz pressão no gatilho, sem alterar a expressão do rosto e quando me dou conta, uma bala de metal atravessa meu crânio.

Atravessa.

Literalmente, atravessa.

Não há sangue, ou um corpo estirado no chão ou uma luz divina que me levará ao encontro dos meus pais. Só há uma bala que quica no chão atrás de mim e uma mulher de grandes e enrugados olhos cinzentos, sorridentemente satisfeita. As luzes do restante da sala se acendem e me vejo em um ginásio, onde as arquibancadas estão pontilhadas por pessoas engravatadas e com blocos de papel na mão. Sinto-me nauseada. Deveria estar morta.

– Ora, ora - A mulher balbuceia em minha direção, ainda sustentando um largo sorriso. Se vira para as pessoas nas arquibancadas e grita: - Anotem aí, seus inúteis: Desmaterialização é a palavra! A mutação dessa garota é uma das armas mais inteligentes que passou por nossas mãos! Aqueles japinhas filhos da mãe vão bater em retirada chorando por misericórdia.

Todos anotam em seus blocos de uma só vez, entusiasmados. Então aquela devia ser a tal comandante. Por pouco não falo o que não devo. De que eu não sou uma arma e sim um ser humano. Decido, por fim, me conventrar apenas para o mais importante.

– O que é desmaterialização?

A mulher fica surpresa por me ver falar. Seu sorriso vacila, mas não desaparece.

– Acha mesmo que vamos ser tão burros á ponto de te dizer algo antes de chegarmos ao jardim? Você só vai usar suas proezas quando a gente mandar você usar. Enquanto isso se divirta na sua sela. Agora podem levar ela daqui.

– O que é o jardim? - Provoco, como se simplesmente não tivesse escutado nada do que ela tinha dito antes, mesmo estando sinceramente curiosa para com a minha pergunta. Em recompensa, recebo um olhar irritado.

– Tirem. Essa. Garota. Daqui. Agora.

Um par de braços pesados se envoltam nos meus e me carregam até um outro portão, ao lado oposto do ginásio.

– Eu vou descobrir! Você querendo ou não, eu vou descobrir tudo! - Grito.

A mulher se vira e me encara com o ódio oscilando no olhar, e aí as luzes se apagam novamente e sua voz chama outro nome aleatório para dentro. Os soldados me arrastam pelos corredores da nave e me enfiam na minha antiga solitária. Me encolho no chão, tremendo, a cabeça pesando com tantos pensamentos explosivos. As palavras de Vetra sobre os poderes finalmente fazem efeito sobre mim.

"Eles vão fazer você usar ele, mesmo sem saber qual é. Mas eu sei o meu. E é útil. Vou fazer algo útil."

Eu queria saber o meu também e aí poderia acompanhá-la e fugir desse pesadelo, mas tudo de que me lembro é de uma bala que passou direto pelos meus miolos e saiu intacta. Além daquela palavra que nem consigo lembrar como se pronuncia. Desmalgumacoisa. A portinhola da porta de metal se abre e um prato com um caldo malcheiroso é arrastado pra dentro.

– Bon apetit, aberração. - Um nariz anguloso de um jovem cadete debocha de mim. Levanto vaciladamente para socá-lo, mas deixo o prato cair, dando mais tempo pro rapaz fechar a portinhola e rir por trás dela.

– Abra essa porcaria e seja homem pra me enfrentar, seu covarde! - Apenas escuto o eco da minha própria voz e uma risada distante.

Sento no chão, encolhida de cansaço e fome e chuto o prato com desgosto. Mais ou menos umas duas horas depois, mesmo com todos os mistérios, dramas e dúvidas me envolvendo, acabo tombando pro lado e adormecendo, já que dormir é a única opção de paz que eu possa encontrar por aqui.


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