Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 87
Que Terrível Manhã!




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Damian novamente dormira no sofá da sala naquela noite, seu rosto brando parecia o de uma estátua de mármore, poderia resistir ao tempo sem que ele lhe esculpisse rugas, seu corpo levemente pousado sobre o macio veludo, tão firme e tão jovem, o corpo que muitas garotas sonhavam cavalgar sobre os delas em noites de completo deleite, os cabelos lisos, compridos e tão negros como o céu sem luar, porém tão brilhantes e sedosos, os lábios carmesins como o botão de uma rosa juvenil, que ainda não florescera. Um lascivo anjo caído... Inocentemente cruel, perdidamente apaixonado pelas trevas, fervorosamente vivendo em seu próprio pecado.

As pálpebras moviam-se devagar e notava facilmente o contorno de seus exuberantes olhos celestes indo e vindo, até que levemente começaram a se abrir, primeiro fitou a lareira já apagada, podia sentir o cheiro das cinzas, as cortinas fechadas, no entanto, a luz do sol era tão forte que fazia com que o lugar adquirisse uma deliciosa penumbra matutina.

Durante alguns poucos segundos seus olhos se perderam e nada se passou por sua mente, até sentir algo cair em seu pescoço, uma gota de água seguida de uma gota de sangue e depois mais um pingo d’água e outro de sangue, virou a cabeça para verificar de onde vieram estas gotas e entrou em pânico ao ver Tristan observando-o atrás do sofá. Estava todo molhado, a água misturava-se ao sangue, os olhos fundos e a boca arroxeada, tão pálido quanto à lua que presenciou seu crime na noite passada, a boca do ferreiro entreabriu como se fosse dizer algo, mas nenhum som era emitido, o robusto rapaz então sorriu e falou:

___ Como vai, Damian?

Petrescu saltou assustado do sofá caindo ao chão e rapidamente arrastando-se para um canto da sala, após retomar o ritmo normal da respiração, percebera que tudo estava quieto e a única pessoa que se encontrava no recinto era ele. Será que foi um sonho?, ele se perguntou, mas não obtivera a resposta, pois as outras vezes foram tão reais quanto esta, entretanto esta fora tão rápida, mais do que as outras.

Saiu do cômodo andando calmo e meio sonolento até a cozinha, os empregados preparavam o desjejum enquanto o soturno mordomo tudo verificava, mirou o jovem e tentou ser gentil ao cumprimentá-lo:

___ Bună ziua , senhor Petrescu! Em um minuto o desjejum será servido, pode ir se vestindo.

___ Podem parar, eu não quero nada ___ falou o garoto com voz preguiçosa e esforçada, como se concluir uma única frase fosse motivo de tortura.

___ Mas, senhor, há dias que não o vejo comer nem sequer um pedaço de pão!

___ Estou sem fome, não quero nada.

___ Que tal ao menos uma caneca de cerveja para animá-lo?

___ Já disse que não!

O grito do adolescente fora tão impaciente e feroz que assustara todos ali presentes, estava padecendo de enxaqueca e não suportava ouvir um ruído sem que o deixasse nervoso, tentou voltar à calma de alguns instantes atrás e desculpando-se timidamente, caminhou até as escadas.

Abriu a porta do quarto onde dormia com Andreea, olhou por todos os cantos, as paredes choravam e suplicavam em silêncio, banhadas em delicados tecidos em vermelho-sangue. O ambiente exalava o cheiro da morte e o gosto agridoce da dor, ao mesmo tempo em que não queria estar ali, sabia que não poderia encontrar paz em nenhum outro local, nem ao menos em seu precioso jardim.

Não estava com muito sono, mas precisava repousar. Sentia-se exausto e dolorido, como se tivesse lutado numa guerra que durou anos e finalmente voltara para casa como o único sobrevivente. Caiu sobre os lençóis de cetim pousando a cabeça latejante num travesseiro confortável, os braços abertos como se tivesse sido crucificado, era mais ou menos assim que se sentia, pregos em suas mãos e pés e espinhos perfurando-lhe o crânio.

Não sabia no que pensar... No atentado contra Tristan na noite anterior? Por que pensar nisso? Estava feito, não havia como mudar o passado ou fingir que ele nunca existiu. Por que o sentimento de culpa ia e vinha? Devia estar perdido em devaneios perturbadores, o sangue de seu rival em suas mãos, por pouco não estiveram passeando por seus lábios sequiosos, graças a Benjamin não cometera tal ato de que àquela altura teria se arrependido amargamente. Benjamin... Onde estaria ele naquele momento?

Espantou esta indagação curiosa de sua mente por alguns instantes, procurou concentrar-se na figura fria e pomposa de seu mais novo amigo, havia tempo e silêncio suficientes para esculpir a imagem do rapaz que poucas vezes esteve ao seu lado usando opiniões e dúvidas como suas fieis ferramentas.


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