Seven Days. escrita por Lane P


Capítulo 3
Robsten O'Conner, maldito perseguidor.


Notas iniciais do capítulo

Indisciplinadamente mestiça e fajuta. Sem valor, com história, fria e arrogante. Rogada em tristeza e loucura, estabanada e destrambelhada. Mas sua, querido. Lane Passos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345597/chapter/3

Abriu os olhos. Por um segundo, tudo havia parecido um sonho. Mas não era. Na verdade, nem um pouco.
Era mais do que real.
Eles realmente haviam passado a noite juntos e ele dormiu ao lado dela. Serafina estava feliz. Ele era um traficante, um bandido, distinto dela mesma.
Esteban dormia esticado na cama de casal, enquanto Serafina levantava-se com o maior cuidado para que não o acordasse. Foi ao banho e por não ter roupas, novamente usou uma das camisas de Esteban. Além de serem confortáveis, continha o cheiro dele.
A fragância que foi a única companhia dela enquanto ele ficava fora de casa. E aquilo não duraria muito tempo. Haviam se passado 3 dias. Sua apresentação seria em exatamente 4 dias. Mas não queria deixá-lo, nem mesmo dizer adeus. Mesmo que a dança fosse uma parte importante da sua vida.
Um ruído.
Era Esteban.
Ele acordara enquanto ela saia do banho. Serafina prendia os cabelos e ele a observou. Ficou louco na noite passada. Não era apenas bonita. Era encantadora. Doce e ao mesmo tempo, quente. Descobrira isso ontem a noite.
Serafina tremia todas as vezes em que ele tocava sua pele. Como das vezes em que os lábios carnudos de Esteban tocaram seus seios e suas partes íntimas. De como cada parte do corpo dos dois se conectassem e nada fosse capaz de mudar aquela situação.
Aquela noite sempre fará parte dela. Ainda nem acreditara que havia transado com ele. Logo ele. Que no início, esperou pela morte assim que fora sequestrada. E não tinha medo de saber que dias depois seu marido a resgataria. Robstein a perseguiria até que não achasse mais forças para resistir a persistência daquele homem.
Sentia nojo em todas as vezes em que a pele seca dele o tocara. Se assustava, porque não conseguia simplesmente fugir. Porque no fundo ele sempre soube que ela voltaria. Porque precisava dele para que sua dança fosse vista. Precisava dele e se odiava por isso.
Abriu os olhos. Esteban estava a sua frente, beijando sua testa. Seus narizes se tocavam e a sintonia dos lábios caiam muito bem. Os dedinhos de Serafina cabiam muito bem na palma da mão de Esteban. Ela era sua pequena, literalmente. Faria piadas sobre isso com ela. E gostou de pensar nisso.
Ele se deparou com sua consciência quando lembrou que havia visto algo tatuado nas costelas de Serafina. Logo percebeu que também haviam algo em comum. Les Français. Ela também adorava aquela lingua. Sua frase significara "Eu tive de morrer para que você pudesse me ouvir". E não era comum, era a primeira garota que encontrara e batera um bom papo antes de fazerem sexo. E ainda mais, dormirem juntos. Acordarem na mesma cama. Se o dissessem isso a alguns dias atrás, Esteban acharia graça.
Cada parte de Serafina era um labirinto. Não só por dentro, mas por fora também. Ficou nervoso por não saber o que a satisfaria. Poderia dizer que ela vinha de um outro mundo, que era totalmente diferente do seu, e que era uma incógnita.
Nunca foi bom em matemática.
E ela era uma. Daquelas em que ele passaria horas estudando uma questão e no fim, não teria resultado. E ao mesmo tempo, ela era simples. Doce. Amigável. Quase sem defeitos.
Segurou nas mãos dela e passearam juntos. Ele não se deu conta por um segundo que alguém naquele lugar ou qualquer X9 de outro morro poderia tê-la visto. Não prestou atenção. E isso foi um erro. Mas não por não ter percebido, mas sim por não ter cuidado dela como deveria.

Esteban saiu depois de ter tomado banho, ter feito suas higienes e tomado o café que sua Serafina preparou.
Sua Serafina.
Soou estranho, mas bonito.
Ele gostou.
Voltou depois com duas sacolas de roupas. Havia comprado para ela, pelo menos foi o que ele disse. Na verdade, não podia ir em shoppings sem que fosse reconhecido por alguma de suas ações, nem mesmo caminhar livremente pelas ruas. Sua vida era no morro. Ele respirava aquele ar.

J'ai dû mourir pour que tu pourrais m'entendre.
Aquilo o perseguia. As cifras que cercavam a frase e as sapatilhas que constavam na cintura da moça. Entendeu que queria escondê-las e que damas também fazem coisas erradas. E ela fazia agora. Dormia com ele. Um vagabundo.
Quando ela saiu, ele observou-a outra vez. Usava um vestido de veludo vermelho, que ele lhe dera só para que pudesse admirá-la assim. Porque ela o atraiu com vestidos bonitos e não os que ele era acostumado a ver as vadias daquele morro usarem. E eles nunca ficariam tão bons nela quanto este. Que entregavam a beleza que continha nela.
Ele sentiu aquilo outra vez. O tal desejo incontrolável. Ela estava irresistível. Digna de aplausos. Conversavam pelo olhar. E ele sabia muito bem ouvi-la quando ela quisesse falar. Não falava muito, mas era bom. Assim nunca cansaria da sua voz.
O rádio de Esteban apitou. Era uma invasão do Morro de Tibajaná.
Ele deu um pulo. Correu até Serafina e a segurou pelos braços. Beijou-a. Não era a primeira e nem a última invasão que havia ali, mas ele nunca teriam certeza de nada. A única coisa que tinha certeza é que morreria um dia. E não podia ser agora. Queria viver com Serafina durante algum tempo e percebeu o quanto aquela vida que ele levara os afastava mais e mais.
Serafina não entendeu muito bem. Via certas vezes noticiários sobre disputas de facções para tomar o morro de outra, e aquilo parecia algo louco, pois não tinha tanta necessidade. Pelo menos era o que ela achava.
E mesmo assim, achou melhor confiar nele e em sua capacidade.

– Preciso ir agora, Sê.

O coração de Serafina palpitou quando ouviu ele chamá-la de "Sê". Não era tão bonito, mas ele pronunciou direitinho. Era chamada assim apenas por seus falecidos pais.
"Por favor, Esteban. Não me deixe sozinha. Preciso de você aqui.". Foi o que ela pensou, mas não conseguiu dizer.

– Por favor – seu coração pesava –, não se machuque, está bem? – a voz de Serafina falhou. E por alguns minutos desejou que nada daquilo fosse acontecer. Em seus pensamentos, era Robsten que a seguira, mas não era. Pelo menos não por enquanto.

Ouvira os tiros de lá de fora e precisou se esconder. Primeiro, trancou todas as portas da casa e todas as janelas. Fez tudo isso em menos de dois minutos.
Pensou em esconder-se embaixo da cama, seria seguro. Mas também seria muito óbvio. Correu até o guarda-roupa e se encolheu entre as roupas. As horas se passavam e já se sentia encurralada lá dentro. Realmente não estava preparada para isso. Não conseguia chorar, porque não lhe convia. Apesar de que pensassem que era frágil, ela era muito forte.
Fechou os olhos e tentou não lembrar do que acontecia ao seu redor. Seus pensamentos foram levados para outro lugar, um recinto onde ninguém conhecia. Dentro dela mesma. Poderia descrever os pedaços quebrados e os seus batimentos cardíacos se atrapalharem. Se atrapalharem como ela. Que quando tentava concertar algo, sempre 'fodia' com todos os outros.
Quando foi levada por Esteban, pensou que iria morrer e que todo aquele sofrimento iria embora. Por isso ficou tão quieta. Esperou pela morte graciosamente, mas ela não aconteceu. Ao contrário. Estava gostando daquele vagabundo que invadiu a casa dos Dockland, e a livrou de uma séria briga que se tornariam em hematomas quando Robsten descobrira que ela havia saído de casa, se não fosse para dançar.
E daquela vez não era.
Apenas precisava de ar puro. Isso explicara sua cicatriz no pulso esquerdo, de quando era adolescente. Uma simples discussão com uma de suas melhores amigas, que a fez cair e machucar o pulso. Foi a primeira vez em que chorou em público e a respiração falhou. Foi a primeira vez que ela percebeu que não deveria ser tão fraca.
Depois disso, não chorava nem mesmo quando Robsten a machucara. Não só com palavras, mas com seus ataques nervosos. Isso só aconteceu novamente quando viu Esteban pela primeira vez, a exatamente 3 dias atrás. Viu a mesma dor de anos atrás, quando caira e machucara o pulso. Por isso suas lágrimas haviam caído. Porque sentiu aquele medo outra vez.
Humilhação. Sempre odiou essa palavra.

Passos na casa eram ouvidos agora.
Nenhuma palavra.
Estranhou por não ter ouvido a voz de Esteban. Pensou que talvez estava tão cansado que não conseguia dizer nem uma palavra. Porém, era estranho. Os tiros continuavam lá fora.
Serafina se encolheu um pouco mais lá dentro.
Entraram no quarto. Podia perceber o quão aquela pessoa podia procurá-la pelos cantos da casa. O quarto foi o último cômodo que sobrou. E ela estava nele. Fechou os olhos e pediu para que sua santa consciência não gritasse. Estava com medo outra vez. Odiava senti-lo.
Os passos se aproximaram do guarda-roupa e ela fechou os olhos e pediu para si mesma não entrar em desespero.
O que queriam fazer com ela? Não tinha nada contra aquele morro ou aquela briga entre eles. E mesmo que achasse injusto todas as mortes e tantos inocentes injustiçados, preferia não meter a colher onde não devia.
Abriram a porta, e quando ela pensou que poderia gritar, não o fez.
Sabia quem era.
Robsten O'Conner.

1 dia depois.

Serafina acordou. Se encontrara em um quarto e achou que havia sido apenas um sonho. Mas não foi. Não quando viu dois seguranças observando-a. Se deu conta de que Robsten a levou.
Desejou que ele não existisse e que acordasse daquele pesadelo, que mais parecia com sua cruél realidade. Não era possível. Ele sabia onde ela havia estado nos últimos dias e mesmo assim não foi até ela. Talvez por esperar o momento certo.

– Querida. – ouviu a voz de Robsten e seguiu com os olhos baixos. Não fugiria dali e não tinha certeza se um dia se veria livre dele. E não confiava se Esteban iria atrás dela. Apesar de ter sido sincero e ter visto isso em seus olhos, ele continuava sendo um traficante. Continuava sendo um homem frio e fora da lei.
– Como conseguiu me encontrar? – Serafina gesticulou, desejando que ele não a engolisse depois desta conversa.
– Eu sei que fora levada embora das casa dos Dockland, que se eu me lembro bem, nunca havia permitido que fosse até lá. – Robsten seguia calmo, mas seu olhar era lastimador. – Agora você percebe porque não a deixava sair de casa, Serafina? – Serafina teve a leve impressão de que ele pronunciara seu nome tão friamente que suas palavras soaram feias – Apenas a quero bem. E quando soube, por informações sigilosas que você poderia ir embora quando quisesse e mesmo assim continuou lá, eu mesmo tive de salvá-la. – Ótimo, "salvá-la". Riu disso. Porém, o olhar de Robsten chegara a ser tão doentio que Serafina se encolheu desta vez. Preferia viver entre os tiros do que entre os cuidados de Robsten.
Havia voltado para o inferno novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não estou totalmente satisfeita com a contagem de leitores que estou tendo, mas muito obrigado por quem comentou! Então, vamos lá...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Seven Days." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.