Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra
Damian não soube o que dizer, ainda parecia estar enfeitiçado pela cólera, pelo súbito ato contra a vida do rival, o desejo por seu morto sangue, apenas encarou o lorde com as pupilas dilatadas e o luar dando um brilho prateado aos sublimes olhos azuis.
___ Aprenda uma coisa, meu caro, nunca alimente-se dos mortos. Jamais! Será que fui claro?
Benjamin o encarava com excessivo desespero e seriedade, algo que intrigava e assustava o ferreiro.
___ Sim... ___ a resposta saiu como um suspiro vago, por mais que o garoto tivesse entendido, ainda sentia-se longe e dominado pela cruel fome pelo fluido rubente já coagulado de Dumitrescu.
___ Vamos para casa, meu menino.
Ben já estava pronto para agarrar Damian em seus braços e, de forma tão calma e paciente, levá-lo para a casa, onde o colocaria na cama e certamente velaria seu sono, mas a voz do moço novamente surgiu amedrontada, quebrando o silêncio com uma pergunta:
___ Mas... E o Tristan?
Grigore fitou o corpo sem muito se importar, logo voltou-se para Petrescu, parecia preocupado com o cadáver do amigo traidor, então o pegou em seus braços. Damian apesar de parecer enfraquecido e ainda rendido à sede, impressionou-se com a incomum força do homem, Tristan era alto e robusto e como poderia Benjamin, um jovem mais baixo e não dotado de um corpo másculo como o rival, suportá-lo normalmente?
Ben caminhou sem demonstrar esforço ou cansaço até o meio do lago, onde a água já batia em sua cintura, avistou um galho boiando, soltou um pouco o corpo do moço, mas ainda segurando-o com uma das mãos para que a outra pudesse pegar um galho imediatamente cravando-o na lacuna feita pelo gume da adaga, os celestes olhos do adolescente encolhido entre duas árvores arregalaram-se ao acompanhar a cena.
Grigore soltou o corpo de Tristan, que não demorou muito para afundar e não mais conseguir ser visto, estava escuro e o fundo do lago estava encoberto pelas trevas noturnas, quase ninguém ia ao bosque, apenas jovens para nadarem, porém com o inverno se aproximando, este singelo pedaço de natureza cairia num fúnebre esquecimento, assim como o cadáver perdido de Tristan Dumitrescu.
Ben voltava calmamente para a terra firme, aproximando-se do garoto que tremia de medo, contudo com um toque de admiração, ajoelhou-se pousando uma de suas mãos nos ombros encolhidos do ferreiro e sorriu.
___ Está feito, meu amigo, ninguém nunca o encontrará ___ suas palavras eram sombrias, porém seu tom era tão seguro e reconfortante, impossível de não se confiar.
Grigore o ajudou a ficar de pé e como na noite em que voltavam juntos da casa de seus pais até a mansão Voiculescu, o amigo o apoiou em seus ombros auxiliando-o a caminhar.
O pálido e soturno rapaz jogou o pobre Petrescu sobre o sofá da sala de estar, o jovem estava tão fraco e sua mente estava tão distante que mal pôde notar como o ambiente estava impecável. Sem manchas de sangue, sem objetos quebrados, o cheiro era de álcool como Damian se lembrava e o som era apenas o pérfido e agradável silêncio.
A lareira estava acesa e os olhos do moço fixos nas chamas dançantes, Benjamin engoliu em seco, por dentro estava mortificado pela mórbida aparência do outro, do bosque à mansão viera calado, tentou fazer algumas observações, comentários fúteis na esperança de algum tipo de reação, mas nada obtivera.
Pensou que Petrescu estivesse apenas assustado, estava mais branco que o normal, os lábios sem cor e rachados, como se estivesse caminhando durante semanas em um deserto sem nenhuma gota de água descendo por sua garganta, e então concluiu, não era apenas o medo que o deixava desfalecido e taciturno sobre o veludo macio do sofá...
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