21 de janeiro de 2013, ás 19:03

Augusto estacionou a picape no estacionamento em frente ao hospital, preferiu ficar no carro e mandou Jonas procurar a garota.

O adolescente correu para dentro do hall, onde estava com Melanie mais cedo. Todas as cadeiras cinzas que ficavam espalhadas no local estavam vazias. Apenas eram vistas algumas senhoras esperando atendimento e todas as enfermeiras estavam sentadas, de pernas cruzadas rindo e batendo papo.

Jonas se aproximou de uma delas.

–Com licença - a bonita moça de cabelos castanhos e lisos o penetrou seu olhar esverdeado - Por um acaso você viu uma menina aqui hoje, ela estava esperando...

–A avó? - a moça o interrompeu, ele reconheceu sua voz, era quem falava ao microfone mais cedo.

–Sim.

–A avó dela... É... - não sabia como dar uma má notícia, não tinha o preparo - Ela faleceu.

Jonas suspirou e sentiu um aperto no coração, não devia ter deixado Melanie sozinha.

–E você sabe pra onde ela foi? - perguntou, abalado.

–Não sei, ela ficou o dia inteiro sentada ali, chorando - apontou para uma das cadeiras, do outro lado do hall, onde os dois se sentaram mais cedo. - E a pouco saiu, não faço ideia, me desculpe.

–Tá bem, muito obrigado - agradeceu o garoto antes de dar as costas e sair do lugar.

Ao sair, sentiu o ar gelado da noite em Precious Gold, o ar de lá tinha um bom cheiro, devia vir das várias flores nas fazendas que rondeavam praticamente toda a cidade.

Avistou o carro de seu padrasto de longe, mas algo estava estranho, a luz de dentro do carro estava acesa, e tinha alguém dentro. Jonas se escondeu por trás de um arbusto na saída do hospital e continuou observando.

Era uma mulher, de longe só o que Jonas via era uma sombra com pouco contraste, forçou as vistas, conseguiu enxegar o cabelo castanho claro e antes que pudesse se aprofundar a mulher saiu do carro. Tinha o corpo definido, usava uma calça jeans branca, jaqueta também jeans porém preta, e um óculos de sol sobre a cabeça.

Foi para outro carro no estacionamento: uma pajero preta.

Jonas se levantou de trás do arbusto, pronto para ir até o carro e confrontar seu padrasto. Mas antes que ele pudesse ir algo tocou sua mão.

Imediatamente Jonas virou a cabeça e a viu: Melanie.

De repente, simplesmente esqueceu do que acabou de ver, e a abraçou.

Melanie chorou nos braços do novo amigo, o qual acabou se rendendo as emoções, e chorou junto.

21 de janeiro de 2013, ás 21:00

A viagem até a casa foi totalmente silenciosa, Jonas bufava ao pensar que outra mulher estivera no carro. Não precisava nem perguntar, ele já sabia o que ela "fazia" dentro do carro. Não trocou uma palavra com Augusto.

Ana e Augusto deixaram Melanie passar a noite, pois Ana já havia terminado de arrumar toda a casa e havia um quarto sobrando no segundo andar. No dia seguinte, uma assistente social viria buscar Melanie. Ela teria de ir para um orfanato.

Era hora do jantar, Melanie não escondia seus abalos, Lívia continuava estranha, Ana também, Jonas apertava os olhos para Augusto e continuava bufando. Como não era de se admirar, ninguém questionou.

Melanie sentou-se ao lado de Jonas, e o observou.

–Acho melhor você não contar - disse ela, usando um certo olhar de superioridade.

–Do que está falando?

–Eu vi, estava atrás de você.

Jonas envermelhou e lançou um olhar assassino a Augusto.

–Eu sempre soube que esse nojento trai minha mãe, e...

–Ele não estava a traindo - sussurrou ela.

–Não estava? Claro que estava. Eu vi com meus próprios olhos. Está do lado dele?

–O que você viu foi uma mulher saindo do carro dele. Não é?

–Sim, mas ela...

–Eu estava lá e vi você chegar, e entrar no hospital, mas antes de te seguir vi Aquela moça entrando no carro do Augusto e fiquei olhando, não aconteceu nada.

–Espera...

Antes que pudesse terminar de falar, Ana apareceu na cozinha com um refratário em mãos, algo cheirava bem. Era macarronada.

–Aqui está o jantar, queridos - disse a mulher, colocando o refratário na mesa.

Todo o jantar se passou em silêncio, nenhuma palavra. Vez ou outra Augusto sorria para Melanie, um sorriso um tanto acolhedor, como se sorrisse para uma nova filha. Jonas se sentiu incomodado. Agora ele também ia trair sua mãe com Melanie, era só o que faltava.

Assim que terminaram de jantar, todos foram para seus quartos, o dia fora agitado... Precisavam dormir.

22 de janeiro de 2013, ás 4:02

Jonas não conseguia pregar os olhos pensando na possível traição de seu padrasto sobre sua mãe, não conseguia aceitar. E além destes pensamento, o incomodavam os estranhos ruídos na casa, e os raios seguidos de tremendos trovões assustadores que ecoavam no lado de fora sobre toda a extensão de Precious Gold.

Queria saber como estava Melanie no quarto ao lado... Será que conseguira dormir com todas as conturbações?

Simplesmente não conseguiu se render a curiosidade. Se levantou de sua cama. A treva do lado de fora emoldurada pela porta o dava calafrios, mas sabia qua não havia o que temer, saiu e rapidamente correu para o quarto ao lado e se deparou com algo chocante.

Melanie não estava na cama, mas sim caída no chão sendo puxada por algo. A coisa tapava sua boca e ela não conseguia gritar, puxava-a na direção de uma das paredes, onde havia algo como um duto tapado por uma tampa de ferro. Ao ver Jonas soltou Melanie e tentou sair do quarto passando por baixo dele, mas ele enfim consegui enchergá-la. Era sua irmã. Lívia estava estranha, seus cabelos castanhos cacheados passaram a ser pretos e lisos, sua boca estava vermelho sangue e seu rosto atingiu um tom pálido tão claro quando folha de papel, e soltava gemidos estranhos enquanto driblava Jonas para sair do quarto, o qual se rendeu e deixou a menina sair do quarto.

Enquanto ouvia passos fortes descendo a escada, foi ajudar Melanie a se levantar.

–O que houve aqui? - perguntou a garota, traumatizada.

–Não sei, vou descer e encontrar Lívia.

Pôs Melanie ainda confusa e assustada sentada na cama saiu do quarto.

–Lívia - chamou-a o garoto, enquanto acendia todas as luzes que podia.

Desceu a escada e acendeu a luz da sala, nada. Foi a cozinha, nada. Andou até o quarto de Ana e Augusto e Lívia também não estava no seu pequeno divã.

Acordou a mãe.

–O que foi filho? - perguntou Ana, ao notar o estado do garoto.

–A Lívia está estranha, mãe... Eu acordei e ela tava puxando a Melanie... Aí depois eu vi que ela estava branca e agora ela sumiu...

O coração de Ana começou a bater na mesma velocidade do filho. Ela sabia o que estava acontecendo, ja passara por algo parecido antes...

Augusto também acordou.

–A Lívia... - disse Ana. Não foi preciso mas de nenhuma palavra, Augusto pulou da cama.

–Onde ela está? - perguntou ele.

–Não sei, ela sumiu... - Jonas ofegou.

"Lívia", gritava Augusto, procurando a filha pela casa.

Jonas o seguiu, se assustou ao ver Melanie no pé da escada.

A puxou e procuraram Lívia por toda a casa. A menina simplesmente desapareceu, não estava em lugar nenhum, só havia uma lugar...

–O porão - opinou Jonas.

Todos foram para o porão, a porta outrora ignorada por todos, agora era assustadora.

Augusto puxou a maçaneta e seu coração pulou ao ver sua filha desmaiada... Mas não havia só ela, o porão estava lotado de gatos.