Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 83
Ode À Morte




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Não podia acreditar na cena que estava diante de seus olhos, aconteceu tão rápido, como se tudo ficasse escuro e quando voltasse a enxergar lá estava Tristan com a linda adaga cravada em seu peito, não havia explicações, respostas ou perguntas, apenas um susto oriundo de uma repentina e impensada ação.

Os olhos tão azuis quase saltando das órbitas ao ver o antigo amigo morrendo aos poucos, Tristan estava quieto, um fio de sangue escorria de sua boca aberta, Petrescu fitou os dedos trêmulos da mão do rapaz. Os olhos de Dumitrescu buscavam os de Damian, a boca do inimigo abria e fechava sem dizer uma palavra, somente gemidos sufocados eram emitidos.

Duas mortes em uma noite, porém esta fora pior. Tristan ainda estava vivo, estrebuchando apenas a poucos metros de Damian. A infância feliz e inocente, a adolescência tranquila seguida de alguns meses recentes e conturbados passando por sua cabeça latejante enquanto o amigo ou inimigo afogava-se na extrema dor que logo iria se findar.

O que nascia naquele instante dentro de Damian era tão forte que era capaz de apagar as lembranças cruéis e o rancor que guardara daquele pobre sujeito caído à sua frente, lágrimas sinceras desenhavam caminhos que se tornavam cintilantes quando o luar os tocava, uma voz sufocada em sua garganta queria sair, queria falar, queria se explicar, mas tudo que pudera oferecer ao rapaz fora suas lágrimas, suas preciosas e sinceras lágrimas.

Apesar do medo e do desespero, o ferreiro não podia deixar de notar como a passagem da vida para a morte era lenta, penosa, porém tão fascinante! Tristan estava desprendendo-se dos braços da vida enquanto a morte estava pronta para acolhê-lo, será que apenas Dumitrescu poderia ver o vulto negro sorrindo para ele, esperando de forma tão paciente a vida despedir-se com beijos doces e vagos de seu corpo quente?

Damian apenas via os movimentos agitados tornando-se lentos, contudo os olhos do rapaz ainda encontravam os dele, era um olhar de súplica, condenação ou perdão? Não poderia saber, jamais saberia, era apenas um olhar que estava perdendo seu brilho e cada vez mais que tornava-se enegrecido, mais a lua brilhava alta no céu.

Uma alma para dançar em volta do lago, um brilho oferecido tão bruscamente para a lua, a vida correndo desesperada batendo forte em cada tronco oco das árvores adormecidas, as estrelas acendendo e apagando, Tristan deveria agradecer por fenecer num lugar tão imaculado quanto àquele bosque, uma despedida tão bela e sincera como esta jamais seria concedida a outro alguém, devia vangloriar-se por ser acariciado pelo toque frio da mãe natureza envolvendo-o nos braços enquanto preparava-se para dormir e sonhar.

Petrescu quis saber como era aquilo, queria perguntar, mas nem a questão muito menos a resposta seriam pronunciadas, aquele momento não podia ser profanado por qualquer tipo de som, era silencioso e belo como um sonho, uma miragem, a brisa que toca a pele no fim de uma tarde quente de verão, palavras seriam triviais e desnecessárias, mas o ferreiro ainda tinha a curiosidade borbulhando em suas veias.

Como seria morrer? Como seria estar morrendo? Aquilo era o Damian via e sentia, mas ele estava vivo, pálido e frio, mas estava, era Tristan quem estava atravessando a linha tênue que separa a vida da morte e como era esta passagem? O que Dumitrescu estava vendo? O que estava sentindo em relação ao pouco de vida que ainda restava em si? Petrescu quis saber.

Nunca poderia obter essa resposta, por mais que percorresse o mundo atrás de diferentes descrições e relatos de pessoas que já estiveram à beira da morte, cada um seria uma bela perda de tempo, pois nenhum dos contos era real, se as pessoas estiveram à beira da morte, então não foram entregues à ela, fugiram, se esconderam, a enganaram, mentiram para ela, estes relatos seriam nada mais que injúrias.

O que Damian via diante de si podia ser considerado uma ode à Morte, o anjo negro e belo, o mais poderoso e dos cavaleiros! Tristan abandonando este mundo, mais uma vez tomando para si algo que o amigo mais novo desejara, até naquele instante seria assim?

Damian acompanhou tudo com medo e calma. Assim como Mihaela, Mary, a última visão que Tristan teve foi o olhar paciente do ferreiro recostado em uma árvore, seus dedos enterrados na terra fria, seus lábios entreabertos não disseram uma palavra sequer, finalmente o sangue parara de correr, finalmente seus olhos perderam a luz. A dor acabou. Tristan estava morto.


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