Seven Days. escrita por Lane P


Capítulo 1
Viu Serafina pela primeira vez.


Notas iniciais do capítulo

O mundo não é ruim, só está mal frequentado.
Luis Fernando Veríssimo.



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O Morro do Mourão esperava ansiosamente para que Esteban desse o sinal e invadissem aquele lugar. Era um condomínio calmo e livre, que não costumava ter invasões como a que teria agora. Enquanto seus capangas invadiam aquele local, ele a viu. Ela era uma garota infeliz.



Segurou-a pelo pescoço e viu o medo percorrer por seus olhos. Não estava aflita e isso o afetou. Era tão envolvente olhá-la nos olhos que não conseguia parar.


Um barulho.


Era a sirene que em míseros segundos o levaria para uma cela.


Uma hora depois, de volta ao morro. Ele a havia levado para lá também. Não parecia triste e nem feliz. Suas feições continuaram as mesmas. Esteban não tinha ideia do que fazer com ela e seus amigos não entendiam porque ele a havia trazido. Ela não parecia ter algum conhecido naquele local, porque a polícia não os perseguiram muito longe.

Ele a levou para sua casa e a deixou presa. Não queria que ela fosse embora antes do baile de sexta-feira acabasse. Esteban voltou. Era tarde e ela dormia. Ele estava agitado, mesmo que houvesse tido relações sexuais com muitas vadias que frequentavam aquela festa. Entrou em seu quarto e lá estava ela. Dormia de bruços e ele se aproximou.

A bebida ainda o consumia, mas não o deixava anestesiado.

Não ouvia nada.

Ele esperava ouvi-la chorando no escuro, mas ela não estava.

Ouvia apenas sua respiração afagada e que respondia o que ele não desejou. Ela dormia. Mesmo lutando contra seu ideal, ele se aproximou e deitou-se ao seu lado. Deu beijos no cangote da garota e não conseguiu fazê-la despertar. Então ele a acordou. O sorriso que ela deu o fez pensar em como soaria bonito vê-la acordando quando o sol explodisse todas as manhãs.

Retirou estas idéias da cabeça quando pareceu ridículo e quando o sorriso dela se desfez. Imaginou se o sonho que ela tivera estava bom e se ele era motivo o suficiente para estragá-lo.

Deu-a mordidas na orelha e não sentiu sequer um calafrio transmitido pela pele de Serafina. Isso o incomodou, como o jeito de ela agir diferentemente de todas as outras mulheres que havia conhecido. Desistiu quando se sentiu inútil e olhou para o teto, contando as listras que em seu papel de parede continha. Perdeu a conta assim que viu-a revirar-se para o outro lado e dormir. Ela se encolheu. Ele dormiu.

Foi acordado pela luz do sol que sucumbia pela janela do quarto e seus palavreados assustou a garota que perambulava pelo quarto. Olhou-a surpreso quando percebeu que ela ainda estava ali quando descuidadosamente ele dormiu e deixou seu caminho livre para ir embora.

E ela não foi. Ela vestia uma de suas blusas de listras verticais que a serviu como pijama, e ele percebeu o quanto ela parecia baixinha quando não a viu de salto alto. Levantou-se e não a encarou. Caminhou até a cozinha e seu semblante mudou quando viu como sua casa parecia apresentável e de como o café já estava na mesa. Olhou ao redor e lembrou-se da última vez que havia visto os cômodos tão bonitos.

Ela caminhou pela sala e ele olhou para ela. Os dedos de Serafina passeavam pela parede e Esteban sentiu que ela queria tocar o céu. Mas ele sentiu aquele carinho em sua alma.

Olhá-la lhe dava agonia. Não dava para explicar nem a si mesmo como estava deslumbrado por sua beleza e cumplicidade. Ela era doce e tão diferente dele...

Ela não olhava para seu rosto e se incomodou outra vez. Era tão misteriosa e frágil que o fato de tê-la à centímetros de distância o perturbara. Esteban foi embora sem dizer sequer uma palavra. Não trocaram sequer um oi e nem ao menos sabiam sua identidade.

Desta vez ele não a trancou, esperando saber a vontade da garota. Naquele morro ninguém seria louco de vasculhar as coisas do famoso chefe frio e rigoroso Esteban. Ninguém sabia seu nome, as pessoas preferiram sempre tê-lo denominado de Coringa.

Voltou. Viu a TV ligada e rezou para que ela não estivesse ali. Mas se arrependeu de ter rezado quando imaginou que não veria o sorriso dela outra vez. Ela estava lá. Usava outra camisa de Esteban e no fundo, no fundo, ele ficou feliz.

Ela estava de costas e não se preocupou em saber quem havia aberto a porta. Parecia preparar algo delicioso e agradeceu por isso quando ouviu o rugido de seu estômago. Ela realmente não havia ido embora.

Olhou para o seu corpo num ato inesperado. Não o estava dando tesão, mas deslumbrava uma brava ilusão. Imaginou como beijá-la soaria ser. Teve pensamentos sexuais com ela e se arrependeu quando viu que não seria bruto como era com todas as outras. Quando percebeu que seus pensamentos só estavam ao redor dela e mal a havia conhecido.

Será que as garotas da alta sociedade passavam esta sensação? Ele acreditara que não. Tinha certeza de que sentiriam nojo só de vê-lo por perto. Mas ela não. Parecia morar ali fazia anos. Usava suas roupas como se realmente fossem seus pijamas. Soltou um leve riso que a assustou e a fez derrubar a colher quente.

Pulou quando a pele do seu pé ardeu. Correu para ajudá-la, mas parou quando seus olhares se cruzaram. A dor de Serafina parecia ter amenizado quando as mãos de Esteban acariciou a queimadura. Ela o fitou atônita e ele desejou não estar ali. Havia agachado pela primeira vez para uma mulher, mesmo que não fosse intencional. Era como se estivesse fazendo um pedido de casamento e tinha certeza de que ela gostaria quando viu o brilho nos olhos dela.

Levantou-se finalmente e se sentiu desesperado quando não se reconheceu.

Ela deu um passo que fez com que não se olhassem mais, Esteban deu um pulo e agora segurava o pulso da garota, que inocentemente apenas queria observá-lo de longe. Seus olhares se cruzaram e era perceptível o abismo entre os dois. Não havia nada. Nem sequer a identidade de ambos.

Ele a soltou e ela não fez nenhuma reação, apenas voltou para o quarto. Quando ele foi dormir, viu o semblante do rosto da garota que logo se desfez. Teve a coragem de perguntar seu nome.

E ela não respondeu. Viu que agora ela estava com medo. Era como uma criança que sentia medo do castigo depois de ter sido descoberta fazendo alguma burrada.


– Serafina.




Serafina. Esse era o seu nome.




Seus olhos azuis e profundos o penetrou e ele sentiu raiva de não conseguir parar de olhá-la. Era tão frio que não soube a certo ponto como ainda não a tratou mal.


Seus punhos estavam cerrados, assim como sua respiração. Ela deveria ter ido embora e ele pensou como seria triste não vê-la dormindo em sua cama novamente e tentou na falha tentativa de afastar essas idéias de sua mente.

Mas era insano e insuportável.

Voltou para sala e percebeu o quanto queria conversar com ela.

Sempre foi solitário. Era o dono de tudo aquilo ao seu redor e mesmo assim se sentia sozinho. Todas as outras pessoas sentiam medo do olhar que ele transmitia. Mas ela não. E também não havia maldade e nem sequer ganância em suas miradas e gestos. Eram inocentes.

Ela era mulher demais para ele. Diferente de todas as outras mulheres baixas que ele vivia sentindo tesão, ela apenas o dava um pouco do gosto de vida. Pensou em como seria caminhar pelas ruas com ela, sem que houvesse o medo de ser pego e preso por seus crimes cometidos.

Ela vinha da alta sociedade e ele era apenas um vagabundo.

Mas ela não era sua dama. E era isso que estranhamente lhe doeu.

Não era sua.


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Notas finais do capítulo

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