Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 74
Um Sonho Ruim




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Naquela noite, Damian estava sonhando com Andreea, ela vinha por dentro da escuridão, usava um vestido tão rubro quanto sangue, os cabelos dourados assim como sua pele, os olhos brilhavam mais que um par de esmeraldas, os lábios delineados e sensuais sorriam para ele. Ela dançava sem temer o negrume, levantava o vestido longo para que seus movimentos fossem mais leves e quando seus pés tocavam o chão, deixavam rastros de fogo pelo caminho, chamas vivas e cálidas que espantavam as trevas.

Dançava com destreza e sensualidade tal qual uma cigana, sempre com o olhar fixo e o sorriso envolvente, eis que em suas mãos surge a solene adaga de Benjamin, seu brilho tão prateado quanto o luar e com um solitário rubi a lhe enfeitar, tão vermelho quanto suas vestes, quanto seus lábios, quanto o sangue que escorria de seu pescoço ao permitir que o gume beijasse sua carne.

Petrescu estava lá, ficara boquiaberto ao ver aquela cena, um fio tão rutilante cor de carmim escorrendo suavemente até entre os volumosos seios da viúva, ela então levou a ponta avermelhada da arma branca até a boca e lambeu a mancha de modo enlouquecedor, arremessara o objeto para longe até seu brilho ser apagado pela escuridão, foi se aproximando do garoto.

Passou seus braços por entre o pescoço do adolescente, ele pôde sentir o cheiro do sangue dela correndo tão profundamente, espantou-se ao perceber que seus caninos haviam crescido, estavam afiados e pontiagudos e pediam pelo contato com aquela pele jovem e perfumada.

Uma das mãos femininas escondeu-se sobre as mechas enegrecidas de cabelo do rapaz e fora levando a cabeça dele para mais perto de seu pescoço, a vontade ia tomando todo o corpo do jovem, os olhos fixos no fino fio de sangue, até que seus rúbidos lábios tocaram o líquido viscoso e suas presas enterraram-se sob a carne macia da mulher.

Uma de suas pálidas mãos envolveu a cintura da dama enquanto a outra prendia o pescoço dela junto à sua boca, ao deixar o líquido descer por sua garganta um imenso prazer tomou conta de todo o seu corpo, não podia parar, era como se a cada gota que ingeria ia excitando-se cada vez mais, como se a qualquer momento pudesse revirar os olhos e delirar, queria mais, muito mais.

As mesmas imagens que sempre embalavam sua mente, vinham em forma de sonhos ou pesadelos, pintados de preto e vermelho, com um leve toque de azul, um delicado e brilhante azul, mais puro que as águas enfurecidas do mar, mais tênue do que o céu sem nuvem alguma para maculá-lo, tão azul quanto cintilantes e lascivas safiras.

Os gemidos da dama apenas o deixavam ainda mais sedento, como se ela também estivesse deliciando-se do momento e não quisesse que se perfizesse. O ferreiro continuou sugando sofregamente cada gota que preenchia as veias de Andreea, até em apenas alguns minutos secá-las e ela não passar de um cadáver frio, apenas pele e ossos secos.

Não mais sentia os finos e femininos dedos pressionando sua cabeça, o corpo dela estava mais leve, não mais ouvia seus gemidos, mas ainda não podia parar, não havia sugado tudo, ainda restava mais algumas gotas, teria de ir até o fim, o ato ainda não fora consumado, mesmo quando já era tarde demais.

Ao abrir os olhos viu o semblante dela esmaecido, seus olhos abertos, arregalados como se visse um fantasma, não havia mais fulgor e podia sentir o quão fria estava sua pele, até mesmo seus dourados fios de cabelo tornaram-se opacos e sem vida, ela morrera por seus lábios, enrijecida em seus braços, suspirando por um estranho prazer que a consumira.

Não... Não! Andreea! Andreea, por favor, acorde... Por favor! Andreea!

E foi assim, gritando pelo nome dela que Damian despertou, seus olhos levaram alguns segundos para se adaptar à escuridão que engolia seu quarto, olhou para o singelo relógio sobre seu criado-mudo, eram apenas três e meia da manhã, ainda tão cedo e já sem sono sentiu-se frustrado por mais uma vez ter que ver as horas passando diante de seu olhar cansado.

Deitou-se novamente aconchegando a cabeça no travesseiro, mas não pôde relaxar, pois ao seu lado estava Andreea encarando-o com olhos tão negros quanto à noite, olhos tão fundos e enegrecidos, uma cútis ebúrnea quanto à lua e fria quanto o inverno, seus lábios arroxeados e sem brilho, sua face magra e sem muitos detalhes, apenas pele e ossos secos.

O ferreiro saltou de seu leito caindo sobre o chão de madeira, afastou-se até suas costas encontrarem as cortinas que encobriam a janela, havia agora uma penumbra correndo atingindo até um certo limite do lugar, ao encostar-se ao tecido ele se entreabrira deixando o luar entrar, pôde vê-la levantando-se, estava trajando a camisola alva, porém com uma enorme mancha avermelhada em sua virilha.

Seus movimentos eram lentos, assim como os de Ionela e Mihaela, mas ao contrário delas, nem ao menos pôde ouvi-la deslocando-se, seus ossos não estalavam como cacos de vidros quando alguém pisa sobre eles, parecia uma sombra vagando pela escuridão, silenciosa e sem que ninguém pudesse vê-la, colocou as mãos sobre o piso e logo após os joelhos encostaram-se à madeira fria e rangente pondo-se a engatinhar até o rapaz.

Seu jovem coração acelerou-se, Damian começou a transpirar e sentia que o pavor devorava-o de dentro para fora. Podia ouvir um ruído que ela emitia, um suspiro grosso ao mesmo tempo em que rangia os dentes, fechara os olhos, mas ainda podia escutar, a mulher estava se aproximando, parecia que agora ela era mais veloz.

Sentiu sua pútrida respiração bem próxima ao seu rosto sem cor e ao ser tocado por suas gélidas mãos, abriu os olhos. Andreea estava ali, olhando para ele, porém sem demonstrar nenhum tipo de reação, apenas suspirava, seus lábios se abriram e sua língua percorreu o semblante de Damian do queixo aos olhos, uma sensação tão asquerosa que lhe dera vontade de vomitar, sentia como se uma lesma houvesse passado por sua pele deixando um rastro reluzente e pegajoso. Após isso, a viúva sussurrou em seu ouvido:

Somente o sangue que te fez nascer é o único que pode te fazer morrer...

___ Senhor Petrescu, está tudo bem?___ indagara Viorica adentrando o quarto com estranha velocidade, como se pudesse saber de tudo que estava se passando e resolver entrar no momento certo.

O moço olhou em volta e surpreendeu-se ao perceber que nada mais havia ali, apenas ele e a criada. Levantou-se e tentou recuperar o ritmo normal de sua respiração, entretanto nada disse, via que a menina o encarava esperando por uma resposta, mas tudo que lhe dera foi o silêncio.

___ Eu ouvi barulhos vindos de seu quarto ___ disse a órfã aproximando-se vagarosamente ___, está tudo bem, senhor?

___ Está sim, Viorica, eu só... Tive um pesadelo ___ era a melhor desculpa que tinha e tudo que conseguira pronunciar antes de aspirar uma grande quantidade de ar para fazer com que seus pulmões voltassem a trabalhar.

___ Anda tendo muitos pesadelos, senhor ___ concluiu a menina.

___ Pois é... A noite parece não gostar muito de mim ___ brincou ele, porém não parecendo que isto realmente fora uma brincadeira.

___ Gostaria que lhe fizesse um chá?

___ Não! Não, não será necessário, eu só... Ah!___ gemeu o garoto pressionando a testa com uma das mãos.

___ Há algo errado, senhor?

___ Não se preocupe, querida, é apenas uma enxaqueca, logo vai passar.

Se não fossem os rápidos movimentos da pequena menina, o rapaz teria caído desmaiado, ela então o apoiou em seu corpo ___ menor e mais frágil que o do rapaz ___ e o levou para a cama deitando-o confortavelmente.

___ Tem certeza de que não há nada errado? O senhor não parece bem.

___ Estou ótimo, Viorica, acredite.

___ Quer que eu fique ao seu lado até pegar no sono?

___ Duvido muito que voltarei a dormir.

A criada cuidadosamente retirou os fios molhados do rosto suado do garoto e constatara:

___ Oh, meu Deus, senhor Petrescu, o senhor está ardendo em febre!

A resposta dele foi apenas um suspiro cansado, os olhos fechados e a testa franzida eram sinais de que estava sentindo dor.

___ Vou pegar uma tigela com água morna, espere um instante.

Num piscar de olhos a garota havia voltado, sentada ao lado do adolescente ela molhava uma toalha sobre uma tigela de lúrida porcelana contendo água morna, torcia, dobrava com cuidado e gentilmente passava pelo rosto dele e o admirava com ternura.

O som da água caindo e tocando a porcelana quando Viorica torcia o pano atormentava o rapaz, não conseguia mais suportar aquele ruído agudo perfurando seus tímpanos, porém não era a única coisa que ouvia nitidamente, podia escutar a respiração, os batimentos e o sangue correndo pelas veias dela, aquilo era ainda mais perturbador que o barulho da água.

Um pavor novamente começou a consumi-lo, estremeceu quando sentiu seus lábios secos e ouvia o som de seu estômago roncando à medida que sua dor de cabeça aumentava, mesmo de olhos fechados podia saber claramente que o coração daquela criada batia tão tranquilamente transportando pequenas quantidades de sangue por suas milhares de veias.

___ Viorica... ___ sua voz saía com dificuldade, quase como um sussurro.

___ Sim, Damian?

___ Deixe-me, por favor, já me sinto melhor. Se precisar de algo eu lhe chamo.

___ Sinto que não seria o correto a se fazer, o senhor não me parece bem.

___ Mas eu estou, acredite em mim, estou perfeitamente bem ___ sua voz era fraca e incerta.

___ É claro que não está, senhor! Deixe de tolices, ficarei ao seu lado a noite toda se preciso for.

___ Viorica, por favor, saia daqui.

___ Mas...

___ Saia!___ usara suas últimas forças para dar um grito autoritário e logo afundou a cabeça no macio travesseiro novamente.

A menina mergulhou o pano na tigela e lá o deixou, então disse:

___ Como quiser, senhor, mas antes posso lhe dar um beijo de boa noite?

___ Tudo bem ___ concordou já farto.

Ela inclinou seu corpo para frente, porém ao invés de tocar a ebórea testa do garoto, tocou sua boca.


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