Underworld escrita por shyneider


Capítulo 2
Capítulo 1




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No final de 2025 houve uma grande guerra, que mudou o mundo da forma como conhecíamos. A guerra durou quase duas décadas até que os humanos, enlouquecidos pelo desejo de sair vitoriosos, deram origem a primeira geração dos mechas. E assim começou a primeira geração de robôs gigantes, dotados de um imenso e assombroso poderio bélico. Os primeiros mechas eram pilotados por humanos que enfrentavam um rigoroso treinamento até estarem prontos para controlar as imensas máquinas. Mas esquecemos de um pequeno detalhe: os mechas não poderiam ser comprados ou chantageados... Os humanos sim.

A segunda geração de mechas era seciente, robôs que possuíam personalidade e inteligência, estes mechas tinham um grande senso de justiça, e em certo momento acabaram se voltando contra seus criadores, e a guerra se fez ainda mais terrível.

Aquela foi uma época em que a força era a única solução, deuses perderam seus lugares para as armas e as preces foram substituídas por gritos de guerra, os homens geraram algozes de si mesmos, e os antigos rivais apertaram suas mãos em prol de derrotar o inimigo comum. Toda a ciência não valia de nada, pois os homens criavam para destruir, e não conseguiam aprender outra maneira, até que naturalmente o jogo virou contra os mechas. Assim como os mechas secientes nasceram, uma nova geração de humanos também surgiu, eram crianças únicas, em um número contado e bem distribuído, ao lado dos demais, estas crianças foram treinadas e transformadas em soldados e lançadas à guerra.

Mas as máquinas evoluíam, e lançavam bombas de gás venenoso na atmosfera, percebendo o quanto a superfície era perigosa, os humanos construíram para si imensas cidades subterrâneas e lá os civis esperaram durante um longo tempo. No final, os mechas foram derrotados, mas a superfície estava contaminada por demais, então o subterrâneo passou a ser o lar permanente da raça humana.


Cidade de Ferro — Um século depois

Abby acordou com o som dos alarmes, aquele barulho infernal significava que havia alguma coisa errada com os trilhos. Em menos de três minutos ela já estava pronta e corria pelos corredores ao lado dos companheiros. Pelo caminho que estava tomando, sua intuição lhe dizia que a equipe do seu primeiro encarregado, Joshua, não havia feito um bom trabalho no turno da noite, e isso a irritou profundamente. Ela seguiu pela ala leste e parou ao ver o caos formando-se próximo aos trilhos enferrujados, que àquela altura já deveriam ter sido substituídos.


— Senhora Abigail! – um dos encarregados correu até ela. – Precisamos de toda a ajuda possível aqui, o trem está seguindo da Cidade Central até Haazel... Soubemos hoje antes do início do dia.

— Mas o que houve com os operários do terceiro turno? – Abigail gritou tentando fazer-se ser ouvida pelo homem. – Toda essa parte do túnel já deveria estar terminada!

Antes que o homem pudesse responder, ela correu até o túnel e começou a berrar instruções para seus subordinados. O túnel tinha a forma cilíndrica e media quase trinta metros de diâmetro, os construtores da Cidade de Pedra levaram décadas para terminá-lo, e ele era perfeito, a linha férrea passava pelo meio e eram fortemente sustentados pelo ferro das forjas da cidade onde Abigail nascera.

— ANDEM LOGO SEUS MOLENGAS! O TREM JÁ VAI PASSAR POR AQUI, E NÃO QUERO RECOLHER PEDAÇOS DE NINGUÉM, E MUITO MENOS QUERO TER DE EXPLICAR PORQUE OS TRILHOS CEDERAM AO PESO DO TRANSPORTE! – Abigail berrou enquanto caminhava por entre os trabalhadores.

Abigail Toque de Ferro, ou apenas Abby, para os mais íntimos, era uma dos chefes de seção na Cidade de Ferro, dos cinco chefes, era foi a única mulher a conseguir alcançar o cargo, e trabalhou muito para conseguir ser respeitada por seus iguais. Havia seis equipes de cinquenta homens e mulheres, comandadas por um encarregado, que respondiam apenas a ela, que por sua vez, respondia ao Engenheiro, o posto mais alto dentro da Cidade de Ferro.

Quando os operários escutaram o comando e perceberam quem havia dado a ordem, eles pareciam ter recebido uma injeção de ânimo, pois logo iniciaram o árduo trabalho de substituição dos grandes trilhos. Abby ajudava como podia, andando de um lado para o outro fazendo o possível para agilizar o trabalho, e em duas horas tudo parecia terminado. Nesse momento o túnel e os trilhos vibraram, e um som estridente ecoou pelo imenso caminho, e os trabalhadores começaram a se dispersar pelos corredores de acesso aos trilhos. Todos corriam para longe do túnel, e Abigail ficou por último a fim de se certificar de que todos estavam seguros, e quando se virou para entrar e selar a porta alguém trombou com ela e a derrubou, a pessoa não parou para ajudá-la a se levantar. Um pouco atordoada com o encontrão que levou, a mulher se virou na direção do túnel e estacou diante do que estava vendo.

Havia uma pessoa sentada no trilho, ele martelava uma elevação que não deveria existir naquele ponto, pois se o trem passasse por ali, com certeza iria descarrilar, e seria uma destruição sem precedentes.

— MAS QUE M...! – o grito dela foi abafado pelo apito do trem.

Toque de Ferro correu até o trabalhador e tentou puxá-lo pelo ombro.

— Não! – ele gritou ao se desvencilhar das mãos de Abigail, que percebeu que era um garoto, que nem havia completado a maior idade. – Preciso consertar...

Ele ergueu o martelo e bateu contra o ferro do trilho, mas nada mudou. O apito do trem soava mais perto agora, e em um movimento instintivo, Abby ergueu o braço esquerdo e uma camada de ferro o cobriu e ela bateu contra o trilho consertando a falha que havia, fazendo com que ficasse perfeitamente alinhado, então, rapidamente se jogou contra o menino e os dois caíram pelo vão que existia entre a parede do túnel e a linha férrea.

Segundos depois o trem passou fazendo um barulho ensurdecedor.

Os operários correram até a beirada da linha a fim de se certificarem de que estava tudo bem com Abby e o louco que voltara, e deixaram escapar vários gritos de contentamento ao perceberem que ambos estavam são e salvos.

— Mas que merda você estava pensando? – disse a mulher segurando o menino pela gola da camisa enquanto o prensava contra a parede. – Você poderia ter morrido, e poderia ter me levado junto, seu imbecil!

O menino não respondeu, havia muito medo em seus olhos cor de âmbar, e ele tremia da cabeça aos pés, a mulher reconhecia a coragem tola que o moveu, mas pessoalmente ela dispensava, um operário covarde e vivo valia mais do que um operário corajoso e morto, e naqueles tempos, ela precisava de mais pessoas vivas do que corajosas, e atos de estupidez como aquele não poderiam se tornar comuns, pois nem sempre a sorte estaria a favor deles.

— Da próxima vez me avise! – ela sacudiu o menino. – Você entendeu? Se houver algum problema nos trilhos, e se houver um perigo iminente, você me avisa ao invés de saltar correndo pra morte!

Ele tentou responder, mas as palavras não saíram, então apenas assentiu.

— Vá ao meu alojamento mais tarde... – ela sussurrou no ouvido do rapaz, que mais uma vez assentiu.

Não é preciso dizer que ele foi recebido como herói, Abby ficou emburrada o dia todo, mas por dentro estava orgulhosa. O menino era especial, e ela sabia, pois era preciso muita fibra moral para fazer o que ele fez ainda mais da forma como o fez.

Ao localizar Joshua ela ficou feliz por ter encontrado alguém em quem pudesse extravasar toda a sua raiva.

— x —

A água fria escorria por seu corpo, lavando todo o suor, a graxa, o óleo e a sujeira que manchava sua pele clara, os cabelos eram muito negros e os olhos tinham o mesmo tom dos olhos do menino a quem ela havia salvado no início daquele dia. Por baixo do macacão, das luvas e botas de couro, do capacete de proteção, da sujeira e dos seus modos rudes, Abigail era uma bela mulher de vinte e dois anos.

— Aquele menino... – ela murmurou enquanto lavava o cabelo.

Ao terminar o banho, Abby vestiu um short curto e uma camisa quatro vezes maior que seu número, de modo que cobria a metade das suas coxas grossas. Quando terminou de se vestir, ela ouviu duas batidas fortes na porta do seu quarto, ao abrir a porta, ela sorriu ao ver o rapaz ali parado, com algumas sacolas nas mãos e um sorriso zombeteiro enfeitando o rosto bonito. Abby percebeu que o conteúdo das sacolas cheirava muito bem, e isso fez com que sua barriga roncasse alto, ela não havia comido nada o dia todo, e só naquele momento se deu conta de que estava faminta.

— Entre... – ela disse enquanto pegava as sacolas da mão do rapaz. – Tem água fria, se quiser tomar um banho. Deixa que eu ajeito as coisas por aqui.

Ela mal acabara de falar quando o rapaz arrancou a camisa e baixou as calças ficando apenas de cueca, rapidamente ele seguiu em direção ao banheiro.

— Tem uma toalha limpa aí! – ela gritou, e baixando a voz foi murmurando os pratos que estava servindo. – Arroz, batatas cozidas, couve e carne grelhada...

O menino apareceu não muito tempo depois, com a toalha sobre os ombros e vestindo apenas sua cueca. Ele era muito bonito, sua pele era um pouco mais escura que a de Abby, os cabelos eram louros, mas havia algumas mechas negras, os olhos de âmbar eram muito expressivos, e o seu sorriso era largo e sincero. Trabalhar com o ferro já começava a refletir em seu corpo, que adquiria músculos nos lugares certos, logo ele vai se tornar um belo homem e será muito disputado, ela pensou consigo mesma enquanto erguia uma sobrancelha e balançava a cabeça espantando um pensamento.

— Precisa me dizer como você consegue essa comida! Isso aqui é muito melhor do que a gororoba que servem no refeitório...

Ele sorriu e os dois se sentaram e jantaram. A conversa fluía naturalmente, ele a fazia rir contando muitas coisas que acontecia no dia a dia dos operários, e isso era bom, relaxar era bom, ela pensou quando terminaram de jantar. Logo estavam na cama, Abby abraçava forte o menino e ambos permaneciam em silêncio, até que ela resolveu que era chegada a hora de falar alguma coisa.

— Aquilo que você fez hoje... Foi muito corajoso, não me entenda mal, eu achei incrível, você foi o único a voltar. Ninguém teria feito aquilo, eu mesma preferiria responder diante do Engenheiro a ter que voltar lá e me arriscar daquela forma. Estou orgulhosa do que você fez... Mas não quero que faça novamente.

— Eu sei... – ele murmurou desanimado.

— Mamãe me mataria se algo acontecesse com você, Tontom, e eu te mataria do outro lado do arco!

Ele riu.

— Desculpa Abby, eu não pensei, apenas vi e agi...

— Da próxima vez, e por Zaion, rezemos para que não haja uma próxima vez, você me avisa, mas não pula no caminho de um trem... Você é meu irmão e eu odiaria que algo acontecesse com meu maninho preferido...

— Sou seu único irmão!

— E é justamente por isso que devo me certificar de que você vai permanecer vivo!

Ela beijou o topo da cabeça do irmão e não percebeu quando foi abraçada pelo sono.


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