Underworld escrita por shyneider


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Saindo o capítulo cinco. Poderia aguardar mais alguns dias, mas pra ser sincero quero atiçar e muito a curiosidade de vocês... Encerro aqui esta nota inicial, desejando apenas que se divirtam com mais um capítulo betado pela queridíssima Perséfone.



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Jack sabia o que estava acontecendo, não era a primeira vez que passava por aquele lugar, a rua deserta e muito antiga, a água empoçada nos muitos buracos que havia pelo caminho, a luz fraca que não iluminava mais que dez centímetros a frente, e o vento gelado que parecia chamar seu nome.

E então, como se fosse mágica ele aparecia, tão cruel como sempre foi, com seu olhar maligno e sua risada desprezível. Os pés não tocavam o chão e suas vestes esvoaçavam ao seu redor como se ventasse a todo o momento e para todas as direções, os cabelos também esvoaçavam em torno de sua cabeça, quando olhava para trás ela sabia o que veria, Denil estava caído no chão com os olhos vidrados, parecia morto, mas seu corpo sacudia muito lentamente, ele não iria se levantar para ajudá-la e ela não contava com que ele fizesse isso.

— Não se preocupe doce Jackelin... – ele disse calmamente. – Não vou machucar você...

Jack fitou os olhos azuis congelados e tentou gritar, mas de algum modo ficou muda, ele a segurou e logo estava rendida submissa às vontades de Agon. E então veio a dor, a sensação de asco, e o nojo de si mesma.

Jack acordou com seu próprio grito, estava deitada na sua cama, em seu quarto, mas aquilo tudo lhe parecia distante demais da sua realidade, inconscientemente sua mão estava sobre sua barriga e ela deslizava os dedos sobre a pele molhada de suor frio, suas lágrimas escorriam descontroladas e enquanto com uma mão Jack apertava a barriga, com a outra ela tapava a boca para não deixar que os seus soluços acordassem Denil, o qual dormia na sala, embora ela já desconfiasse que ele estivesse acordado.

— O mesmo pesadelo, não é? – disse uma voz vinda do lado mais escuro do quarto.

A mulher não se assustou, pois conhecia muito bem o dono daquela voz, Robbin. Há três dias ela poderia jurar que ele estava morto, mas quando ele a arrastou para casa a mando de Gulag, Jack soube que havia algumas explicações a dar, e uma delas, a que mais lhe incomodava naquele momento, era o pedido do juiz.

— Não tem como esquecer Robbin... – ela respondeu fitando o contorno do homem caminhar até a porta e estender a mão até a parede, após um breve clik a luz do quarto acendeu e ela pode fitar os olhos do velho amigo.

O homem era bem mais alto que ela e mais forte também, seus olhos eram rasgados e castanhos escuros, os cabelos negros cortados em moicano demonstravam que muito da cultura do povo da superfície ainda sobrevivia ali, no subterrâneo. Seus lábios eram pequenos e bem desenhados, e a pele era marrom avermelhada. Houve uma época em que Jack faria qualquer coisa para se deitar ao menos uma vez com Robbin, mas isso acabou quando Denil entrou em sua vida, ela agora o amava, e Robbin não passava de um bom amigo que ela gostava de manter por perto.

— Você morreu na explosão... – ela murmurou enquanto se virava e colocava os pés no chão. – Eu vi seu corpo, senti o seu pulso desaparecer...

— Jack, por favor, se acalme... – Robbin falava em um tom de voz brando.

— Você estava nos meus braços quando morreu e os seus olhos ficaram opacos e a sua respiração parou... – ela continuava falando e aos poucos o que dizia se tornava indistinto, até que algo se firmou em sua cabeça e ela voltou a ter o foco para continuar, furiosa ela fitou o homem, e teve de se controlar para não manipular as pedras ao redor de si e atacar o amigo. – SEU DESGRAÇADO O QUE ACONTECEU?!

Com um salto, Jack alcançou o homem e começou a dar socos em seu peito, mas o sonho que tivera e naquele momento estar cara a cara com seu amigo que deveria estar morto, foi demais, e logo estava sentada no chão sobre as próprias pernas e abraçada a Robbin, que esperou pacientemente até que ela estivesse um pouco melhor. Quando percebeu que a mulher havia baixado guarda, ele a pegou no colo e levou até a cama.

— Quando a guerra estourou todos nós estávamos preocupados, sabíamos o quanto o inimigo era poderoso, mas nunca havíamos enfrentado alguém como Sombra da Noite... – ao ouvir aquela alcunha Jack estremeceu. – Tudo o que lançávamos contra ele atravessava seu corpo, mas por onde passava, Agon deixava um rastro de destruição. Levantávamos barreiras e ele as colocava no chão, pedra e ferro caíam por terra, fogo não o queimava, e juro que vi um soldado usar um golpe elétrico... Nunca vi ninguém manipular a eletricidade, mas o que testemunhei era a mesma coisa que os antigos chamavam de raio, e mesmo assim, atravessou o corpo de Agon como se ele não fosse de carne e osso...

— Não é a toa que o chamam de Sombra da Noite, não é mesmo? – ela perguntou tentando não se deixar abater pelo pavor que sentia apenas por pensar naquele homem.

— Tem razão... Não percebemos o que nos atingiu até que tudo começou a ir pelos ares. E então as coisas começaram a dar errado, vocês desapareceram e nós que sobramos no campo de batalha ficamos cara a cara com o horror estava destruindo todas as nossas defesas, até que o inimigo passou por todos nós como uma flecha incandescente que ateou fogo em tudo ao seu redor, e você viu a explosão...

— O que houve? Como sobreviveram?

— Gulag... – Robbin abriu um sorriso triste e continuou. – Ele protegeu todos que estavam no raio da explosão, mas todos nós experimentamos por algumas horas o abraço da morte... Posso afirmar Jack, que eu gosto muito do meu estado atual... Estar morto não é nada agradável, nunca é como nos fazem pensar.

— E como é?

Jack e Robbin se viraram na direção da porta, Denil estava ali, de pé, encostado no batente da porta, seu olhar aguçado indicava que ele escutara toda a conversa e decidira que era chegado o momento de interferir. A mulher queria poder dizer a ele que não era a hora mais propícia, mas não conseguia encontrar um motivo para que ele não se juntasse àquela conversa, então, mesmo contrariada, Jack se calou.

— Olá Denil... – disse Robbin.

— Como é morrer? – Denil perguntou ignorando as últimas palavras do homem.

Monte Inverno

Magor fazia a sua ronda noturna quando sentiu uma forte dor no coração, tomado pelo desespero, ele apoiou contra a parede, e começou a ouvir uma música bem baixinha, cantada por uma voz sobrenatural. Alguma coisa naquela música lhe dava todos os motivos para sentir pavor do lugar onde estava, mas era tarde demais, suas pernas não o obedeciam, e seu coração agora doía como se uma mão o estivesse apertando com muita força. Por fim, Magor, o carcereiro de Monte Inverno, estava morto, estirado no chão em meio ao corredor do nível máximo, onde eram mantidos prisioneiros os assassinos cruéis.

Os prisioneiros se encolheram quando um homem passou por cima de Magor, ele tocava o chão com a ponta dos pés, os cabelos muito longos deixavam um rastro escuro para trás, e sua risada maligna ecoava pelos corredores da prisão.

Agon não estava muito preocupado com o que iria acontecer dali pra frente, a cada guarda com quem se deparava, o assassinato era imediato, ele nem mesmo suava, seus movimentos eram silenciosos e certeiros, no fim, apenas um gemido ou raramente, um grito agonizante era a última coisa que se ouvia.

Os guardas corriam na direção dos gritos, e encontravam apenas o rastro de morte deixado por um assassino sem consciência. A medida que avançava em seu caminho, Agon ficava cada vez mais entediado, e também impaciente, ele detestava atrasos, e sentia como se estivesse perto de se atrasar para um compromisso.

Quando alcançou o segundo nível, onde a segurança começava a ficar rigorosa, os seus instintos o avisaram que havia algo errado, e com um longo pulo para trás, ele evitou por muito pouco ser atingido pelos escombros que restaram quando o teto explodiu. 

Em um movimento rápido, Agon destruiu a montanha de escombros e teve de se esquivar da saraivada de balas que eram disparadas em sua direção. Pacientemente ele esperou até encontrar uma brecha, e então se tornou um borrão vermelho passando em meio aos guardas, e um a um todos caíram sem vida. Ainda sem se deter continuou seu caminho, e novamente parou antes de outra explosão, mas dessa vez nada o impediria, muito menos uma pilha de pedra.

Sombra da Noite concentrou seu poder em um único ataque, e lançou uma bola de fogo esverdeado através da montanha de escombros em seu caminho, o fogo atravessou as pedras e do outro lado ouviu-se apenas gritos de desespero e de dor, e por fim o silêncio.

Agon abriu um buraco por entre os escombros e se viu em frente ao túnel do trem, um sorriso de satisfação rasgou seu rosto inflexível, tranquilamente ele moveu a mão fazendo com que um espelho se materializasse, e então tocou o seu próprio reflexo e este deu as costas ao original e partiu para cumprir o que seu senhor havia silenciosamente ordenado, o reflexo tomou um caminho por entre as cavernas, enquanto o verdadeiro seguia os trilhos até sua liberdade.

Cidade Central

Cinco homens estavam sentados ao redor de uma mesa em forma de meia lua, as duas cadeiras da ponta direita e da esquerda permaneciam vazias.

— Precisamos decidir o que fazer com o pequeno problema na Torre da Justiça... – disse o senhor da Cidade de Fogo. – Não acredito que uma invasão possa ser capaz de exterminar todos lá dentro, lembre-se que eles têm poder suficiente para lutar, se necessário.

— Para mim já está acertado... – rebateu o Mestre Arquiteto que governava a Cidade da Pedra empertigando-se ainda mais em sua cadeira. – Deixe que o Sombra da Noite ataque a Suprema Corte, fui informado que sua fuga de Monte Inverno foi bem sucedida e ele agora caminha pelo túnel do trem. Mais um pouco e ele estará na linha central diante das portas da nossa preciosa capital...

— Tentar Pará-lo é perigoso, vamos abrir as portas e permitir que ele passe e siga até Haazel, não é este o objetivo dele? Se vingar de quem o prendeu? – disse Cavendish, o Lorde da Cidade Central.

Tanto o Cientista chefe da Cidade da Ciência, quanto o Engenheiro da Cidade de Ferro permaneceram calados, suas opiniões já haviam sido expostas, mas não foram levadas em consideração, embora tivessem sido as mais sensatas.

Reuniões como aquela raramente aconteciam, mas dada as circunstâncias, seria inevitável, e apenas por este motivo eles resolveram abrir essa concessão uns para os outros, pois era de conhecimento geral que nenhum dos governantes suportava os seus iguais desde a época em que Gulag tentara unificar as cidades tornando-as apenas uma com sete distritos, mas ele havia falhado e os governantes que ficaram ao seu lado caíram em desgraça e nunca mais houve confiança entre os sete.

***

— Não podemos permitir que Agon se aproxime dos arredores das sete cidades... – disse o Cientista chefe para o Engenheiro, enquanto caminhavam em direção ao elevador.

O Engenheiro não respondeu até os dois estarem dentro do transporte e as portas estivessem fechadas atrás de si.

— Estão ficando loucos se pensam que Agon vai parar quando matar Gulag... Sem o juiz não haverá mais ninguém que possa lutar de igual para igual contra Sombra da Noite, e aí estaremos perdidos...

— Já estamos perdidos, se esta insensatez for posta em prática...

— Então é hora de convocarmos alguém que possa dar um fim a isso!

Sorah — A Cidade do Blackout

Quando Agon estava no auge de suas forças, ele construiu para si uma fortaleza dentro de uma rocha fria e quase impenetrável por qualquer ferramenta humana, apenas seu poder era capaz de moldar aquela pedra, e assim ele fez, e após dois anos ele havia criado uma cidade inteira para si e a chamou de Sorah.

Após sua queda houve outras batalhas, entre homens e coisas que viviam na escuridão do subterrâneo, soldados usavam Sorah como um ponto estratégico nas guerras, e com o fim das guerras, a Cidade do Blecaute se tornou o lar de muitos soldados que não voltaram para nenhuma das outras cidades, alguns não tinham família, e os que tinham, buscavam suas famílias e os levava até Sorah.

Em pouco tempo, a Cidade do Blackout se tornou um imenso centro populacional cuja quantidade de pessoas ultrapassava ao número de habitantes das Sete Cidades. Todo tipo de pessoa podia ser encontrado em Sorah, desde agiotas a contrabandistas, mercenários e caçadores de recompensa, toda a escória saída das Sete Cidades acabava em Sorah, e os melhores de Sorah acabavam visitando em algum momento uma das cidades.

Sombra da Noite caminhava em meio aos transeuntes, as pessoas não ligavam para quem ele era ou o que havia feito, todos estavam acostumados a conviver com criminosos e aos olhos deles, Agon era menos criminoso que os governantes das cidades, de onde muitos também haviam sido expulsos pela condição financeira precária.

Ele atravessou uma rua conhecida por haver muitos médicos e foi direto até o prédio muito antigo, onde havia apenas uma escada que levava três andares acima, pois nos dois andares abaixo as portas estavam seladas com cimento. No terceiro andar havia dois longos bancos cada um de um lado do corredor e ambos estavam cheios de gente, pessoas estavam de pé, muitos gemiam e choravam de dor, enquanto outros pareciam mais mortos do que vivos, e um último grupo, de pessoas que acompanhavam os enfermos.

Agon passou por eles e foi até uma escada que fora construída no lado oposto e subiu, a parte de cima do prédio parecia um sótão, a escada acabava bem na frente de uma porta vermelha, e ele abriu e entrou.

— Demorou a vir me ver senhor Agon, Sombra da Noite... – disse uma voz feminina que saiu de dentro da casa escura.


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Notas finais do capítulo

Acredito que encaixar um personagem novo e cheio de mistérios onde já existem outros mistérios a serem desvendados é uma grande sacanagem do autor, que quer apenas atiçar ainda mais a curiosidade do leitor rsrs. Obrigado por acompanhar esta história, e comente, fale o que quiser, quero saber sua opinião a respeito de toda essa história que aos poucos se enrola e desenrola, pra falar a verdade, mais enrola que desenrola rsrs.



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