Chuva

Por Myuky

Para ReH-San... Feliz Aniversário

One-shot

Hoje faz um ano que parti, e por incrível que possa parecer o tempo está da mesma forma, carregado por grandes nuvens negras, pesadas de água que em breve estariam tocando o solo. No dia em que fui embora senti que estava deixando algo para trás, mas, não sabia ao certo o quer era, encolhi-me ao ter um breve lampejo do meu passado, fechei a janela da sala que se encontrava aberta e corri pela casa com intuito de fazer o mesmo com as outras. Por um momento senti um leve arrependimento, eram muitos cômodos e seguir um ritmo rápido estava me cansando.

Finalmente cheguei a ultima janela, ela deveria ser a maior de toda a casa, adorava sua vista, por ela podia ver toda a vila ou grande parte dela, olhei para rua principal que estava deserta, mas algo chamou minha atenção, havia algo, ou melhor, alguém. Ele já estava na esquina atravessando a rua, meu coração ficou acelerado ao reconhecer seu chakra, permaneci parada, mas era apenas o que eu pensava, quando dei por mim já havia descido a escada e percorrido o corredor, agora minhas mãos abriam a porta, corri para fora passando pelo jardim sentido o vento percorrer meu corpo.

Não sabia o que dizer, mas vê-lo depois desse tempo, foi à melhor sensação que tive em anos, não falei nada, apenas o abracei em questão de segundos senti seus braços me envolverem. Ficamos ali por um minuto ou quase isso, mas um choque percorreu meu corpo ao lembrar-se da chuva que estava por chegar, me afastei e se pudesse ver seu rosto saberia que estava confuso, peguei sua mão e o arrastei quintal a dentro, logo estávamos dentro de casa e a chuva que lutava por permanecer no céu caiu tímida.

Enquanto trancava a porta, ele retirou a capa então pude ver seu rosto ele estava feliz até mais que eu. Definitivamente ele não mudara desde nosso último encontro, continuava lindo, novamente o abracei, ele parecia irreal foi então que disse a primeira palavra.

- Desculpa – falei tentando me manter estável.

- Não precisa disso Hina – ele falou com ternura, ele havia percebido o tom da minha voz eu sabia disso.

- É claro que sim, você me perdoa Sasu? – meus olhos haviam se enchido de lágrimas, aquela altura uma ninja poderosa como eu não deveria ser tão sensível assim, mas desde que o conheci ele surtia esse efeito em mim.

- Tudo bem, eu te perdoo – aquilo me deixou mais calma, sabia que estava sendo sincero.

- Vamos você deve estar cansado – novamente peguei sua mão e o puxei andamos pelo corredor e subimos as escadas – Aquele... – apontei para uma porta no corredor -... É o meu quarto, esse... – abri a porta –... É o seu, espero que fique confortável – falei sorrindo.

- Está ótimo Hina – ele foi até a cama depositou sua mochila e abriu – aposto que você tem uma biblioteca em algum lugar – ele falou sorrindo.

- Sim, eu tenho – eu respondi, ele me conhecia melhor que qualquer um até mais que Kiba.

- Bem que eu imaginei, não teria comprado uma casa tão grande assim, aqui está você deixou na minha casa quando foi embora achei que gostaria de tê-lo de volta – ele segurava um pacote, não precisava abrir para saber o que era. Era meu livro inestimável, havia poucas cópias e uma delas pertencia a mim, peguei o “presente” de suas mãos e sorri.

- Obrigada por guardar, não achei que faria isso, agora vou deixá-lo, estarei lá em baixo preparando o jantar – e antes que ele disse-se algo eu já havia saído.

Fui para cozinha e antes de começar os preparos olhei pela janela, estava chovendo, mas não como antes agora a chuva era intensa e estava longe de parar. Comecei a pegar o necessário e durante o tempo em que fazia isso lembranças vinham em minha mente.

Flashback (on)

- Vamos lá Hinata você consegue, precisa mostrar para eles quem é – eu falei para mim mesma tentando mais uma vez, desenvolver minha técnica e novamente ela havia sido em vão.

“Não vai a lugar nenhum assim” – alguém falou virei rapidamente para localizar quem estava comigo na clareira.

- O que você quer? – indaguei rudemente ao ver quem era.

- Não precisa ficar brava herdeira – ele falou, eu o ignorei e me sentei de costas para ele, quando percebi ele estava sentado ao meu lado.

- Venho te observando... – ele começou –... Você tem um chakra incrível, mas precisa ser trabalhado, no entanto há um único, porém – ele parou de falar.

- Qual, porém? – perguntei, fingindo que não me importava.

- Você quer ser uma ninja? – ele agora olhava pra mim, lendo os traços que se formavam em minha face – Entenda... – continuou ele -... Se você fizer isso para impressionar os outros, jamais se saíra bem, faça por você, por algo que você acredite ser o melhor e por isso pergunto novamente... Você quer ser uma ninja?

Não respondi de cara, aquilo me fez pensar, um turbilhão de coisas invadiram minha mente, fechei meus olhos e viajei nos pensamentos. Naruto, ele era um exemplo de que o Uchiha estava errado, mas por outro lado certo. Naruto queria provar que era o melhor, mas era evidente que ele ansiava ser um ninja. De fato nunca pensei dessa forma, será que eu queria ser uma ninja ou a vontade de meu pai era maior que tudo? Concentrei-me em mim, eu gostava disso, gostava de proteger os outros por fim abri meus olhos ele ainda estava lá fitando o céu.

- Sim, eu quero – falei por fim – quero proteger as pessoas – complementei e tive a impressão de estar sendo ignorada.

- Agora sim – ele falou sorrindo, um Uchiha sorrindo? Aquele dia estava mais estranho a cada momento – esvazie sua mente Hyuuga, esqueça tudo o que te obrigou até hoje, todas as acusações, cada palavra que ouviu e se concentre no seu foco, salvar os inocentes e tente novamente.

Ele se levantou e encostou-se a uma árvore, eu fiz o mesmo, mas permaneci no centro da clareira, ativei minha linhagem de sangue e fechei meus olhos “salvar os inocentes” eu pensei e então comecei, o jutsu saiu perfeito até mais do que imaginei, quando acabei olhei Sasuke, ele ainda estava lá parecia satisfeito eu sorri e agradeci.

Flashback (off)

Depois desse dia nada foi o mesmo, nos tornamos muito amigos uma amizade que na visão de algumas pessoas era totalmente ruim, mas eu não me importei, quando voltei de meus pensamentos, estava tudo no fogo e eu terminava de picar os últimos ingredientes para o molho da nossa janta. Ouvi uma cadeira ser arrastada trás de mim, mas não liguei.

- Quem começa? – indaguei, tentando manter meu coração no lugar.

- Você – ele falou curioso.

- Depois que fui embora vaguei pelas grandes aldeias, conheci diversas pessoas e aproveitei para me tornar uma boa ninja, fiz grandes amigos e todos que conheci foram bem simpáticos, algumas de minhas artimanhas devem ter chegado aos ouvidos da Hokage. – falei com um sorriso – Então decidi parar, achei que seria melhor, e vim para cá – vi um sorriso em seus lábios.

- A Hokage realmente ficou impressionada – falou um pouco entediado – mas um país sem ninjas?

- Gosto daqui e das pessoas que conheci, a calma me faz bem – completei por fim, ele não disse mais nada – e você deve ter coisas para me falar, como estão todos?

- Todos estão bem, Kakashi-sensei está treinando outra equipe...

- Sério? – falei um pouco pasma

- Sim... Seu primo vai se casar... Trouxe-lhe o convite, acho que ele esperava que te encontrasse – eu abri um enorme sorriso, estava feliz por ele finalmente ter aberto o coração, voltei-me novamente para meu afazeres enquanto ele falava – Shikamaru e Temari esperam pelo primeiro filho...

- Fico imaginando como Gaara está – disse solidária.

- Ele vai sobreviver – falou ele despreocupado – Ino está sendo uma ótima aspirina para ele – comecei a rir e ele também, era bom tê-lo ali a sensação de calma e paz emanava ainda mais – Tsunade diz que está parando de beber, mas duvido muito disso – de fato eu também concordava – Hanabi... – ele parou esperando minha reação, eu assenti mesmo estando de costas para ele -... Agora é líder do clã.

- Isso é ótimo, graças a ela as mudanças essências irão acontecer – aquilo era a mais pura verdade, com Hanabi na liderança do clã muitas mudanças boas estariam por vir e aquilo me deixava de fato feliz, segui em direção do armário para pegar uma travessa e ele continuou.

- Por último e não menos importante – ele pegou um envelope que estava escondido em algum lugar, pois eu não havia o visto e colou junto ao convite de casamento do meu primo – Naruto e Sakura vão se casar e gostariam que você estivesse lá – ele falou rápido e parou esperando minha reação. Seu rosto estava preocupado, era evidente, pior foi quando focalizei a imagem que ele via, meu rosto sem expressão, com uma travessa na mão e entendi o motivo de toda aquela volta, ele estava evitando falar naquilo sabia disso e eu sabia o porquê.

Flashback (on)

Eu corria de um lado para o outro, sabia o quanto ele odiava sua própria comida e ter alguém que pudesse fazer era bom. Ele não estava em casa havia saído em missão, mas em breve chegaria. Enfim tudo havia acabado as rixas, brigas e outras coisas mais, as missões agora se tornaram em grande parte fáceis, mas mesmo assim sempre havia aqueles que gostariam que tudo voltasse a ser o “pé de guerra” de antes. Ele estava chegando eu podia sentir seu chakra, era questão de segundos agora. Eu ouvia porta abrir e em pouco tempo ele estava em pé na porta.

- Oi – ele disse

- Oi, desculpa a invasão – falei quando me senti culpada

- Sabe que não tem problema – ele sorriu

- Eu volto já – não precisei nem me virar para saber que ele não estava ali, continuei com minha tarefa, cantando baixinho, quando ele voltou eu estava me preparando para em breve colocar o macarrão em uma travessa.

- Alguma novidade? – indaguei percebendo sua impaciência.

- Não é nada – ele falou tentando disfarçar

- Não minta – eu falei subindo em uma cadeira para alcançar o objeto, e então ele começou a falar.

- O Naruto... – ele parou, e pude perceber que ele estava pensando no que ia dizer.

- Sim... – o encorajei.

- O Naruto está namorando com Sakura – ele falou de uma vez e não tive tempo de raciocinar meus atos, vi a travessa que eu havia acabado de pegar do armário e colocado na mesa e novamente pego para levá-la até a pia soltar de minha mão e cair, espatifando-se no chão em mil pedaços assim como meu coração, senti uma leve pontada e lágrimas começaram a escorrer, não podia ser verdade, mas era a mais pura delas, achei que estaria pronta pra quando esse dia chegasse, mas eu estava errada nunca estive pronta.

Queria gritar, correr, mas não consegui me mover à única coisa que senti foi Sasuke me pegando em seus braços. Eu chorei por tempo indeterminado e depois adormeci, quando acordei estava em uma cama, ou melhor, na cama do Uchiha, procurei por sinais dele, mas não encontrei fiquei com medo, andei pela casa tentando fazer o mínimo de barulho. Quando cheguei à sala ele estava lá, dormindo profundamente, um alívio me dominou não sabia o que ele poderia ter feito, será que ele mataria o Uzumaki? Não ele não faria isso, não iria querer me ver mais triste do que já estava.

Sentei no sofá de dois lugares que estava vago e pensei, minha ideia era brilhante, não perderia nada, minha irmã seria melhor líder que eu e meu primo bom ele iria superar “Sasuke” pensei, peguei uma caneta e uma folha de papel. Depois que terminei minha carta voltei para o quarto e a deixei ali. Saltei pela janela fui para casa, juntei minhas economias, ao sair senti um forte vento que me acompanhou, a madrugada parecia triste e sombria o céu estava escuro.

Ao chegar aos portões senti uma pequena tensão, mas consegui me esquivar das perguntas dos ninjas. Enfim saí, e quando isso aconteceu, a chuva desabou do céu, desesperada molhando tudo o que havia ali, mas não parecia dar vida às coisas e sim tristeza como se alguém estivesse chorando e minha sensação de deixar algo para trás tomou meu interior, mesmo assim evitei olhar coloquei o capuz de minha capa e parti.

Flashback (off)

Então voltei a mim, Sasuke não me olhava mais, estava na minha frente com um olhar suplicante, eu sorri e ele não entendeu.

- Fico feliz por eles – disse por fim, ele ainda não conseguia entender – eu superei – disse sorrindo, tentando tranquilizá-lo – sei no que pensou, se aquele dia se repetiria, mas não se preocupe ele não vai.

- Que bom – ele falou por fim, soltando um suspiro. Eu saí de sua frente andando até a panela me preparando para passar o macarrão para travessa.

- Lembra quando fui embora? – indaguei.

- Sim – ele disse preferindo não lembrar.

- Estava chovendo – eu disse por fim – não exatamente – complementei – eu estava saindo de Konoha quando tudo começou – eu me virei levando nosso jantar para mesa ele me olhou, um pouco assustado – algo errado?

- Não, primeiro não esperava que você ficasse feliz, segundo a chuva você disse que assim que saiu começou a chover?

- Sim, isso... Por quê? – ele parecia estar tendo um flashback, saí do lado da mesa em que eu estava e fui para o seu, me agachei na sua frente seu rosto estava assustado e isso me preocupou não suportava vê-lo daquela forma – Você está bem? – ele não respondeu, comecei a me preocupar, e foi então que entendi o motivo de ter deixado algo para trás, ele era o motivo o tempo todo. Eu havia sido tão idiota de gostar do Naruto que esqueci o que realmente importava, quem realmente me importava e ele estava ali. De súbito o abracei, ele pareceu não entender, mas retribuiu o abraço com força, senti que ele não queria que eu partisse e eu não iria.

- Eu acordei com barulho do trovão, subi para meu quarto, mas você não estava lá apenas um bilhete.

Sinto muito, tenho que ir obrigada por tudo o que me fez jamais poderei recompensar, talvez eu volte, mas se não fizer isso saiba que gosto muito de você.

Aishiteru

- Depois que li esse bilhete a chuva desabou – ele me apertou forte – devia ter vindo antes, mas você é muito escorregadia, sabia?

- Sim – eu falei sussurrando.

- Não vim te levar de volta, nunca obrigaria você, prezo sua felicidade, só não podia ficar longe – quando ele falou isso me afastei dele, e vi uma lágrima rolar de seu rosto, a chuva no dia em que fui embora provavelmente eram suas lágrimas que escorriam por eu ter partido, passei meu dedo indicador limpando a gota.

- Sinto muito – falei. Ele me olhou e se aproximou de meu rosto, seus lábios tocaram os meus e ele me beijou com ternura, sem pressa, sem medo, apenas a paixão que nos invadia. Eu o amava e de fato ele me amava. Nos separamos ele colocou sua cabeça em meu ombro e sussurrou.

- Te amo não me deixe nunca mais! – ele não pedia, exigia isso de mim, mas não briguei apenas concordei.

- Também te amo e não nunca vou te deixar – o que viria a seguir eu não sabia, mas tinha certeza de que onde ele fosse eu também iria e vice versa

Fim